sexta-feira, 5 de agosto de 2022

O desafio da nuvem de Testemunhas - Hebreus 12

Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados,
E fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado.

Hebreus 12:12,13

 

A carta aos Hebreus foi escrita no ano de 65 D.C. uma geração inteira de cristãos já havia passado, os impactos iniciais dos primeiros dias de expansão da igreja já haviam diminuído consideravelmente.
Havia um certo sentimento de transição para os dias posteriores, a primeira geração de crentes estava morrendo e viria em seguida, uma nova geração que não tinha visto Jesus, não tinha visto os milagres que ele fez, nem mesmo os grandes movimentos da igreja primitiva.

Neste tempo, havia na igreja uma série de grupos de pessoas que serviam ao Senhor.

O Judaísmo ainda era muito forte.

O Cristianismo teve sua expansão entre os gentios, por meio do ministério do apóstolo Paulo.

Porém uma terceira vertente tornava-se crescente entre os que se diziam povo de Deus, estes eram os prosélitos cristãos, advindos da religião judaica.

Estes iam se entregando a Jesus e na medida que se entregavam, abraçavam junto a nova fé, todas as dificuldades que a cercavam, de modo que ao abandonar a fé judaica estavam abraçando um grande desafio que era manter sua convicção cristã em meios às inúmeras perseguições que se desenrolavam neste tempo.

Ser cristão neste tempo era arcar com o custo de ser alguém perseguido, hostilizado e ter o risco de perder tudo o que se tinha.

Havia de certa forma um cunho revolucionário na fé Cristã, que sob inúmeras acusações ganhava o rótulo de uma religião de rebeldes.

Também havia o rótulo de que a religião cristã onde entrava, esvaziava a cultura local, a fim de que fossem abraçados novos costumes, o que não tinha tanto fundamento, mas se perpetuava por interesses diversos.

Aliado a isso, os crentes tinham por hábito não prestar cultos aos imperadores e sendo assim, unidos a religião exercida muitas vezes de forma privada, os imperadores temiam que eles organizassem motins.

A perseguição aos crentes passou a tomar proporções maiores no decorrer dos dias, os crentes nestes dias tinham seus bens saqueados, perdiam suas posses e morriam de forma muito hostil.

O Coliseu romano a princípio foi criado como uma casa de espetáculos, um estádio formatado para o lazar do povo romano em seus dias, porém quando a perseguição a fé cristã se intensificou, os cristãos eram levados a este lugar para se tornarem o espetáculo através de sua morte.

A.J O`Really relata que todo cidadão comum, tinha o hábito de aos fins de semana divertir-se com sua família vendo a morte de Cristãos pelos mais diversos métodos:

-Gladiadores que assassinavam a fio de espada

-Feras que tragavam dada a violência

-Os cristãos tinham pedaços de carne amarrados ao corpo, leões famintos eram mantidos em cativeiro a fim de que ao serem soltos, na fome que tinham tragassem os crentes em poucos minutos.

Dessa forma várias e várias vezes os crentes se viram sob a impossibilidade de terem posses, correndo risco de vida, desamparando a família em nome da fé, e tentados a deixar sua fé pelas dificuldades.

No que diz respeito aos judeus convertidos, se eles se mantivessem na fé judaica, essa dificuldade não existiria, uma vez que a religião judaica era considerada ordeira e obtivera favor imperial, as coisas tinham a tendência de se tornarem menos complexas para eles.

Então os judeus cristãos tinham a crescente tentação de não precisar passar por nada disso, eles poderiam viver uma vida tranquila, caso regressassem para a antiga confissão de fé.

Não seria uma falta de fé, seria uma fé mais simples, mais fácil, mas sem a glória de ter a pessoa de Cristo consigo.

Eles haviam avançado de forma que era impossível retroceder agora, eles conheceram a verdade, eles conheceram a Cristo, por um lado estava o encanto da pessoa gloriosa de Jesus, do outro estava a proposta de uma vida mais fácil sem ele.

Muitos estavam querendo recuar nestes dias, é considerando isto, que esta carta foi escrita.

Os destinatários são os judeus cristãos que dada a intensa pressão, estavam extremamente tentados a regressar.

A palavra-chave da carta aos hebreus é “Melhor”.

O escritor está desejoso de encorajar os novos cristãos advindos da fé judaica a manter sua fé, por considerar que os elementos fundantes da fé antes professada são apenas “sombras”, ou “tipos” do “antítipo” que é Jesus.

 

A estrutura da carta então se dá dessa forma:
-Jesus é superior aos profetas

-Jesus é superior aos anjos

-Jesus é superior a Moisés

-Jesus é superior a Arão

-Jesus é sacerdote de uma ordem superior

-Jesus fez uma aliança superior

-Jesus tem um santuário superior

-Jesus tem um sacrifício superior

 

Tendo elencado estes sete pontos nos quais Jesus é superior, o escritor sabendo das muitas tensões que cercavam os judeus cristãos do seu tempo, inicia um sermão escrito, sob tema: Perseverança.

 

“Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições.
Em parte fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribulações, e em parte fostes participantes com os que assim foram tratados.
Porque também vos compadecestes das minhas prisões, e com alegria permitistes o roubo dos vossos bens, sabendo que em vós mesmos tendes nos céus uma possessão melhor e permanente.
Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão.
Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.
Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará.
Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele.
Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma.
Hebreus 10:32-39

 

·       Ao iniciar seu sermão, o escritor fala exatamente do que as pessoas tiveram de sacrificar ao vir para a fé:
Grande combate de aflições

·       Foram feitos de espetáculo com humilhações e tribulações

·       Prisões

·       Saque dos bens

 

Considerando essas dores, o escritor dá seus primeiros conselhos:

1º - Eles deveriam olhar para frente, há um galardão – V. 35

2º - Eles precisariam de perseverança para fazer a vontade de Deus – V.36

3º - O olhar para frente os levaria a um sentido escatológico que traria alívio – V.37

 

É considerando os riscos de retorno, que o autor faz uma solene afirmação:

“Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele.
Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma.
Hebreus 10:38,39

 

O justo viverá pela fé, esta afirmação fazia alusão a profecia de Habacuque e a citação direta em Romanos.

O justo não vive fundamentado em coisas daqui – 2º Cor. 5.18

Ao ingressar para o evangelho, deixamos de ter a opção de olhar para trás, de modo que somos exortados de forma muito clara a respeito disso.

·       Aquele que lança a mão no arado e olha para trás não é digno de mim – Lc 9.62

·       2º Pedro 2 fala que seria melhor ao crente, nunca ter sido antes, do que tendo sido, optar por recuar.

·       O texto presente fala agora sobre um ato que tira o prazer de Deus em alguém, este ato é de recuar.

Neste sentido fomos convocados para um caminho sem volta, um caminho que exige tudo de nós, um caminho que nos custará tudo talvez e que sobretudo não nos permite voltar atrás. Voltar atrás é ficar pior que no início, neste sentido o autor está nos proibindo de recuar, nos proibindo de apostatar, a caminhada do crente é sempre avante.

Você está proibido de desistir.

De certa forma, o escritor parece num ato de fé dizer: Vocês não são dessa categoria.

 

A esta altura, precisamos elencar qual seria a fórmula para perseverar?

Hebreus 11 apresenta:

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.
Porque por ela os antigos alcançaram testemunho.
Hebreus 11:1,2

 

A fé é um fundamento sólido do que ainda não chegou.

Pela fé, coisas que ainda não chegaram são dadas como certeza.

Pela fé, coisas invisíveis são tratadas como palpáveis, com certeza de quem viu.

Foi pela fé que os antigos conseguiram tantas e tantas coisas.

Vejamos os frutos da fé

 

·       A fé me faz compreender a razão das coisas – V.3

·       A fé me dá condições de adorar – V.4

·       A fé nos leva aos céus – V.5

·       A fé nos faz agradar a Deus e sem ela é impossível agradá-lo – V.6

·       Pela fé Noé fez a arca sem ver chuva (A fé livra)– V.7

·       Pela fé Abraão saiu da terra (A fé direciona) – V.8-10

·       Pela fé Sara engravidou com 90 anos (A fé renova forças) V.11-12

·       Pela fé vislumbraram a terra prometida e deixaram tudo (A fé dá capacidade de renunciar) – V. 13-16

·       Pela fé Abraão ia sacrificar Isaque (Idem ao anterior) – V.17-19

·       Pela Fé Isaque abençoou seus filhos e Jacó fez o mesmo (A fé vai além da vida) – 20-21

·       Pela Fé José deu ordem a respeito de seus ossos (Idem ao anterior) – V.22

·       A vida de Moisés foi fundamentada na fé - V. 23-29

·       Pela fé derrubaram muralhas -V. 30

·       Pela fé uma prostituta foi perdoada – V.31

·       Outros exemplos – V. 32-40

 

 

 

 

 

“E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas,
Os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões,
Apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos.
As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição;
E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões.
Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados
(Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra.
E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa,
Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados.
Hebreus 11:32-40

 

Ao olhar para todos esses exemplos, o autor nos convida a pensar que eles estão para nós como uma grande nuvem de testemunhas.

Essa nuvem de testemunhas não é o mundo ao nosso redor, mas esses mártires.

A figura aqui é de uma corrida, estamos de fato em uma carreira segundo Paulo:

·       Paulo fala da corrida por uma coroa incorruptível

·       Vocês não sabem que, de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre - 1 Coríntios 9:24-25”

·       O mesmo Paulo fala da necessidade de livrar-se do que fica para trás e prosseguir na corrida – Fp. 3.13-14

·       Paulo se preocupava em completar a corrida – Atos 20.24

·       Paulo fala de completar a corrida -2º Tim 4.7

 

 

 

 

Essa é a corrida da fé, temos obstáculos, cansaço, desânimo, mas os mártires tem alguns desafios para nós:


1º-Ainda há vagas nos classificados dos heróis de Deus

Somos chamados a correr, a batalhar também, a entrar na causa de Cristo custe o que custar.

O convite da nuvem de testemunhas para nós é: Corra!

Fizemos isso e vocês?

Nós estamos escrevendo a história neste tempo, somos parte da nuvem de testemunhas.

Deus está nos chamando neste tempo para também escrever a história, ser parte da história da igreja.

Essas vagas são apenas para quem corre junto, para quem não desistiu.

Há um lugar para nós, este lugar é o lugar de quem ficou.

 

 

2º - A nuvem de testemunhas é um exemplo e um incentivo.

Se Moisés foi capaz de renunciar tudo, nós também pela fé podemos.

Se Abraão deu passos sem saber para onde ia, nós também podemos.

A nuvem de testemunhas está numa espécie de torcida por nós dizendo: não pare!

Não devemos pensar na nuvem de testemunhas como que espectadores, ou juízes, eles estão para nos incentivar.

Ao olhar para eles muitas mensagens nos são ditas.

-A figura da tocha

 

Quando pensamos em parar, devemos olhar para a nuvem de testemunhas e vendo seus exemplos prosseguir!

 

 

 

 

3º Nessa corrida há coisas que temos de deixar:
Embaraços não são pecados, mas são coisas que nos atrapalham, nos impedem de correr como deveria.

 

São pesos diversos da vida – Devemos deixá-los para correr com a ousadia necessária.

-Exemplo do saco de arroz

 

Pecados neste sentido, impedem de correr, estão sempre a espreita, para nos tirar da corrida. São obstáculos.

         

 

4º - A proposta é correr com paciência.

Correr com paciência implica correr sem vontade, correr as vezes cansado, correr mesmo em dias ruins, correr nas horas que se deseja parar.

A caminhada do crente nem sempre é como uma marcha, mas é um manquejar vitorioso.

“Dá força ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor.
Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os moços certamente cairão;
Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão.
Isaías 40:29-31

 

“Se você não puder voar, corra. Se você não puder correr, ande. Se você não puder andar, rasteje. Mas continue em frente de qualquer jeito.

Martin Luther King Jr.”

 

 

 

 

 

 

4º - Jesus está na linha de chegada:
“Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.
Hebreus 12:2,3

 

Conta-se que a corrida da são Silvestre é divida em dois momentos, antes da subida da Brigadeiro e depois.

Esta subida separa homens de meninos.

Nesta hora as pessoas se concentram apenas na chegada, pois, se cansam, esmorecem, mas nessa nossa corrida, Jesus está nos esperando na linha de chegada, ele é nosso exemplo supremo.

 

5º O escritor olhando para o conforto de alguns em relação aos heróis diz: Vocês passaram pouca coisa!

Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.
E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido;
Porque o Senhor corrige o que ama,E açoita a qualquer que recebe por filho.
Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?
Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.
Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?
Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.
E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.
Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados,

Hebreus 12:4-12

 

 

A ordem deste texto em muito se assemelha a resposta de Deus ao cansaço de Jeremias:

“Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os cavalos? Se tão-somente numa terra de paz estás confiado, como farás na enchente do Jordão? - Jeremias 12:5

 

A ideia aqui é de um pugilista, um lutador, eles ainda não tinham lutado até sangrar como as gerações passadas.

Logo as gerações que lutaram até o sangue, sendo cerrados, decapitados, humilhados, lutaram até o sangue, nós ainda não chegamos neste nível.

De modo que a nós cabe a pergunta: Parar por quê?

 

Por conta de finanças – é pouco

Por conta de relacionamentos – é pouco

Por conta de intrigas na igreja – é pouco


Diante destes exemplos estamos sem argumento.

 

6º - A fé é uma capacidade de resistir, não só de conquistar.

Fp 4, 2º Cor 4.6

 

7º - Cansaço e pavor são companheiros de caminhada, mas Jesus está nos chamando a levantar as mãos antes cansadas,  a endireitar os joelhos que estão apavorados e trôpegos. 

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