“Nisto
que vou dizer não vos louvo” – Dizendo não a Banalização
A
cidade de Corinto
Corinto era capital da Acaia, neste tempo, uma das
principais cidades do mundo.
Era uma cidade rica, visto que tinha na atividade portuária
sua principal fonte de renda, a cidade era privilegiada por ter dois portos,
sendo ponto de parada de diferentes embarcações do mundo em seu tempo. Os
barcos desembarcavam em um dos portos e evitavam a viagem no entorno da cidade
que tinha canais perigosos, seguindo por terra, gerando também viagens
terrestres na cidade.
Devido a sua grande quantidade de visitantes anuais, a
cidade prosperou financeiramente e tornou-se uma das mais ricas de seu tempo.
Cultura
de Corinto
Também era uma cidade repleta de questões culturais
delicadas, os seus padroeiros eram Afrodite e Apolo, as sacerdotisas de
Afrodite, tinham o hábito diário de no final das tardes descer até o povo e
oferecer seus corpos como parte do ritual de culto, também havia considerável
atividade de contrabando e outras coisas desta natureza.
A cidade era tão profana que na antiguidade ser chamado de
“Corintio” era uma ofensa, um sinônimo de profanação.
\A cidade foi reconstruída em 44 ac. Para ser um
lugar de escravos libertos, de várias nacionalidades. Nos dias apostólicos
havia 250.000 cidadãos livres e 400.00 escravos, tendo crentes de ambos os
lados.
Neste tempo havia uma infinidade de credos, linhas de
pensamento, influências, tornavam a cidade um lugar considerado repleto de
intelectuais sob influência grega, romana e de inúmeros outros lugares do
mundo.
Paulo em Corinto
Paulo vinha de uma infinidade de problemas nesta sua
segunda viagem missionária, a princípio sua rota seria o retorno por todas as
cidades da primeira viagem, porém impedido pelo Espírito de pregar Paulo muda a
Rota, partindo para Trôade, Tessalônica, Beréia e por fim Atenas. Em todos
estes lugares Paulo fala sob intensa dificuldade.
Ao chegar a Corinto, Paulo estava, segundo suas
próprias palavras em fraqueza e temor.
Corinto se constitui um ambiente hostil para quem deseja se
recuperar, porém Deus prepara este local em vários sentidos. Inicialmente
Claudio, que era o imperador expulsou os judeus de Roma, por conta de seus
tumultos gerados a partir da expansão da fé cristã. Neste tempo, Priscila e
Áquila, descem a Corinto, onde exercem o mesmo ofício que Paulo, provavelmente
este tenha sido o elo inicial entre Paulo e seus ajudadores. A princípio, Paulo
faz assim como tantas outras vezes, prega inicialmente aos Judeus, enquanto
prepara tendas na semana.
É neste local que Paulo planta uma igreja em sua segunda
viagem missionária, tendo passado dias tentando ensinar aos judeus e gregos
sobre Jesus. A princípio Paulo pregava séries de mensagens aos sábados, após a
chega de Timóteo e Silas, Paulo pode se dedicar exclusivamente a pregação, o
que se constituiu um grande encorajamento. Porém sendo resistido por um espaço
de tempo, passou a pregar aos gentios como era seu costume fazer.
Justo abriu as portas de sua casa e lá iniciou-se o
trabalho entre os gentios, durante 1 ano e 6 meses o evangelho crescia em Corinto,
Crispo, o que antes era principal da sinagoga se entregou a Cristo e Paulo foi
ainda mais encorajado a permanecer.
Paulo prevendo certo agravamento na hostilidade dos Judeus,
recebeu do próprio Espírito a coragem para permanecer:
“E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales;
Porque eu
sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito
povo nesta cidade.
E ficou ali
um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
Atos 18:9-11”
Paulo foi levado ao tribunal pelos Judeus e logrou êxito,
mediante um grande livramento de Deus.
É sob todas essas dificuldades que Paulo vê em Corinto, um
lugar difícil, avesso aos conceitos de santidade e pureza, uma porta grande e
eficaz para pregação do evangelho.
A igreja é plantada ali após 1 ano e meio, obreiros são
constituídos, a organização da igreja estava sob cuidado destes e Paulo vai
adiante em suas missões.
A igreja de Corinto:
Ao se dirigir a Éfeso, onde ficou dois anos e três meses,
Apolo assume a responsabilidade de ensinar a igreja de Corinto, porém
considerando as muitas dificuldades do local, alguns problemas surgem na
organização da igreja, de modo que uma primeira carta é enviada a Paulo com
algumas dúvidas e este documento se perdeu.
Passado algum tempo, as coisas se
intensificaram no que diz respeito aos problemas da igreja, de modo que a
Família de Cloé envia uma série de perguntas e relatos ao apóstolo Paulo, que
em resposta aos problemas redige essa carta que chegou até a nós, denominada 1º
Coríntios.
Os principais problemas da igreja poderiam ser listados
abaixo:
· Depravação
· Bebedices
· Licenciosidade
(graça barata)
· Partidarismos
(Sou de Paulo, Sou de Apolo, Sou de Pedro e sou de Cristo).
· Arrogância
intelectual
· Desorganização
da igreja no culto
Considerando todos esses problemas, Paulo envia esta carta
a igreja, a fim de corrigir os rumos.
A
instituição da ceia do Senhor
Tendo sua celebração realizada de forma regular em toda
igreja Cristã, a ceia do Senhor, ou santa Ceia, dependendo da interpretação,
tem suas pequenas variações, tais como horas para se tomar os elementos, a
composição dos elementos, regularidade de celebração, etc.
Porém ainda que pequenas partes do ato variem,
há elementos que são comuns: Sempre a celebração da ceia obedece a uma
regularidade, as vezes mensal, as vezes semanal, em alguns poucos lugares é
anual.
Sempre se celebra fundamentado no mandato de Cristo de que
ele deveria feito em memória dele. Alguns rituais são repetidos em toda e
qualquer profissão de fé cristã, são eles o batismo e a ceia do Senhor. Estes
são pedidos finais de Jesus, um deles é feito antes da morte, o outro,
posterior a ressurreição.
Desta forma, independentemente do método
utilizado, tudo o que não se pode perder é a sacralidade do momento, a
importância dada a celebração.
A
Banalização da Ceia
Na medida em que o tempo passa, as palavras, os atos, vão
se esvaziando de sacralidade e importância que lhe foram conferidos
inicialmente, passamos a lidar com um certo descaso com aquilo que naturalmente
é importante para aquele que nos chamou.
Ainda hoje há uma certa indiferença no que diz respeito à
ceia, não são poucos que a trocam por coisas de todo fúteis, desconsiderando a
importância que o próprio Jesus deu a ela. Muito disso se dá por falta de
conhecer a importância do ato, por um desencantamento da própria igreja com o
momento, com as “repescagens de ceia”, com a falta de seriedade de nós líderes
que na realização do ato, o fazemos sem zelo, sem cuidado, sem intensidade.
Este problema de falta de importância ao que é importante
não é algo novo, já nos tempos do apóstolo Paulo, pouquíssimos anos após a
instituição inicial de Jesus, já se tornava banal a celebração da Eucaristia.
Especialmente na cidade de Corinto, Paulo recebe a informação de que as coisas
iam mal, considerando os relatos de Cloé o apóstolo faz duras correções e um
redirecionamento da celebração da ceia
A ceia
em Corinto capítulo 11
A ceia nos tempos bíblicos era um ato de refeição coletiva,
isto se dava desde os primeiros atos dos apóstolos – AT. 2.42, era uma espécie
de ato de comunhão, solidariedade e de favorecimento aos menos privilegiados.
Wiersbie menciona que neste tempo, o jantar da
ceia era chamado de “jantar ágape”, a refeição do amor entre irmãos.
Porém assim como foi dito, atos coletivos na igreja começam
bem, mas tendem as e esvaziar do seu significado, tornando-se banalizados e
essa era a maior queixa de Paulo, a banalização.
É então que Paulo faz sua denúncia:
“Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo;
porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior.
Porque
antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões;
e em parte o creio.
E até
importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem
entre vós.
1 Coríntios 11:17-19”
1º O ajuntamento quando esvaziado de propósito não traz
benefício coletivo.
2º A igreja não deve ter grupos paralelos, todos devem
estar juntos e ter tudo em comum – At. 2.
3º Quando perdemos o sentido de comunhão tornamos a igreja
um ajuntamento que em nada difere dos demais ajuntamentos do mundo e com todas
suas características.
4º Paulo trata com ironia o modo dos Coríntios pensarem,
visto que com as muitas divisões internas, eles tornavam claro quem de fato era
verdadeiro, aparentemente eram poucos.
5º Aparentemente as diferenças de fora eram trazidas para
dentro da igreja, escravos e livres, ricos e pobres, santos e profanos, eram
tratados de formas distintas.
Paulo prossegue em sua denúncia:
De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para
comer a ceia do Senhor.
Porque,
comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e
outro embriaga-se.
Não tendes
porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e
envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos
louvo.
1 Coríntios 11:20-22
· O
esvaziamento foi tão intenso, que se reuniam para qualquer coisa que não fosse
a ceia do Senhor. Ausência de propósito – V.20
· A ceia
tornou-se em Corinto uma espécie de competição em que cada um mostraria o
quanto poderia comer, quais pratos poderia levar, o quanto se tinha – V.21
· O
nível da segregação era tanto, que os ricos, os livres, comiam antes dos
demais, até se embriagar, enquanto o pobre estava com fome.
· Paulo
chega as vias de dizer que era impossível que se tratassem assim em suas casas,
havia um mínimo de hospitalidade, mas o ambiente de culto estava tão
banalizado, que eles “desprezavam a igreja de Deus e envergonhavam os outros.
Com tristeza digo, há uma
banalização, uma falta de sacralidade, uma ausência de propósito, uma não
hospitalidade, hostilidade mútua, desigualdade e em muitos aspectos nos
assemelhamos aos Coríntios, é pensando nisso e considerando que tudo que foi
escrito, foi para nossa edificação, que gostaria de pregar o sermão de Paulo
para fazer uma apologia ao momento da ceia.
Não foram poucas as vezes que
vi pessoas argumentarem que não sabem as razões da ceia ser considerada tão
importante.
Mensalmente celebramos a ceia
e dizemos que este é o principal ato da igreja, o principal culto, aliás, de
tanto repetir, decoramos o texto da ceia.
Mas a pergunta que devemos
fazer é: Por que a ceia é tão importante?
Paulo respondeu através deste
sermão escrito.
A importância
da ceia
1º - A ceia não foi
inventada por qualquer pessoa, é um mandato de Jesus:
“Porque eu recebi do Senhor o
que também vos ensinei - 1 Coríntios 11:23”
Não foi um mandato da igreja,
não foi apenas uma decisão do apóstolo Paulo, Não foi apenas algo que
consideraram interessante, mas foi uma ordem direta de Jesus.
· Paulo
recebeu isso diretamente de Jesus – Gl 1.15-17
· Foi no
primeiro dia da festa dos pães asmos que Jesus ordenou que preparassem o salão,
a mesa e tudo mais.
· Foi
ele quem disse “façam em memória de mim”.
· Foi
Jesus quem disse “desejei muito este momento” Lc 22.15
· Jesus
eternizou o momento – Eu não comerei da ceia até que se cumpra.
O
que torna a ceia importante é o simples fato de que se é importante para Jesus,
também é para nós.
Se
Jesus desejou, eu também desejo.
2º - Na ceia Jesus
mostra que a comunhão vence as diferenças e decepções.
“que o Senhor
Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
1 Coríntios 11:23b”
Poderia ter sido escolhido
qualquer dia, mas Jesus escolheu a noite em que foi traído, Judas estava lá,
Judas saiu de lá para o vender, Judas já havia negociado o preço.
· Jesus
está lavando seus pés sabendo do que ele fez, a areia sobre o seu pé é de quem
pisou no terreno da traição.
· A
areia sobre o pé de Pedro é de quem pisou o terreno da negação.
Mas naquele momento, todas
aquelas diferenças ficaram por terra, todos esses atos, ficaram de lado. Na
noite que Jesus foi traído ele fez o ato de maior comunhão.
Foi no dia que
levantaram o calcanhar João 13.18, na prática, levou um chute, que ele fez o
maior ato.
Jesus num ato de honra lhe dá
o bocado molhado no vinho – Um sinal de amor.
A comunhão é maior do que as
diferenças, traições, o sacrifício de Cristo nos une a ele.
3º - Este era o pedido
final de Jesus ao partir o pão: Lembrem de mim.
“fazei isto em memória de
mim. 1 Coríntios 11:24”
Pedidos finais de pessoas são
levados a sério, logo não seria de menor importância com Jesus.
Annamnesis
representa a memória vívida de Jesus, não apenas lembrar, mas tornar a sentir.
Dt. 16-3 Pão sem fermento na
páscoa.
· Paulo
deseja transportar os discípulos para o dia da instituição da ceia.
· Consideremos
como Jesus se sentia, como estava, seus anseios.
· A
alegria, também a expectativa.
· Jesus
queria que seus discípulos mantivessem viva sua memória, que nunca se
esquecessem dele, neste sentido, é tudo sobre Jesus, não sobre nós, como nos
sentimos, o que queremos, é sobre ele.
4º - A ceia é um convite
de Jesus que ressignifica o primeiro elemento: O pão – Corpo
(Considere os
sofrimentos físicos)
·
Os açoites
·
A roupa posta e tirada
·
A coroa de espinhos
·
Os pregos
·
A asfixia
·
O abandono
·
A humilhação
5º - A comunhão da ceia
quando negligenciada é deixar de ter “Parte com Jesus”, mas o contrário também
é verdadeiro
(Isto é meu corpo)
“Jesus, pois,
lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do
Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
Quem come a
minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no
último dia.
Porque a
minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
Quem come a
minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
Assim como
o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta,
também viverá por mim.
Este é o
pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e
morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
João 6:53-58”
6º - A ceia apresenta um novo
fundamento para a aliança entre Deus e nós. Ao tomar o cálice Jesus fala de uma
aliança fundamentada na graça – V.25
Toda a aliança do A.T estava
fundamentada na observância da lei, tendo como pontos fundantes a exclusividade
de alguns poucos que compunham seu povo.
Jesus agora faz uma nova
aliança, essa aliança era fundamentada no seu sangue, o sangue é a garantia de
que eu e Deus não somos mais inimigos, o sangue é a garantia de que eu fui
comprado, eu pertenço a ele.
Na nova aliança não dependo do
meu desempenho, o sangue limpa, o sangue garante, o sangue perdoa.
7º - A ceia lembra a
centralidade da Cruz – V. 26
(Há um desencantamento com a
mensagem central da bíblia).
A cruz se constitui um
escândalo, Paulo já havia falado aos Coríntios sobre isso.
Para os gregos era simples,
para os Judeus uma Blasfêmia, para nós é poder.
8° - A ceia é um convite a
reflexão, confissão e gratidão – V. 27-28
O autoexame é necessário, mas
não nos incentivando a não participar, mas sim a considerar tudo.
A dignidade não se dá no
merecer (ninguém merece)
A dignidade está no temor e
reverência e empatia V. 27
O amor da cruz nos constrange
– 2º Cor. 5.14
Morri na cruz por ti, que
fazes tu por mim?
9º - O não
discernimento transforma corpo e sangue em Juízo
Engolindo-se o Juízo se
enfraquece e adoece. (Isso influencia na vida da igreja como corpo,
iniquidades, pecados ocultos, irreverência, insensibilidade).
10º - A ceia é um dia
de entender o amor de Deus por nós.
Ao sermos repreendidos na
ceia, somos chamados a meditar como filhos.
Deus só dá alertas tão
intensos a quem ele ama, a falta de repreensão caracteriza um abandono de quem
desistiu, de quem já não se importa, ao nos repreender de formas tão intensas,
Jesus não quer nos perder de vista, Jesus não quer que sejamos levados para o
mundo, que percamos o foco ingerindo juízo para si ao invés de coisas boas.
O resumo de todo o sermão de
Paulo na ceia, é que todo o ato, tudo que pensamos neste dia, tudo é sobre
Jesus e não sobre nós.
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