terça-feira, 15 de junho de 2021

Não desista de orar – Sermão entregue a Ad Brás Santo Eduardo em 30-05-2021








E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?
Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?
Lucas 18:7,8

  

A parábola é um instrumento de ensino, trata-se de uma história fictícia que tem por intenção demonstrar realidades práticas à respeito de várias coisas.

A história não deve ser interpretada a luz de seus fatos isolados, mas sob uma perspectiva geral, de modo que ao observarmos uma parábola, devemos absorver dela sua lição fundante, principal. Há assuntos que se tratados de forma muito técnica não seriam alcançadas por nós, é visando a compreensão, que o Senhor Jesus escolheu ensinar os seus por meio de exemplos lúdicos tal qual são expostos nas parábolas.

 

As parábolas de oração

A oração foi um assunto e uma prática levada muito a sério por Jesus. Especialmente Lucas fala sobre várias ocasiões em que Jesus orou e de forma indireta traçou princípios a nós seus discípulos.

Lucas fez uso de sete ocasiões em que Jesus orou e que outros evangelistas não mencionaram:

- Após seu batismo – 3.21

- Após purificar o leproso – 5.16

- A noite inteira para escolher os seus doze – 6.12

- Antes da confissão de Pedro – 9.18

- Na transfiguração – 9.28

- Antes da oração dominical – 11.1

- Na cruz – 23.24

 

Há ainda as ocasiões em que os sinópticos mencionam orações de Jesus, de modo que fica notória a ênfase que Jesus dava a oração.

 

 

É considerando a importância que ele próprio (Jesus) dava a oração e a necessidade que seus discípulos teriam de semelhantemente orarem, que o mestre opta por contar ao menos três parábolas diretamente relacionadas a oração.

São elas:

1º - O amigo importuno – Lucas 11

2º - O juiz iníquo – Lucas 18

3º - O fariseu e o publicano

 

As três tem lições sobre como devemos nos aproximar de Deus em oração.

 

 

E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer,
Lucas 18:1

 

1º - A primeira consideração sobre oração na perspectiva de Jesus é: Orar é um dever.

Nós temos considerável dificuldade de lidar com “deveres”, gostamos de coisas que fazemos por opção, por iniciativa própria, a perspectiva de dever nos incomoda profundamente, isto porque fomos ensinados a fazer coisas que gostamos, quando sentimos, quando desejamos.

Mas há questões na caminhada cristã que estão para além do desejo e que devemos fazê-las, independente do querer, independente do gostar, mesmo sem desejo.

A cerca deste desejo de informalidade, de “não obrigação” C.S. Lewis disse:

“A melhor coisa a fazer, se possível, é afastar completamente o paciente em questão da intenção de rezar. Se o paciente é um adulto, recém-convertido para o lado do Inimigo, como é o caso do nosso homem, conseguimos tal feito quando o encorajamos sempre a lembrar-se, ou a pensar que se lembra, do quanto suas preces na infância eram automáticas. Em contrapartida, você talvez possa persuadi-lo a almejar algo totalmente espontâneo, introspectivo, informal, livre de regras; e isso na verdade significará, para um iniciante, o esforço para produzir em si mesmo um estado de espírito vagamente devocional no qual a verdadeira concentração de vontade e inteligência não desempenham nenhum papel.

C. S. Lewis - Cartas de um diabo ao seu aprendiz”

 

Em nome de uma “não formalização” nós estamos tentando criar vias alternativas a oração, tal qual a meditação, o “lembrar-se de Deus”, a experiência “agradável” de oração.

 

Porém Jesus lida com esta questão dizendo: Temos o “dever” de orar.

Orar é uma obrigação, algo que não devemos fazer porque gostamos, ou quando queremos, ou de modo o tempo inteiro agradável. Orar é questão de sobrevivência.

Uma vez perguntando sobre o que é mais importante: Orar ou ler a bíblia?

Tozer respondeu: “Qual asa é mais importante para um pássaro, a esquerda ou a direita?”

É sob esta perspectiva de subsistência, sobrevivência, necessidade que beira a obrigatoriedade que Jesus nos chama ao orar.

 

Ao falar sobre a armadura de Deus, Paulo fala sobre uma série de itens, a saber: Capacete da salvação, couraça da justiça, cinto da verdade, calçado da preparação do evangelho da paz, espada do espírito que é a palavra, o escudo da fé.

Aparentemente a armadura está sem um item, onde entraria a oração nesta armadura completa?

Paulo Complementa:

Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito
Efésios 6:18

 

A ideia fundante de Paulo é que devemos tomar cada item da armadura orando, orar ao colocar capacete, couraça, cinto, calçado, espada e escudo.

A oração neste sentido pode constituir a própria batalha, de modo que orar é guerrear, orar é se defender, orar é receber de Deus estratégia. Considerando que ao vir para a caminhada Cristã não recebemos de Deus um kit “diversão”, um vale férias, um passaporte diferenciado, mas sim uma armadura, há algumas implicações:


1º - A batalha nos impede de tomar a opção de nos manter passivos;

2º - A batalha só se milita com as armas que Jesus nos deu;

3º - A oração é nossa arma de ataque e nossa melhor defesa (Daniel e o príncipe da Pérsia).

É considerando tudo isso que Jesus fala do “dever de orar”.

John Flex saudava seus companheiros dizendo: “Você está orando? Você está orando?”

John Welch – Quem não ora morre

 

2º - Não devemos desistir de orar

A oração as vezes pode se constituir uma atividade extensa, uma atividade que não tem respostas instantâneas, é considerando os tempos de espera no processo de oração que Jesus não só torna a oração uma questão sobrevivência, mas uma questão de paciência.

e nunca desfalecer,
Lucas 18:1

 

O chamado de Jesus é claro: Não desista de orar, não se canse de orar, não abandone a oração.

Não devemos desistir de orar, pois, de certa forma a oração sempre será a cartada final, a última alternativa de reversão, a última porta a se bater.

·         Foi a oração da Cananéia que fez Jesus socorrer sua filha após o silêncio, após a resposta desproporcional e a aparente humilhação – Mateus 15

·         Não devemos cansar de orar – Exemplo (Adoniram Judson)

 

·         Talvez Deus esteja chamando pessoas a retomarem orações por causas abandonadas, sonhos, conversões, mudanças, profundidade, Deus está nos convidando a não desistir de orar, a não parar de orar, a insistir na oração, a perseverar.

Naturalmente se diz que a espera é sempre parada, é sempre estagnada, esperar é se manter imóvel.

Isso se aplica às esperas comuns, porque no que diz respeito a oração, no que diz respeito ao Senhor, esperar em Deus é sempre caminhar.

Josué junto ao povo deu 13 voltas até que o muro caísse, assim é a vida de oração, uma vida que exige persistência, a sensação de dar voltas se sentido, mas enquanto oramos sem desfalecer há uma série de coisas acontecendo.

Deus está nos convidando a não se cansar de orar.

Quando ouvimos de Deus uma devolutiva negativa, devemos seguir o exemplo do mestre, de não mais insistir, mas dizer: “Seja feita a tua vontade”.

Mas enquanto a resposta não está clara, a devoção esperada é de “não se cansar de orar”.


Tal qual Ana fez, de ano em ano, de sacrifício em sacrifício, as vezes sem força e só mexendo os lábios, quando a resposta veio foi “O Senhor lhe conceda o seu pedido” até que passados dois anos a situação foi “por este menino orava eu”.

 

Os barcos mais pesados, costumam demorar mais, por conduzirem cargas maiores – Spurgeon

 

1º - Quando eu não oro eu peco

2º - Pecamos porque deixamos de orar

3º - Pecado e oração são opositores

Helena Raquel

 

3º Não orar me faz desanimar

Parece haver uma relação direta que torna necessário dizer “o dever de orar sempre sem desanimar”, pois, não orar me desanima na caminhada, a oração é ânimo,  combustível, vigor, entusiasmo.

Sem oração nós perdemos o encanto, perdemos a força, perdemos a alegria.

A oração revigora, dá intimidade, relacionamento.

 

A oração muda o semblante (Transfiguração).

A oração enche de vigor.

Talvez grande parte dos nossos desânimos, distrações, irritações se dão por uma mesma razão: A falta de oração.

 

 

 

4º Nossas dificuldades não são levadas em conta pelo Juiz (Viúva)

A viúva no tempo da bíblia era um símbolo de necessidade, os diáconos foram instituídos prioritariamente para cuidar das viúvas e órfãos. Viúvas não trabalhavam, não tinham heranças, não possuíam nada.

 

1º As viúvas tinham roupas características – Gn 38.14

2º Não herdavam bens do marido

3º Não tinham renda

4º Se permanecesse na família era quase uma serva

5º Se voltasse para a casa de sua família ela deveria devolver o valor do dote.

6º Frequentemente elas eram vendidas como escravas para saldar dívidas dos maridos que iam embora.

 

O juiz, quando importunado, não se importou com nada disso, tanto em sentido negativo, como por piedade, os juízes desta terra são indiferentes.

Os juízes neste tempo frequentemente atendiam apenas homens, ou seus porta-vozes, além disso eram movidos por muitos subornos, de modo que uma viúva nesta situação ficaria em uma situação ainda mais extrema, sem intercessores por ela, sem condições de nem mesmo pagar um suborno.

Ela não tinha outras vias a não ser insistir em seu pedido mesmo com todas as limitações.

 

5º Consideremos os contrastes, Jesus usa uma situação de extrema necessidade e de extrema indiferença que foi revertida com perseverança.

 

Agora consideremos nossa posição em comparação com esta mulher:

·         Estrangeira x filhos

·         pouco acesso de viúva x total acesso ao trono

·         a mulher não tinha um intercessor x nós temos um advogado

·         ela vai a um tribunal x nós vamos ao trono da graça

·         ela clama sendo pobre x em cristo temos todas as riquezas

 

Nós estamos em uma situação de todo favorável.

 

7º Para Deus responder orações é uma questão de caráter

 

8º A espera pode matar a fé de muitos, mas devemos aprender a esperar (Ele achará fé na terra).