quinta-feira, 18 de abril de 2024

Sobre viver ou sobreviver? Aproveitando os tempos - Sermão de um culto de ensino em 2024

Naqueles dias adoeceu Ezequias mortalmente; e o profeta Isaías, filho de Amós, veio a ele e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás... E acrescentarei aos teus dias quinze anos, e das mãos do rei da Assíria te livrarei, a ti e a esta cidade; e ampararei esta cidade por amor de mim, e por amor de Davi, meu servo.

2 Reis 20:1 e 6

 

Usando o tempo com sabedoria

 

Considere com que pesar o rei Ezequias recebeu essa notícia, tendo passado alguns vendo os pecados de seu pai ele assentou em seu coração ser um rei diferente.

14 anos haviam se passado desde o início de seu reino, a essa altura ele tinha 39 anos, as portas do templo haviam sido reabertas, o culto restaurado, o sistema de aqueduto estabelecido, livramento inexplicável recebido de Deus.

Com 39 anos ele adoece, ao que parece sua enfermidade é uma espécie de úlcera que se agravou ao ponto de ele temer pela própria vida.

Sua doença foi grave ao ponto do profeta declarar que ele não escaparia, apenas deveria se preparar, organizar algumas coisas, pois, em breve ele morrerá.

Imagine como a mente de Ezequias ficou, 39 anos, com um breve tempo de reino, agradando a Deus, ele vê que o tempo está se esvaindo, Josefo aponta que seu desespero se dá pelo fato de aos 39 anos não possuir filhos, logo seu reino seria transmitido a outra linhagem que não era necessariamente sua.

De certa forma, sua esposa, deveria ser redimida por algum irmão, sua herança seria passada a um terceiro.

Ezequias se vê sem tempo, sem dias pela frente, ele descobre da pior forma que nós não somos donos do tempo.

O tempo não se trata de uma propriedade nossa, algo que usamos sem limite, algo que gerimos sem contingências, a vida é repleta de imprevistos e todos nós que estamos presos dentro da dimensão do Chronos estamos sujeitos um dia ver o tempo que nos foi dado acabar.

O Escritor Ziel Machado discorre uma experiência muito marcante, que foi a morte de sua mãe.

Tendo a oportunidade de avisar sua família sobre sua partida, sua mãe reuniu a família numa sexta-feira e como anunciado partiu para o Senhor num domingo.

Por ser uma família de pastores, ao olharem aquela cena, o filho dirigiu-se ao pai esperando ouvir uma palavra, ao que seu pai já experiente e calejado disse:

 

“Morremos da mesma forma que vivemos”.

 

Dificilmente como Ezequias teremos o tempo de vida acrescentado em 15 anos, a grande maioria de nós parte de forma repentina iminente, sem a oportunidade sequer de fazer uma última oração.

Ezequias ainda teve a oportunidade de ter 15 anos acrescentados a sua vida, nessa ocasião teve seu filho Manassés e teve tempo para adquirir riquezas e cometer o erro de receber a comitiva Babilônica e assim introduzir o juízo de Deus contra seu povo. De certa forma, o tempo adicionado a Ezequias foi um presente inesperado.

Imagino a alegria de Ezequias ouvindo que teria ainda mais 15 anos para viver, ter filhos, adquirir riquezas, reinar, desfrutar coisas.

Ezequias no fundo sentia que sua missão não estava completa.

Para ele ficou muito claro que o tempo não é algo que controlamos, não é uma propriedade, o tempo sempre será um presente.

 

 

 

 

 

Considerações sobre o tempo

 

Neste sentido, chegando a 30 anos, olhando algumas perdas, a brevidade da vida, considero a afirmação de Ziel Machado extremamente pertinente:

O tempo é vida, e a vida é um presente. O tempo é dádiva.

 

Algumas reflexões são necessárias ao meditar sobre isso, a primeira é, como estamos usando o tempo que recebemos como dádiva?

 

Nós precisamos encontrar o equilíbrio entre a futilidade e utilitarismo

 

1º - A questão da futilidade

O brasileiro passa em média 56% do tempo que está acordado no celular ou computador, o que torna a média diária em torno de 9 horas e 32 minutos.

O Instagram é a rede mais utilizada e as pessoas passam em média 4 horas diárias apenas nele.

Vi certa vez um documentário que propôs uma reflexão muito pertinente, são duas as categorias de serviços que chamam seus clientes de usuários.

“As drogas e as de software” – O dilema das redes.

Gastamos o tempo de forma tão fútil que em nome de um não utilitarismo, adotamos um sistema de recompensas rápidas, de forma que atividades que não tragam um retorno tão satisfatório como o que as redes proporcionam são rapidamente deixadas de lado.

O tempo também é gasto dissolutamente através da procrastinação, de certa forma vivemos num ciclo em que eu primeiro procrastino, depois, me lamento do tempo que procrastinei e nada faço.

Devemos cuidar para que não façamos uso da dádiva que é o tempo de forma tão dissoluta que percebamos com pesar no futuro que o gastamos dissolutamente.

“Deus me deu um cavalo e uma mensagem, eu matei o cavalo e agora não posso levar a mensagem.“ Robert M. McCheyne Esse jovem pastor da Escócia morreu aos 30 anos e esta foi uma das suas últimas declarações”.

 

Alguns de nós vivem num quietismo em que a vida simplesmente passa, sem ser vivida.

Oscar Wilde disse certa vez que “Viver é raro, a grande maioria das pessoas simplesmente existe”.

 

A DISCIPLICÊNCIA COM O TEMPO

Há pessoas que pensam que serão jovens o tempo inteiro, que a vida nunca lhe cobrará nada, displicentemente eles deixam os dias passarem, sem razão, sem propósitos, apenas veem os dias se esvaindo.

Entram os anos, saem os anos, nada conquistam, nada aprendem, simplesmente existem.

Gastamos nosso tempo como gastamos nossa vida! Não somos donos do nosso tempo, nem sobre ele tempos controle.

 

2º - O UTILITARISMO EXCESSIVO

Devemos cuidar também para não lidar com o tempo apenas na perspectiva do utilitarismo

 

O EXEMPLO DE SALOMÃO – ECLESIASTES 2

 

Salomão num dado momento da vida conclui que toda a busca por sentido que sua vida teve foi vã, foi apenas vapor, nada foi sólido, nada fez de fato diferença.

Sua busca por sabedoria também foi considerada vã, a vaidade a qual Salomão se refere, não é apenas o sentido limitado que pensamos, mas trata-se de coisas vãs, coisas sem sentido.

Nessa busca de sentido, Salomão aplica o seu tempo em busca de algo que o satisfaça e todo o capítulo 2 revela essa busca:

No versículo 1 ele apresenta sua busca

·      Buscou no riso – Versículo 2

·      Buscou no vinho – Versículo 3

·      Buscou construir coisas – Versículo 4-6

·      Adquiriu bens e pessoas – Versículo 7 e 8 parte 1

·      Tentou as artes – Versículo 8b

·      Teve concubinas – V.8c

·      Em resumo teve tudo o que alguém quer

·      Teve poder mais do que todos – V.9

·      Ele teve tudo que quis e ainda conquistou seus prazeres, não se privou de nada V.10

·      Ainda assim ele tem a conclusão que sua busca utilitária não fazia sentido – V.11

·      A sua conclusão é ainda mais árdua nos versículos 18 à  23.

 

Assim como nos dias de Salomão, vivemos uma sede utilitarista. Muitos de nós não queremos perder tempo.

O grande temor de Salomão é que ele está chegando ao final da sua vida e sente que ainda não aprendeu a viver.

 

Gosto das palavras de Ziel Machado a esse respeito

“É possível ouvir, de longe, os gritos silenciosos de toda uma geração que busca encontrar “debaixo do sol”, o sentido para sua vida. Movida por esse desejo, lança-se com empenho e disciplina olímpica nas mais variadas experiências, crendo poder contar com todo o tempo do mundo para as tentativas e erros. Se ainda não encontrou o que se busca, pensa, é só questão de tempo, poiso tempo é algo que ela controla, aparentemente essa geração ainda não captou o conceito de que tempo é vida. Ainda não entendeu que a sensação de controle do tempo é apenas uma de suas ilusões”.

 

As pessoas pensam ser donas do tempo e por tentarem ser donas do tempo, buscam dar utilidade a ele demasiadamente, sem, contudo, desfrutar cada etapa, cada momento, ao pensarem ser donas do tempo, elas o veem como um punhado de água em suas mãos que escorre sem controle, sem a oportunidade de reter nada.

Alguns dizem que não podem sequer dormir porque se perde tempo assim, não podem passear, não podem absolutamente nada que não seja útil, mas a vida não foi feita para ser 100% útil.

 

Como reconciliar então a questão da futilidade e do utilitarismo total?

Devo ser alguém produtivo o tempo inteiro? Ou devo em nome da alegria não produzir nada? Deveríamos tentar ao máximo equilibrar esses dois extremos no que diz respeito a como desfrutar do tempo.

 

INEVITAVELMENTE O TEMPO PASSA

Inevitavelmente o tempo passará e podemos chegar aos dias em que Salomão disse:

 

Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento

Eclesiastes 12:1

 

Vai chegar o dia em que diremos: Não tenho mais satisfação nos meus dias.

O Eclesiastes fala sobre um tempo de velhice, em que tudo deixa de ter sentido:

 

·      Se perde a visão – V.2

·      Se perde a força de braços e pernas – V.3

·      Se perde os dentes – V.3

·      Se perde mobilidade – V.4

·      Se perde audição – V.4

·      Braços enfraquecem – V.5

·      Perda do desejo sexual – V.5

·      Após isso o homem se vai.

 

O que devo fazer com o tempo que ganho?

 

Salomão de certa forma oferece uma resposta para isso.

Levando em consideração duas constatações sobre a vida Salomão começa a oferecer um caminho para aproveitar o tempo que temos:

 

1.    Inevitavelmente você irá morrer, sabendo disso devemos espremer a vida até a última gota.

2.    A vida é curta, nas palavras de Tiago a vida é como uma neblina que aparece e rapidamente se dissipa – Tiago 4.14

 

Como  posso então desfrutar do tempo que recebi como dádiva?

 

1º - Celebre a vida como um presente

 

Para o homem, não existe nada melhor do que comer, beber e encontrar prazer no seu trabalho. E vi que isso também vem da mão de Deus. Pois, sem ele, quem poderia comer ou encontrar satisfação? – Eclesiastes 2.24-25

 

“Para alguns o tempo deixou de ter valor como vida e passou a ter valor como dinheiro, Não é assim que nos referimos a ele? Tempo é dinheiro!”

Se a vida é um presente, devemos desfrutar de cada momento, essa é nossa porção.

Por não lidarmos bem com o passado e o futuro, deixamos de nos alegrar no presente e esse é o maior benefício que temos, poder viver, comer e beber sabendo que tudo isso vem da mão de Deus.

Salomão considerando a brevidade da vida, fala que devemos desfrutar cada momento:

 

Portanto, vá, coma com prazer a sua comida e beba o seu vinho com o coração alegre, pois Deus já se agradou do que você faz. Esteja sempre vestido de roupas brancas e unja sempre a sua cabeça com óleo. Desfrute a vida com a mulher que você ama, todos os dias desta vida sem sentido que Deus dá a você debaixo do sol; todos os seus dias sem sentido! Pois esta é a sua recompensa na vida pelo trabalho que você realizou com esforço debaixo do sol. Tudo o que vier às suas mãos para fazer, faça‑o com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria.

Eclesiastes 9.7-10

 

Nós as vezes resistimos a coisas boas da vida porque parecem pequenas demais, mas o mundo não é pequeno, ele foi apequenado.

Cuidado para não querer ser um “anjo” na terra, pois, não são os anjos a semelhança de Deus, somos nós.

Eu não glorifico a Deus quando tento ser tão santo como um anjo, mas sim quando desfruto a criação sabendo que tudo veio de sua mão. Cuide para que em nome de uma santidade forjada você não viva como um monge franciscano, o convite de Deus é “Desfrute”.

Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força.

Neemias 8:10

Portanto aproveite tempos a mesa, sorria mais, se permita assistir filmes, viajar, tempos a mesa, dar risada.

“Ser gente vale mais que ser anjo, por isso, a obra divina não desmerece o mundo e nem a humanidade que o habita, desfrutar a vida nesse mundo é honrar a Deus que criou o ser humano e o mundo”

Cada dia vivido é uma oportunidade de viver uma nova misericórdia de Deus:

Lamentações 3.21-23

 

2º Escolha viver

 

A luz é agradável, e faz bem aos olhos ver o sol.

8Mesmo que um homem viva muitos anos, deve desfrutar de todos eles.

Lembre‑se, porém, dos dias de trevas, pois serão muitos.

Tudo o que virá é inútil. Alegre‑se, jovem, na sua mocidade!

Seja feliz o seu coração nos dias da sua juventude!

Ande pelos caminhos do seu coração, e conforme tudo o que agradar aos seus olhos, mas saiba que por todas essas coisas

Deus o trará a julgamento.

10Afaste do coração a ira e remova o sofrimento do seu corpo,

pois a juventude e o vigor são passageiros.

 

Eclesiastes 11.7-10

 

Há pessoas que são tomadas de uma melancolia tão grande na vida que vivem seu tempo a se lamentar.

“Se eu pudesse voltar, se eu pudesse fazer diferente, porque a muitos anos aconteceu isso...”

Outros que se sentem culpados por desfrutar de algo, lembro-me de quando fizemos a primeira festa das crianças, em que fomos duramente criticados por celebrar se o Covid ainda estava acontecendo, eu escolhi viver.

 

A fala de Salomão é quase que “Curta a vida, desfrute, experimente pratos, conheça lugares, corra alguns riscos, sabendo que prestará constas a Deus, então o faça com responsabilidade”.

 

Nós as vezes temos a impressão que a conversão tira de nós a alegria e é muito pelo contrário, a alegria do Senhor é nossa força – Neemias 8.10

 

3º - Tempo é uma questão espiritual

Se o tempo é vida e a vida é uma dádiva, nosso tempo é nosso tesouro.

Devemos cuidar para que nosso tempo seja bem dedicado, estar em paz com o tempo é uma questão espiritual.

A maneira como uso meu tempo revela quem é o centro da minha vida, revela minhas crenças e valores, revela no fundo o meu tesouro, e onde está meu tesouro está meu coração conforme Jesus disse.

Portanto devemos conforme Salomão disse, lembrar do nosso criador nos dias da nossa mocidade – Eclesiastes 12.1

 

O TEMPO E AS JABUTICABAS

Contei meus anos e
descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora.

Tenho mais passado do que futuro…
Sinto-me como aquele menino
que ganhou uma bacia de jabuticabas…

As primeiras, ele chupou displicente…
mas percebendo que faltam poucas,
rói o caroço…

Já não tenho tempo
para lidar com mediocridades…

Não quero estar em reuniões
onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo
para conversas intermináveis…

Já não tenho tempo para administrar
melindres de pessoas que,
apesar da idade cronológica,
são imaturas…

Detesto fazer acareação de desafetos
que brigaram pelo majestoso
cargo de secretário geral do coral…

As pessoas não debatem conteúdos…
apenas os rótulos…

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos…
quero a essência…
minha alma tem pressa…

Sem muitas jabuticabas na bacia,
quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços…
não se encanta com triunfos…
não se considera eleita antes da hora…
não foge de sua mortalidade..

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade…

O essencial faz a vida valer a pena…
e para mim
basta o essencial…

 

 

 

  

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

O Rico e o Lázaro - Não despreze as oportunidades

 

Lucas 16:19-31 - O rico e o Lázaro - Não despreze as oportunidades

 

·      Nem sempre as epígrafes dos textos são a verdade do texto, as vezes elas erram, já a palavra não. (Parábola dos dez talentos, filho pródigo, etc).

·      O texto que lemos é chamado de “parábola do rico e o Lázaro”, porém trata-se de uma história real narrada por Jesus falando sobre a realidade do inferno.

·      Temos algumas razões para acreditar nisso:

1.    Os evangelistas não anunciam a história que se segue como parábola e eles faziam isso.

2.    As parábolas não usam artigos definidos e afirmações tão contundentes sobre a existência de pessoas, especialmente o nome.

3.    Jesus não havia chegado ao momento do ministério que “só lhes falava por parábolas”.

A história que lemos é real, trata-se de uma sequência de ensinamentos de Jesus sobre o modo de usar os recursos que recebemos. Essa sessão inicia-se em Lucas 15 ao falar de dois filhos, um que gasta dissolutamente o que tem, outro que vive de forma mesquinha com o que recebeu.

 

O público alvo – Os fariseus e Saduceus

Jesus tinha como alvo principal os saduceus, que eram um grupo religioso judeu que não cria que existia a ressurreição dos mortos, logo, tratar da realidade da eternidade mesmo após a morte do corpo era algo essencial para Jesus.

Eles eram extremamente ricos, de certa forma, segundo Keneth Bailey, Jesus queria confrontar diretamente o modo como viviam.

Como introdução a essa história Jesus fala uma parábola que se refere a um “mordomo infiel”.

Algumas afirmações finais, dão a entender alguns modos de lidar com o dinheiro:

 

·      O dinheiro é chamado de “riquezas injustas de Mamom”, se você não mantém sua fidelidade a Deus com o dinheiro, como Deus te confiará coisas maiores que o dinheiro? – V.11

·      O dinheiro e as riquezas são bens dados por Deus, logo são de Deus, então, devemos ser fiéis no administrar o que não é nosso, para receber o que é nosso – V.12

·      O dinheiro não é neutro, ele tem poder de tornar-se um Deus! – V.13

 

Os Fariseus zombavam de Jesus ao dizer isso, pois, eram ricos:

“E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele.
Lucas 16:14

 

Pensando nisso, Jesus introduz essa história.

Ele deseja confrontar o modo avarento dos fariseus e a inconsequência dos saduceus.

 

O homem Rico

 

O texto apresenta algumas verdades a respeito do rico:

1º - O homem rico se vestia com púrpura – V.19a

O tempo verbal indica que ele usava esse tipo de roupa todos os dias, segundo Keneth Bailey, a púrpura era o material mais nobre para uso de roupas naqueles dias.

“Ele tinha outras roupas, mas a púrpura era caríssima, e só os verdadeiramente ricos podiam tê-la. Esse homem queria garantir que todos soubesse que ele tinha dinheiro”.

Ele era uma espécie de varal de roupas com a necessidade interior de lembrar a todos que ele era rico.

A púrpura era uma espécie de roupa real.

 

2º - Ele usava linho finíssimo – V.19b

 

“Um manto de linho finíssimo às vezes valia mais do que seu próprio peso em ouro” O.S. Boyer

Keneth Bailey acredita que há aqui um toque de humor, visto que ele não usava apenas púrpura para que vissem, mas se alguém quisesse saber, ele usava roupas íntimas de qualidade.

 

3º - Ele vivia de forma regalada e esplendidamente, outras versões usam o termo “vivia no luxo” todos os dias – V.19c

Este rico violava o sábado, pois, se seus banquetes se davam todos os dias, ele colocava seus funcionários para trabalhar no sábado. Ele desprezava abertamente a lei de Deus e fazia seus servos desprezarem também.

 

O Rico não tem seu nome mencionado, já o pobre sim.

 

Agostinho disse: “Não parece que Cristo estava lendo aquele livro onde se encontra o nome desse pobre, mas não do rico?”

 

Quem era Lázaro?

 

O nome Lázaro significa “aquele que Deus ajuda”.

O impacto dessa história foi tão forte, que a partir daí veio termo “Lazarento” que é alguém miserável, pobre, leproso.

 

1º - Lázaro era um mendigo – Ele era levado por amigos ou familiares para a porta da casa do rico, na esperança de que se compadecessem dele, lhe dessem alguma esmola e ele pudesse sobreviver.  Ele era colocado à porta do rico para receber algumas migalhas que lhe lançavam, mas sempre estava faminto, ele desejava ser alimentado.

2º - Ele sequer conseguia ficar em pé – Keneth Bailey diz que ele estava doente demais para andar, os membros da comunidade então o levavam para a porta do rico todos os dias e voltavam para buscá-lo a noite.

 

3º - Ele desejava comer o que caia da mesa dos ricos

Coberto de chagas, sem poder andar, sem poder trabalhar, sua única esperança é que o rico e seus irmãos sentissem compaixão por ele. Ele desejava comer o que caia da mesa dos ricos.

Há uma forte alusão ao desejo da Cananéia que como os cachorrinhos desejava comer o que caia da mesa, ele desejava comer e não conseguia.

Na história, o rico jogava comida fora, mas não se dava nada ao pobre. No oriente, os restos de comida sempre são dados aos cachorros da casa. Lázaro de certa forma valia menos do que eles.

 

 

“Lázaro estava doente, faminto, coberto de feridas, mas seu sofrimento mais profundo era psicológico, os vilarejos tradicionais do oriente médio são compactos, de onde Lázaro estava, ele ouvia os convidados do rico, sentia o cheiro da comida, eles não precisavam de alimento, Lázaro sim, a ajuda estava sempre perto dele, mas era sonegada.

 

4º - O único consolo na vida de Lázaro era ter suas feridas lambidas pelos cães do rico –

Os cães lambem suas feridas, eles também lambem pessoas como prova de carinho, mas além disso, há pesquisas que demonstram que a lambida do cachorro tem certas propriedades curadoras, segundo Bailey, elas contém alguns antibióticos que facilitam a cicatrização.

 

Lázaro todos os dias ficava exposto as moscas, as humilhações, dependia de todos, não recebia nada, os cães ao menos se uniam para ajudá-lo.

 

O rico se vestia de púrpura x Lázaro aqui estava seminu

O rico fazia banquetes todo dia x Lázaro passava fome todo dia

O Rico tinha afago de convidados x Lázaro só tinha afago dos cachorros

O rico gozava de Saúde x O Lázaro sofria miseravelmente

 

Os contrastes desse lado da existência eram individuais, o rico era culpado pelo que fez, mas principalmente pelo que ele não fez.

 

Os contrastes continuam, mas agora a favor do Lázaro e numa perspectiva muito melhor.

·      Lázaro morreu e não tinha certamente recursos para ser sepultado, logo, os anjos o levaram ao seio de Abraão onde esteve em paz -   V.22

·      Quando o rico morre ele tem um funeral, ainda que o texto oculte, considerando seu modo de viver, até na morte ele teve extravagâncias, muita gente, muitas palavras.

 

Os contrastes daí em diante se seguem mais intensamente:

 

1 - Lázaro estava descansando no seio de Abraão x O rico estava no Hades

 

2 Lázaro estava sendo consolado x o Rico Estava sendo atormentado

 

3 – Lázaro foi saciado com a riqueza do lugar onde estava x O rico estava assolado pela sede

 

4 – O rico viveu coisas boas aqui x Lázaro viveu coisas boas lá.

 

5 – Lázaro estava eternamente garantido x O Rico estava eternamente perdido

 

 

A doutrina do inferno

 

Tem sido extremamente negligenciado em nossos dias a realidade da eternidade, infelizmente nós estamos ensinando as pessoas a buscar viver como o rico.

A religião cristã tornou-se um meio de nos ensinar a viver aqui, estamos criando raízes aqui e no fundo no fundo estamos perdendo totalmente a noção de eternidade.

O nosso modo de lidar com céu e inferno tem constituído um ateísmo prático, em que confessamos Jesus, cantamos sobre Jesus, mas negamos quem ele é para nós com nossas práticas.

 

·      A entrada no reino dos céus não é determinada pelo que eu tenho, é determinada pelo que eu sou.

(Com dinheiro posso ir a locais exclusivos, a passeios a restaurantes, mas no céu o dinheiro não conta).

 

 

O destino do rico foi o “inferno”.

 

Jesus fez uso de três palavras para falar sobre o inferno:

 

1º - Hades – “Sepultura” – Morada dos mortos

2º - Apollumi – “lugar de destruição” –  É um conceito da mitologia grega que fala sobre o lugar para onde vai o infiel. O Inferno neste sentido é um lugar de densas trevas, mas não só isso, é um lugar com gritos horripilantes, você sente o cheiro da carne queimar o lugar de fogo e enxofre danifica todo o sistema respiratório mas você não enxerga nada.

 

3º - Geena – Vale do tormento, a palavra Geena tem um equivalente no hebraico a “Gê Bem Hinon”  que é traduzido por vale dos filhos de Hinon que ficava na extremidade sul de Jerusalém, onde ficava o lixão da cidade.

Lá havia uma fornalha que funcionava ininterruptamente para diminuir a quantidade de lixo na cidade. Era possível encontrar restos de cadáveres de pessoas amaldiçoadas que não eram sepultadas do modo usual, estavam em estado avançado de decomposição. Era comumente chamado de vale dos amaldiçoados; Jesus se referiu a este lugar como “Onde o fogo não se apaga e o bicho nunca morre”.

 

Jonatas Edwards fez o famoso sermão “pecadores na mão de um Deus irado”, uma das citações mais impressionantes é essa:

 

“Oh! pecador, pense no perigo terrível em que se encontra! sobre uma grande fornalha de furor, sobre um abismo imenso e sem fim, cheio do fogo da ira, que você está pendurado, seguro pela mão de Deus, cujo furor acha-se tão inflamado contra você, como contra muitas pessoas já condenadas no inferno. Você está suspenso pôr uma linha tênue, com as chamas da cólera divina lampejando à tua volta, prontas para atearem fogo e queimar-te pôr inteiro. E você continua sem interesse no Mediador, sem nada onde se agarrar para poder se salvar, nada que possa afastar as chamas da cólera divina, nada de teu próprio intelecto, nada que tenha feito ou possa vir a fazer, para persuadir o Senhor a poupar tua vida pôr um minuto sequer.”

 

 

No meio desse cenário aterrador, O Rico faz uma oração.

 

 

A oração dos perdidos

 

A oração dos perdidos contém três verdades principais ditas pelo Rico:

 

1º - Quem está lá desejava estar aqui:

 

E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.

Lucas 16:24

 

 

O que para nós é algo extremamente banalizado, para quem está no inferno é essencial.

 

Nós reclamamos dos privilégios que temos, porque o privilégio concedido pode ser não valorizado frequentemente.

 

Nós reclamamos de duas horas de culto, eles queriam ao menos uma hora para se arrepender.

 

O maior desejo de quem está lá é estar no nosso lugar.

 

2º - Quem está no inferno se preocupa com quem está aqui

 

E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.
Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.

Lucas 16:27-29

 

A maior preocupação de quem está lá, é avisar os seus para que não tomem o mesmo caminho, o rico tinha 5 irmãos, ele não queria que eles fossem para lá.

Então ele pede que Abraão mande alguém, peça para alguém anunciar.

 

Nós não podemos nos conformar em perder os nossos de forma tão indiferente.

 

 

3º - Quem está lá, espera que anunciemos:

 

E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.
Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

Lucas 16:30,31

 

 

Eles querem muito que alguém vá, mas não podem.

A nós foi dado a lei e os profetas, cabe a nós ir.

 

 

4º - Quem não ouve Moisés e os profetas ouvirá quem?

 

A palavra deve ser um instrumento para conversão, nós temos a lei e os profetas, temos a mensagem do evangelho, vamos levar a mensagem.

 

 

5º - Cuidado com a fadiga da compaixão

 

 

6º - O único tempo oportuno para o arrependimento é hoje!

 

Em vida, O rico recusou-se a ser o Lázaro ( o que Deus ajuda), mas morto queria ser ajudado por Deus sem poder.

 

Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados,
mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus.
Quem rejeitava a lei de Moisés morria sem misericórdia pelo depoimento de duas ou três testemunhas.
Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça?
Pois conhecemos aquele que disse: "A mim pertence a vingança; eu retribuirei"; e outra vez: "O Senhor julgará o seu povo".
Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!

Hebreus 10:26-31

 

 

Alguns versículos sobre o inferno:

 

O inferno é o lugar do diabo e seus anjos:

"Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: 'Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos.
Mateus 25:41

 

Jesus é o agente do Juízo de Deus também:

Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno.
Mateus 10:28

 

É necessário abrir mão de coisas aqui:

 

Se a sua mão o fizer tropeçar, corte-a. É melhor entrar na vida mutilado do que, tendo as duas mãos, ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga, onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga. E, se o seu pé o fizer tropeçar, corte-o. É melhor entrar na vida aleijado do que, tendo os dois pés, ser lançado no inferno, onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga. E, se o seu olho o fizer tropeçar, arranque-o. É melhor entrar no Reino de Deus com um só olho do que, tendo os dois olhos, ser lançado no inferno, onde
" 'o seu verme não morre,
e o fogo não se apaga'.
Marcos 9:43-48

 

 

O inferno é lugar de choro e ranger de dentes:

 

O Filho do homem enviará os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que faz cair no pecado e todos os que praticam o mal. Eles os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes.
Mateus 13:41-42

 

RM 2.9 tribulação e angústia,MT 22.13pranto e ranger de dentes, 2TS 1.9 eterna perdição, Mt 13.42cadeias da escuridão,2 Pe 2.4 Eterna perdição, Mt25.46 fogo que não se apaga, Mc 9.43 ardente lago de fogo.

 

 

7º - Vale a pena ser fiel