segunda-feira, 6 de março de 2017

Aprendendo a lidar com o passado - Eclesiastes 7.10

“Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.”
Eclesiastes 7.10

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
Mateus 11:28-30
"O hábito de culpar o presente e admirar o passado está profundamente arraigado na natureza humana." (David Hume)
Recentemente alguns programas de TV tem se dedicado a resgatar alguns nomes antigos da televisão Brasileira, músicos e artistas que fizeram sucesso em outras épocas. Geraldo Luís da TV record tem feito um verdadeiro “movimento” em torno desses artistas. Há alguns dias ele mostrou uma cantora chamada  “sol”. Por conta de inúmeros golpes sofridos por empresários, constantes imprevistos ela se viu no anonimato e financeiramente sua situação não permitir manter os luxos de até então. Ao falar de seu passado, do luxo que possuía, dos grandes palcos a cantora se entristeceu e afirmou estar em depressão. No mesmo programa Geraldo também entrevistou o casal que fez sucesso no início dos anos 2000 com a chamada “dança da motinha”, da mesma maneira ao falar do passado o semblante caia. Rafael Ilha constantemente é mostrado em tentativas de suicídio, engoliu uma pilha, tentou se cortar, ameaçou se matar com uma lâmpada, etc. Uma das principais motivações é o grupo “polegar”, do qual ele fez parte e protagonizou momentos de muita fama. Hoje cada um segue seguiu seu destino, todos anônimos. Simony, até hoje é convidada a falar do passado, dos bons tempos do Balão Mágico, quase todas as vezes as entrevistas rendem audiência considerável, pois o público da mesma maneira é saudosista. Todos involuntariamente se prendem ao seu passado, o saudosismo é como um elástico, que permite se esticar brevemente, mas vez por outra puxa o indivíduo para trás. O que dizer dos traumas? Quantas pessoas têm problemas em casamentos por conta de abusos em sua infância, adolescência, etc. Meninos se tornam homossexuais pela ausência da figura paterna, meninas negam se a ter relações sexuais mesmo que lícitas com seus maridos por conta de más lembranças, alguns devido a acidentes nunca conseguiram começar a dirigir, outros tem bloqueios gerados pelos pais que exercem uma proteção exagerada aos filhos gerando jovens inertes que não conseguem correr atrás de  um emprego, por ter insegurança em tomar uma condução. Alguns têm complexos com o próprio corpo porque no passado alguém lhe disse algo que ofendeu, pessoas vivem os mais diversos traumas, por conta de coisas antigas. Os bloqueios emocionais lhes privam de viver. Há quem diga o que o passado não se modifica e em parte é verdade. O que passou já está feito, não se muda as atitudes passadas. Mas como agir em relação a isso é o que pode mudar, podemos olhar para antigos erros, aprender, evoluir e dar risada disso tudo, ou fazer justamente o contrário, se lamentar, chorar e entrar em um profundo remorso. Na igreja, o saudosismo e ao apego ao passado são ainda mais visíveis, quantos irmãos que sequer viveram em algumas épocas enaltecem o passado. Frases como “antigamente não era assim”, “a igreja precisa voltar aos bons costumes”, “hoje tudo pode”, “as coisas mudaram, mas Deus não mudou”. Se o saudosismo da atualidade nos levasse ao caráter dos pais da igreja eu seria o primeiro a me declarar favorável, pois, o caráter dos grandes homens da bíblia, dos heróis da fé famosos e anônimos, são dignos de cópia. Porém o que se enaltece são costumes e não atitudes, usos e não valores, regras e não caráter. A igreja precisa urgentemente quebrar esse retrovisor, ou melhor, deixar o questionamento tratado por Salomão: Porque os dias passados são melhores do que esses? Do contrário estaremos nos privando de viver, avançar e ser uma igreja que Deus se agrada, que seja presente que serve a humanidade.
Os problemas com relação ao passado não são novidade, na bíblia há alguns exemplos e trataremos de alguns deles.

1° - O saudosismo triste: Porém muitos dos sacerdotes, e levitas e chefes dos pais, já idosos, que viram a primeira casa, choraram em altas vozes quando à sua vista foram lançados os fundamentos desta casa; mas muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria.
De maneira que não discernia o povo as vozes do júbilo de alegria das vozes do choro do povo; porque o povo jubilava com tão altas vozes, que o som se ouvia de muito longe.
Esdras 3:12,13

Ao ver a obra do segundo templo, sem luxo, sem materiais refinados, os anciãos são tomados por um profundo pesar. Lamentam-se pelo fato de compararem o tempo passado com o atual e percebem que a diferença era imensa. No primeiro templo a inauguração se dá mediante a uma grande festa, com levitas tocando e cantando e a glória de Deus invadindo a casa de forma que os sacerdotes não conseguiam ficar em pé. O segundo templo não contava com o revestimento de ouro, não contava com os instrumentos em madeiras nobres ou algo assim, pelo contrário, a obra era simples, discreta e tudo isso fez os anciãos compararem o momento atual com o passado e movidos por um grande saudosismo choram, ao ponto de que seu lamento se equiparou ao júbilo dos que estavam comemorando. Ao ponto de que a bíblia diz que não se distinguia se choravam de alegria ou tristeza.
As bagagens do passado além de nos privarem de ser feliz, podem desmotivar outros que tem essa intenção. Saudosistas não se alegram e ainda ao trazer lembranças do passado a tona, fazem os que batalham por um momento atual melhor irem aos poucos desistindo, com isso o povo torna-se eternamente amarrado ao passado.
A solução nesse caso foi dada por Ageu ao profetizar: “ A glória dessa última casa será maior que a da primeira”. Essa promessa diz respeito ao temor que tomaria conta do povo, a submissão a palavra, um verdadeiro avivamento ocorreu. Um grande clamor se levantou para se lamentar a cerca dos pecados.  A glória estava nas atitudes, na devoção e não nos utensílios, os saudosistas não conseguem entender o fato de que nos dias atuais Deus ainda opera, de formas diferentes as do passado, mas o poder é o mesmo, ele não agirá de acordo com necessidades alheias ao momento atual, Deus não dá só palavras a quem tem fome, Deus não manda um cego levantar quando ele simplesmente precisa ver. Deus é correto ao atender os anseios do povo, o grande erro de tornar o passado melhor do que hoje é que se estagna,  é impossível avançar se os olhos estão o tempo inteiro no caminho percorrido. Afirmações do tipo: “Eu era feliz e não sabia” desvalorizam o tempo atual, muitos irmãos dizem: “Lembra quando o pastor X estava aqui?!” Antigamente não era assim. No meu tempo isso não acontecia. Tais palavras podem desmotivar novos convertidos, ofuscar o brilho nos olhos dos que querem trabalhar.  Devemos ter muito cuidado com isso, principalmente em uma igreja tão mesclada com a Assembleia de Deus.

2° Remorso- Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer.
1° Samuel 28.15

A situação era terrível, os filisteus se reuniram para guerrear contra Israel, Saul temeu sobremaneira. Orou, pediu respostas a Deus e Samuel nesse tempo já havia morrido. Não houve respostas por sonhos, Urim ou profetas. Samuel estando morto reduziu as alternativas de aconselhamento de Saul. Não havia palavra de Deus, ninguém poderia direcioná-lo sobre tudo porque Deus cessou sua misericórdia para com Saul. Ao ponto de que Samuel intercedeu por ele Deus lhe questionou até quando agiria com dó. A misericórdia havia cessado principalmente pelo fato de Saul rejeitar os conselhos divinos. O próprio fato de ter um rei já não agradava a Deus, que dirá um homem nessa condição? Com Samuel ainda em vida, Saul não lhe deu valor. Profetizou uma única vez, para nunca mais, faltava compreender a grandeza de ser tomado pelo Espírito de Deus no antigo testamento.
Quando a morte de Samuel ocorre, toda a nação se comove e durante esse tempo os filisteus se levantam. Saul que até então não valorizara o profeta, se vê sem saída. Com a rejeição divina, ausência daquele que sempre lhe ajudou ele se vê num bêco sem saída, ao ponto de em uma atitude desesperada recorrer a uma vidente. Ao ser questionado sobre quem deveria invocar, Saul responde sem exitar: Traga-me Samuel.
Amor póstumo, ainda em vida não se deu valor, mas após a morte um espírito enganador é visto por Saul, ele entende que é Samuel e se prostra. Saul sabia que recorrer a uma feiticeira era erradíssimo, que Deus não lhe dava respostas até então por conta da sua rebeldia. Mas por não acreditar no seu potencial, não acreditar que Deus pudesse ter misericórdia mediante um arrependimento verdadeiro, ele se apega ao seu passado, toma a atitude errada e desce ainda mais. Hoje em dias o amor póstumo toma conta da sociedade, pessoas ainda em vida não são valorizadas, mas após a morte cantores anônimos se tornam estrelas, atores viram príncipes, até políticos, recebem mais declarações após a morte do que em vida. O grande exemplo da sociedade atual se deu após a morte de Michael Jackson, ainda em vida inúmeras vezes foi acusado de abuso sexual de crianças, criticado pelo número exagerado de cirurgias plásticas e seu rosto figurava nas revistas apenas para críticas, não se falava da pessoal do Michal Jackson, ou de seu talento, apenas polêmicas e a imprensa conseguiu fazer uma péssima imagem do “rei do pop”.
Já diria o rapper pregador Luo: “Dêem flores enquanto possam apreciá-las porque depois elas só servirão para cobrir sepulturas”.
Os filhos só valorizam os pais após a morte, quando o tempo passa e os dias perdidos são notados, infelizmente tarde demais, o caixão já desceu a cova e após a morte não se acessa rede social, não vale criar depoimentos enormes para reverter o tempo perdido. Amor não é falácia, mas sim demonstração de atitudes e sentimentos. Não se dá só na ausência e na saudade, mas na presença.
Saul cometeu esse erro, só notou o valor de Samuel após a morte dele. Quantas amizades perdemos por não dar valor? O Quanto já poderíamos ter sido abençoado e não fomos por cultivar boas amizades? Quantos filhos choram amores póstumos de pais mortos?
O passado mal resolvido corrói, faz com que uma sequência imensurável de atitudes errôneas sejam tomadas.
Façamos o nosso melhor hoje. “A noite vem, quando ninguém pode trabalhar”.
3° - Traumas - Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade de Sião.
Ali, nos salgueiros penduramos as nossas harpas;
ali os nossos captores pediam-nos canções, os nossos opressores exigiam canções alegres, dizendo: "Cantem para nós uma das canções de Sião! "
Como poderíamos cantar as canções do Senhor numa terra estrangeira?
Salmos 137:1-4


O texto acima fala do momento em que o povo de Judá estava na Babilônia, exilado.  Privado de sua terra natal. A invasão Babilôna se deu em três fases, todas foram muito doloridas, em especial a primeira. O povo viu seus sábios e intelectuais sendo levados, homens, mulheres crianças, etc. Viu o seu tempo sendo destruído, suas casas arruinadas, os muros da cidade com brechas, portas queimadas a fogo. Agora teriam de viver em uma nova cultura, novos costumes, comer alimentos sacrificados a ídolos, se submeter as mais diversas humilhações.
Tudo isso fez com que o povo ficasse traumatizado, as lembranças da terra natal, da liberdade, do direito de ir e vir ainda estavam frescas na mente do povo. O choro era inevitável, quando a ficha caiu, estavam junto ao rio Quebar aos prantos.
Penduram-se as harpas, em sinal de que o louvor não seria mais entoado, de que o trauma foi tão forte que não seria mais possível louvar, exercer qualquer atividade sacerdotal e nas entrelinhas é dito que o ministério se encerrou, que a dor é insuperável. Ainda que hajam pedidos por parte dos opressores pra que eles cantem, a resposta seria “como cantar em terra estranha?” O segredo fundamental dessa passagem está no fato de que não conseguiram superar o trauma, a dor do exílio que deveria estar no passado e ser encarada como algo anterior, estava presente o tempo inteiro diante dos olhos do povo, de sorte que era impossível que alguém cantasse, tocasse, etc. Consideravam a sua dor paralisante. O trauma lhes impedia de louvar.
Hoje em dia, há aqueles que nunca conseguiram superar uma traição, um abuso, um estupro, uma decepção amorosa e por isso não conseguem se relacionar.
Há os que se isolam por não acreditar mais na humanidade, evitam amizades, se fecham em seus casulos para que ninguém lhes toque. Não se expõem e não contam com ninguém.
Os traumas ministeriais entram nessa categoria, alguns irmãos já foram líderes, já fizeram muitas coisas, mas em algum momento uma decepção, incompreensão ou desavença lhe fez parar e limitar o chamado de Deus pra sua vida. Muitos hoje não querem se envolver no ministério por ver exemplos daqueles que sofreram e sofrem para mantê-lo.
Os traumas são causadores de depressão, indiferença, inércia e profunda tristeza. Essa era a situação do povo naquela ocasião, a dor de estar exilado lhes parou.

4° Considerar o passado melhor que o tempo atual.

O povo Israelita passou 430 anos no Egito, sofrendo, sendo humilhado e enfrentando dores profundas. Por decreto de faraó todos os bebês eram lançados no rio Nilo para que morressem, as aflições do povo eram tantas que o clamor deles chegou a Deus. Moisés é vocacionado a ir até lá depois de 40 anos em Midiã. Ao chegar no Egito, Deus permite que o coração de Faraó se endureça ainda mais, intervenções sobrenaturais tornam-se necessárias. Deus envia 10 pragas, a última em especial era terrível, a morte dos primogênitos. Fez com que Faraó cedesse anistia aos Israelitas. O povo assistiu coisas maravilhosas, quando moscas vieram, invadiram todas as aldeias e casas mas Israel não sofreu com isso. No caso das rãs, da mesma maneira todas as casas foram invadidas, sofreram inúmeras coisas, mas o povo Israelita era alcançado pelos livramentos divinos.
Não havia razão alguma para ter saudades do Egito, os tempos de escravidão eram um martirizantes, e causaram danos irreversíveis na vida do povo Israelita.
Deus institui a páscoa, o povo celebra a libertação e a partir daí tinha tudo para viver um novo tempo. Quando estão a caminho da terra prometida, Faraó se arrepende de ter lhes liberado, vai atrás do povo e lhes ameaça, ao ver o os exércitos de Faraó, o mar a frente e as alternativas se dissipando, o povo murmura contra Deus.  Afirmando a Moisés: “Não havia sepulcros no Egito para que fôssemos enterrados por lá e não perecêssemos no deserto?”.

É impressionante o questionamento do povo, eles viram tudo o que Deus havia feito posteriormente os profetas ao se referirem a esse momento citava: “Vocês estão cientes de como o SENHOR com braço forte vos livrou do Egito”. Mas o povo em si estava resistente às mudanças, não queriam mais avançar, para eles o passado de comodismo como escravos era ótimo. Suas mentes acostumaram-se a funcionar baseados em surras, ofensas, etc. O processo de libertação iniciou-se com sua saída do Egito, mas mentalmente muitas correntes ainda deveriam cair.
Movidos por uma saudade sem nexo eles afirmam: E disseram a Moisés: Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, fazendo-nos sair do Egito?
Êxodo 14:11
A falta de fé, o medo de mudar, geraram saudades do que é cômodo, afinal, sempre foi assim, sempre funcionou, não há porque mudar. Há pessoas acostumadas com as mais diversas opressões, mas continuam resistindo as mudanças, resistindo ao que lhes poderia ser extremamente benéfico. Evoluir é necessário, quebrar paradigmas é uma conquista que não são todos que estão prontos a obter. O povo conseguiu sentir saudades dos chicotes, das comidas oferecidas, das senzalas. Hoje não é diferente, o que é cômodo nos serve, sendo tradição devemos preservar e uma velha tradição pode ser apenas um velho erro. Legalismo hoje é defendido com unhas e dentes por alguns, mas poucos procuram bases bíblicas para essas afirmações.  Há quem tenha saudades da ditadura militar, dos tempos em que se matava primeira para se perguntar quem era depois. Infelizmente a realidade da mente egípcia paira sobre a igreja contemporânea. A lei sendo aperfeiçoada na cruz para alguns é insuficiente, exceder a justiça dos fariseus está muito mais ligado ao exterior do que ao interior na visão de alguns líderes, sentem saudades das palmatórias nas escolas, dos casamentos arranjados, dos espancamentos dos pais. Para piorar, há quem viva em um relacionamento conturbadíssimo, que sofra traições, injúrias, agressões e movidos por um breve sentimento de mudança opte por desatar o relacionamento, poucos dias depois o arrependimento bate e tal como o provérbio “Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama. 2° Pedro 2.22

O povo estava livre, mas murmurou por ter fome, dizendo que era melhor morrer junto às panelas de carne Egípcias.
  Murmuraram por terem apenas aguas amargas em Mara, murmuraram por não ter carne, murmuraram porque enfrentariam grande batalha contra os Cananeus, etc. Tudo isso levou-lhes a uma profunda decadência, tudo era novo, mas isso justificava tanta reclamação, eram resistentes em suas mentes e sentiam saudades do inútil.
Tal como os Israelitas, há Cristãos que hoje em dia vivem com saudades de coisas inúteis a caminhada em direção oposta ao pecado não lhes atrai, pelo contrário o anseio é em regressar.
O provérbio que usamos como texto base para esse breve estudo fala sobre considerar o passado melhor que o tempo atual. Infelizmente, as pessoas não estão sabendo lidar com o passado, estão paradas, por terem lembranças de outros tempos não conseguem avançar no atual. E isso as destrói. Salomão vem dizer que não é sábio agir assim, qual a lição nas entrelinhas desse texto? O tempo de fazer melhor é hoje! Remorso sem atitudes não promove mudanças, sem atitudes o filho pródigo comeria a comida dos porcos.

A pergunta que fica é: Como agir corretamente em relação ao passado?

José – Os traumas curados.
José é certamente um dos maiores exemplos de alguém que soube lidar com o passado. O problema inicial era a inveja por parte de seus irmãos, motivada pela preferência notória de seu pai. Ao ponto de dar-lhe uma capa, diferenciada, colorida e que colocava os demais irmãos em situação inferior. Tal sentimento se reforçava no fato de que José sonhava simbolicamente lugares de destaque em detrimento dos demais. De forma que os seus irmãos passaram a odiá-lo, assim como seus sonhos. Um dia José vai a pedido de seu pai conversar com seus irmãos, até que notam sua vinda e decidem entre si fazer algo para pará-lo.

Inicialmente observam-no ainda longe, decidem mata-lo, lançar em uma cisterna com a seguinte afirmação “veremos o que será de seus sonhos”.
Tomam sua capa, lançam-no em uma cisterna sem água e comem pão a sua volta.
Inicialmente são três dores, arrancar a capa (humilhação), cisterna (medo), o ato de comer pão como se nada acontecesse (indiferença).
Os três atos sucessivos até sua venda lhe fariam ter traumas. Alguns viveriam sem conseguir voltar à família por essas três atitudes, mas o pior estava por vir. Na sequência seus irmãos decidem que não vão lhe matar, mas a decisão que tomam também é péssima. Ao ver os ismaelitas se aproximando optam por vendê-lo por miseras 20 moedas de prata.
As dores que se seguem são a da traição, desvalorização e exílio. José segue para o Egito e no momento de Oásis que ele poderia viver teve de enfrentar as propostas indecentes da esposa de Potifar, que diversas vezes foram rejeitadas. A dor que se segue é da calúnia. Isso leva-lhe a prisão.
José ainda na prisão revela sonhos, a um padeiro e um copeiro. O copeiro jura lealdade a José mas na sua ascensão não lembra de José. A dor do esquecimento.
Até que José se torna um governador. Seus irmãos vem até ele e lhe pedem perdão, José tinha a oportunidade de se vingar, porém ao falar com seus irmãos e se dar a  conhecer ele diz: Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida.
Gênesis 50:20

José teve a capacidade de canalizar todos os problemas positivamente, de forma que nada lhe deteve, ao ponto de que todo o mal que ele sofreu contribuiu para o seu bem.
José escolhe perdoar, ser bênção, não se render as mágoas e a depressão por conta das injustiças que sofreu, etc.











Paulo e o perdão a si próprio.

Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu;
Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.
Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo,
Filipenses 3:5-8
Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.
1 Timóteo 1:15
A mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade.
1 Timóteo 1:13

Sabe-se que o passado de Paulo lhe reservava inúmeras lembranças ruins, por seu zelo na lei, ele acabou fazendo coisas erradas, arrastava os cristãos que em sua concepção eram os propagadores da “seita dos nazerenos”.
Ao se converter, logo no início Paulo enfrenta oposições, descrença e é obrigado a fugir de Damasco num cesto. Mesmo após sua conversão as lembranças dos tempos de ignorância lhe vinham a mente, pessoas sendo arrastadas, chorando de dor e pela privação de pregar, o olhar de Estevão ao ser apedrejado, suas palavras, as roupas de Estevão lançadas aos pés de Paulo, enfim, tudo isso lhe fazia sentir pesar por outros tempos. Condenações mentais, peso na consciência, remorso, tudo isso poderia fazer Paulo deixar de avançar, o passado de erros seria um peso a carregar por toda a vida, mas ele conseguiu ser consciente do perdão divino, de que a graça se manifestou. Ao citar seu passado Paulo usa termos como “as considero como refugo”, “o principal dos pecadores”, “Blasfemo, perseguidor, injurioso”. A cédula referente a sua dívida era impagável, mas o sacrifício vicário de Cristo lhe purificava do pecado. Paulo se conscientizou disso, entendeu que ele poderia viver um novo tempo, em que a graça excederia os dias de pecado, de que havia uma segunda chance a ele tal como houve a Jonas.  A superação é clara ao falar sobre perdão: “onde abundou o pecado, superabundou a graça”, “Se alguém está em Cristo nova criatura é”.
Hoje o remorso trava, bloqueia emoções, além da falta de perdão, quando o ofendido perdoa o ofensor recusa-se a ser perdoado, a mentalidade de escravo faz com que pessoas não aceitem anistia sem punição, ou que vivam na ideologia da meritocracia entendem que se recebem tais dádivas fizeram algo para merecer, o fato é que o perdão divino, a graça, não está relacionada a méritos. Salvação não vem por obras, mas graça!
Se sinta perdoado, João diz em sua carta que não pequemos, mas caso aconteça temos um advogado para com o pai. O cédula já está riscada, a dívida paga então há esperança para você, supere o remorso, tire as experiências disso tudo e viva!

Pedro e o sentimento de culpa.

Pedro, filho do trovão era explosivo, impulsivo e sobretudo alguém que não analisava muito seus atos antes de fazê-lo.
Ao ver Jesus falando sobre sua morte, ele expõe com suas palavras dizendo que Jesus não deveria se entregar, que poderia pensar em si mesmo. Até que lee é repreendido pelo senhor, que lhe diz: “Pra trás de mim satanás”.
Pedro em outro momento disse que iria até o fim por jesus, até que ao ver sua prepotência Jesus diz: “Antes que o galo cante, por três vezes me negarás”.
Pedro nega, diz que de modo nenhum faria isso, porém ao ver Jesus sendo levado a julgamento e posterior morte Pedro lhe nega, algumas pessoas lhe veem e o reconhecem, então Pedro diz novamente, não o conheço. Jesus nesse momento passa por ele e seu olhar vai de encontro a Pedro que sente o pesar. Mas o olhar de Cristo naquele momento não revela julgamento, mas misericórdia, Jesus estava dizendo a Pedro eu  te amo mesmo em suas pisadas, eu estou contigo mesmo nos dias da tua fraqueza, tal como Elias ao entrar na caverna.
Acredito que Pedro tenha desenvolvido muitos traumas a partir disso, o sentimento de culpa lhe faria parar sempre que quisesse tentar fazer algo para Deus, as lembranças das três negações, o corte na orelha de Malco, enfim, Pedro não era o homem mais habilitado a conduzir uma igreja ou ser um pregador.
Mas Jesus fez questão de tratar isso, após sua ressurreição, ascensão, ele vem conversar com os discípulos a beira do mar. Após uma pescaria frustrante, ele lhes indaga se tinham alimento, eles afirmam que não. Até que Jesus lhes ordena que lancem a rede a direita do barco, quando fazem isso junto vem 153 peixes grandes.
Ao chegarem a praia está posto peixe a brasa e pão, Jesus lhes convida a comer e trazer os peixes. Todos sabiam e quem se tratava, mas ninguém quis lhe perguntar.  Então por três vezes Jesus lhe pergunta: “Amas-me Pedro?” Ao ser indagado pela terceira vez jesus lhe diz  para que apascente as ovelhas. Jesus lhe diz qual seria seu final, a morte numa cruz lhe estava reservada.  Na sequência Pedro questiona qual seria a morte de João, Jesus não lhe declara, apenas diz a Pedro: Siga-me!
As emoções de Pedro foram curadas pelo olhar de Jesus e sua subsequente afirmação de que havia potencial no discípulo, de que ele apascentaria as ovelhas, que até sua morte seria para glória de Deus e por fim essa palavra de Cristo lhe serviria de incentivo constantemente, quando pensasse em parar, lembraria dessa nova chance. Hoje devemos da mesma maneira substituir fins por recomeços, decepções por novos desafios, não parar no lugar da tristeza, mas ter a consciência de que os próximos passos podem lhe reservar lugares felizes de alegria constate.

Por fim, Jesus diz: “Tomai sobre vós o meu julgo, aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, pois o meu julgo é suave e o meu fardo é leve”.
O julgo servia para igualar dois bois, era um instrumento usado na condução de dois bois, se o julgo fosse desigual, um dos dois seria sobrecarregado e sofreria muito, o jugo pesado era martírio aos animais, visto que causaria profundo desconforto, os fardos referem-se as cargas, bagagens, traumas, passado, etc. Jesus diz que o andar com ele é mais fácil, que a vida tem outro significado, que com ele aprendemos a perdoar, que o julgo da servidão nos escraviza, o julgo humano tenta mostrar que devemos merecer algo, mas Jesus em contrapartida diz, que o julgo é suave e o fardo é leve para mostrar que a vida com ele é simples. Que ele troca o seu passado pesado, por um “tudo se fez novo”, ele troca o “apanhada em adultério” por um vá e não peques mais. Em termos práticos nós enviamos nosso pecado, ele com seu sangue filtra e nos devolve graça!
Jesus curou o passado de Pedro, Paulo, José e hoje pode arrancar a depressão de qualquer pessoa, pode fazer com que um tempo de alegria sobrevenha e faça com que o choro de até então seja incomparável ante a glória revelada. O passado está aberto, podemos dar a ele o significado que quisermos, Jesus estava na última ceia dizendo aos discípulos que poderiam olhar para o corpo e o sangue de Cristo representados na ceia e não lembrarem dos momentos horríveis da cruz, mas sim daquele momento em especial, com todos ao redor da mesa, dando novo significado ao dia que deveria ser o dia de tristeza.  Ao ponto de Jesus dizer que não faria isso até que se cumpra no reino dos céus, ou seja as bodas do cordeiro. Jesus eterniza momentos simples, transforma o dia da tristeza das despedidas no dia da celebração mensal do cristianismo mais evidente. Transformar o passado é possível, perdoe quem te magoou e o fantasma daquela pessoa não dormirá mais no seu quarto e não permeará mais sua mente. Desapegue-se do remorso e viva o hoje! O que passou, passou! Não viva de saudosismos, mas transforme esse momento atual, simples, no momento mais marcante da sua vida.   



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