quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A depressão e os sentimentos

A primeira coisa que vai embora é a felicidade.
Não é possível ter prazer em nada. Isso é notoriamente o sintoma cardeal da depressão
severa.5 Mas logo outras emoções caem no esquecimento com a
felicidade: a tristeza como você a conhecia, a tristeza que parecia tê-lo conduzido
até esse ponto, o senso de humor, a crença no amor e na sua própria capacidade
de amar. Sua mente é sugada a tal ponto que você parece um total imbecil, até
para si próprio. Se seu cabelo sempre foi ralo, parece mais ralo ainda; se você tem
uma pele ruim, ela fica pior. Você cheira a azedo até para si mesmo. Você perde a
capacidade de confiar nas pessoas, de ser tocado, de sofrer. Posteriormente,
ausenta-se de si.

Andrew Solomon - O Demônio do meio dia

A depressão é morte e vida

O nascimento e a morte que constituem a depressão ocorrem simultaneamente.
Há pouco tempo, voltei a um bosque em que brincara quando criança e vi
um carvalho, enobrecido por cem anos, em cuja sombra eu costumava brincar
com meu irmão. Em vinte anos, uma enorme trepadeira grudara-se a essa árvore
sólida e quase a sufocara. Era difícil dizer onde a árvore terminava e a trepadeira
começava. Esta enrolara-se tão completamente em torno da estrutura dos galhos
da árvore que suas folhas pareciam à distância ser as da árvore. Só bem de perto
podia-se ver como haviam sobrado poucos ramos vivos e quão poucos gravetos
desesperados brotavam do carvalho, espetando-se como uma fileira de polegares
do tronco maciço, suas folhas continuando o processo de fotossíntese ao modo
ignorante da biologia mecânica.
Tendo acabado de sair de uma depressão severa, na qual eu dificilmente
acolhia os problemas de outras pessoas, me senti cúmplice daquela árvore. Minha
depressão havia tomado conta de mim como aquela trepadeira dominara o
carvalho. Ela me sugou, uma coisa que se embrulhara à minha volta, feia e mais
viva do que eu. Com vida própria, pouco a pouco asfixiara toda a minha vida. No
pior estágio de uma depressão severa, eu tinha estados de espírito que não reconhecia
como meus; pertenciam à depressão, tão certamente quanto as folhas
naqueles altos ramos da árvore pertenciam à trepadeira. Quando tentei pensar
claramente sobre isso, senti que minha mente estava emparedada, não podia se
expandir em nenhuma direção. Eu sabia que o sol estava nascendo e se pondo,
mas pouco de sua luz chegava a mim. Sentia-me afundando sob algo mais forte
do que eu. Primeiro, não conseguia usar os tornozelos, depois não conseguia controlar
os joelhos e em seguida minha cintura começou a se vergar sob o peso do
esforço, e então os ombros se viraram para dentro. No final, eu estava comprimido
e fetal, esvaziado por essa coisa que me esmagava sem me abraçar. Suas gavinhas
ameaçavam pulverizar minha cabeça, minha coragem e meu estômago,
quebrar-me os ossos e ressecar meu corpo. Ela continuava a se empanturrar de
mim quando já parecia não ter sobrado nada para alimentá-la.
Eu não era suficientemente forte para parar de respirar. Sabia que jamais poderia
matar essa trepadeira da depressão. Assim, tudo que eu queria era que ela
me deixasse morrer. Mas ela se apoderara de minha energia. Eu precisaria me
matar, ela não me mataria. Se meu tronco estava apodrecendo, essa coisa que se
alimentava dele estava agora forte demais para deixá-lo cair. Ela se tornara um
apoio alternativo para o que destruíra. No canto mais apertado da cama, rachado
e atormentado por essa coisa que ninguém parecia ver, eu rezava para um Deus
no qual nunca acreditara inteiramente e pedia libertação. Teria ficado feliz com
uma morte dolorosa, embora estivesse letárgico demais até para conceber o suicídio.
Cada segundo de vida me feria. Porque essa coisa drenara tudo que fluía de
mim, eu não podia sequer chorar. Até a minha boca estava ressecada. Eu pensava
que, quando nos sentimos muito mal, as lágrimas jorrassem, mas a pior dor possível
é a dor árida da violação total que chega depois de todas as lágrimas já terem
se exaurido. A dor que veda cada espaço através do qual você antes entrava em
contato com o mundo, ou o mundo com você. Essa é a presença da depressão
severa.

Andrew Solomon - O demônio do meio dia

Precisamos olhar para as estrelas

Tudo passa — sofrimento, dor, sangue, fome, peste. A
espada também passará, mas as estrelas ainda permanecerão
quando as sombras de nossa presença e nossos feitos
se tiverem desvanecido da Terra. Não há homem que
não saiba disso. Por que então não voltamos nossos olhos
para as estrelas? Por quê?
MIKHAIL BULGAKOV - Citado por Andrew Solomon - "O demônio do meio dia"

A depressão é gradual

A depressão começa do insípido, nubla os dias com
uma cor entediante, enfraquece ações cotidianas até que suas formas claras são
obscurecidas pelo esforço que exigem, deixando-nos cansados, entediados e obcecados
com nós mesmos — mas é possível superar isso. Não de uma forma feliz,
talvez, mas pode-se superar. Ninguém jamais conseguiu definir o ponto de
colapso que demarca a depressão severa, mas quando se chega lá, não há como
confundi-la.

Andrew Solomon - O demônio do meio dia

O Deus indefinível

Mas não há como aplicar a lógica e a justiça humanas ao Deus vivo. A
lógica humana está baseada na experiência humana e na natureza
humana. Iavé não se encaixa nesse modelo. Se Israel é infiel, Deus
permanece fiel contra toda a lógica e contra todos os limites de justiça,
apenas porque ele é. O amor explica a feliz irracionalidade da conduta de
Deus. O amor tende a ser irracional às vezes. Ele persevera a despeito da
infidelidade. Ele floresce em ciúme e ira — que delatam um interesse
sincero. Quanto mais complexa e emocional torna-se a imagem de Deus
na Bíblia, maior ele se torna, e mais nos aproximamos do mistério da sua
indefinibilidade.

O evangelho Maltrapilho - Brennam Manning

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Vinde - O convite de Jesus

"No último julgamento Cristo nos dirá: 'Vinde, vós também! Vinde, bêbados! Vinde, vacilantes! Vinde, filhos do opróbrio!' E dir-nos-á: "Seres vis, vós que sois à imagem da besta e trazem a sua marca, vinde porém da mesma forma, vós também!' E os sábios e prudentes dirão: 'Senhor, por que os acolhes?' E ele dirá: 'Se os acolho, homens sábios, se os acolho, homens prudentes, é porque nenhum deles foi jamais julgado digno*. E ele estenderá os seus braços, e cairemos a seus pés, e choraremos e soluçaremos, e então compreenderemos tudo, compreenderemos o evangelho da graça! Senhor, venha o teu reino!".

Fiodor Dostoiévski

As feridas da instituição

A igreja institucional tornou-se alguém que inflige feridas nos que curam, em vez de ser alguém que cura os feridos

Brennam Manning - O evangelho maltrapilho

O monergismo - iniciativa de Deus

Embora as Escrituras insistam que é de Deus a iniciativa na obra da salvação — que pela graça somos salvos, que é o Formidável Amante quem toma a iniciativa — freqüentemente nossa espiritualidade começa no eu, não em Deus. A responsabilidade pessoal substituiu a resposta pessoal. Falamos sobre adquirir a virtude como se ela fosse uma habilidade que pudesse ser desenvolvida, como uma bela caligrafia ou um bom gingado numa tacada de golfe.

Brennam Manning - O evangelho Maltrapilho