sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Levante-se Dorcas - Sermão Entregue a Ad Brás Jd Marina

 

E havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que fazia.
E aconteceu naqueles dias que, enfermando ela, morreu; e, tendo-a lavado, a depositaram num quarto alto.
E, como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles.
E, levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas fizera quando estava com elas.
Mas Pedro, fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, assentou-se.
E ele, dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva.
E foi isto notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor.
Atos 9:36-42

 

O livro de Atos tem o protagonismo divido entre Pedro e Paulo.

 Os capítulos 2 a 5 tem o protagonismo de Pedro, um hiato entre os capítulos 6 e 9.35 apresentam outros personagens proeminentes, até que a história retorna para o apóstolo.

Após a morte de Estevão uma grande dispersão foi desencadeada, essa perseguição espalhou consideravelmente todos os discípulos de Jesus, de modo que a evangelização que estava restrita a Jerusalém agora se espalhava por várias cidades. Atingindo os termos de Samaria e outros lugares.

Pedro, que era considerado um dos “colunas” da igreja fez um trabalho de supervisão pelas muitas cidades percorridas, até que chegou a Lida. Em Lida ele é usado por Deus para operar a cura de Enéias. Em cada cidade eram nomeadas pessoas que eram responsáveis pelo trabalho missionário, o livro de Atos abriu precedentes inimagináveis em seu tempo.

Possivelmente em uma cidade vizinha, Jope, uma mulher chamada Dorcas torna-se responsável pela pregação do evangelho. 

Esta mulher tem características muito peculiares:

1° - Seu nome
Dorcas – Gazela

As Gazelas exerciam um certo fascínio nas pessoas nos tempos bíblicos, visto que era um símbolo de graciosidade, beleza e habilidade.

Dorcas fez jus ao seu nome em virtude das suas características, ela não apenas carregou a graciosidade no nome, mas na vida.

As Gazelas são animais que tem muita habilidade, de modo que seus saltos transcendem a própria altura, desta forma ela avisa as demais a respeito dos perigos iminentes.

Seu modo de correr em zig zag despista e dribla muitas vezes seus predadores que podem ser mais rápidos.

As Gazelas eram rápidas tanto para ajudar como para se desviar dos predadores, de sorte que a Gazela é o segundo animal mais rápido da selva, atingindo 100 KM por hora, perdendo apenas para o guepardo que atinge até 130 KM.
Dorcas também era rápida em ajudar, em se disponibilizar.

A Gazela também tinha a profunda capacidade de se solidarizar, para isso realizava seus saltos em campos abertos para avisar as demais do perigo. Assim era Dorcas, uma mulher voltada para os outros.

 

2º trabalho Missionário de Dorcas

Em seus dias, Jope era uma terra repleta de viúvas, a atividade da pesca em uma cidade portuária tal como essa, era muito comum. A atividade pesqueira era igualmente arriscada em virtude dos acidentes que ocorriam.

Além disso, havia mulheres que em cidades portuárias, sem assistência, acabavam se prostituindo.

Dorcas estava em uma outra situação, ela a Gazela, com graciosidade, habilidade e rapidez, move-se em direção a todos que não tinham assistência, ou seja, as viúvas e as mulheres em geral.

Por isso o texto a apresenta como uma mulher cheia de Boas Obras.

As boas obras neste contexto dizem respeito a atividade pensada, projetada, Dorcas era uma mulher com planos para dar assistência as mulheres de seu tempo.

John Stott comenta que Dorcas desenvolvia peças para as mulheres de seu tempo, tanto roupas externas como peças internas, sua assistência se deu em linhas gerais.

Dorcas se preocupa com a honra das mulheres que a rodeava, ela transcende o ser cheia de qualquer característica fútil, para se tornar uma mulher cheia de boas obras.

Não bastasse ser cheia de boas obras, Dorcas é uma mulher cheia de esmolas.

A esmola diz respeito a necessidades repentinas, necessidades que urgem de imediato e exigem de nós dar “de nós”, não só do que temos. É a necessidade de uma peça em uso, de um livro, uma blusa, um valor, um alimento. A esmola é a necessidade urgente que se dá repentinamente e não permite planejamentos. Dorcas era desapegada a todas as coisas que poderiam lhe prender.


Dorcas aprendeu a usar seu trabalho como instrumento para glória de Deus, o costurar transcendia a realidade de apenas ter renda, para ela, costurar era evangelizar.

 

O trabalho como instrumento de evangelismo

Nós temos um conceito dualista, entendemos que há universos paralelos em que um senhor governa e que o SENHOR governa, de forma que não atentamos muito para as responsabilidades com os senhores terrenos. Cremos que mundo espiritual e geral tem senhores paralelos mas isso não é verdade, Jesus é Senhor de tudo. Paulo falando aos Efésios disse que devemos ser submissos aos nossos patrões sabendo que estamos trabalhando para Deus e não para eles. Quando meu serviço é bem feito, quando alguém nota algo no meu jeito de trabalhar, Deus que é exaltado. Dorcas aprendeu a glorificar a Deus com seu trabalho, que agora era um meio de servir o próximo.

 

Dorcas exercia profunda influência em seu tempo, mas um dia adoeceu, tendo adoecido, piorou até morrer.

Sepultamento judaico

Quando ela, uma serva do Senhor falece, todos se mobilizam, uma comitiva é enviada até onde Pedro estava. De Lida a Jope a distância era de 15 a 20 Km.

Neste interim era dado o devido tratamento ao corpo dela, o judeu falecido, não tinha seu velório preparado tal como um brasileiro ou ocidental.
Inicialmente era derramada água sobre seu corpo, mas nos membros e especialmente a cabeça sempre era jogada água morna. Essa água em temperatura morna visava uma possível volta aos sentidos, em caso de um coma mal interpretado como morte.

Especiarias eram postas sobre o corpo durante até sete dias, antes que houvesse o sepultamento definitivo. Um exemplo é o de Jesus, tendo sido morto em uma sexta-feira, nos dias seguintes.

Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o sepulcro. João 19:40

As especiarias eram mirras e aloés, Jesus foi ungido duas vezes.
Na mente dos judeus havia sempre a expectativa em torno de uma possível ressurreição.

 

 

O natural seria esperar os dias devidos para o sepultamento definitivo, mas no caso de Dorcas foi diferente. Talvez alguém movido por um sentimento de saudades, uma gratidão, um inconformismo, uma inquietação que é advinda de um mover de Deus, decide em seu coração que não deveriam sepultá-la sem esgotar as alternativas.

 

1º - O Deus que designa valida (A necessidade inédita)

É então que reunidos os discípulos designam dois porta-vozes com uma mensagem para Pedro:

E, como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles.
Atos 9:38

Me pego pensando no nível de espanto com o qual Pedro recebeu esta convocação.

·       Não era uma cura simples, não era uma cura de uma enfermidade grave, todas essas coisas o próprio Pedro já havia visto de perto. Talvez Pedro fez perguntas que todos faríamos:

Vocês já a lavaram?

·       A água foi posta na cabeça e nos pulsos?

·       Há quanto tempo está constatada a morte?

·       Onde a puseram?

 

Ela já estava lavada, a água já havia sido posta e ainda assim o corpo estava inerte, a morte já estava constatada, mas a colocaram num quarto alto, contrário ao que se fazia naturalmente.

Pedro recebe diante de si um desafio, um chamado a um milagre inédito, uma luta maior que sua capacidade de administrar.

 

É um espanto semelhante ao de Eliseu quando chamado ao quarto do menino morto.

É o espanto que toma Paulo quando Êutico cai.

É aquele momento exato em que toda a expectativa está sobre você, sobre o Deus que está sobre você.

Nunca antes, desde a ressurreição de Jesus havia acontecido uma ressurreição, mas Pedro sabia que este era o seu momento. Essa não era uma categoria de coisas que Jesus designou que seria feita com naturalidade, Jesus prometeu que expulsaríamos demônios, curaríamos enfermos, falaríamos novas línguas, receberíamos livramentos, mas não há menção de “em meu nome ressuscitarão mortos”.

Porém na mente de Pedro há um sentimento: Se a responsabilidade veio até a mim, é porque o mesmo Deus que me deu a responsabilidade me dará a capacidade para realizar.

 

Por maior que Seja o desafio, a demanda, a responsabilidade, por mais inédita, por mais ousada; nunca algo vem a nossas mãos para ser resolvido que Deus não tenha dado a capacidade de resolver.

 

2º - Precisamos ter uma vida que fale por nós, mesmo deitados

E, levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas fizera quando estava com elas.
Atos 9:39

 

Dorcas é uma mulher que tem uma vida que fala mesmo depois de morta, ela não precisa de pedir intercessões, pois, os seus frutos vão adiante, os testemunhos, o bem realizado.

Dorcas é a demonstração de que há um memorial diante de Deus, de modo que quando não pudermos nos levantar para interceder, para orar, pessoas se levantarão por nós.

Nós também precisamos ser tal qual aquelas mulheres, ter a dignidade de honrar quem um dia nos cobriu. Ter a dignidade de reconhecer o benefício daqueles que um dia fizeram algo por nós.

 

Mas Pedro, fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, assentou-se.
Atos 9:40

 

A cena por si só é intimidadora, o clamor já não é só dos discípulos, é também de pessoas que queriam a missionária Dorcas de volta.

 

 

 

 

Mas algumas lições podem ser extraídas:

3º - há dimensões de milagres que dependem de certa exclusividade.

Quando Jesus foi a casa de Jairo, havia carpideiras, pessoas contemplando, Jesus retira todos e apenas Pedro, Tiago e João viram.

Às vezes é necessário tirar pessoas do caminho, para que milagres aconteçam, devemos entrar em certas dimensões de intimidade que não podem ter muitas testemunhas.

 

Pedro imita os passos de Jesus na ressurreição da filha de Jairo

Retira as pessoas

“Menina levanta-se”

 

4º - Pedro não tinha consolações a dar, tinha respostas definitivas

5º - Existem membros que de tão prejudiciais são recolhidos, mas existem outros que são tão necessários que Deus preserva.

 

E ele, dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva.
Atos 9:41

 

Pedro se constituiu um portador de boas novas, ele recusou-se a sair do quarto com consolos, ele trouxe respostas.

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