sexta-feira, 17 de março de 2017

"Deixastes teu primeiro amor" - Uma palavra sobre o amor a Deus

“ Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas , que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência,e que não podes sofrer os maus; e os que se dizem ser judeus e o não são e tu os achastes mentirosos; e sofrestes e tens paciência; e trabalhaste e não cansaste pelo nome meu nome e não te cansaste. Tenho porém contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o seu castiçal, se não te arrependeres. Tens, porém, isto: que aborreces as obras dos nicolaítas, quais eu também aborreço. Quem tem ouvidos ouça o que o espírito diz às igrejas: Ao que vencer, Dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus.”   
Apocalipse 2.1-7 (Carta a igreja de Éfeso)

As sete cartas tem um padrão de escrita, em todas elas Cristo Jesus se apresenta de uma maneira diferente, demonstra seu conhecimento em relação a igreja, faz promessas aos vencedores.
Em Duas dessas cartas há apenas elogios: Esmirna (AP. 2.8-11) e Filadélfia (Ap. 3. 7-13) e em Laodicéia ( AP 3.14-22) há apenas repreensões.
A conclusão das cartas tem o seguinte trecho: “Quem tem ouvidos ouça o que o espírito diz as igrejas...”
A cidade de Éfeso era a maior da Ásia, a igreja dessa cidade sofreu diversas perseguições, pois, a idolatria era generalizada. O apóstolo Paulo dedicou boa parte de seu ministério a essa igreja, em Atos ele pregou um de seus sermões mais marcantes e emocionados, quando disse: “ E, agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto” (AT. 20.25)
Após essa declaração de Paulo e mais algumas exortações, ele orou com a igreja: “ E, havendo dito isto, pôs-se de joelhos e orou com todos eles, E levantou-se um grande pranto entre todos e lançando-se ao pescoço de Paulo o beijavam.” (AT 20.36-37)
Assim como predito por Paulo eles sofreram muito, na época em que o livro do Apocalipse foi escrito os cristãos estavam sofrendo sobre o império de Domiciano, imperador romano (81-96 d.C.).
O autor do livro estava exilado na ilha de patmos, tudo parecia estar perdido pra João, mas no momento de tristeza Jesus apareceu a João mostrando-se ressurreto, mostrando ao seu servo as coisas que foram, são e estão pra acontecer.
Antes de iniciar a análise das cartas, é importante ressaltar que o livro do Apocalipse utiliza linguagem simbólica, os sete candeeiros (castiçais), representam as sete igrejas.

Jesus apresenta-se a Éfeso como aquele que tem em suas mãos as sete estrelas, que representam Os sete anjos.
Ou seja, ele tem o controle sobre a igreja, Éfeso estava nas mãos de Jesus Cristo.
Após isso a carta diz “Aquele que anda no meio dos sete castiçais”, Jesus não só conhece e tem controle sobre a igreja, como também anda entre ela. Seguindo esse pensamento é possível chegar à conclusão que quem olha pra igreja vê a semelhança de Cristo, tanto que João antes de ver Jesus, viu a igreja.  Somos a imagem e semelhança de Deus, não há como ver Jesus Cristo nos nossos dias sem olhar para a igreja.
Nos versículos 2 e 3, Jesus demonstra conhecer a igreja intimamente, como o esposo conhece sua esposa, ele diz: “Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência,e que não podes sofrer os maus; e os que se dizem ser judeus e o não são e tu os achastes mentirosos; e sofrestes e tens paciência; e trabalhaste e não cansaste pelo nome meu nome e não te cansaste.”
A igreja de Éfeso pode ser um ótimo exemplo para as igrejas dos nossos dias, eles tinham compromisso a ponto de rejeitar falsas doutrinas, sofrer pelo evangelho de Cristo, a filosofia de vida desses cristãos era semelhante à de Paulo: “Pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho”. (FP 1.21)
Infelizmente as igrejas dos nossos dias, estão seguindo o evangelho dos sinais, estão sendo levados por qualquer vento de doutrina. São poucos que realmente estão dispostos e sofrer e até mesmo a morrer pelo evangelho verdadeiro.
Mas após essa série de elogios, Jesus traz uma dura repreensão: “Tenho, porém contra ti que abandonaste a tua primeira caridade”. ( AP. 2.4)

A igreja de Éfeso demonstra ser possível que haja um compromisso sem amor, eles eram perfeitos em sua conduta, trabalho, paciência ETC. Mas falharam em um ponto crucial: Passaram a agir de maneira “mecânica”, como um simples costume. Suas motivações já não eram as mesmas, tinham muito zelo no serviço ao Senhor, mas só as obras não garantem a aprovação divina, até então estavam agindo corretamente, não haviam se conformado com o mundo, não mancharam suas vestes como parte da igreja de Sardes, não se deixaram levar por heresias como Pérgamo, mas deixaram de servir a Deus com amor.
Era como se Jesus estivesse dizendo: “Vocês fizeram tudo certo, mas falharam apenas em um ponto, esqueceram que o amor é maior do que os dons, maior que todos os sentimentos, maior do que todas as suas boas obras.”
Paulo escrevendo aos Coríntios diz: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. (1 Cor. 13.1)
A igreja de Éfeso havia se afogado no mar do ativismo religioso, o famoso: “Fazer por costume”;” cumprimento de rotina”.
O amor, para Deus excede as obras, as motivações pesam mais que os sacrifícios, Míquéias demonstra isso em seu ministério ao questionar-se: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus Altíssimo”?
Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? O fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou ó homem o que é bom; e o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e Andes humildemente com teu Deus?” ( MQ. 6.6-8)
O que Deus espera de nós não é apenas o sacrifício externo e visível, ele espera algo que venha de nosso coração!  Os nossos lábios podem muito bem expressar belas palavras, mas Cristo vê além do exterior.
A igreja de Éfeso estava comprometida, mas sem o amor. Quando falo em primeiro amor, imagino algo puro, um sentimento completamente voluntário, isento de interesses, pretensões, ETC.
O verdadeiro amor foi expresso por Deus através de Cristo : “ Mas Deus prova seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” ( RM 5.8)
“ Porque Deus, amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” ( JO 3.16)
Deus não espera de nós apenas o zelo no serviço, mais do que a nossa dedicação ele espera nosso amor.  Os Fariseus eram zelosos em relação à lei, porém pouco sabia sobre o amor, jamais compreenderam que a grandeza do evangelho é a Graça de Deus, manifesta em Jesus Cristo. Eles tinham uma boa aparência, mas o importante em nosso relacionamento com Deus é o nosso sentimento e desejo de expressar uma verdadeira adoração, há uma grande distância entre a aparência e essência.
Quando penso em desvio das primeiras obras, lembro-me de dois exemplos bíblicos: Sansão e o filho-pródigo.
Sansão tinha tudo pra ser o maior herói do antigo testamento, seu nascimento foi completamente diferente dos demais juízes, patriarcas e ícones da fé cristã. Sua mãe recebeu a visita de um anjo anunciando seu nascimento, antes de nascer Sansão já recebeu uma ordem, seria nazireu de Deus, ou seja, não teria contato com mortos, não iria ingerir bebida forte, não passaria navalha em sua cabeça, ETC.
Com o passar do tempo ele deveria ter uma vida completamente regrada, correta, sendo assim um exemplo para o povo. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário, ele a cada dia foi se afastando de Deus, por diversas vezes o espírito se apoderava de Sansão, ele passou a se conformar com momentos ao lado de Deus e desprezou a comunhão.
Chegou ao ponto de tocar em animais mortos, (JZ 14.6,9) contar seu segredo a uma mulher que tinha a intenção de afligi-lo (JZ 16.6,18)

O Filho pródigo assemelha-se a Sansão pelo fato de sair de sua casa, onde tinha estabilidade, boa comida, servos à sua disposição, boas vestimentas e principalmente um pai exemplar.
Mas ele preferiu arriscar-se saindo de casa e deixar amor de seu pai, mergulhou em uma crise tão grande a ponto de desejar a comida que os porcos comiam.
O versículo seguinte é uma das partes mais importantes da carta a igreja de Éfeso:
“Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o seu castiçal, se não te arrependeres.”
O filho pródigo lembrou-se da casa de seu pai, mas não só lembrou, pois, a simples lembrança do bom estado gera um sentimento chamado remorso.
Cristo não só espera de sua igreja o remorso, mas uma atitude em direção a mudança, a simples lembrança não muda a vida do cristão.
Arrependimento exige atitudes, o filho pródigo diz: “ Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai pequei contra o céu e perante ti...” (LC 15.18)
O filho volta pra casa e é recebido por seu pai, torna a praticar as primeiras obras.
Sansão da mesma maneira, antes de morrer fez uma oração ao Senhor dizendo: “ Deus, peço-te que lembres de mim, e fortalece-me agora só esta vez ó Deus para que de uma só vez me vingue dos filisteus pelos meus dois olhos” (JZ 16.28)
Houve arrependimento por parte de Sansão e do filho pródigo, Deus sempre está disposto a nos perdoar, e receber-nos de braços abertos, podemos estar como o filho pródigo fedendo a porcos, mas Cristo está disposto a saltar em nosso pescoço e beijar-nos, se movendo de íntima compaixão.
O arrependimento deve fazer parte da conduta Cristã, a igreja de Éfeso se acostumou a olhar para os outros, esquecendo-se que o importante é antes de notar o cisco no olho de nosso irmão, remover a imensa trave que está diante de nossos olhos.
A auto-avaliação é importantíssima na vida de qualquer pessoa, sem a qual ninguém poderá notas as próprias limitações e arrepender-se dos seus erros.
Caso a igreja de Éfeso não se arrependesse eles teriam seu castiçal removido. O castiçal no tabernáculo tinha a função de iluminar o interior.
Paulo nos compara a um tabernáculo quando diz: “ Sabemos que se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício...” ( 2 Cor 5.1a)
Somos habitação de Deus, morada do espírito santo, a diferença entre tabernáculo e templo é na mobilidade.
O tabernáculo sem castiçal perde a luz.  Assim é todo cristão que abandona o seu primeiro amor, Uzias é um exemplo de orgulho e falta de arrependimento. Devido a esses erros ele acabou leproso, longe do templo, da família, do reino. ( 2 Cr. 26)
Cristo nos compara à Luz do mundo (MT 5.14).
O grande problema da falta do castiçal é a ausência do brilho, luz, capacidade de influência da igreja.
Muitas igrejas estão sem o castiçal, ao invés de serem luz e exemplos para o mundo, tem sido motivo de desonra ao evangelho, muitas tem se tornado apenas um museu, cristãos estão vivendo do passado da igreja e não terá no futuro algo a apresentar a seus filhos e sucessores. E quando me refiro ao castiçal no interior do tabernáculo, chego a conclusão que o brilho começa no nosso caráter, a grandeza dos valores cristãos não está baseada em palavras, mas sim em atitudes, o que sai da nossa boca não é maior que nosso caráter, nossa conduta fala mais que as palavras...


  

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