sexta-feira, 17 de março de 2017

O filho pródigo - Parte 1 - Sermão entregue a Ad Brás Jd. Guarujá 1

E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles.
Lucas 15:1,2

O público que Jesus atraiu após si não era de forma alguma o mais agradável, tratava-se da escória da sociedade de seus dias, aqueles que os religiosos tinham repulsa. O povo dos quais viravam os rostos, os últimos na escala de “bons moços e boas moças”.
Seus discípulos eram por certo, pessoas inadequadas em sua maioria, homens iletrados, pescadores, braçais e que até então viviam sem nenhuma relevância cultural e religiosa. Dentre os discípulos encontra-se um coletor de impostos, alguém que ninguém queria receber ou manter vínculo. Cristo opta por estar em casas onde as pessoas naturalmente não gostariam de estar, como a de Zaqueu, o publicano de baixa estatura, ao olhar para ele Cristo diz: “Desça porque me convém pousar em sua casa”.
Cristo opta por entrar em casas de publicanos, opta por absorver uma mulher apanhada em adultério, opta por comemorar na festa de conversão de Mateus, uma festa cercada de gente considerada pelos religiosos inadequada. Jesus permite que o leproso lhe dirija a palavra e ele lhe toca, Jesus come sem lavar as mãos, Jesus cura no sábado, cospe no chão, unta os olhos do cego e lhe ordena se lavar, manda um homem carregar sua cama.
Jesus nunca se recusou a estar com esses considerados rejeitados, e sua questão não era de evitar confrontação, mas o que ele buscava era uma honestidade ao ponto de admitir seu pecado e reconhecer a carência de misericórdia divina. Cristo não se agrada do pecado de forma alguma, porém o fato de ser um pecador arrependido é algo que lhe ativa uma misericórdia ativa que provê os meios para a restauração.
Era isso que Cristo buscava. Se os templos não forneciam espaço, com Cristo haveria, se os lugares considerados santos, se afogam em suas ordenanças que nem mesmo seus líderes seguem, há um Cristo com um convite aberto para as bodas.
 Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes.
E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados.
Mateus 22:9,10

Essas atitudes de Jesus causavam extrema repulsa nos Fariseus e escribas, pois, se o reino chegou vindo de um homem maltrapilho, de Nazaré, filho de carpinteiro, um homem que não lava as mãos, pois, informa que o que contamina vem de dentro. Um homem que fala com mulheres samaritanas sem se deixar corromper, um homem que entra em casas de publicanos e os faz restituir quatro vezes mais, era tudo o que eles não esperavam. Tenho pra mim, que os fariseus esperavam um Jesus mais rígido do que eles eram, um Jesus que de tão amargo seria mal como o Deus que projetaram em suas cabeças. Queriam um Messias rei, autoritário, alguém que a qualquer momento poderia exterminar os desobedientes, sob o pretexto de ter lhe desagradado, porém a face de Jesus era sorridente, humilde, simples e totalmente diferente de tudo quanto os fariseus e escribas pensavam.

A postura de Jesus foi duramente criticada, pensando nisso Cristo propõe três parábolas de resgate.
Essas três parábolas receberam nomes usados até hoje, a saber: Ovelha perdida, dracma perdida e filho pródigo.
A ideia desses três prefácios é: Coisas que se perderam. Se olharmos exclusivamente para elas, veremos que o foco estará sobre o que se perde e não de quem busca o que se perdeu.
Em resumo, é como focar o pecador, mas não o Deus perdoador que está disposto a lhe procurar.
Portanto proponho novos nomes a essas parábolas, aliás, nomes que já são usados por aqueles que estudaram mais a fundo o contexto dessa passagem.
O correto seria:

1° Um homem que tinha cem ovelhas e perdeu uma.
O homem (Pastor), é o próprio Deus.
As noventa e nove ovelhas, São os fariseus e escribas.
A ovelha que escapa é o pecador, o publicano, o pagão.

2° Uma mulher que tinha uma dracma.
A mulher representa Deus.
A dracma somos nós.

3° Por último um pai que tinha dois filhos, um mais novo e um mais velho.
O pai representa Deus e seu caráter e postura, o filho mais velho são os judeus com seus preconceitos, o filho mais é o tipo dos pecadores arrependidos.

Warren Wiersbie diz que esse capítulo 15 pode se resumir em três palavras:
Perdido, encontrado e alegria.

O mal dos fariseus foi não enxergar que eles também se perderam, mas não tinham a capacidade de discernir isso e o pior cego é o que se recusa a ver, as evidências estão diante de si, não há o que contestar, porém numa esquizofrenia eles estão se isolando em seu mundo, projetando para si belas imagens sem de fato vive-las.
Jesus queria explicar de vez sua missão, mostrar para todos como podemos nos comportar e essas parábolas são sensacionais pois, de modo claro podemos nos assemelhar na ovelha que se perde, na dracma perdida em casa e principalmente em filhos rebeldes ou ingratos.

                                          E disse: Um certo homem tinha dois filhos;
Lucas 15:11

A parábola é sobre um homem com dois filhos. É o pai, não seus filhos que são o foco.
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
Lucas 15:12,13

Não era um fato totalmente incomum um filho receber sua herança em vida, porém quando isso acontecia era por iniciativa do pai, não do filho:
Porém Abraão deu tudo o que tinha a Isaque;
Mas aos filhos das concubinas que Abraão tinha, deu Abraão presentes e, vivendo ele ainda, despediu-os do seu filho Isaque, enviando-os ao oriente, para a terra oriental.
Gênesis 25:5,6

Não foi um ato nada amoroso esse do filho, pois, se não tratava de uma iniciativa do pai, ele deveria se manter junto ao pai até a morte, porém ele antecipa atitudes que deveriam ser póstumas. O pai de modo totalmente gracioso lhe permite ir, sem dizer palavras negativas, sem retrucar, mas num respeito fora do comum lhe permite sair.
Outro fato interessante para se notar é de que o filho opta por sair e o texto dá a entender que essa decisão fora premeditada por alguns anos ou meses. AO receber o que lhe interessava, o filho sai poucos dias depois. Para longe! 

Esse moço mais novo, que representa a primeira parte da parábola trata-se da representação prática dos publicanos e pecadores que comiam com Jesus, ele representa todos os maltrapilhos de ontem e hoje.
Representa a humanidade como um todo, representa o estado deplorável a qual nós chegamos.
Pensemos nas catástrofes atuais, tínhamos tudo, poderíamos viver em paz, porém o homem vive de modo dissoluto, vive de modo totalmente inconsequente.
Hoje há infelizmente abortos acontecendo de modo totalmente irresponsável, pelo simples desejo de não danificar o corpo, homens cometem estupros, mortes violentas, milhares passam fome e inúmeros outros problemas advém de más decisões dos homens.


Pensemos no que nos levou a esse estado atual, olhando para o filho pródigo:

1° Substituição de afetos contínuos por uma pluralidade de afetos momentâneos.
Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence.
Lucas 15:12
O filho tinha o pai de contínuo demonstrando amor por atitudes, cuidado, respeito e segurança, porém numa decisão precipitada ele opta por viver novas sensações, opta por algo que ele ainda não possui, é uma busca contínua, um interesse insaciável. Não bastava ter um pai de amor, era necessário ter mais pessoas, não bastava ter a profundidade de um amor enorme, era necessário ter várias fontes rasas.
"O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água.
Jeremias 2:13
O filho fez o que Israel fizera no antigo testamento, optou pelas suas cisternas, tendo uma fonte contínua de águas que não se encontrariam em outro lugar.
Ainda hoje os homens fazem o mesmo com suas famílias, trocam histórias por lances, trocam relacionamentos contínuos por aventuras e a busca do novo gera uma satisfação que desacredita num “felizes para sempre”, que desconsidera a família como algo plenamente feliz com base em exceções.
As relações são mutáveis, uma hora se ama, pouco tempo depois já não há mais sentimento.
As paixões são confundidas com afetos e num hedonismo terrível o povo troca a segurança pelo risco.

2° A supervalorização de coisas em detrimento de pessoas
Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence.
Lucas 15:12

Imagine a cena: Um filho, olha para o pai e antecipa o desejo de receber a herança, sob a cultura antiga isso era declarar que o desejo era de que o pai sequer deveria existir.
Uma ingratidão profunda, pois, se havia herança, se havia vida, se o rapaz chegara ao ponto de ter idade e intelecto para tomar suas decisões, tudo isso era devido ao pai.
Porém ao filho pouco importa o que o pai pensa, pouco importa a vergonha posterior de ter um filho ainda vem vida levando suas partes nas heranças, pouco importa a pergunta dos criados e amigos: “Onde está seu filho?” “Por que ele saiu?” Não levou em conta o fato de que os outros também tem sentimentos, mas num egoísmo frenético ele opta por seguir seu caminho com o que de fato lhe importava.
Ele trocou o que tem valor, por aqui que tem preço.
Optou por trocar o eterno pelo temporal.
Amou mais coisas do que pessoas e quando o que se está amando não tem coração, a recompensa do amor doado será a indiferença de algo que nada pode fazer.
É o exemplo de Jonas que amou mais a aboboreira do que as pessoas. Jonas 4.
O exemplo do Jovem Rico Mateus 19.19-22


3° O anseio de viver sem limites: Fuga da culpa

Partiu para uma terra longínqua
Lucas 15:13
O rapaz poderia ter optado por permanecer próximo, mas os choros do pai, as saudades dele, os limites impostos até então, tudo isso ele queria esquecer e viver sem restrições, se permitindo, sem senso de culpa, sem medos, sem nenhum tipo de repulsa.
É típico de quem se afasta da comunhão criar algum tipo de aversão por tudo o que se refere a igreja, dessa forma vemos pessoas que um dia temeram a Deus ficar dez anos sem pisar numa igreja, querem sair e errar à vontade, usam o “não julgueis” como uma permissão para pecar em paz. O rapaz vai para longe com a intenção de não ter com o que se preocupar, queria viver sua liberdade sem limites, sem proibições.
A pior coisa que podemos almejar é uma autonomia. É um viver sem responsabilidades.
Thomas Huxley disse: "As piores dificuldades de um indivíduo começam quando ele tem a possibilidade de fazer o que bem entende".
Após muito tempo sob vigilância do pai, o filho quer reverter os tempos “perdidos”, longe de tudo e de todos e a culpa tem esse efeito. Essa busca por liberdade é um salto para fora da existência, Deus é o todo, viver longe do que Deus quer é não viver.
Para não permitir tal coisa Deus dá passos para trás, mas nós queremos tudo, menos ele, evitamos o diálogo, evitamos vê-lo nas pregações, nos louvores, pegamos até uma certa raiva e o desejo é de viver em paz, a falsa paz que o mundo promete.
O que o rapaz deseja de fato é fugir da culpa, quanto mais longe melhor.
4° Felicidade individualista: Egoísmo
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu
Lucas 15:13
O filho acreditou de modo espantoso que é possível ser feliz sozinho, que não precisava do pai, de irmãos, de ninguém!
Que poderia se virar só, que poderia conquistar novas amizades, que mesmo em sua pouca idade poderia viver sem os afetos do passado e iniciar uma vida só. Porém a solidão é um verdadeiro demônio, é impossível ser feliz sem ter com quem compartilhar a alegria, é impossível viver em total isolamento, quando se trata de um isolamento por horas, podemos dizer que é agradável, mas tratando-se de uma vida sem ninguém, uma vida sem família, sem amigos, sem pessoas que se preocupam de verdade.
Com quem ele se alegrará nas alegrias? Com quem ele chorará nas tristezas? Rm 12.15
Essa autossuficiência leva muitos ao topo, mas construindo uma vida em forma de pirâmide o espaço para que pessoas compartilhem do topo com você é pequeno, cheio de dinheiro como esse rapaz estava, as relações se tornariam mero interesse, sem afeto, e quando se trata de uma relação movida por interesses, é melhor estar só.
Ele queria crescer, mas crescer só. E isso não é vida, é disputa, é ser campeão olhando para trás e vendo os ex-amigos distantes em nome de um darwinismo emocional, cultural, profissional.
                                 
5° Desconsiderou o futuro para viver de modo hedonista no presente

E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
Lucas 15:13,14
Ele não levou em conta que o amanhã chegaria e com ele inúmeras dificuldades, não importava o que estava por vir, até porque viver o momento era tudo o que ele queria.
Eles não entenderam que a “vida cobra”. Que cedo ou tarde iria colher a dissolução do presente.
Um sentimento gnosticista que diz que quanto mais se curte, mais se valoriza a carne santifica a alma.  Esse jovem é movido por seus instintos, por certo pagou bebidas, viajou muito, fechou bordeis, fez tudo o que pode.
A busca do prazer era incessante, ele queria atender todos os seus desejos sem restrições e seu destino era a ruína.

6° Buscou solidariedade num mundo que jaz no maligno
E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
Lucas 15:15
Ele imaginava que todos seriam bons como o pai era, desconsiderou que esse mundo é um lugar com gente má, gente que se aproveita, gente que se possível envia moças para prostíbulos fora do país, um mundo onde brincam com sonhos de jovens e de velhos.
Um mundo onde cada um atenta somente ao que é seu.
Sobre o materialismo e pessimismo pós-moderno Lillian Hellman diz:

"A única maneira de sobreviver neste ninho de cobras é agarrando-se a um princípio. Um princípio nobre. O mais nobre que você puder. E, enquanto eles estiverem olhando para este princípio, você escapa com o dinheiro"

Trecho do livro: Fim do milênio, os perigos e desafios da pós-modernidade na igreja. Pr Ricardo Gondim;

Cada um por si, Deus por todos. Diriam no senso comum, infelizmente esse é a realidade. O amigo mais solidário forneceu um emprego de apascentador de porcos.
Comer carne de porcos era proibido, o emprego de apascentador era sem dúvidas um dos menos nobres de todos.
E o que restou ao rapaz não foram as noitadas, as festas, os amigos de bar se vão, o que fica é o amor de quem de fato nos ama antes do sucesso, de quem dividiu conosco os pães duros da pobreza, de quem não se importou das roupas que tínhamos ou de não ter dinheiro, de quem valorizou a presença e não os presentes. O mundo é mal, não devemos trocar o amor do pai por tais amizades pois todas são traiçoeiras e interessadas.

7° Ele vivia sob a constante certeza de que iria se superar
E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
Lucas 15:16
Infelizmente as qualidades que temos, podem nos cegar para viver de modo medíocre acreditando que vamos sempre nos superar.
Procrastinamos mudanças, com aquela sensação contínua e de auto engano de que “estamos no controle”.
Sensação que toma os viciados que nunca admitem seu real estado, que toma os que praticam iniquidades as escondidas e dizem: “eu tenho total controle sobre isso”.
Dos adúlteros que entendem que tudo não passa de um lance, mas não consegue sair.
Ricardo Gondim cita o exemplo de quando era jovem e ia estudar, sempre nas últimas semanas varava noites em claro e se superava em seus limites, e temos sempre a sensação de que vamos conseguir, de que vamos sair, de que é só mais uma situação, eu vou conseguir voltar para casa, ou melhor no caso dele, ele chega ao ponto de pensar que conseguiria sair da situação de apascentador de porcos, para ser um homem honrado como fora na casa de seu pai, porém não.
A única alternativa era o arrependimento, ele já estava num submundo onde desejava comer a mesma comida dos porcos.

É como Sansão em Juízes 16.20

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