Fracassando nas decisões e reações da vida
“E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma
fome na terra; por isso um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos
de Moabe, ele e sua mulher, e seus dois filhos;
E era o nome deste homem Elimeleque, e o de sua
mulher Noemi, e os de seus dois filhos Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de
Judá; e chegaram aos campos de Moabe, e ficaram ali.
E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou
ela com os seus dois filhos,
Os quais tomaram para si mulheres moabitas; e
era o nome de uma Orfa, e o da outra Rute; e ficaram ali quase dez anos.
E morreram também ambos, Malom e Quiliom,
ficando assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.
Rute 1:1-5”
Dias dos juízes
Os dias eram extremamente difíceis, visto que não havia
governo unânime em Israel, a nação não tinha referências e o coro contínuo do livro
dos juízes era “não havia rei, cada um fazia o que achava reto aos seus olhos”.
Israel já encontrava-se em parte da terra prometida, mas
ainda havia muitas outras partes por conquistar, a ordem expressa de Deus era
de que deveriam avançar sem se misturar com os povos e deveriam continuar
conquistando.
Essa ordem é seguida expressamente na geração de Josué,
porém passada esta geração, há um enfraquecimento nos seus princípios e a nação
entra em declínio.
Havia um ciclo contínuo com os seguintes passos:
Pecado, humilhação por nações menores, arrependimentos, livramento, tempo de
paz e novamente pecado.
14 homens com potencial militar governaram a nação num
período de 400 anos que foi o mais sombrio da história Israelita.
Se o livro de Juízes se tornasse um filme, seria proibido
para menores de 40 anos, visto que os assassinatos e tramas que lá ocorrem são
extremamente violentos.
Histórias como a de Eúde, Jael o assassinato nos últimos
capítulos que deixou a triste frase:
“Nunca se viu nada igual”.
Contexto de Rute ontem e hoje
A história desta família se dá justamente neste período,
período sombrio, triste, pesado, de apostasias e atrocidades cometidas
constantemente.
Neste tempo, um homem, de Belém, tem sua família
constituída e está vivendo relativamente tranquilo em sua terra, até que a fome
lhe alcança.
Causa-nos certo espanto que o lugar chamado “Belém”, a
saber: Terra do pão, tornou-se um lugar de negações práticas, no lugar do pão,
não havia pão.
De certa forma, creio que o conselho de Paulo em RM 15.4
“Tudo que dantes foi escrito para vosso ensino foi escrito” é vigente, a
história de Rute tem distâncias culturais, mas muitas coisas se assemelham ao
nosso tempo.
Estamos também mergulhados em crises diversas: Crises
éticas, não sabemos mais o que é certo e o que é errado, o que era sólido se
tornou líquido, hoje de certa forma, tudo depende.
“Tudo depende de onde você está, Tudo depende
de quem você é, Tudo depende do que você sente, Tudo depende de como você se
sente. Tudo depende de como você foi educado, Tudo depende do que é admirado, O
que é correto hoje será errado amanhã”
Abraham Edel
Estamos em tempos também de grandes crises econômicas,
inflação sem controle, pessoas desesperadas por emprego, alguns formados
buscando a anos, há uma grande carestia de recursos.
Também há entre nós uma carência de referencias em dias de
dissolução, dias em que não há para quem olhar, há um anseio de que se levantem
líderes tal qual foi o britânico Wilton Churchill.
Não bastasse isso, o lugar denominado casa do pão, tem se
tornado uma contradição viva, na casa do pão, falta pão.
Pessoas ficam em situações totalmente desesperadoras em
tempos assim.
Toda essa situação de certa forma é inevitável, não era
possível prever uma fome como aquela, não era possível imaginar que o lugar
chamado casa do pão se tornaria lugar de escassez;
Portanto, num caso como este, já não é possível lidar com
ações planejadas, as surpresas são sucessivas.
Decisões eram necessárias naquele contexto:
C.S Lewis e as bifurcações
Esta era a hora de decidir, ficar ou ir,
esperar as circunstâncias e deixar que elas te levem.
1º - O caráter de uma fé só é testado em
reações.
“O caráter não se manifesta nos planejamentos,
mas nas reações.
No planejamento prevalece a ação premeditada,
no planejamento podemos forjar, burlar, mas quando a prova de um caráter vem do
inesperado”.
O lutador Maick Tayson dizia: Todos nós temos
um plano, até levar um soco no queixo.
A vida deu socos em Elimeleque, ele tem um nome que remete
a fé, a confiança.
“Deus é o meu rei” – Este era o significado do
nome daquele pai de família.
Teoricamente toda e qualquer ação deste, teria como base o
Senhorio de Deus. Ainda mais considerando o A.T em que a voz de Deus era muito
mais discernível do que no N.T. Elimeleque tem o nome de que remete ao Senhorio
de Deus, mas na prática todas as suas ações são tomadas por conta própria.
Devemos cuidar para não viver tal qual ele, uma negação
prática de fé.
A fé não se nega apenas quando se diz que não
acredita
A fé não se nega apenas quando se apostata dela
A fé se nega quando dizendo crer, tomamos as
decisões por conta própria
A fé se nega quando deixamos de levar em conta
o que Deus diz e fazemos o que queremos
A fé se nega quando no dia difícil não temos
paciência.
Eu tenho a clara impressão de que o sofrimento é o “controle de qualidade de
Deus”, ou como alguns antigos gostam de chamar a “peneira de Deus”, em que Deus
seleciona os seus.
O Mesmo fogo que amolece o barro, endurece a
cera – J.C Ryle
O fogo da provação é o instrumento de Deus para selecionar,
demonstrar, os fundamentos de nossa fé.
Não se diz que se crê em algo apenas em dias bons, se diz
que algo é verdade para nós, quando a chuva, o vento, a tempestade vem e os
fundamentos da vida são expostos.
Elimeleque tem uma fé confessional, mas não
prática, nos dias difíceis, é ele quem toma as direções, devemos cuidar para
que a nossa fé não seja tal qual a dele, no primeiro impacto, tomarmos a
decisão por si próprio.
2º - Se não está claro o que devo fazer, devo
usar como régua a própria palavra e princípios dela.
Talvez questionemos que a atitude de Elimeleque foi tomada
exclusivamente com base no desespero, assim como refugiados saem de lugares
hostis, ele estava saindo de Belém.
Porém há várias problemáticas a se considerar:
1º - Neste tempo a crise era
pontualmente de Belém, ele poderia ter recorrido as demais tribos, mas não o
fez.
2º - Ele poderia ter entendido que
tratava-se de um juízo pontual de Deus, que logo passaria, até porque
posteriormente o texto diz que Deus visitou seu povo.
3º - Por fim, há não muito tempo,
não se sabe quanto, os próprios moabitas invadiram Israel e os oprimiram.
Não só isso, os Moabitas foram inimigos ferrenhos de Israel
desde o início da história.
Adoravam ao Deus Quemós que tinha em seus rituais o
sacrifício de crianças e adultos.
Além do mais, eles tinham uma origem extremamente delicada,
que foi o incesto com Ló.
Eles sequer eram admitidos na congregação de Israel, mas é
para lá que ele vai.
Nós não deveríamos sair tomando decisões sem fundamento,
pois, ao fazê-lo, podemos estar numa direção totalmente oposta ao ideal.
A régua que devemos levar em conta é a palavra, ou os
princípios da palavra.
Até que ponto isso é importante para nós? Tomamos as
decisões exclusivamente com base no nosso desejo? Fazemos apenas o que
queremos? Tornamos a palavra um meio de validar o que queremos fazer?
De certa forma, pensando apenas na fome, essa era a melhor
decisão a tomar:
Em Moabe os campos estavam produzindo:
“Na cabeça deles, talvez seja melhor estar nos
campos verdejantes e sem o bom pastor, do que no vale da sombra da morte com o
bom pastor.” – Emílio Garófalo
· Os
Moabitas falharam em ir ao encontro de Israel com pão
· Os
Moabitas fizeram Israel cair com suas mulheres nos tempos de Balaão.
4º - Devemos considerar que algumas de nossas
decisões não envolvem apenas nós, mas outros que estão conosco.
Ao sair da terra, Elimeleque não vai só.
Sua esposa, seus filhos o acompanham.
Quase sempre é assim, nossas decisões não afetam apenas a
uma pessoa, mas todos quanto estão a nossa volta: Família, cônjuge, amigos,
colegas de trabalho, irmãos da igreja.
O mal de muitas das nossas decisões é não levar em conta o
que pode acontecer aos nossos, se não vejamos o que Elimeleque pôs em jogo:
1º - O rompimento cultural e teológico
2º - Privação do culto público
3º - A impossibilidade de casar seus filhos no
ambiente certo.
As vezes nossas decisões não são medidas e todos ao nosso
redor são afetados diretamente por elas.
Talvez Deus esteja usando essa história para nos levar ao
cuidado com decisões, sobre mudança de emprego, de casa, de igreja, porque em
decisões mal feitas, muitas vezes não há possibilidade de voltar e a sina é
carregar a culpa da precipitação.
Aparentemente Elimeque quer tomar uma decisão temporária,
mas nem sempre somos privilegiados com a possibilidade de voltar intactos.
Um pastor disse algo interessante:
“O pródigo pode sim, voltar a casa do pai, mas voltará sem a herança”.
5º - Nem sempre a fuga é a melhor opção no que
diz respeito a alguns problemas.
No que diz respeito a tentação, Jesus diz que devemos fugir
da aparência do mal.
No que diz respeito a alguns rompimentos, se diz o que foi
dito a mulher de Ló: Escapa por tua vida.
Mas há fulgas, que quando feitas, nos levam a situações
piores do que as iniciais.
As vezes é necessário encarar nossos problemas, nossos
pecados, nossos erros de frente e resolver.
Nossa procrastinação é um fator terrível neste
sentido: “Até quando terás dó de Saul?”
Outro fator é a precipitação. Ainda havia recursos,
nem sequer eles tinham passado fome, mas estavam prontos a sair: Uma legítima
fuga.
“Ai daqueles que desejam o dia do
Senhor! Para que quereis vós este dia do Senhor? Será de trevas e não de luz.
É como se um homem fugisse de diante do leão, e
se encontrasse com ele o urso; ou como se entrando numa casa, a sua mão
encostasse à parede, e fosse mordido por uma cobra.
Amós 5:18,19”
Elimeleque foge da fome, encontra com a doença, tendo
encontrado a doença, encontra a morte.
“Em um tempo de fome, Abraão fugiu para o Egito
e ali quase acabou com o seu casamento. Na mesma situação, Isaque foi tentado a
descer ao Egito, mas Deus lhe ordenou: “Não desças ao Egito”. O enfrentamento
da crise é melhor do que a fuga. Fugir não é uma escolha segura. Na crise,
precisamos buscar o abrigo das asas do Onipotente, em vez de buscar falsos
refúgios.” Hernandes Dias Lopes
Eles fugiram da fome e encontraram a doença
Fugiram da doença e encontraram a morte
6º - Devemos estar atentos as placas de Deus na
vida
Quando Elimeleque sai de Belém, talvez passou por Jericó, a lembrança do que
Deus fez ao seu povo poderia lhe favorecer a voltar, mas ele vai adiante.
Os seus filhos, ao verem seu pai morrer de imediato
deveriam ter raciocinado, que esta poderia ser uma punição de Deus, mas eles
permanecem, porque de certa forma há uma lógica em nossos pensamentos:
“Deus não nos impediu, ele deve aprovar”.
Em suas mentes o importante é ser feliz.
7º O pecado não nos ajuda em nada.
Após a morte do pai, morrem os filhos.
· O
pecado não fica onde o colocamos, o pecado se espalha, o pecado é uma situação
que podemos acostumar-mo-nos com ela.
· O
pecado nos leva mais longe do que gostaríamos – 10 anos
· O
pecado cobra de nós mais do que queríamos pagar – Doença e morte
·
São pequenas concessões que abrem caminho para grandes rompimentos.
· As
vezes não nos damos conta do quanto vamos ficando distantes do nosso lugar
ideal.
Um domingo que se ausenta, um namoro fora, uma
desonestidade pontual, todas elas são portais que abrimos para abismos muito
maiores.
· Quando
falta pão na casa do pão as pessoas se desesperam
· Quando
falta pão as pessoas saem da casa do pão
· Quando
falta pão as pessoas buscam alternativas perigosas
Mas sob qualquer situação, não devemos sair da
casa do pão, pois, este é nosso lugar.
· Quando
volta a ter pão na Casa do Pão, as pessoas correm para a Casa do Pão
· Quando
há pão na Casa do Pão, as pessoas nos acompanharão à Casa do Pão
· Os
pródigos não voltarão sozinhos à Casa do Pão
Há um modo de viver excelente
Rute 1.5-18
Tendo considerado o quanto as decisões podem reconfigurar a
vida de cada pessoa, devemos partir do seguinte ponto para esta segunda
reflexão:
Todos nós erramos, o que podemos fazer com os nossos erros?
No caso de Elimeleque e seus dois filhos, este erro foi
fatal, mas a grande maioria das decisões, mesmo as erradas, nos fazem ter de
encarar um novo momento a partir delas, um momento de consequências, perdas,
culpa, sensação de perda de tempo, etc.
Dez anos haviam se passado desde a decisão de sair de
Belém, foram dez anos que poderiam ser considerados perdidos e não só isso,
anos para se esquecer, para deixar apagados na memória.
Seria ótimo se a vida nos concedesse a
possibilidade de tal qual um jogo de vídeo game, simplesmente apertar o “retry”
e recomeçar sem os erros, sem ser o último, sem estar abalado.
Mas na vida o “retry” funciona diferente, não
existe um recomeçar sem cargas, mas sim a possiblidade de continuar do ponto
onde se errou e de certa forma “correr atrás dos prejuízos”.
Nós precisamos reconhecer os nossos erros e voltar
atrás
Ao considerar todos os acontecimentos e colecionar perdas,
a vida de Noemi estava pesada demais. Não bastasse ter perdido de imediato seu
marido, ela após dez anos perde dois filhos que tem, sem posteridade, sem
herança, sem esperança de que alguém cuide dela em sua velhice, Noemi se vê uma
colecionadora de lágrimas.
Não era fácil ser viúva nestes dias, pois,
estas eram um tipo claro da necessidade, mulheres neste contexto não
trabalhavam, não tinham assistência pública, sendo fadadas a passar
necessidades. Ser viúva e sem filhos era um agravante pesado demais.
Consideremos ainda o fato de que ela estava em outra terra, sendo estrangeira,
num lugar que possivelmente lhe seria hostil.
Aliado a isso, surgem as notícias de que as coisas em Belém
melhoraram.
Notícias de que os que permaneceram estavam passando bem e
em Belém talvez ela poderia ao menos se alimentar.
· Quantas
perguntas talvez estavam pairando sobre a cabeça de Noemi?
Como voltar?
E se não me aceitarem?
· E se
me criticarem?
· E se
não receberem minhas noras?
· Como
vou explicar a morte dos meus?
Todas essas dúvidas tornavam a volta mais delicada,
dolorida, pesada. Noemi se viu num dilema em que permanecer onde estava seria
sua derrota definitiva, mas voltar não seria nada agradável, por ter de admitir
abertamente o erro, abrindo precedentes para julgamentos, análises e falas de
quem pouco ou nada tem a ver com sua vida.
As vezes nossas dificuldades em reconhecer certos erros
cometidos se dá justamente nisso, nosso orgulho nos impede de enxergar a
realidade sobre si, o fruto deste orgulho se torna a insistência no erro para
não se admitir o fracasso.
Noemi sabe que precisa voltar e talvez contrariada,
pesarosa, ela volta.
Nosso orgulho pode nos levar a tentar consertar os erros,
adaptar o que Deus já reprovou, tentar convencer a si e aos outros que não se
está tão errado assim.
Neste sentido, voltar atrás se constitui uma necessidade
para viver.
Pessoas que assumem seus erros, são pessoas que abrem a
possibilidade do recomeço.
O primeiro passo para a superação dos erros, é admitir
abertamente que eles foram cometidos, sem autopiedade, sem cinismo, mas com uma
reflexão realista e bem-feita.
Somos capazes de torcer para o que é certo, dar errado,
apenas para suprir nossa necessidade de razão.
Considerações do regresso
Imaginemos o quão dolorosa foi essa volta, ter de admitir
tudo isso, que transgredimos, torcemos para dar certo o que não poderia dar
certo, que tentamos ao nosso jeito consertar as coisas e só a pioramos ainda
mais.
Noemi está voltando com todas essas indagações, trazendo
consigo duas mulheres estrangeiras, descendentes de filhas de Ló, consideradas
amaldiçoadas.
Os moabitas
A origem do povo Moabita não era nada boa, eles eram fruto
de um relacionamento incestuoso ocasionado pela morte da mulher de Ló, suas
filhas ao verem que não tinham homens por perto, a fim de suscitar
descendência, embebedam o pai e engravidam dele.
Deste relacionamento incestuoso nasce Moabe.
No decorrer do tempo, Moabe tem participações muito ruins
na história, são eles que contratam Balaão para amaldiçoar o povo e em sua
impossibilidade de fazê-lo, induzem mulheres Moabitas a fazer tropeçar o povo
do pacto, o povo do Senhor.
Na mente dos Israelitas, eles eram um povo ruim
por várias razões:
1° - Um povo idólatra – Adoradores de Kemós
2º - Um povo de origem ruim – Incesto
3º - Mulheres que de certa forma prejudicaram
os israelitas.
Noemi está voltando com duas mulheres que são
vistas assim.
Essas moças seriam tão bem recebidas como um sanduíche de
presunto entre os judeus, ou usando um exemplo tupiniquim seria como um
torcedor da mancha verde sendo recebido na Gaviões, enfim, elas seriam
consideradas amaldiçoadas, sem origem e mulheres impuras.
O destino delas seria extremamente delicado e Noemi sabe
disso.
Daí se segue as afirmações de Noemi:
“Por isso saiu do lugar onde estivera, e as suas noras
com ela. E, indo elas caminhando, para voltarem para a terra de Judá,
Disse Noemi
às suas noras: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o Senhor use convosco
de benevolência, como vós usastes com os falecidos e comigo.
O Senhor
vos dê que acheis descanso cada uma em casa de seu marido. E, beijando-as ela,
levantaram a sua voz e choraram.
Rute 1:7-9”
Noemi tenta um afastamento para o bem delas.
As duas tinham mãe, as duas tinham a possibilidade de
voltar para um lar, de se casarem novamente, de simplesmente retomar a vida de
antes.
Por isso Noemi diz que ambas devem voltar, não só isso,
Noemi faz uma oração para que o Senhor as recompense pela disposição de
permanecer até agora, para que colham o que plantaram.
Noemi deseja ainda que elas recomecem, se casem, sejam
felizes. Neste sentido a reivindicação de permanência seria uma alternativa,
mas seria muito prejudicial para elas, Noemi prefere morrer só do que ver suas
noras sofrendo por ela.
Ao refletirem todas juntas nas lutas que estavam
enfrentando entre si, todas se abraçam e choram. O Choro da dor, da perda, da
despedida por circunstância tão triste.
As duas moças Orfa e Rute estão decididas a ir adiante,
talvez por certo sentimento de compadecimento da sogra.
A realidade de Noemi
É então que Noemi dá um real quadro de sua situação:
1º - Noemi não teria mais filhos
2º - Noemi estava velha para se casar de novo e
possuir heranças
3º - Ainda que Noemi tivesse a chance de ter
filhos, acaso as moças estariam dispostas a esperar tanto assim?
Noemi de certa forma está dizendo: A única alternativa para
elas serem bem tratadas como eram antes, era se Noemi tivesse outros filhos.
Sob todas as perspectivas, permanecer junto a Noemi era
renunciar a possibilidade de casar-se de ter um futuro um pouco mais calmo, de
ter sonhos com alguém.
É considerando que sobre Noemi estava um peso maior e que
ambas não tem necessidade de carrega-lo que Orfa vai embora.
O nome Orfa tem duas vertentes: No Hb. O
principal sentido é pescoço.
De fato, ela deu o pescoço a Noemi após tê-la beijado. A
última visão que se tem de Orfa na palavra não é de seu rosto, nem de sua
história, é de seu pescoço voltado a sogra e de seus passos voltando a Moabe:
“Então, de novo, choraram em alta voz. Orfa, com um
beijo, se despediu de sua sogra
Rute 1:14”
A esta altura nos perguntamos o que pode haver de bom em
uma história de três moças que vão de mal a pior.
Mas um dos princípios fundantes no livro de
Rute é que a vida não deve ser enxergada sempre em concepções “macro”, mas
muitas vezes em “micro”.
Ao olhar para o Macro parece que tudo está
ruim, mas olhando de forma “micro”, há coisas boas acontecendo.
Vejamos daqui em diante os benefícios de um tempo como o de
Noemi:
1º - Deus sempre deixa alguém conosco:
Devemos aprender que há pessoas que de fato vão e nos fere
ver seus pescoços, mas Deus sempre deixa alguém:
Quando Paulo está no final de sua vida ele tem a Timóteo
Demas lhe desamparada, Crescente e Tito
ocupados vão para lugares distintos, mas Deus deixa Lucas.
Deus sempre deixa alguém e este alguém é quem
você precisa.
Orfa lhes dá o pescoço, mas Rute não, Rute
permanece.
“Porém Rute se apegou a ela.”
Rute 1:14
2º - Este alguém que fica é exatamente como
precisamos:
Paulo teve amigos das mais diversas naturezas, fabricantes
de tendas como Priscila e Àquila, pastores como Barnabé, obreiros como Tíquico
e Aristarco, pessoas eloquentes como Apolo, grandes apóstolos como Pedro, mas
no fim de sua vida, com 60 anos, dentro de uma masmorra lhe resta o
Lucas, Lucas é médico, neste contexto, é tudo o que Paulo precisa.
Deus as vezes tratará de usar pessoas para serem
instrumentos de conforto na vida, muitos irão embora, mas quem ficar será como
Lucas.
Rute era a pessoa certa para ficar com Noemi, a princípio a
própria Noemi não entende isso, mas no desenrolar da história, fica claro que
não poderia haver melhor companhia para ela.
De fato há companhias que são instrumentos de
cura, devemos valorizar estas, Paulo tinha a Tito:
Porque, mesmo quando chegamos à macedônia, a nossa carne não
teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores
por dentro.
Mas Deus,
que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito.
2 Coríntios 7:5,6
E quanto a nós? Quem é nossa Rute? Quem é nosso Tito?
Quero lhe encorajar a pedir:
“Senhor, deixe alguém”
Mas não só isso: “Senhor, deixe a pessoa certa”
Noemi, ainda pensando nos outros diz a Rute:
“Então Noemi disse: — Veja! A sua cunhada voltou para o seu
povo e para os seus deuses. Vá você também com ela.
Rute 1:15”
3º - Existem certas coisas que só vive quem
fica
Sendo proposta a volta, mesmo sendo o melhor a fazer, Rute
está decidida a apegar-se a ela, a permanecer junto.
De fato, existem bênçãos e realidades que só vive quem está
disposto a ficar, a não descer do seu compromisso.
Temos que ter o discernimento para insistir e desistir das
coisas corretamente.
Peça ao Senhor para que lhe faça discernir: Desistir de
Moabe é uma boa, insistir em Noemi é uma boa também.
Rute escolheu renunciar na hora certa, mas também
permanecer na hora certa, a vida exigirá ir ou voltar, ficar ou sair e
precisamos de sabedoria para insistir no que se deve.
O tempo passa e pessoas que se vão somem, Orfa sumiu, Demas
sumiu, mas quem escolhe permanecer entra na história.
4º Ao se apegar, Rute está abrindo mão de sua
vida conjugal.
Ela correria sérios riscos de nunca mais se casar, de não
ter marido, filhos, etc.
Mas Rute está disposta a apegar-se a Noemi mesmo sendo sob
o custo de não ter família.
As vezes por amor ao Deus de Noemi somos chamados ao mesmo.
Tenhamos paciência.
A história de Rute nos mostra que vale a pena esperar, vale
a pena renunciar um casamento Moabita para viver o melhor com Boaz.
Nós devemos cuidar para que o casamento não se constitua
para nós um Deus.
O valor de uma causa não se dá por aquilo que conquistamos
através dela, mas por aquilo que perdemos em nome dela.
Vale a pena renunciar aos moabitas para receber as graças
do verdadeiro Boaz.
“Para casar só tem um, este lugar, é só para
quem fica”
Helena Raquel
“Daqui a dez anos perguntarão porque você está
ai? Diremos: Porque ficamos”.
Considerando todos os riscos Rute diz a Noemi:
Porém Rute respondeu: — Não insista para que eu a deixe nem
me obrigue a não segui-la! Porque aonde quer que você for, irei eu; e onde quer
que pousar, ali pousarei eu. O seu povo é o meu povo, e o seu Deus é o meu
Deus.
Onde quer
que você morrer, morrerei eu e aí serei sepultada. Que o Senhor me castigue, se
outra coisa que não seja a morte me separar de você.
Rute 1:16,17
5º Os dias difíceis mostram quem são de fato os
amigos:
A declaração de Rute transpassa 3000 anos, é recitada em
casamentos, é um voto de fidelidade dos mais belos da história.
O que liga uma nora a sogra neste nível de intensidade?
O que Rute viu em Noemi para ela se apegar assim?
· A
Amizade verdadeira é a capacidade de apreciar no outro o que ele próprio não
vê.
· A
Amizade verdadeira é um amor que se entrega sem interesses
· A
Amizade é um amor determinado a ir até as últimas consequências.
O capítulo 1 é uma tipologia do que ocorre no ato de
conversão.
Onde fores irei – O vento sopra onde quer
Onde pousares posarei – O filho do homem não tem onde
reclinar a cabeça
Teu povo é meu povo – Adição ao povo do pacto por adoção
Teu Deus é meu Deus – Aceitação a fé
Onde morrerdes – Batismo e cruz pessoal
No que diz respeito a Cristo a única diferença é que nem a
morte nos separará dele.
Rute está disposta a caminhar na mesma fé de Noemi.
Neste capítulo 1 há várias tipologias a respeito de como o
Senhor nos salva.
A primeira delas nos diz que Deus sempre visita o seu povo.
Ainda que haja juízos severos, pesados, todos eles são temporários e o que
sempre prevalece é a visitação de Deus ao seu povo, do qual ele novamente torna
a ter piedade.
Essa visitação de Deus provê aos seus a possibilidade de
voltar para casa, Noemi volta, por saber que Belém é seu lugar.
Nessa visitação de Deus há estrangeiros que também desejam
se integrar ao povo, estes são diferentes, tem costumes alheios aos nossos, mas
se dispõe a mudanças radicais em nome do Deus que lhes chama.
Essa volta para casa é uma volta que tem inúmeros
obstáculos, pessoais, sociais e alheios a nossa vontade, exigindo assim
profunda humildade de quem volta.
As vezes o meio de Deus nos fazer voltar é seu juízo,
voltamos humilhados, contrariados, mas voltamos.
Muitas vezes, nós, o povo que ficou, somos um obstáculo a
mais na volta.
Devemos como o povo que está na terra, sermos acolhedores
com os filhos que se foram e voltam vazios e com os estrangeiros que desejam
integrar nosso povo.
Deus e
os nossos recomeços
A situação de Noemi a essa altura era tão desanimadora, que
ela encontra-se anestesiada tanto para o bem como para o mal, de certa forma,
nada altera o seu modo de agir mais. Uma quantidade tão grande de amargura lhe
é dada, que sorrir se constitui missão impossível, se lamentar é sua sina,
mesmo após uma linda demonstração de amor como a de Rute, Noemi não consegue
esboçar reações positivas, apenas deixa de falar no assunto devido a
insistência de Rute. Noemi anestesiada como estava leva consigo Rute.
O caminho de volta pode parecer uma das estradas mais duras
de todas, encarar os olhares, os questionamentos, os amigos e irmãos que lhe
perguntariam de sua família, além do mais andar com uma moça que como descrito
anteriormente não seria bem-vinda entre eles.
Noemi tornou-se um provérbio vivo entre o povo de Belém, as
pessoas se comovem com a situação, mas não no sentido de ajudar, mas de se
impressionar o quão baixo uma pessoa longe de sua terra pode chegar, Noemi está
voltando vazia, tendo saído cheia.
A pergunta normal é: Não é esta Noemi? De certa forma estão
dizendo: “É inacreditável”.
Noemi num certo sentimento de frustração, impede que a
chamem por seu nome comum “Agradável”, agora ela quer assumir para si uma
identidade diferente.
Não me chamem “Agradável”, me chamem de “amarga”.
Ao fazer isso, Noemi está tentando afastar de si qualquer
comentário, qualquer juízo de valor, ou algo do gênero que o povo do pacto
possa fazer, mas era inevitável.
Ao entrarem, na cidade aparentemente não há um compadecimento
que se traduza em ajudas práticas, abraços, afagos, apenas dúvidas, perguntas,
provérbios.
Deus de fato visitou seu povo, mas o capítulo 1 termina com
muitas dúvidas.
Como será a vida em Belém? Como duas viúvas vão viver? Como Rute será recebida?
Rute conseguirá um novo marido?
Tudo parece muito incerto ainda, é então que nos deparamos
com o capítulo 2.
“E Rute, a
moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele
em cujos olhos eu achar graça. E ela disse: Vai, minha filha.
Rute 2:2”
Rute precisava recomeçar a vida numa nova terra, sabia que
não poderia contar muito com Noemi. Visto que esta está ainda extremamente
abalada.
Rute tomando o pouco que sabe sobre o Deus de Noemi decide
sair de casa em busca de ajuda.
Não tenho dificuldades de pensar que Rute não
sabia muito bem como eram os campos em Belém, nem mesmo de supor que sequer ela
conhecia as leis em torno do ato de respigar.
A questão fundante é: O que faz Rute sair de
casa? Seria apenas a necessidade? O que a faz pensar que conseguiria alimento
em terras estrangeiras?
Tendo visto todos os juízos de Deus na
interpretação de Noemi, como ela ainda acreditava que poderia recomeçar? Que
algo bom poderia acontecer?
1º - Nós precisamos nutrir a esperança, pois,
muitas vezes a fé vem após ela.
Fé e esperança parecem ser iguais, ambas denotam acreditar
em algo.
Fé e esperança são virtudes teologais tal qual é o amor, fé
e esperança são palavras constantes na escritura. Mas a questão fundamental é,
se ambas representam um mesmo sentimento, porque criar duas palavras? Deve
haver uma diferença.
A bíblia define claramente fé, fé é o firme
fundamento das coisas que não se veem, a esperança também tem este fundamento,
não é vista na maioria das vezes a princípio.
Mas a fé tem um segundo elemento que é interessante, é a
certeza das coisas que se esperam.
Na fé há alvos determinados, há causas claras pelas quais
buscar, na fé eu sei exatamente o que quero, o que espero, fé é a certeza do
que ainda não aconteceu, mas já está desenhado em minhas expectativas.
Se um ente querido está doente e eu peço a Deus que o cure,
tenho fé.
Se saio da minha terra para uma nova terra, sei onde quero
chegar, ainda que não conheça, é na nova terra.
E quanto a esperança? Como ela se dá?
A esperança diferentemente da fé, não tem alvo
claro, não tem objetivos e resultados pelos quais esperar, na esperança estou
sem alvo específico.
Na esperança eu não sei bem o que vai
acontecer, mas espero algo bom. Na esperança não tenho clareza dos próximos
passos, mas vivo a sensação de que em algum ponto, em algum momento as coisas
vão finalmente se encaixar.
A esperança é a força que impulsiona Rute. Ela não sabe o
que esperar nos campos, ela não sabe quem a atenderá, ela não sabe como será
recebida entre as mulheres e entre trabalhadores de seu tempo, mas ela sabe que
algo bom pode acontecer, é considerando a esperança que ela sai de casa, que
ela faz planos, que ela deixa sua sogra em casa sabendo que ela achará graça
aos olhos de alguém.
Os riscos eram muitos, mas a esperança é a força motriz que
nos faz crer na possiblidade da vitória.
· Esperança
é a sensação que temos de que as coisas vão melhorar.
· Esperança
é a força pra caminhar.
· Eduardo
Galeano, quando perguntado das razões de pessoas deverem cultivar utopias
(leia-se esperanças), é de que elas, sempre estarão na linha do horizonte, ao
darmos dois passos, ela dá quatro passos, dando quatro passos ela dá oito.
Configurando assim sua utilidade, nos fazer continuar caminhando sempre.
O que faz Rute ir atrás de espigas? Desconsiderar os riscos
de estupro? O que faz Rute acreditar que tendo perdido o sogro, o marido, tendo
uma sogra amarga, num país estrangeiro, ela ainda sorrirá? É a esperança.
Este assunto da esperança é tão forte que a bíblia nos
incentiva a cultivá-la porque é esperança que somos salvos. Romanos 8.24-25
·
Mario Sérgio Cortella, Filósofo
contemporâneo, diz que devemos cultivar a esperança como verbo de esperançar,
não apenas de esperar.
Ao manter-se inerte, apenas esperando que coisas deem
certo, estamos esperando que as coisas melhorem, esperando que as
circunstâncias mudem, esperando que venham condições melhores. Mas o esperançar
é sair em busca sabendo que dará certo, esperançar é ser movido de um
sentimento de vitória, de convicção. Este sentimento nos leva a ação.
2º - A
soberania de Deus coopera com nossas ações
Criamos uma certa dicotomia entre soberania de Deus e
responsabilidade humana, de modo que se Deus é responsável pelos atos, nós não
temos o que fazer, aliás, só fazemos o que fazemos se Deus quiser que o façamos,
desta forma, segue-se que tudo o que fazemos, fazemos por uma predeterminação
divina. Limitando assim toda a ação humana.
Porém essa concepção não é bíblica, pois, se assim fosse
mesmo nossos erros seriam uma determinação divina, tornando até mesmo as punições
algo injusto.
Deus visitou seu povo, mas Rute precisa sair,
Deus está prosperando as pessoas do lado de fora, mas essas têm de sair e fazer
algo para que sejam contempladas pelo bem do lado externo.
“Muitas vezes nos vemos em
dilemas ligados a esperar ou agir. O que você faz quando alguém está doente?
Ora ao Senhor ou dá remédio? 53 E quando precisa de comida? Trabalha ou espera
que caia do céu? E quando deseja encontrar uma esposa? Toma banho, apara as
arestas de sua personalidade difícil, busca crescer à semelhança de Cristo 54 e
conversar com as pessoas ou entrega nas mãos do Senhor? A Bíblia ensina tanto a
responsabilidade do homem quanto a soberania de Deus em todas as coisas. Embora
isso seja claro nas escrituras, nossa prática trai nossa inconsistência: só
oramos pedindo que Deus ajude quando a doença é séria, senão confiamos nos
remédios e pronto. Qual foi a última vez em que você orou acerca de um
resfriado, pedindo a Deus que parasse a coriza e a dorzinha de cabeça? Por
outro lado, por vezes queremos certas coisas e não agimos. Muitos desejam
buscar uma esposa ou um emprego e tudo o que fazem é orar e não mover uma
palha.” – Emílio Garófalo
Rute movida de esperança vai trabalhar e em um dia comum
uma série de aparentes casualidades positivas acontecem.
A palavra diz:
“Os passos
de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e
ele deleita-se no seu caminho” – Salmo 37.23
A ideia deste capítulo é mostrar a sinergia entre nosso
trabalho e as ajudas de Deus.
Os passos de homens bons, são confirmados pelo Senhor, Deus
age em coisas aparentemente casuais e simples, mostrando seu cuidado.
Deus é o maior interessado em estender sobre nós suas
provisões, mas estas se concretizam por meio de atos nossos.
Rute entende que o trabalho é o meio que Deus usará para
lhe suprir.
· E há
na vida uma série de atividades que espiritualizamos demais em nome da fé.
· Relacionamentos
· Trabalho
· Provisões
· Amizades
Mas pensemos bem, nós precisamos nos mover para uma situação que torne a provisão
possível (Bonhoeffer), o milagre, mesmo sendo uma operação
sobrenatural, muitas vezes tem condições anteriores a sua realização, a saber a
fé.
Rute sai de casa sem saber o que fazer, mas no decorrer do
dia ou até de alguns dias, sua fé vai se formando na medida em que tem um alvo.
O alvo era respigar, indo respigar, Deus lhe ajuda das mais
diversas formas.
· A fé
quando inerte é muleta, a fé quando não move para a ação é morta.
· De
modo que Tiago disse, mostra-me tuas obras sem tua fé que te mostrarei minha fé
pelas minhas obras.
· A fé
sem as obras é morta em si mesma.
· A fé
não é apenas um conceito doutrinário, mas é praticamente um verbo.
3º - Os
recomeços “começam de baixo”
“Quando também fizerdes a colheita da vossa terra, o
canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da
tua sega.
Semelhantemente
não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha;
deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o Senhor vosso Deus. Levítico 19:9,10”
· O
trabalho da sega era feito geralmente em duas etapas, homens geralmente iam na
frente cortando as partes mais densas, enquanto as mulheres atavam feixes e
enchiam os sacos com o que era cortado.
· Neste
processo constantemente caiam espigas, mudas, etc, uma vez caído, não era
permitido mais colher.
· Estas
espigas que caiam eram um direito das pessoas pobres e estrangeiras.
Este era um meio de as pessoas mais simples terem ao menos
o que comer e mesmo os estrangeiros entre o povo.
Considere que Rute já havia sido casada, tinha um marido
que lhe provia, agora está sendo obrigada a cumprir a atividade dedicada
exclusivamente aos que nada tem.
·
Recomeçar exige muitas vezes
iniciar no andar de baixo, começar com pequenos começos, estes pequenos começos
são frequentemente desprezados por nós, contrariando a palavra – Zc 4.10
Quem deseja recomeçar, deve estar disposto a dar pequenos
passos para trás, suportar certas humilhações que são parte do crescimento.
Esta atividade era cansativa, pesada, arriscada, mas Rute
está disposta a arcar os custos de recomeçar. Nós precisamos desta mesma
disposição.
4º - Precisamos
nos arriscar em busca de passos maiores
Eram inúmeros os riscos que Rute corria neste trabalho:
“Não
seja ingênuo e considere comigo as possibilidades: vários homens, uma mulher
desamparada, e ainda por cima estrangeira. Um campo afastado da cidade... Quão
fácil teria sido isso tudo acabar mal? Rute não tem ideia de quanta coisa está
sendo preparada pelo Senhor para que ela fique bem.” – Paul Miller
Alguém já disse que o medo é a fé na derrota, é
acreditar com todas as forças que as coisas não sairão bem.
Rute sabia que precisava de algo, precisava agir e escolheu
arcar com os riscos de seu trabalho.
As vezes nos privamos de muitas coisas na vida por medos
infundados, Deus está nos encorajando a sair da situação de paralisação advinda
do medo e agir. Com coragem.
“Sem um protetor masculino, Rute está
sexualmente vulnerável; sem dinheiro, está financeiramente destituída; sem
amigos, é solitária; e, fora de seu país, está aberta a preconceitos. Ela não
tem protetor, marido, tribo, família ou comida. E está encarando as
responsabilidades de um homem. Ela é uma mulher de fibra. Humanamente
desprotegida, mas divinamente amparada.”
Ela correu riscos, mas nestes muitos riscos que correu,
Deus a guardou em sua providência.
5º - A
glória as vezes está em colher publicamente o que se plantou de forma discreta,
secreta, sigilosa.
Rute fez seu melhor por Noemi, tendo declarado palavras tão
belas como fez, ela não ouve nada, não é mencionada, não é gratificada, nada
mesmo.
O silêncio de Noemi diante de Rute é ensurdecedor, o ato de
ir trabalhar por ela sem maiores incentivos, apenas um “vá minha filha” é
nobre, mas ao mesmo tempo desapegado de reciprocidades.
“Mas essa solidão, esse morrer, ao invés
de ser o seu fim, pode demonstrar a beleza de Jesus em você. O momento em que
você pensa que tudo saiu errado é exatamente o momento em que a beleza de Deus
está brilhando através de você. Glória verdadeira é quase sempre escondida –
quando você está aguentando calado sem uma multidão incentivando. Quando velhos
soldados se reúnem para refletir sobre suas experiências de tempo de guerra,
eles não pensam sobre as cerimônias de entrega de medalhas em que o mundo honra
seu valor. Eles pensam na batalha, no sacrifício, no que passaram – essa é sua
glória. Quando você, pela milésima vez, silenciosamente perdoa alguém que nunca
irá saber de sua dor, essa é sua glória. Quando você continuamente faz uma
tarefa da casa sem ouvir agradecimentos, e até mesmo com críticas, essa é sua
glória. Amor escondido despedaça o ego. Entrar em Belém sozinha, uma
estrangeira, sem um homem protetor – somente com Yahweh – essa é a glória de
Rute”
Rute persiste em fazer o que pensa ser certo, sem notar que
há muitas coisas acontecendo ao seu redor. Ela não sabia em qual campo ia
colher, mas é exatamente no de um parente solteiro, não sabia que estavam
falando dela, que funcionários falaram bem.
É então que Boaz lhe faz colher o bem que plantou secretamente:
6º Devemos
aprender a celebrar pequenas vitórias – A vida não nos deve nada
Então disse-lhe sua sogra: Onde colheste hoje, e onde trabalhaste?
Bendito seja aquele que te reconheceu. E relatou à sua sogra com quem tinha
trabalhado, e disse: O nome do homem com quem hoje trabalhei é Boaz.
Então Noemi
disse à sua nora: Bendito seja ele do Senhor, que ainda não tem deixado a sua
beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disse-lhe mais
Noemi: Este homem é nosso parente chegado, e um dentre os nossos remidores.
E disse
Rute, a moabita: Também ainda me disse: Com os moços que tenho te ajuntarás,
até que acabem toda a sega que tenho.
E disse
Noemi a sua nora: Melhor é, filha minha, que saias com as suas moças, para que
noutro campo não te encontrem.
Assim,
ajuntou-se com as moças de Boaz, para colher até que a sega das cevadas e dos
trigos se acabou; e ficou com a sua sogra.
Rute 2:19-23
Descanso
nas asas do redentor – Rute 3
E
disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de buscar descanso, para que
fiques bem?
Ora, pois,
não é Boaz, com cujas moças estiveste, de nossa parentela? Eis que esta noite
padejará a cevada na eira.
Lava-te,
pois, e unge-te, e veste os teus vestidos, e desce à eira; porém não te dês a
conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber.
E há de ser
que, quando ele se deitar, notarás o lugar em que se deitar; então entrarás, e
descobrir-lhe-ás os pés, e te deitarás, e ele te fará saber o que deves fazer.
Rute 3:1-4
Tendo vivido um primeiro dia de muitas alegrias, Rute volta
para casa cheia de boas notícias, é então que Noemi, sua sogra lhe diz sobre a
dimensão de provisão que ela recebera sem se dar conta.
Não foi apenas uma boa colheita, mas foi no lugar certo,
com a pessoa certa e sobretudo com um homem que poderia além de lhe sustentar,
se casar com ela.
Noemi bola um plano, sua intenção é de que Rute
encontre proteção e descanso.
Esses são dois anseios naturais do ser humano, todos nós
queremos nos sentir seguros, por isso colocamos fechaduras, cadeados, alguns
desejam armas, blindagens, tornando este um dos pontos mais procurados na hora
de se escolher um lugar para morar. Todos gostamos de nos sentir seguros e este
era o anseio delas.
O segundo anseio implícito nas falas de Noemi é de
“descanso”, o desejo de Noemi é um alívio após tantas tribulações. A mudança
mal sucedida, o luto repentino, a volta para a terra natal “vazia”. A vida
difícil na dependência de sua nora, tudo isso gerou em Noemi o desejo de
encontrar certo alívio. Descanso também é algo que se busca em viagens,
mudanças, férias, silêncio, períodos sabáticos, etc.
Tendo considerado estes dois anseios, Noemi vê
em Rute a possibilidade de suprir essa necessidade com Boaz.
O plano de Noemi tinha como intenção principal
satisfazer seus anseios e aparentemente, ela ainda não tinha total confiança na
integridade de Rute, veremos isso no desenrolar dos fatos.
Na sua última fala com Rute, o fato de Boaz ser um parente
próximo já foi relatado por Noemi, mas sem dar mais detalhes. Chegara a hora de
finalmente explanar o que isso representava.
Noemi estava com duas leis em mente: O parente
resgatador e o Levirato.
·
Levítico – 25.25-34 A lei do parente resgatador
O resgatador entrava em cena quando uma pessoa da família
adquiria uma dívida tal que era obrigado a entregar suas possessões e não
saldando a dívida com suas possessões, o próprio endividado se entregava como
escravo a fim de suprir a falta de pagamento.
Neste caso a única possibilidade de reaver o que se perdeu,
ou de ter liberdade, era esperar o ano do Jubileu ou se um parente próximo
assumisse a dívida. O termo bíblico Hb. Para este parente era “Goel” que
traduzido é “resgatador”. De certa forma, um irmão de posses tinha
responsabilidade sobre seu irmão não tão bem-sucedido assim.
Essa lei na prática se ampliava aos relacionamentos, quando
um parente próximo falecia sem deixar filhos, o seu irmão poderia assumir sua
mulher pela lei para que a descendência de seu irmão fosse preservada, de certa
forma, este filho era do falecido.
Em se tratando da situação de Rute, a lei do parente
resgatador poderia ser aplicada para reaver propriedades anteriormente em sua
posse, bem como assumir a viúva e lhe suscitar descendência.
O Levirato - “Se dois irmãos estiverem morando juntos na mesma propriedade e um deles
morrer sem deixar filhos, a viúva não se casará com alguém de fora da família.
O irmão de seu marido se casará com ela, e eles terão relações sexuais. Desse
modo, ele cumprirá os deveres de cunhado.
O primeiro
filho que ela tiver com ele será considerado filho do irmão falecido, para que
seu nome não seja esquecido em Israel.
“Se,
contudo, o homem se recusar a casar-se com a viúva de seu irmão, ela irá até a
porta da cidade e dirá às autoridades ali reunidas: ‘O irmão de meu falecido
esposo se recusa a preservar o nome do irmão em Israel. Não quer cumprir os
deveres de cunhado, casando-se comigo’.
As
autoridades da cidade o convocarão e conversarão com ele. Se, ainda assim, ele
insistir e disser: ‘Não quero me casar com ela’,
a viúva se
aproximará do homem na presença das autoridades, tirará a sandália do pé dele e
cuspirá em seu rosto. Em seguida, ela declarará: ‘É isso que acontece com o
homem que se recusa a dar filhos para seu irmão’.
Desse dia
em diante, a família dele será chamada em Israel de ‘família do descalçado’.
Deuteronômio 25:5-10
Existem consideráveis dúvidas se neste caso de Rute se
aplicaria a lei do Levirato, uma vez que este mandamento se aplicava a irmãos.
Na situação de sua família, os dois irmãos morreram de uma vez.
A única possibilidade para que isso tenha
acontecido é de que a lei neste tempo estava mais abrangente, englobando outros
parentes próximos, ou mesmo se tratasse de um ato de cortesia esperada um
parente resgatar a mulher do falecido.
Por uma via ou por outra, Rute estava segura de que Boaz
lhe assumiria e lhe daria proteção e descanso.
Mas para isso acontecer, de alguma forma Boaz teria que
olhar para Rute de outra forma.
Os passos dados por Noemi
O plano de Noemi considerava essas leis, mas outros fatores não tão nobres
assim.
· Eram
os últimos dias da colheita, com certeza ele estaria na Eira.
· Rute
deveria tomar banho, se perfumar, vestir sua melhor roupa.
· Ela
deveria manter-se oculta, até que Boaz terminasse de comer (Talvez porque comia
em companhia de alguém).
· Neste
ato de comer, certamente Boaz estaria também às vias da embriaguez, o que se
constituía um fator positivo para Rute em seu pedido.
· Ao
observar o lugar na eira onde ele iria se deitar (certamente sozinho numa
tenda), Rute deveria lhe descobrir os pés.
· Daí em
diante, ao acordar, Rute deveria se deixar ser levada por Boaz par ao caminho
que ele desejasse (Uma noite, um relacionamento, ou mesmo o casamento), Rute
deveria estar disposta a tudo, o que não é totalmente positivo.
· De
certa forma o deixar os pés de Boaz descobertos não tinha nenhuma conotação
maior do que simplesmente ele sentir frio no meio da noite e notar Rute aos
seus pés.
Noemi está talvez desconfiando da santidade de
Rute, apostando numa certa capacidade de sedução, num padrão mais baixo
moralmente, ela espera que a Moabita siga os exemplos de sua terra e conquiste
Boaz por meio deste ato e de uma certa licenciosidade.
O plano bolado por Noemi lembra muito o plano
das filhas de Ló para que tivessem um filho que suscitou os moabitas,
ela deseja que Rute repita a ação, agora para o benefício dela.
Rute segue o plano até este ponto:
Assim, naquela noite, ela desceu até a eira e seguiu as
instruções de sua sogra.
Quando Boaz
terminou de comer e beber e estava alegre, foi deitar-se perto de um monte de
grãos e pegou no sono. Rute se aproximou em silêncio, descobriu os pés dele e
se deitou.
Rute 3:6,7
Rute até certo ponto estava igualando a atitude de seu
tempo, ao se preparar, deitar-se, descobrir os pés, esperar a hora exata em que
ele fosse dormir para estar junto dele, mas acaso Rute se igualaria as
Moabitas?
Boaz acorda meia noite, com uma mulher deitada aos seus
pés, lhe pergunta quem ela é, daí em diante a vez está com Rute, ela deixará a
situação nas mãos do homem? Se mostrará “fácil” tal qual as Moabitas?
Vamos meditar em algumas lições deste texto:
1º - As vezes o que deveria ser um meio para
nos prejudicar é revertido em bem.
Noemi está dando conselhos repletos de duplos sentidos, de
certa forma colocando Rute como cobaia para seus desejos pessoais, querendo que
ela usasse instrumentos que anteriormente mulheres Moabitas haviam usado, a
saber a sedução.
Porém Rute segue seu plano apenas parcialmente, quando lhe
é exigido se igualar ao passado sórdido que vivera, ela opta por um caminho
diferente e este meio lhe favorece extremamente.
Não é a primeira vez que intentam maus planos a cerca do
povo de Deus, mas estes planos foram revertidos positivamente.
· Quando
Saul pediu a Davi um dote de 100 prepúcios de filisteus. Acreditando que com
isso ele o estava prejudicando, porém este ato encorajou Davi ainda mais.
· José
do mesmo modo ao ser vendido seria prejudicado, mas Deus transformou o mal em
bem.
As vezes há pessoas que pensam estar sendo beneficiadas com
suas estratégias aparentemente espertas, mas o maior beneficiado é quem tem a
oportunidade de crescer, avançar, progredir.
2º A santidade tem uma beleza diferenciada.
Neste momento em que Rute é descoberta, ela está diante do
homem que deseja e veremos em seguida que Boaz também lhe deseja. Não sabemos
se a essa altura Boaz já tinha passado por um relacionamento, mas ele não era
um jovem mais. Rute já havia sido casada por um tempo, logo qualquer coisa que
ocorresse entre os dois ali seria facilmente compreendida, ambos eram maduros e
seria considerado normal em nosso tempo.
Mas Rute não está desejosa apenas de uma noite com Boaz,
ela almeja casamento. Logo a cordialidade e beleza com a qual ambos se referem
um ao outro é algo interessante de se notar.
A primeira fala de Rute é de certa forma um pedido de
casamento:
Estenda as abas de sua capa sobre mim, pois o senhor é o
resgatador de minha família.” – V.9
Boaz se refere a ela com palavras brandas também
Então Boaz exclamou: “O Senhor a abençoe, minha filha!
Você demonstra agora ainda mais lealdade por sua família que antes, pois não
foi atrás de um homem mais jovem, seja rico ou pobre.
Não se
preocupe com nada, minha filha. Farei o que me pediu, pois toda a cidade sabe
que você é uma mulher virtuosa.
Rute
3:10-11
Há uma beleza diferente na santidade, no respeito mútuo, há
uma beleza no que diz respeito a seguir o modo como Deus determinou, há outros
meios, mas são menos nobres, menos interessantes.
3º - A conversa de Boaz e Rute é uma quebra de
preconceitos diversos
· Preconceitos
com solteiros
Penso que em nossos dias há uma idolatria considerável
nesta área, ainda que os nossos solteiros na igreja não o façam como ato
consumado, o pecado não sai de seu imaginário, de suas falas, de suas
conversas, de modo que se faz necessário retomar certa pureza que se perdeu no
decorrer do tempo entre nossos solteiros, é possível sim, ser solteiro e ser
santo.
· Preconceitos
com idade
Boaz apesar de ser um homem já maduro e solteiro, não usa
isso como um Álibi para fazer de Rute o que quer. Somos muito apressados em
olhar negativamente para homens e mulheres de meia idade ainda consolidando
suas vidas. Deveríamos reconsiderar isso.
· Pessoas
“para casar”.
Sob diversas óticas Rute era
alguém inadequada para casar, uma moça já viúva, Moabita, estrangeira, existem
certas exigências que não são bíblicas e constituem uma dificuldade para que
pessoas encontrem este “ser ideal”.
No fundo não cremos numa redenção completa, na possiblidade
de pessoas mudarem, isso explica muitos dos nossos preconceitos:
“Há verdadeiros tesouros sendo preteridos por
conta da tolice de nosso povo acerca dessas coisas. Penso que isso revela um
problema profundo: levamos a sério quando a Bíblia diz que aqueles que estão em
Cristo são novas criaturas? Acreditamos mesmo em nova vida? O que importa é que
agora, ele ou ela, é parte do povo de Deus. As coisas velhas passaram, eis que
tudo se fez novo. Se a pessoa teve um passado pagão em que fazia o que pagãos
fazem, isso ficou no passado e foi lavado em Cristo. E vale sempre lembrar aos
que não andaram por caminhos escuros: foi apenas a misericórdia de Deus que
impediu que isso ocorresse”
4º - Existem pessoas que de nobre que são, tornam-se
uma personificação de Jesus:
A bíblia se refere a
tais pessoas como aquelas de quem o mundo não é digno – HB. 11.38
Exemplo – Eduardo (Casa de
recuperação).
Boás é este homem, um homem
ilibado, de caráter. Com muitas características positivas:
1º - Sendo
Senhor ele trata seus servos com maestria – 2.4
2º - Um
homem com coração integrador e acolhedor – 2.8
3º - Um
homem que oferece proteção – 2.9
4º - Um
homem humilde – 2.14
5º - Um
homem generoso – 2.15-16
Agora diante dele está com uma
moça vulnerável, fragilizada, dependente financeiramente dele, mas isso não se
constitui um instrumento de dominação para ele.
Boaz viveu o conceito de
integridade na prática – estava sozinho, com uma bela mulher que lhe pediu em
casamento, não haveria testemunhas, ele é o mais velho, teria todas as razões
para fazer o que quisesse, ainda por cima pelo fato de estar bêbado. Na mente
de Boaz não importava se outros o veriam ou não, neste momento ele está
sozinho, com ela diante dele, mas ele mantém seu caráter e postura.
·
Todas as coisas que Boaz fez no capítulo 2
já mostravam seu caráter, mas o capítulo 3 é o ápice.
Boaz se constitui aqui um tipo
de Jesus, o nosso redentor, também de um homem de verdade:
· Um
homem que deseja se casar e constituir família, mas não a qualquer custo.
· Um
homem que entende que amor pactual (hesed) envolve não explorar a fragilidade
da mulher
· Que a
vida não é seguir aos impulsos em tudo.
· Que
masculinidade envolve honrar o nome da mulher a quem deseja se unir
5º - Rute e nós
Assim como Rute e Noemi
estamos buscando proteção e descanso, a humanidade caída perdeu essas duas
coisas.
Assim como essas duas
mulheres, há tipos na bíblia de que a igreja era anteriormente também
estrangeira, vulnerável, as vezes frágil, errante, com passados pesados.
· Mas o
resgatador se compadeceu de nós, não levando em conta toda a fragilidade de que
nosso coração possuía, ele não esmagou a cana trilhada e nem apagou o pavio que
fumega – Mateus 12.20
· No
antigo testamento há figuras desse descanso que se busca:
Todos estes morreram na fé, sem terem
recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as,
confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.
Porque, os
que isto dizem, claramente mostram que buscam uma pátria.
E se, na
verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de
tornar.
Mas agora
desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não se envergonha
deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade.
Hebreus 11:13-16
Na peregrinação em busca do
descanso precisamos ser protegidos, do mundo, da carne, do eu, sobretudo
precisamos de proteção da ira de Deus.
· De
certa forma a posição de Rute era ainda melhor do que a nossa:
Ela poderia trabalhar para se salvar, todo nosso trabalho é como trampo de
imundícia.
· Ela
poderia se arrumar e conseguir disfarçar sua condição, quanto a nós, estamos
diante do Deus que tem olhos como chamas de fogo.
“Muitas vezes nós não
percebemos o quanto é desesperadora a situação natural de todo ser humano. No
entanto, a Bíblia é bem clara: sem Deus agindo graciosamente em nosso favor,
estamos perdidos. Podemos estar humanamente em situação melhor do que Rute.
Mas, na verdade, longe de Cristo, nossa situação é muito mais complicada”. Emílio
Garófalo
6º - Jesus é o verdadeiro
resgatador
· Diferente
de Boaz que tinha um certo concorrente à frente, Jesus é o único que pode nos
resgatar:
· O
resgatador precisava ser um de nós – Ele satisfez isso na encarnação
· Só ele
poderia pagar o preço da nossa redenção
· Ele
decidiu por sua vontade própria nos resgatar
· Assim
como Rute, precisamos de descanso e proteção. A boa notícia é que Jesus Cristo
nos oferece as duas coisas. Temos proteção eterna contra a ira de Deus, que em
Cristo não é mais contra nós. Fomos reconciliados com ele. Precisamos ainda de
proteção contra o mundo, a carne e o diabo. Ele é nosso rei protetor. E ele não
se envergonha de vir até nós e nos amar. Mesmo com o nosso passado.
· Para
Jesus não importa nosso passado, ele quer nos resgatar
· Jesus
pagou o preço necessário para nos resgatar
· Jesus
oferece alívio aos seus
· No que
diz respeito a nos tirar do império das trevas pela redenção a obra está
completa, mas ainda estamos aqui, o resgatador continua conosco:
7º - Boaz e Adão:
· Boaz
se saiu muito bem. Essa situação de acordar e encontrar uma mulher ao seu lado
deve nos lembrar ainda de uma história. Em certa ocasião, o primeiro homem
também acordou surpreendido ao lado daquela que era a primeira mulher. Foi
quando Adão despertou do sono ao lado de Eva e viu com espanto que ela era
carne de sua carne. Ali, ainda sem pecado, já havia descanso e benção. Nosso
resgatador, fazendo o que Adão não pode fazer, novamente vai nos dar descanso.
Vai nos elevar a uma situação ainda melhor do que a do jardim inicial. Lá
seremos protegidos de todo mal, inclusive da possibilidade de pecar. Já vivemos
em descanso. Seguimos labutando. A cada domingo experimentamos um pouco do que
é este descanso. Já temos. Mas ainda não
A restauração de Deus – Rute capítulo 4
A esta altura da história nos perguntamos qual seria seu
desfecho, neste capítulo que se constitui o último da história, iniciamos com a
dúvida, acaso Boaz conseguiria encontrar o parente mais próximo e pedir a mão
de Rute?
Haveria um novo casamento para a viúva moabita?
Boaz – Um homem decidido a firmar compromissos
Ao chegar em casa de seu encontro com Boaz, Rute conta a
sua sogra todo o bem que ele lhe fez. Ao descobrir as falas de seu futuro
“genro”, Noemi acalma o coração de Rute lhe dizendo que o homem não descansaria
até resolver aquela questão.
Chegado o dia seguinte, lá está Boaz, talvez não tenha
dormido considerando a questão de que seu casamento estava próximo e estaria
diante da mulher com o qual desejava se casar.
Mas antes um parente mais próximo deveria deixar a questão
para que o caminho de Boaz fosse finalmente aberto.
Nestes dias, a porta da cidade era uma espécie de “Praça
central”, assim como é em cidades pequenas, nela pessoas se reuniam,
conversavam, confraternizavam e resolviam assuntos sérios como suas
negociações.
O Júri da cidade não tinha um prédio como em
nossos dias, mas tinha apenas o hábito de reunir-se junto a porta, neste lugar,
causas eram julgadas, transações eram realizadas diante de testemunhas e Boaz
sabe que este seria o caminho para redimir sua futura esposa.
Ao chegar na porta da cidade, aparentemente por uma certa
casualidade Boaz encontra o homem que era mais próximo de Rute, de imediato lhe
chama para assentar-se.
Em seguida chama após si 10 testemunhas que lhe servem como
uma espécie de comissão para assegurar que o que iriam tratar seria definitivo.
“E Boaz subiu à
porta, e assentou-se ali; e eis que o remidor de que Boaz tinha falado ia
passando, e disse-lhe: Ó fulano, vem cá, assenta-te aqui. E desviou-se para
ali, e assentou-se.
Então tomou
dez homens dos anciãos da cidade, e disse: Assentai-vos aqui. E assentaram-se.
Rute 4:1,2”
Os assuntos solenes eram tratados dessa forma, inclusive em
diversas passagens como a que se refere aos filhos rebeldes e a Absalão,
inclusive a mulher virtuosa tinha sua fama declarada junto aos portões da
cidade.
A negociação de Boaz
Como mencionado anteriormente, havia duas leis em vigor
aqui, a lei do Levirato e do parente resgatador.
A ideia a princípio era apresentar apenas a questão do
parente resgatador, o resgate não era só de pessoas, mas também de posses.
Elimeleque morreu deixando terras, a princípio essas terras passaram a Malon,
mas este também morreu, tornando-se então propriedade de Noemi, esta já estava
velha, não seria necessário dar-lhe mais filhos, o parente resgatador,
resgataria apenas a terra e cuidaria da velha Noemi por um espaço de tempo.
Era um negócio vantajoso em vários sentidos,
visto que se ele não a resgatasse, a terra passaria a terceiros, ou a alguma
pessoa designada por ela, uma vez que a viúva precisa de dinheiro, seria bom já
garantir a posse e cuidar dela por pouco tempo para aí sim desfrutar da terra
de forma vitalícia, é assim que Boaz apresenta a questão, falando apenas do
resgate da terra:
“Então disse ao
remidor: Aquela parte da terra que foi de Elimeleque, nosso irmão, Noemi, que
tornou da terra dos moabitas, está vendendo.
E eu
resolvi informar-te disso e dizer-te: Compra-a diante dos habitantes, e diante
dos anciãos do meu povo; se a hás de redimir, redime-a, e se não a houveres de
redimir, declara-mo, para que o saiba, pois outro não há senão tu que a redima,
e eu depois de ti. Então disse ele: Eu a redimirei. Rute 4:3,4”
Considerações sobre Levirato e resgate
Considerando que este era o parente mais próximo, Boaz
deseja que ele declare seu desejo ou não de adquirir aquela terra.
A lei do parente resgatador visava preservar os nomes dos
familiares dos Judeus, visava também que a terra não fosse especulada, não
fosse vendida e tomada a preços absurdos, a ideia é de que cada habitante das
terras dos Israelitas teriam seu pedaço de terra e eles ficariam entre suas
famílias.
De certa forma, ao criar essa lei, Deus estava preservando
nomes, posses e tirando toda a avareza em torno de terras do seu povo, assim
nenhum clã iria sumir de Israel por infertilidade e nem por falta de terras.
Ao comprar aquela terra, a posse ficaria ainda entre a
família de Elimeleque.
No decorrer do tempo algumas vezes Israel deixou de seguir
essa lei e foi duramente repreendida pelos profetas do Senhor, pois, Deus
queria que até mesmo nessas transações o seu povo fosse diferenciado.
O homem considerando o bom negócio que iria fazer, de
adquirir a terra e cuidar da velinha, opta por redimir:
“Eu a redimirei”
Rute 4:4
É então que Boaz apresenta o seu plano com certa
sagacidade, ele fala apenas de uma primeira parte, mas não da segunda:
Disse porém Boaz: No dia em que comprares a terra da mão de
Noemi, também a comprarás da mão de Rute, a moabita, mulher do falecido, para
suscitar o nome do falecido sobre a sua herança. Rute 4:5
Aquele homem que aparentemente iria ir adiante com a
transação, não estava levando em conta que também haveria a necessidade de
adquirir junto da terra uma mulher do falecido. Isso envolveria várias
responsabilidades e considerações:
· Ele
deveria se casar com uma estrangeira e lidar com os preconceitos em torno
disso.
· Ele
deveria ter um filho com ela, esse filho seria do falecido, para manter seu
nome em Israel.
· Numa
posterior morte, a terra seria exclusivamente do filho de Rute, que usufruiria
também de parte do resto das posses de seu pai biológico.
· De
certa forma, isso comprometeria o nome e as heranças deste homem.
Quando Boaz apresenta esta parte do plano, no fundo ele
sabe que a resposta deste homem seria negativa. E ele não erra em sua previsão:
“Então disse o remidor: Para mim não a
poderei redimir, para que não prejudique a minha herança; toma para ti o meu
direito de remissão, porque eu não a poderei redimir.
Rute 4:6”
Consideremos a atitude deste homem e as de Boaz para a
reflexão do estudo de hoje:
1º - O egoísmo é o sentimento natural do homem,
mas o torna demasiadamente ordinário.
Samuel é quem escreve o livro de Rute, 120 anos após os
fatos terem ocorrido, tendo passado tanto tempo, a história chegou aos seus
dias e chegou também até nós.
Certamente a esta altura, Samuel sabia o nome de todos os
envolvidos na história, mesmo o nome deste homem. Mas é interessante o modo
como o escritor se refere a ele:
“Ó fulano, vem
cá, assenta-te aqui”
Rute 4:1
De propósito ele não é perpetuado. Com o desejo de suscitar
nome a sua família e manter um bom nome para eles, não comprometer sua
posteridade e resumidamente pensar apenas em seu quintal, ele não topa assumir
Rute, de certa forma ele tem razões para isso, mas esse modo demasiadamente
ordinário lhe deixa na história apenas como um fulano que pensou em si.
Sua intenção era de que o nome dele e dos seus fosse
lembrado, mas ele não tem a lembrança preservada nos anais da história.
A vida tem de certa forma ironias assim, aqueles que buscam
a todo custo serem lembrados, preservados, somem, e aqueles que mais renunciam
são os lembrados.
É nosso estado natural a autopreservação, o cuidar dos
nossos apenas, buscar apenas o que é nosso, mas a linha entre o cuidado pessoal
e a missão é muito tênue.
Existem contrastes entre missão e cuidado pessoal que são
difíceis de se discernir:
· A
palavra por exemplo exige que cuidemos dos nossos.
· Mas a
mesma palavra diz que se você os seus mais do que a Deus, você não é digno
dele.
· A
palavra diz que quem cuida dos outros e não cuida dos seus é pior que o ímpio e
nega a fé.
· Mas a
mesma palavra mostra que aqueles que pensando no cuidado procrastinam o chamado
não são levados às bodas.
Talvez o ponto fundante para discernir este
contraste seja de que devemos cuidar sim dos nossos, mas não olhando apenas para
o que é nosso, mas cuidar dos nossos levando em conta que somos mordomos dos
bens que Deus nos deu e ele é o maior interessado de que este bem atinja a
todos.
“Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada
qual também para o que é dos outros. Filipenses 2:4”
Constantemente ao vir para o evangelho, somos
tomados por perguntas do tipo, o que ganharemos ao caminhar no evangelho? Mas
essa pergunta é descabida, porque o evangelho muda conceitos.
· Nele
mais bem aventurado é dar do que receber.
A vida cristã muitas vezes se fundamenta em abrir mão de
seus direitos de cobrar, de requerer coisas, para ceder a outros.
O exemplo supremo disso é o de Jesus –
Filipenses 2.5-11
Nós somos programados para agir como o
“fulano”, pelo custo do bem deixamos de fazê-lo, mas deveríamos reconsiderar
isso, pois, ao proceder deste modo sacrificamos os poucos que desejam se
importar:
Ex. Epafrodito:
Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão
e cooperador, e companheiro nos combates, e vosso enviado para prover às minhas
necessidades.
Porquanto
tinha muitas saudades de vós todos, e estava muito angustiado de que tivésseis
ouvido que ele estivera doente.
E de fato
esteve doente, e quase à morte; mas Deus se apiedou dele, e não somente dele,
mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza.
Por isso
vo-lo enviei mais depressa, para que, vendo-o outra vez, vos regozijeis, e eu
tenha menos tristeza.
Recebei-o,
pois, no Senhor com todo o gozo, e tende-o em honra;
Porque pela
obra de Cristo chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso da vida para
suprir para comigo a falta do vosso serviço.
Filipenses 2:25-30
A falta de pensar no próximo está impedindo Rutes de
recomeçar.
2º Boaz se interpõe como um exemplo de amor
verdadeiro:
Gostaria de elencar aqui pelo menos quatro características
de um amor verdadeiro:
1. O
verdadeiro amor se concretiza com atitudes
2. O
verdadeiro amor paga qualquer preço
3. O
verdadeiro amor busca se legitimar
4. O
verdadeiro amor não tem razões para se esconder
O valor de uma causa não se dá por aquilo que adquirimos em
nome dela, mas pelo que deixamos em favor da causa.
Boaz é um exemplo deste amor sacrificial.
3º Aos solteiros, essa palavra se constitui
como um encorajamento a buscar alguém de seu nível.
Havia, pois, já de muito tempo este costume em Israel, quanto
a remissão e permuta, para confirmar todo o negócio; o homem descalçava o
sapato e o dava ao seu próximo; e isto era por testemunho em Israel.
Disse,
pois, o remidor a Boaz: Toma-a para ti. E descalçou o sapato.
Então Boaz
disse aos anciãos e a todo o povo: Sois hoje testemunhas de que tomei tudo
quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom, da mão de Noemi,
E de que
também tomo por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para
suscitar o nome do falecido sobre a sua herança, para que o nome do falecido
não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar; disto sois
hoje testemunhas.
Rute 4:7-10
Claro que devemos sim deixar de lado todos os preconceitos que temos, como dito
anteriormente, isso a respeito de passado, de idade, de estado atual, etc.
Mas penso que na história de Rute, ela encontra alguém com
um nível de amor sacrificial tal qual o dela é, neste sentido, deveríamos
refletir a respeito de como lidamos com nosso relacionamento pessoal, aos que
estão em relacionamentos, a bíblia dá inúmeras orientações de como proceder,
mas quanto aos que ainda o buscam, a história de Rute é um encorajamento para
que busquem alguém ao seu nível. Possibilidades diversas se interpuseram para
Rute, mas esta de certa forma queria alguém num nível de entrega como o dela e
este é Boaz, de certa forma, na vida haverá alguém com um mesmo nível de
devoção, entrega, caráter do que você, neste sentido não devemos nos elevar
demais em nosso nível de exigência e olhar pessoal, mas não devemos também nos
baratear ao ponto de ter um relacionamento depreciativo.
Rute se sacrificara por sua sogra, agora chegou a hora de
Boaz se sacrificar e assumir todos os compromissos por ela.
4º - A matemática do reino de Deus é diferente
(As bençãos declaradas sobre o casal:
“E todo o povo que estava na porta, e os anciãos,
disseram: Somos testemunhas; o Senhor faça a esta mulher, que entra na tua
casa, como a Raquel e como a Lia, que ambas edificaram a casa de Israel; e
porta-te valorosamente em Efrata, e faze-te nome afamado em Belém.
E seja a
tua casa como a casa de Perez (que Tamar deu à luz a Judá), pela descendência
que o Senhor te der desta moça. Rute 4:11,12”
Jacó teve seu nome mudado para Israel, as mulheres que
foram os instrumentos para isso foram duas de povos distantes, a saber
Padã-Harã;
Duas mulheres extremamente honradas por serem mães de seus
povos.
· O
primeiro desejo dos anciãos era que Rute fosse como as mães do seu povo, um
desejo de que ela seja honrada.
· Mas
não só isso, eles desejam que ela seja valorosa em “EFRATA”, este nome quer
dizer fértil. O segundo desejo deles é que ela seja frutífera.
· Desejavam
que eles fossem como a casa de Perez, o fruto de Judá e Tamar, a origem não foi
boa, mas o Deus suscitou a partir daquele ato foi. (Uma restauração do
passado).
De fato, a recompensa veio para Boaz, ele casou-se com a
mulher que amava, teve um filho com ela, e foi honrado na cidade por estar com
uma mulher admirada por todos, ao padrão de Provérbios 31.
Ele assumiu consideráveis custos, mas as recompensas que
adquiriu foram muito maiores. Aquele que preservou sua prole ficou esquecido,
mas o que comprometeu a sua é lembrado 3000 anos depois;
A vida cristã também deve ser uma vida
sacrificial.
“Nós muitas vezes pesamos nosso
envolvimento com a igreja em termos meramente humanos e perdemos de vista a
matemática avançada do reino. Vou gastar meu tempo envolvido em ensinar
crianças na Escola Dominical? Vou perder meu domingo de manhã para ir cantar e
ouvir um chato falar? Vou largar minha vida de deleite por Cristo? Vou passar o
acampamento de carnaval em um retiro espiritual ao invés de em um retiro
carnal? Mas isso é essencialmente perder de vista a verdade sobre a história do
mundo. O mundo não é dos espertos. O mundo não é dos ricos. O mundo não é dos
poderosos. O mundo não é dos que mais se divertem. O mundo é dos mansos em
Cristo – esses sim herdarão a terra (Mt 5.5). Jesus Cristo, o nosso goel,
redime toda a terra. Ela pertence a ele todinha, todinha. Boaz não tinha ideia
dos resultados de sua ação. Ele simplesmente fez por bondade e em consequência
de seu amor a Deus. Nosso rumo dever ser similar.” – Emílio Garófalo
Boaz de certa forma teve consideráveis gastos com a
transação, mas o que ganhou foi infinitamente maior.
“Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e
quem perder a vida por minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se
ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua
alma?” (Mt 16.24,25).
É muito melhor ter a alma salva do que qualquer
outra coisa neste mundo. E, mais que isso, como o próprio Jesus insiste: “E
todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou
mulher], ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes
mais e herdará a vida eterna ” (Mt 19.29)
5º - Boaz faz todos esses atos com uma
simplicidade que o torna grande.
As vezes me pego pensando que Boaz não fez nada daquilo
pensando em posteridade, em grandeza, em ser um homem notável e nisto consiste
seu brilho, o fazer o bem era sua natureza.
Imagino que se hoje chegasse ao céu, ele próprio se
impressionaria com o fato de passados tantos e tantos anos ainda ter seu ato de
assumir os riscos por Rute lembrado, mas essa é uma dimensão de entrega e
naturalidade que lhe confere um brilho diferenciado. O bem é ainda mais bonito
quando não é autocontemplado.
O “ter nome” consiste em estar unido a Cristo num auto
esquecimento.
Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim:
que, se um morreu por todos, logo todos morreram.
E ele
morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele
que por eles morreu e ressuscitou.
2 Coríntios 5:14,15
A naturalidade com a qual Boaz trata todas as questões é de
quem esqueceu de si para viver um amor sacrificial. É por isso que ele entra na
história:
“Há uma maneira, entretanto, de ter seu nome escrito
e lembrado para sempre: é abrir mão de si mesmo, reconhecer a própria pequenez
e estar unido a Cristo. Unir-se a Cristo como parte de sua noiva. Seu
resgatador é de quem você precisa. Como Rute que recebeu o nome de Boaz, nós
somos a noiva que recebe o nome de Cristo. Recebemos o nome de cristãos, e esse
nome permanecerá para sempre. Se você estiver unido a Jesus, a morte só vai
levá-lo emprestado. Mas ressuscitarás para novo céu e nova terra. Junto a todos
os filhos e filhas de Abraão que pela fé se agarraram a Jesus. Em eterna
alegria, nos campos do Senhor”
6º - Deus é poderoso pra nos fazer reconsiderar
os pontos finais da vida
Assim
tomou Boaz a Rute, e ela lhe foi por mulher; e ele a possuiu, e o Senhor lhe
fez conceber, e deu à luz um filho.
Então as
mulheres disseram a Noemi: Bendito seja o Senhor, que não deixou hoje de te dar
remidor, e seja o seu nome afamado em Israel.
Ele te será
por restaurador da alma, e nutrirá a tua velhice, pois tua nora, que te ama, o
deu à luz, e ela te é melhor do que sete filhos.
E Noemi
tomou o filho, e o pôs no seu colo, e foi sua ama.
E as
vizinhas lhe deram um nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho. E deram-lhe o
nome de Obede. Este é o pai de Jessé, pai de Davi.
Rute 4:13-17
As vezes pensamos que a vida não nos suscitará mais
surpresas, não concederá mais nada de bom, Noemi, já velha teve falas terríveis
até aqui, suas participações na história são negativas até aqui:
1º - Despedindo as moças após a morte
2º - Informando que a mão do Senhor se descarregou sobre
ela
3º - Não ligando para a declaração de amor de Rute
4º - Pedindo para ser chamada de Mara
5º - Na indiferença ao Rute sair para trabalhar
6º - No seu plano que ela seduzisse Boaz
Em meio a todas essas coisas, Noemi vai de certa forma
tendo pequenos “lapsos de alegria” um “Deus te abençoe aqui”, outra palavra
positiva dali, mas Noemi permanecia amortecida.
Já velha ela não tinha expectativa de que algo bom lhe
ocorresse em seus últimos dias, ela só queria descanso de tanto sofrimento, mas
as vezes Deus surpreende pessoas com a alegria.
A chegada de um neto em sua velhice foi um instrumento de
considerável restauração.
Ela lhe dá o nome de Obede – Adorador
· Não é
tarde para viver coisas boas
· Deus
tem um final abençoado para sua história
· Não
tome conclusões sobre a vida baseado em seu momento
· A
restauração atingiu Noemi
· Atingiu
Rute
· E
Atingiu Boaz
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