E
havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz Dorcas. Esta
estava cheia de boas obras e esmolas que fazia.
E aconteceu
naqueles dias que, enfermando ela, morreu; e, tendo-a lavado, a depositaram num
quarto alto.
E, como
Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe
mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles.
E,
levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e
todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas
fizera quando estava com elas.
Mas Pedro,
fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o corpo,
disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, assentou-se.
E ele,
dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha
viva.
E foi isto
notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor.
Atos 9:36-42
O
livro de Atos tem o protagonismo divido entre Pedro e Paulo.
Os capítulos 2 a 5 tem o protagonismo de
Pedro, um hiato entre os capítulos 6 e 9.35 apresentam outros personagens
proeminentes, até que a história retorna para o apóstolo.
Após a
morte de Estevão uma grande dispersão foi desencadeada, essa perseguição
espalhou consideravelmente todos os discípulos de Jesus, de modo que a
evangelização que estava restrita a Jerusalém agora se espalhava por várias
cidades. Atingindo os termos de Samaria e outros lugares.
Pedro,
que era considerado um dos “colunas” da igreja fez um trabalho de supervisão
pelas muitas cidades percorridas, até que chegou a Lida. Em Lida ele é usado
por Deus para operar a cura de Enéias. Em cada cidade eram nomeadas pessoas que
eram responsáveis pelo trabalho missionário, o livro de Atos abriu precedentes
inimagináveis em seu tempo.
Possivelmente
em uma cidade vizinha, Jope, uma mulher chamada Dorcas torna-se responsável
pela pregação do evangelho.
Esta
mulher tem características muito peculiares:
1° -
Seu nome
Dorcas – Gazela
As Gazelas
exerciam um certo fascínio nas pessoas nos tempos bíblicos, visto que era um
símbolo de graciosidade, beleza e habilidade.
Dorcas
fez jus ao seu nome em virtude das suas características, ela não apenas
carregou a graciosidade no nome, mas na vida.
As
Gazelas são animais que tem muita habilidade, de modo que seus saltos
transcendem a própria altura, desta forma ela avisa as demais a respeito dos
perigos iminentes.
Seu
modo de correr em zig zag despista e dribla muitas vezes seus predadores que
podem ser mais rápidos.
As
Gazelas eram rápidas tanto para ajudar como para se desviar dos predadores, de
sorte que a Gazela é o segundo animal mais rápido da selva, atingindo 100 KM
por hora, perdendo apenas para o guepardo que atinge até 130 KM.
Dorcas também era rápida em ajudar, em se disponibilizar.
A
Gazela também tinha a profunda capacidade de se solidarizar, para
isso realizava seus saltos em campos abertos para avisar as demais do perigo.
Assim era Dorcas, uma mulher voltada para os outros.
2º
trabalho Missionário de Dorcas
Em
seus dias, Jope era uma terra repleta de viúvas, a atividade da pesca em uma
cidade portuária tal como essa, era muito comum. A atividade pesqueira era
igualmente arriscada em virtude dos acidentes que ocorriam.
Além disso,
havia mulheres que em cidades portuárias, sem assistência, acabavam se
prostituindo.
Dorcas
estava em uma outra situação, ela a Gazela, com graciosidade, habilidade e
rapidez, move-se em direção a todos que não tinham assistência, ou seja, as
viúvas e as mulheres em geral.
Por
isso o texto a apresenta como uma mulher cheia de Boas Obras.
As
boas obras neste contexto dizem respeito a atividade pensada, projetada, Dorcas
era uma mulher com planos para dar assistência as mulheres de seu tempo.
John
Stott comenta que Dorcas desenvolvia peças para as mulheres de seu tempo, tanto
roupas externas como peças internas, sua assistência se deu em linhas gerais.
Dorcas
se preocupa com a honra das mulheres que a rodeava, ela transcende o ser cheia
de qualquer característica fútil, para se tornar uma mulher cheia de boas
obras.
Não
bastasse ser cheia de boas obras, Dorcas é uma mulher cheia de esmolas.
A
esmola diz respeito a necessidades repentinas, necessidades que urgem de
imediato e exigem de nós dar “de nós”, não só do que temos. É a necessidade de
uma peça em uso, de um livro, uma blusa, um valor, um alimento. A esmola é a
necessidade urgente que se dá repentinamente e não permite planejamentos.
Dorcas era desapegada a todas as coisas que poderiam lhe prender.
Dorcas aprendeu a usar seu trabalho como instrumento para glória de Deus, o
costurar transcendia a realidade de apenas ter renda, para ela, costurar era
evangelizar.
O
trabalho como instrumento de evangelismo
Nós
temos um conceito dualista, entendemos que há universos paralelos em que um
senhor governa e que o SENHOR governa, de forma que não atentamos muito para as
responsabilidades com os senhores terrenos. Cremos que mundo espiritual e geral
tem senhores paralelos mas isso não é verdade, Jesus é Senhor de tudo. Paulo
falando aos Efésios disse que devemos ser submissos aos nossos patrões sabendo
que estamos trabalhando para Deus e não para eles. Quando meu serviço é bem
feito, quando alguém nota algo no meu jeito de trabalhar, Deus que é exaltado. Dorcas
aprendeu a glorificar a Deus com seu trabalho, que agora era um meio de servir
o próximo.
Dorcas
exercia profunda influência em seu tempo, mas um dia adoeceu, tendo adoecido,
piorou até morrer.
Sepultamento
judaico
Quando
ela, uma serva do Senhor falece, todos se mobilizam, uma comitiva é enviada até
onde Pedro estava. De Lida a Jope a distância era de 15 a 20 Km.
Neste
interim era dado o devido tratamento ao corpo dela, o judeu falecido, não tinha
seu velório preparado tal como um brasileiro ou ocidental.
Inicialmente era derramada água sobre seu corpo, mas nos membros e
especialmente a cabeça sempre era jogada água morna. Essa água em temperatura
morna visava uma possível volta aos sentidos, em caso de um coma mal
interpretado como morte.
Especiarias
eram postas sobre o corpo durante até sete dias, antes que houvesse o
sepultamento definitivo. Um exemplo é o de Jesus, tendo sido morto em uma
sexta-feira, nos dias seguintes.
“Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as
especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o sepulcro. João 19:40”
As
especiarias eram mirras e aloés, Jesus foi ungido duas vezes.
Na mente dos judeus havia sempre a expectativa em torno de uma possível
ressurreição.
O
natural seria esperar os dias devidos para o sepultamento definitivo, mas no
caso de Dorcas foi diferente. Talvez alguém movido por um sentimento de
saudades, uma gratidão, um inconformismo, uma inquietação que é advinda de um
mover de Deus, decide em seu coração que não deveriam sepultá-la sem esgotar as
alternativas.
1º - O
Deus que designa valida (A necessidade inédita)
É
então que reunidos os discípulos designam dois porta-vozes com uma mensagem
para Pedro:
“E, como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava
ali, lhe mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com
eles.
Atos 9:38”
Me pego
pensando no nível de espanto com o qual Pedro recebeu esta convocação.
· Não
era uma cura simples, não era uma cura de uma enfermidade grave, todas essas
coisas o próprio Pedro já havia visto de perto. Talvez Pedro fez perguntas que
todos faríamos:
Vocês já a lavaram?
· A água
foi posta na cabeça e nos pulsos?
· Há
quanto tempo está constatada a morte?
· Onde a
puseram?
Ela já
estava lavada, a água já havia sido posta e ainda assim o corpo estava inerte,
a morte já estava constatada, mas a colocaram num quarto alto, contrário ao que
se fazia naturalmente.
Pedro
recebe diante de si um desafio, um chamado a um milagre inédito, uma luta maior
que sua capacidade de administrar.
É um
espanto semelhante ao de Eliseu quando chamado ao quarto do menino morto.
É o
espanto que toma Paulo quando Êutico cai.
É
aquele momento exato em que toda a expectativa está sobre você, sobre o Deus
que está sobre você.
Nunca
antes, desde a ressurreição de Jesus havia acontecido uma ressurreição, mas
Pedro sabia que este era o seu momento. Essa não era uma categoria de
coisas que Jesus designou que seria feita com naturalidade, Jesus prometeu que
expulsaríamos demônios, curaríamos enfermos, falaríamos novas línguas,
receberíamos livramentos, mas não há menção de “em meu nome ressuscitarão
mortos”.
Porém
na mente de Pedro há um sentimento: Se a responsabilidade veio até a mim, é
porque o mesmo Deus que me deu a responsabilidade me dará a capacidade para
realizar.
Por
maior que Seja o desafio, a demanda, a responsabilidade, por mais inédita, por
mais ousada; nunca algo vem a nossas mãos para ser resolvido que Deus não tenha
dado a capacidade de resolver.
2º -
Precisamos ter uma vida que fale por nós, mesmo deitados
E,
levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e
todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas
fizera quando estava com elas.
Atos 9:39
Dorcas
é uma mulher que tem uma vida que fala mesmo depois de morta, ela não precisa
de pedir intercessões, pois, os seus frutos vão adiante, os testemunhos, o bem
realizado.
Dorcas
é a demonstração de que há um memorial diante de Deus, de modo que quando não
pudermos nos levantar para interceder, para orar, pessoas se levantarão por
nós.
Nós
também precisamos ser tal qual aquelas mulheres, ter a dignidade de honrar quem
um dia nos cobriu. Ter a dignidade de reconhecer o benefício daqueles que um
dia fizeram algo por nós.
Mas
Pedro, fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o
corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro,
assentou-se.
Atos 9:40
A cena
por si só é intimidadora, o clamor já não é só dos discípulos, é também de
pessoas que queriam a missionária Dorcas de volta.
Mas
algumas lições podem ser extraídas:
3º -
há dimensões de milagres que dependem de certa exclusividade.
Quando
Jesus foi a casa de Jairo, havia carpideiras, pessoas contemplando, Jesus
retira todos e apenas Pedro, Tiago e João viram.
Às
vezes é necessário tirar pessoas do caminho, para que milagres aconteçam,
devemos entrar em certas dimensões de intimidade que não podem ter muitas
testemunhas.
Pedro
imita os passos de Jesus na ressurreição da filha de Jairo
Retira
as pessoas
“Menina
levanta-se”
4º -
Pedro não tinha consolações a dar, tinha respostas definitivas
5º -
Existem membros que de tão prejudiciais são recolhidos, mas existem outros que
são tão necessários que Deus preserva.
E
ele, dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas,
apresentou-lha viva.
Atos 9:41
Pedro
se constituiu um portador de boas novas, ele recusou-se a sair do quarto com
consolos, ele trouxe respostas.
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