sábado, 6 de agosto de 2022

Não a Banalização - Sermão Entregue no culto de Ceia Ad Brás Sto Eduardo

 

“Nisto que vou dizer não vos louvo” – Dizendo não a Banalização

1 Coríntios 11:17-32

 

A cidade de Corinto

Corinto era capital da Acaia, neste tempo, uma das principais cidades do mundo.

Era uma cidade rica, visto que tinha na atividade portuária sua principal fonte de renda, a cidade era privilegiada por ter dois portos, sendo ponto de parada de diferentes embarcações do mundo em seu tempo. Os barcos desembarcavam em um dos portos e evitavam a viagem no entorno da cidade que tinha canais perigosos, seguindo por terra, gerando também viagens terrestres na cidade.

Devido a sua grande quantidade de visitantes anuais, a cidade prosperou financeiramente e tornou-se uma das mais ricas de seu tempo.

Cultura de Corinto

Também era uma cidade repleta de questões culturais delicadas, os seus padroeiros eram Afrodite e Apolo, as sacerdotisas de Afrodite, tinham o hábito diário de no final das tardes descer até o povo e oferecer seus corpos como parte do ritual de culto, também havia considerável atividade de contrabando e outras coisas desta natureza.

A cidade era tão profana que na antiguidade ser chamado de “Corintio” era uma ofensa, um sinônimo de profanação.

\A cidade foi reconstruída em 44 ac. Para ser um lugar de escravos libertos, de várias nacionalidades. Nos dias apostólicos havia 250.000 cidadãos livres e 400.00 escravos, tendo crentes de ambos os lados.

Neste tempo havia uma infinidade de credos, linhas de pensamento, influências, tornavam a cidade um lugar considerado repleto de intelectuais sob influência grega, romana e de inúmeros outros lugares do mundo.

 

Paulo em Corinto

Paulo vinha de uma infinidade de problemas nesta sua segunda viagem missionária, a princípio sua rota seria o retorno por todas as cidades da primeira viagem, porém impedido pelo Espírito de pregar Paulo muda a Rota, partindo para Trôade, Tessalônica, Beréia e por fim Atenas. Em todos estes lugares Paulo fala sob intensa dificuldade.

Ao chegar a Corinto, Paulo estava, segundo suas próprias palavras em fraqueza e temor.

 

Corinto se constitui um ambiente hostil para quem deseja se recuperar, porém Deus prepara este local em vários sentidos. Inicialmente Claudio, que era o imperador expulsou os judeus de Roma, por conta de seus tumultos gerados a partir da expansão da fé cristã. Neste tempo, Priscila e Áquila, descem a Corinto, onde exercem o mesmo ofício que Paulo, provavelmente este tenha sido o elo inicial entre Paulo e seus ajudadores. A princípio, Paulo faz assim como tantas outras vezes, prega inicialmente aos Judeus, enquanto prepara tendas na semana.

É neste local que Paulo planta uma igreja em sua segunda viagem missionária, tendo passado dias tentando ensinar aos judeus e gregos sobre Jesus. A princípio Paulo pregava séries de mensagens aos sábados, após a chega de Timóteo e Silas, Paulo pode se dedicar exclusivamente a pregação, o que se constituiu um grande encorajamento. Porém sendo resistido por um espaço de tempo, passou a pregar aos gentios como era seu costume fazer.

Justo abriu as portas de sua casa e lá iniciou-se o trabalho entre os gentios, durante 1 ano e 6 meses o evangelho crescia em Corinto, Crispo, o que antes era principal da sinagoga se entregou a Cristo e Paulo foi ainda mais encorajado a permanecer.

Paulo prevendo certo agravamento na hostilidade dos Judeus, recebeu do próprio Espírito a coragem para permanecer:

E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales;
Porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.
E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
Atos 18:9-11

Paulo foi levado ao tribunal pelos Judeus e logrou êxito, mediante um grande livramento de Deus.

É sob todas essas dificuldades que Paulo vê em Corinto, um lugar difícil, avesso aos conceitos de santidade e pureza, uma porta grande e eficaz para pregação do evangelho.

 

A igreja é plantada ali após 1 ano e meio, obreiros são constituídos, a organização da igreja estava sob cuidado destes e Paulo vai adiante em suas missões.

 

 

 

 

 

A igreja de Corinto:

Ao se dirigir a Éfeso, onde ficou dois anos e três meses, Apolo assume a responsabilidade de ensinar a igreja de Corinto, porém considerando as muitas dificuldades do local, alguns problemas surgem na organização da igreja, de modo que uma primeira carta é enviada a Paulo com algumas dúvidas e este documento se perdeu.

Passado algum tempo, as coisas se intensificaram no que diz respeito aos problemas da igreja, de modo que a Família de Cloé envia uma série de perguntas e relatos ao apóstolo Paulo, que em resposta aos problemas redige essa carta que chegou até a nós, denominada 1º Coríntios.

 

Os principais problemas da igreja poderiam ser listados abaixo:

·       Depravação

·       Bebedices

·       Licenciosidade (graça barata)

·       Partidarismos (Sou de Paulo, Sou de Apolo, Sou de Pedro e sou de Cristo).

·       Arrogância intelectual

·       Desorganização da igreja no culto

 

Considerando todos esses problemas, Paulo envia esta carta a igreja, a fim de corrigir os rumos.

 

A instituição da ceia do Senhor

Tendo sua celebração realizada de forma regular em toda igreja Cristã, a ceia do Senhor, ou santa Ceia, dependendo da interpretação, tem suas pequenas variações, tais como horas para se tomar os elementos, a composição dos elementos, regularidade de celebração, etc.

Porém ainda que pequenas partes do ato variem, há elementos que são comuns: Sempre a celebração da ceia obedece a uma regularidade, as vezes mensal, as vezes semanal, em alguns poucos lugares é anual.

Sempre se celebra fundamentado no mandato de Cristo de que ele deveria feito em memória dele. Alguns rituais são repetidos em toda e qualquer profissão de fé cristã, são eles o batismo e a ceia do Senhor. Estes são pedidos finais de Jesus, um deles é feito antes da morte, o outro, posterior a ressurreição.

Desta forma, independentemente do método utilizado, tudo o que não se pode perder é a sacralidade do momento, a importância dada a celebração.

 

A Banalização da Ceia

Na medida em que o tempo passa, as palavras, os atos, vão se esvaziando de sacralidade e importância que lhe foram conferidos inicialmente, passamos a lidar com um certo descaso com aquilo que naturalmente é importante para aquele que nos chamou.

Ainda hoje há uma certa indiferença no que diz respeito à ceia, não são poucos que a trocam por coisas de todo fúteis, desconsiderando a importância que o próprio Jesus deu a ela. Muito disso se dá por falta de conhecer a importância do ato, por um desencantamento da própria igreja com o momento, com as “repescagens de ceia”, com a falta de seriedade de nós líderes que na realização do ato, o fazemos sem zelo, sem cuidado, sem intensidade.

Este problema de falta de importância ao que é importante não é algo novo, já nos tempos do apóstolo Paulo, pouquíssimos anos após a instituição inicial de Jesus, já se tornava banal a celebração da Eucaristia. Especialmente na cidade de Corinto, Paulo recebe a informação de que as coisas iam mal, considerando os relatos de Cloé o apóstolo faz duras correções e um redirecionamento da celebração da ceia

 

A ceia em Corinto capítulo 11

 

A ceia nos tempos bíblicos era um ato de refeição coletiva, isto se dava desde os primeiros atos dos apóstolos – AT. 2.42, era uma espécie de ato de comunhão, solidariedade e de favorecimento aos menos privilegiados.

Wiersbie menciona que neste tempo, o jantar da ceia era chamado de “jantar ágape”, a refeição do amor entre irmãos.

Porém assim como foi dito, atos coletivos na igreja começam bem, mas tendem as e esvaziar do seu significado, tornando-se banalizados e essa era a maior queixa de Paulo, a banalização.

É então que Paulo faz sua denúncia:

“Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior.
Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio.
E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.
1 Coríntios 11:17-19

 

 

 

1º O ajuntamento quando esvaziado de propósito não traz benefício coletivo.

2º A igreja não deve ter grupos paralelos, todos devem estar juntos e ter tudo em comum – At. 2.

3º Quando perdemos o sentido de comunhão tornamos a igreja um ajuntamento que em nada difere dos demais ajuntamentos do mundo e com todas suas características.

4º Paulo trata com ironia o modo dos Coríntios pensarem, visto que com as muitas divisões internas, eles tornavam claro quem de fato era verdadeiro, aparentemente eram poucos.

5º Aparentemente as diferenças de fora eram trazidas para dentro da igreja, escravos e livres, ricos e pobres, santos e profanos, eram tratados de formas distintas.

 

Paulo prossegue em sua denúncia:

De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor.
Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se.
Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo.
1 Coríntios 11:20-22

 

·       O esvaziamento foi tão intenso, que se reuniam para qualquer coisa que não fosse a ceia do Senhor. Ausência de propósito – V.20

·       A ceia tornou-se em Corinto uma espécie de competição em que cada um mostraria o quanto poderia comer, quais pratos poderia levar, o quanto se tinha – V.21

·       O nível da segregação era tanto, que os ricos, os livres, comiam antes dos demais, até se embriagar, enquanto o pobre estava com fome.

·       Paulo chega as vias de dizer que era impossível que se tratassem assim em suas casas, havia um mínimo de hospitalidade, mas o ambiente de culto estava tão banalizado, que eles “desprezavam a igreja de Deus e envergonhavam os outros.

 

 

 

 

Com tristeza digo, há uma banalização, uma falta de sacralidade, uma ausência de propósito, uma não hospitalidade, hostilidade mútua, desigualdade e em muitos aspectos nos assemelhamos aos Coríntios, é pensando nisso e considerando que tudo que foi escrito, foi para nossa edificação, que gostaria de pregar o sermão de Paulo para fazer uma apologia ao momento da ceia.

Não foram poucas as vezes que vi pessoas argumentarem que não sabem as razões da ceia ser considerada tão importante.

Mensalmente celebramos a ceia e dizemos que este é o principal ato da igreja, o principal culto, aliás, de tanto repetir, decoramos o texto da ceia.

Mas a pergunta que devemos fazer é: Por que a ceia é tão importante?

 

Paulo respondeu através deste sermão escrito.

A importância da ceia

 

1º - A ceia não foi inventada por qualquer pessoa, é um mandato de Jesus:

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei - 1 Coríntios 11:23

Não foi um mandato da igreja, não foi apenas uma decisão do apóstolo Paulo, Não foi apenas algo que consideraram interessante, mas foi uma ordem direta de Jesus.

·       Paulo recebeu isso diretamente de Jesus – Gl 1.15-17

·       Foi no primeiro dia da festa dos pães asmos que Jesus ordenou que preparassem o salão, a mesa e tudo mais.

·       Foi ele quem disse “façam em memória de mim”.

·       Foi Jesus quem disse “desejei muito este momento” Lc 22.15

·       Jesus eternizou o momento – Eu não comerei da ceia até que se cumpra.

 

O que torna a ceia importante é o simples fato de que se é importante para Jesus, também é para nós.

Se Jesus desejou, eu também desejo.

 

 

 

 

 

 

 

2º - Na ceia Jesus mostra que a comunhão vence as diferenças e decepções.

que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
1 Coríntios 11:23b”

 

Poderia ter sido escolhido qualquer dia, mas Jesus escolheu a noite em que foi traído, Judas estava lá, Judas saiu de lá para o vender, Judas já havia negociado o preço.

·       Jesus está lavando seus pés sabendo do que ele fez, a areia sobre o seu pé é de quem pisou no terreno da traição.

·       A areia sobre o pé de Pedro é de quem pisou o terreno da negação.

Mas naquele momento, todas aquelas diferenças ficaram por terra, todos esses atos, ficaram de lado. Na noite que Jesus foi traído ele fez o ato de maior comunhão.

Foi no dia que levantaram o calcanhar João 13.18, na prática, levou um chute, que ele fez o maior ato.

Jesus num ato de honra lhe dá o bocado molhado no vinho – Um sinal de amor.

A comunhão é maior do que as diferenças, traições, o sacrifício de Cristo nos une a ele.

 

3º - Este era o pedido final de Jesus ao partir o pão: Lembrem de mim.

“fazei isto em memória de mim.  1 Coríntios 11:24

Pedidos finais de pessoas são levados a sério, logo não seria de menor importância com Jesus.

Annamnesis representa a memória vívida de Jesus, não apenas lembrar, mas tornar a sentir.

 

Dt. 16-3 Pão sem fermento na páscoa.

·       Paulo deseja transportar os discípulos para o dia da instituição da ceia.

·       Consideremos como Jesus se sentia, como estava, seus anseios.

·       A alegria, também a expectativa.

·       Jesus queria que seus discípulos mantivessem viva sua memória, que nunca se esquecessem dele, neste sentido, é tudo sobre Jesus, não sobre nós, como nos sentimos, o que queremos, é sobre ele.

 

 

4º - A ceia é um convite de Jesus que ressignifica o primeiro elemento: O pão – Corpo

(Considere os sofrimentos físicos)

·       Os açoites

·       A roupa posta e tirada

·       A coroa de espinhos

·       Os pregos

·       A asfixia

·       O abandono

·       A humilhação

 

5º - A comunhão da ceia quando negligenciada é deixar de ter “Parte com Jesus”, mas o contrário também é verdadeiro

(Isto é meu corpo)

Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.
Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
João 6:53-58

 

6º - A ceia apresenta um novo fundamento para a aliança entre Deus e nós. Ao tomar o cálice Jesus fala de uma aliança fundamentada na graça – V.25

Toda a aliança do A.T estava fundamentada na observância da lei, tendo como pontos fundantes a exclusividade de alguns poucos que compunham seu povo.

Jesus agora faz uma nova aliança, essa aliança era fundamentada no seu sangue, o sangue é a garantia de que eu e Deus não somos mais inimigos, o sangue é a garantia de que eu fui comprado, eu pertenço a ele.

Na nova aliança não dependo do meu desempenho, o sangue limpa, o sangue garante, o sangue perdoa.

7º - A ceia lembra a centralidade da Cruz – V. 26

(Há um desencantamento com a mensagem central da bíblia).

A cruz se constitui um escândalo, Paulo já havia falado aos Coríntios sobre isso.

Para os gregos era simples, para os Judeus uma Blasfêmia, para nós é poder.

 

8° - A ceia é um convite a reflexão, confissão e gratidão – V. 27-28

O autoexame é necessário, mas não nos incentivando a não participar, mas sim a considerar tudo.

A dignidade não se dá no merecer (ninguém merece)

A dignidade está no temor e reverência e empatia V. 27

O amor da cruz nos constrange – 2º Cor. 5.14

Morri na cruz por ti, que fazes tu por mim?

 

9º - O não discernimento transforma corpo e sangue em Juízo

Engolindo-se o Juízo se enfraquece e adoece. (Isso influencia na vida da igreja como corpo, iniquidades, pecados ocultos, irreverência, insensibilidade).

 

10º - A ceia é um dia de entender o amor de Deus por nós.

 

Ao sermos repreendidos na ceia, somos chamados a meditar como filhos.

Deus só dá alertas tão intensos a quem ele ama, a falta de repreensão caracteriza um abandono de quem desistiu, de quem já não se importa, ao nos repreender de formas tão intensas, Jesus não quer nos perder de vista, Jesus não quer que sejamos levados para o mundo, que percamos o foco ingerindo juízo para si ao invés de coisas boas.

 

O resumo de todo o sermão de Paulo na ceia, é que todo o ato, tudo que pensamos neste dia, tudo é sobre Jesus e não sobre nós.

Panorama de Miquéias – Sermão entregue a Ad Brás Valo-Velho em 16/06/2021

 

Panorama de Miquéias – Quem é como o Senhor?

Sermão entregue a Ad Brás Valo-Velho em 16/06/2021

“Ai de mim! Porque estou como quando são colhidas as frutas do verão, como os rabiscos da vindima: não há cacho de uvas para chupar, nem figos temporãos que a minha alma deseja.
Miquéias 7:1

Os profetas são nossos contemporâneos, são portadores de mensagens totalmente compatíveis com nosso tempo, ainda que carregados de alegorias diversas, uma análise mais detalhada mostrará que os dilemas dos profetas também são os nossos, as suas tristezas, inquietações, tornam sua mensagem relevante neste tempo.

 

·       Miquéias era um habitante de Moresete-Gate – Uma aldeia ao sul de Jerusalém, logo era um profeta interiorano.

 

·       Era contemporâneo de Isaías que tinha acessos diferenciados, por ser parte da aristocracia em seu tempo. Miqueias por sua vez era homem comum, um civil de seu tempo, tendo os conflitos do dia a dia sentidos em sua pele.

 

·       Também era contemporâneo de Amós e Oséias, formando o quarteto de profetas pré-exílio.

 

·       Profetizou no período de 735 a 715 A.C – Ou seja, durante vinte anos.

 

 

·       Parte da compreensão da mensagem profética se dá mediante a identificação dos reis de seu tempo, logo o texto apresenta no primeiro versículo quem eram os reis de seus dias, a saber:

 

Jotão, Acaz e Ezequias.

Cada um destes revela parte das condições espirituais e econômicas de seus dias.

·       Jotão – O rei omisso

·       Acaz – O Rei idólatra

·       Ezequias – O sucessor reformador

-Miqueias direciona sua mensagem nos primeiros capítulos aos dois reinos de Israel, mas posteriormente tem o foco em Judá, o reino do sul

 

Como boa parte dos profetas, Miquéias faz uso de uma linguagem jurídica, em que o Senhor, apresenta suas acusações, tal qual um promotor o faz.

Ao mesmo tempo o Senhor também se constitui juiz.

O livro de Miquéias se constitui uma denúncia sobre questões sociais, religiosas, morais e mescla tudo isso aos sentimentos pessoais do profeta, bem como demonstra o amor do Deus que acusa, julga, condena, mas absorve. A mensagem de Miquéias é atual porque vivemos dias semelhantes aos dele.

 

1º - Deus como promotor

Apresentação de Deus – V. 2

O aspecto de grandeza de Deus é novamente apresentado, sua vinda em grandeza, uma vez que não é pacífica, se constitui um juízo por si só – V.3-4

Deus promete destruir as duas capitais, por serem verdadeiras centrais de pecados V. 5-6

 

2º - O profeta frequentemente carregava consigo o fato de estar dividido, entre o amor a Deus e o amor ao seu povo.

O profeta se descobria um mediador, entre o Deus sedento por exercer o juízo e o seu povo que é vítima e merecedor deste.

Ainda que o profeta seja alguém que zela profundamente pelo nome de Deus, a santidade de Deus e a veracidade da mensagem, ele sofre por ela.

Por isso lamentarei, e gemerei, andarei despojado e nu; farei lamentação como de chacais, e pranto como de avestruzes.
Porque a sua chaga é incurável, porque chegou até Judá; estendeu-se até à porta do meu povo, até Jerusalém.
Miquéias 1:8,9

 

Particularmente tenho dificuldades em conceber quem sente prazer em anunciar juízos, quem se orgulha de falar das coisas ruins que contempla, pois, no mínimo não há discernimento da mensagem, ou amor aos destinatários da mensagem. Os profetas bíblicos são pessoas que carregam sobre si o peso do coração de Deus.

O profeta é alguém quebrantado, mas quebrantado não porque é humilhado, quebrantado porque carrega sobre si o peso, o peso do coração de Deus. O profeta é o homem abatido, angustiado, é uma pessoa que esqueceu-se de seus próprios pesos e recebeu sobre seus ombros o coração de Deus. O sentimento de Deus é derramado sobre o profeta, ele tem seus próprios sentimentos e também os do povo.

Abraham Joshua Heschel”

 

O profeta carrega em seu coração seu nacionalismo, mas também o peso do coração de Deus, o profeta é alguém que muitas vezes não pode considerar demasiadamente nenhum dos lados sem ser afetado.

 

Os verdadeiros profetas são aqueles que se lamentam por seu povo, que oram por eles, que movidos de compaixão pelo povo anunciam a mensagem, mas ao mesmo tempo se lamentam em ver que seus ouvintes são afetados por ela.

 

 

 

 

3º - O jogo de palavras de Miquéias com as cidades do entorno de Judá:

 

Os profetas eram homens dotados de inspirações divinas e compunham verdadeiras peças de literatura muito refinada, de modo que Miquéias faz um jogo de palavras muito profundo ao falar sobre a situação de Judá.


Os Assírios ameaçavam e sitiavam Judá com certa frequência, num dado momento, Judá tem 46 cidades tomadas por eles, é então que Miquéias ciente do significado de cada cidade apresenta o juízo em forma de poesia.


Ler em bíblias de versões recentes os versículos 1.10-16

 

 

4º - As razões do juízo divino

 

·       Males planejados a noite e praticados durante o dia – 2.1

·       Tomada de propriedades dos pobres – 2.2

·       Este ato era feito por meio de violência – 2.2b

·       Orgulho – 2.3


O primeiro pecado se resumia em cobiça por parte dos mais ricos, configurando uma terrível desigualdade social.

 

·       Havia uma espécie de coação quanto às mensagens a serem pregadas, de modo que verdadeiros profetas se passavam por falsos e vice-e-versa. – 2.6

·       Os profetas se asseguravam numa certa escolha divina, de modo que um quietismo demasiado os tomava. – 2.7

·       Afetavam as mulheres removendo-as de suas casas 2.9

·       Crianças pobres eram expostas a violência muito cedo – 2.9b

·       Os falsos profetas eram valorizados – 3.11

(Os valorizados são os que iludem, enganam e ensinam a tirar coisas de Deus).

·       Os políticos comiam as carnes do povo para enriquecer ainda mais – 3.1-3

·       O poder judiciário também estava vendido – 3.11a

 

·       O resumo da corrupção se dá no capítulo 7

 

 

Com as mãos prontas para fazer o mal, o governante exige presentes, o juiz aceita suborno, os poderosos impõem o que querem; todos tramam em conjunto.
Miquéias 7:3

 

 

·       Por fim a dissolução familiar:

Pois o filho despreza o pai, a filha se rebela contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos do homem são os seus próprios familiares.
Miquéias 7:6

 

 

 

O profeta não tinha para onde olhar, não tinha referências:

 

·       As pessoas eram mentirosas – 7.5

·       Não se podia acreditar mais em família 7.6

·       Não se podia ter uma propriedade em paz

·       Os ricos humilhavam os pobres

·       Estes por sua vez recorriam a políticos, mas estes eram parte do esquema

·       Os juízes também se vendiam

·       Os profetas que seriam referência de integridade também estavam dissolutos.

 

“Neste ninho de cobras que se tornou a sociedade atual, tudo o que precisamos é de um princípio, o mais belo, o mais nobre, enquanto dos olharem para o seu princípio, você foge com o dinheiro”.

Lilian Herman

 

Este pensamento expressa a lógica dos dias de Miquéias.

 

Ao ver todo o cenário o profeta declara um “ai” contra si mesmo, um sentimento de profunda inadequação, solidão, falta de referências e assim inaugura o capítulo 7.

 

 

Lições práticas

 

 

1.    O preço do saber a verdade é ter de conviver com as inquietações de descobri-la.

Miquéias se sentia totalmente alheio ao seu tempo, se sentia alguém esquecido, alguém totalmente a parte de todo o seu tempo.

 

 

 

 

 

 

 

2.     Em tempos de dissolução, tal qual era o de Miquéias, nós devemos agir com convicção das verdades irredutíveis da palavra. Não importando se todos os demais estão em outra direção:

 

 Mas eu estou cheio do poder do Espírito do Senhor, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado.
Miquéias 3:8

 

Devemos cuidar de não sermos pragmáticos demais. A verdade não é cômoda, é inegociável.

 

Malcolm Muggeridge “Somente peixes mortos nadam junto à correnteza” Citado por John Stott em “Discípulo radical”

 

 

3.     Em dias de dissolução devemos questionar nossa prática espiritual:

 

Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano?
Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma?
Miquéias 6:6,7

 

 

Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?
Miquéias 6:8

 

Em dias de dissolução a resposta que Deus exige de nós não é mais atos religiosos, mas um caráter diferente da sociedade que nos rodeia.

 

 

 

 

 

 

 

 

4.    Em dias de dissolução completa, devemos repousar ao saber que podemos esperar em Deus.

 

Eu, porém, olharei para o Senhor; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá.
Miquéias 7:7

A espera por alguém sempre é parada, inerte, cansativa. Esperar em Deus é dar passos maiores do que todos os nossos esforços alcançam, esperar em Deus é descansar, esperar em Deus é encontrar paz mesmo em meio ao caos, esta foi a decisão de Miquéias, esperar naquele que não lhe decepcionaria, mesmo carecendo de referências terrenas.

 

 

5.    Ao compreender os planos de Deus Miquéias fez uma pergunta sem resposta, mas que sempre valerá a repetição.

 

Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniqüidade, e que passa por cima da rebelião do restante da sua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na sua benignidade
Miquéias 7:18

 

Quando Deus deseja exercer juízo contra uma nação alheia ao seu povo, mas também deseja julgar o seu povo, ele o faz do seguinte modo:

 

·       Usa a nação vizinha para castigar o seu povo

·       Seu povo se humilha ao passo que o opressor se ensoberbece

·       O povo opressor é julgado por Deus

·       Deus perdoa o seu povo e lhe restaura

 

Ao compreender isso Miquéias exulta em seu coração, pois, enxergou além do juízo, compreendeu o perdão que viria do mesmo Deus que julga com justiça.

 

O Nome Miquéias significa: Quem é como o Senhor?

O nome do profeta é usado numa espécie de louvor seguido de afirmação de fé: Quem é Deus semelhante a este? – 7.18

 

Essa pergunta não tem resposta, Deus é incomparável, as razões que tornam este Deus diferenciado se descrevem nas palavras finais de Miquéias.

Deus perdoa, restaura, esquece, Deus ama o seu povo.

 

Uma curiosidade a respeito de Miquéias é que este foi o profeta que descreveu onde o Messias iria nascer. Mq. 5.2

 

O livro de Miquéias é uma mensagem de esperança para o Brasil hoje.