sábado, 6 de agosto de 2022

Panorama de Miquéias – Sermão entregue a Ad Brás Valo-Velho em 16/06/2021

 

Panorama de Miquéias – Quem é como o Senhor?

Sermão entregue a Ad Brás Valo-Velho em 16/06/2021

“Ai de mim! Porque estou como quando são colhidas as frutas do verão, como os rabiscos da vindima: não há cacho de uvas para chupar, nem figos temporãos que a minha alma deseja.
Miquéias 7:1

Os profetas são nossos contemporâneos, são portadores de mensagens totalmente compatíveis com nosso tempo, ainda que carregados de alegorias diversas, uma análise mais detalhada mostrará que os dilemas dos profetas também são os nossos, as suas tristezas, inquietações, tornam sua mensagem relevante neste tempo.

 

·       Miquéias era um habitante de Moresete-Gate – Uma aldeia ao sul de Jerusalém, logo era um profeta interiorano.

 

·       Era contemporâneo de Isaías que tinha acessos diferenciados, por ser parte da aristocracia em seu tempo. Miqueias por sua vez era homem comum, um civil de seu tempo, tendo os conflitos do dia a dia sentidos em sua pele.

 

·       Também era contemporâneo de Amós e Oséias, formando o quarteto de profetas pré-exílio.

 

·       Profetizou no período de 735 a 715 A.C – Ou seja, durante vinte anos.

 

 

·       Parte da compreensão da mensagem profética se dá mediante a identificação dos reis de seu tempo, logo o texto apresenta no primeiro versículo quem eram os reis de seus dias, a saber:

 

Jotão, Acaz e Ezequias.

Cada um destes revela parte das condições espirituais e econômicas de seus dias.

·       Jotão – O rei omisso

·       Acaz – O Rei idólatra

·       Ezequias – O sucessor reformador

-Miqueias direciona sua mensagem nos primeiros capítulos aos dois reinos de Israel, mas posteriormente tem o foco em Judá, o reino do sul

 

Como boa parte dos profetas, Miquéias faz uso de uma linguagem jurídica, em que o Senhor, apresenta suas acusações, tal qual um promotor o faz.

Ao mesmo tempo o Senhor também se constitui juiz.

O livro de Miquéias se constitui uma denúncia sobre questões sociais, religiosas, morais e mescla tudo isso aos sentimentos pessoais do profeta, bem como demonstra o amor do Deus que acusa, julga, condena, mas absorve. A mensagem de Miquéias é atual porque vivemos dias semelhantes aos dele.

 

1º - Deus como promotor

Apresentação de Deus – V. 2

O aspecto de grandeza de Deus é novamente apresentado, sua vinda em grandeza, uma vez que não é pacífica, se constitui um juízo por si só – V.3-4

Deus promete destruir as duas capitais, por serem verdadeiras centrais de pecados V. 5-6

 

2º - O profeta frequentemente carregava consigo o fato de estar dividido, entre o amor a Deus e o amor ao seu povo.

O profeta se descobria um mediador, entre o Deus sedento por exercer o juízo e o seu povo que é vítima e merecedor deste.

Ainda que o profeta seja alguém que zela profundamente pelo nome de Deus, a santidade de Deus e a veracidade da mensagem, ele sofre por ela.

Por isso lamentarei, e gemerei, andarei despojado e nu; farei lamentação como de chacais, e pranto como de avestruzes.
Porque a sua chaga é incurável, porque chegou até Judá; estendeu-se até à porta do meu povo, até Jerusalém.
Miquéias 1:8,9

 

Particularmente tenho dificuldades em conceber quem sente prazer em anunciar juízos, quem se orgulha de falar das coisas ruins que contempla, pois, no mínimo não há discernimento da mensagem, ou amor aos destinatários da mensagem. Os profetas bíblicos são pessoas que carregam sobre si o peso do coração de Deus.

O profeta é alguém quebrantado, mas quebrantado não porque é humilhado, quebrantado porque carrega sobre si o peso, o peso do coração de Deus. O profeta é o homem abatido, angustiado, é uma pessoa que esqueceu-se de seus próprios pesos e recebeu sobre seus ombros o coração de Deus. O sentimento de Deus é derramado sobre o profeta, ele tem seus próprios sentimentos e também os do povo.

Abraham Joshua Heschel”

 

O profeta carrega em seu coração seu nacionalismo, mas também o peso do coração de Deus, o profeta é alguém que muitas vezes não pode considerar demasiadamente nenhum dos lados sem ser afetado.

 

Os verdadeiros profetas são aqueles que se lamentam por seu povo, que oram por eles, que movidos de compaixão pelo povo anunciam a mensagem, mas ao mesmo tempo se lamentam em ver que seus ouvintes são afetados por ela.

 

 

 

 

3º - O jogo de palavras de Miquéias com as cidades do entorno de Judá:

 

Os profetas eram homens dotados de inspirações divinas e compunham verdadeiras peças de literatura muito refinada, de modo que Miquéias faz um jogo de palavras muito profundo ao falar sobre a situação de Judá.


Os Assírios ameaçavam e sitiavam Judá com certa frequência, num dado momento, Judá tem 46 cidades tomadas por eles, é então que Miquéias ciente do significado de cada cidade apresenta o juízo em forma de poesia.


Ler em bíblias de versões recentes os versículos 1.10-16

 

 

4º - As razões do juízo divino

 

·       Males planejados a noite e praticados durante o dia – 2.1

·       Tomada de propriedades dos pobres – 2.2

·       Este ato era feito por meio de violência – 2.2b

·       Orgulho – 2.3


O primeiro pecado se resumia em cobiça por parte dos mais ricos, configurando uma terrível desigualdade social.

 

·       Havia uma espécie de coação quanto às mensagens a serem pregadas, de modo que verdadeiros profetas se passavam por falsos e vice-e-versa. – 2.6

·       Os profetas se asseguravam numa certa escolha divina, de modo que um quietismo demasiado os tomava. – 2.7

·       Afetavam as mulheres removendo-as de suas casas 2.9

·       Crianças pobres eram expostas a violência muito cedo – 2.9b

·       Os falsos profetas eram valorizados – 3.11

(Os valorizados são os que iludem, enganam e ensinam a tirar coisas de Deus).

·       Os políticos comiam as carnes do povo para enriquecer ainda mais – 3.1-3

·       O poder judiciário também estava vendido – 3.11a

 

·       O resumo da corrupção se dá no capítulo 7

 

 

Com as mãos prontas para fazer o mal, o governante exige presentes, o juiz aceita suborno, os poderosos impõem o que querem; todos tramam em conjunto.
Miquéias 7:3

 

 

·       Por fim a dissolução familiar:

Pois o filho despreza o pai, a filha se rebela contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos do homem são os seus próprios familiares.
Miquéias 7:6

 

 

 

O profeta não tinha para onde olhar, não tinha referências:

 

·       As pessoas eram mentirosas – 7.5

·       Não se podia acreditar mais em família 7.6

·       Não se podia ter uma propriedade em paz

·       Os ricos humilhavam os pobres

·       Estes por sua vez recorriam a políticos, mas estes eram parte do esquema

·       Os juízes também se vendiam

·       Os profetas que seriam referência de integridade também estavam dissolutos.

 

“Neste ninho de cobras que se tornou a sociedade atual, tudo o que precisamos é de um princípio, o mais belo, o mais nobre, enquanto dos olharem para o seu princípio, você foge com o dinheiro”.

Lilian Herman

 

Este pensamento expressa a lógica dos dias de Miquéias.

 

Ao ver todo o cenário o profeta declara um “ai” contra si mesmo, um sentimento de profunda inadequação, solidão, falta de referências e assim inaugura o capítulo 7.

 

 

Lições práticas

 

 

1.    O preço do saber a verdade é ter de conviver com as inquietações de descobri-la.

Miquéias se sentia totalmente alheio ao seu tempo, se sentia alguém esquecido, alguém totalmente a parte de todo o seu tempo.

 

 

 

 

 

 

 

2.     Em tempos de dissolução, tal qual era o de Miquéias, nós devemos agir com convicção das verdades irredutíveis da palavra. Não importando se todos os demais estão em outra direção:

 

 Mas eu estou cheio do poder do Espírito do Senhor, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado.
Miquéias 3:8

 

Devemos cuidar de não sermos pragmáticos demais. A verdade não é cômoda, é inegociável.

 

Malcolm Muggeridge “Somente peixes mortos nadam junto à correnteza” Citado por John Stott em “Discípulo radical”

 

 

3.     Em dias de dissolução devemos questionar nossa prática espiritual:

 

Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano?
Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma?
Miquéias 6:6,7

 

 

Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?
Miquéias 6:8

 

Em dias de dissolução a resposta que Deus exige de nós não é mais atos religiosos, mas um caráter diferente da sociedade que nos rodeia.

 

 

 

 

 

 

 

 

4.    Em dias de dissolução completa, devemos repousar ao saber que podemos esperar em Deus.

 

Eu, porém, olharei para o Senhor; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá.
Miquéias 7:7

A espera por alguém sempre é parada, inerte, cansativa. Esperar em Deus é dar passos maiores do que todos os nossos esforços alcançam, esperar em Deus é descansar, esperar em Deus é encontrar paz mesmo em meio ao caos, esta foi a decisão de Miquéias, esperar naquele que não lhe decepcionaria, mesmo carecendo de referências terrenas.

 

 

5.    Ao compreender os planos de Deus Miquéias fez uma pergunta sem resposta, mas que sempre valerá a repetição.

 

Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniqüidade, e que passa por cima da rebelião do restante da sua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na sua benignidade
Miquéias 7:18

 

Quando Deus deseja exercer juízo contra uma nação alheia ao seu povo, mas também deseja julgar o seu povo, ele o faz do seguinte modo:

 

·       Usa a nação vizinha para castigar o seu povo

·       Seu povo se humilha ao passo que o opressor se ensoberbece

·       O povo opressor é julgado por Deus

·       Deus perdoa o seu povo e lhe restaura

 

Ao compreender isso Miquéias exulta em seu coração, pois, enxergou além do juízo, compreendeu o perdão que viria do mesmo Deus que julga com justiça.

 

O Nome Miquéias significa: Quem é como o Senhor?

O nome do profeta é usado numa espécie de louvor seguido de afirmação de fé: Quem é Deus semelhante a este? – 7.18

 

Essa pergunta não tem resposta, Deus é incomparável, as razões que tornam este Deus diferenciado se descrevem nas palavras finais de Miquéias.

Deus perdoa, restaura, esquece, Deus ama o seu povo.

 

Uma curiosidade a respeito de Miquéias é que este foi o profeta que descreveu onde o Messias iria nascer. Mq. 5.2

 

O livro de Miquéias é uma mensagem de esperança para o Brasil hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço seu comentário. Responderei o mais rápido possível.