“Nunca digas: Por que foram os dias passados
melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.”
Eclesiastes 7.10
Vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
Mateus 11:28-30
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
Mateus 11:28-30
"O hábito de culpar o presente e admirar o
passado está profundamente arraigado na natureza humana." (David Hume)
Recentemente alguns
programas de TV tem se dedicado a resgatar alguns nomes antigos da televisão
Brasileira, músicos e artistas que fizeram sucesso em outras épocas. Geraldo
Luís da TV record tem feito um verdadeiro “movimento” em torno desses artistas.
Há alguns dias ele mostrou uma cantora chamada
“sol”. Por conta de inúmeros golpes sofridos por empresários, constantes
imprevistos ela se viu no anonimato e financeiramente sua situação não permitir
manter os luxos de até então. Ao falar de seu passado, do luxo que possuía, dos
grandes palcos a cantora se entristeceu e afirmou estar em depressão. No mesmo
programa Geraldo também entrevistou o casal que fez sucesso no início dos anos
2000 com a chamada “dança da motinha”, da mesma maneira ao falar do passado o
semblante caia. Rafael Ilha constantemente é mostrado em tentativas de
suicídio, engoliu uma pilha, tentou se cortar, ameaçou se matar com uma
lâmpada, etc. Uma das principais motivações é o grupo “polegar”, do qual ele
fez parte e protagonizou momentos de muita fama. Hoje cada um segue seguiu seu
destino, todos anônimos. Simony, até hoje é convidada a falar do passado, dos
bons tempos do Balão Mágico, quase todas as vezes as entrevistas rendem
audiência considerável, pois o público da mesma maneira é saudosista. Todos
involuntariamente se prendem ao seu passado, o saudosismo é como um elástico,
que permite se esticar brevemente, mas vez por outra puxa o indivíduo para
trás. O que dizer dos traumas? Quantas pessoas têm problemas em casamentos por
conta de abusos em sua infância, adolescência, etc. Meninos se tornam
homossexuais pela ausência da figura paterna, meninas negam se a ter relações
sexuais mesmo que lícitas com seus maridos por conta de más lembranças, alguns
devido a acidentes nunca conseguiram começar a dirigir, outros tem bloqueios
gerados pelos pais que exercem uma proteção exagerada aos filhos gerando jovens
inertes que não conseguem correr atrás de um emprego, por ter insegurança em tomar uma
condução. Alguns têm complexos com o próprio corpo porque no passado alguém lhe
disse algo que ofendeu, pessoas vivem os mais diversos traumas, por conta de
coisas antigas. Os bloqueios emocionais lhes privam de viver. Há quem diga o que
o passado não se modifica e em parte é verdade. O que passou já está feito, não
se muda as atitudes passadas. Mas como agir em relação a isso é o que pode
mudar, podemos olhar para antigos erros, aprender, evoluir e dar risada disso
tudo, ou fazer justamente o contrário, se lamentar, chorar e entrar em um
profundo remorso. Na igreja, o saudosismo e ao apego ao passado são ainda mais
visíveis, quantos irmãos que sequer viveram em algumas épocas enaltecem o
passado. Frases como “antigamente não era assim”, “a igreja precisa voltar aos
bons costumes”, “hoje tudo pode”, “as coisas mudaram, mas Deus não mudou”. Se o
saudosismo da atualidade nos levasse ao caráter dos pais da igreja eu seria o
primeiro a me declarar favorável, pois, o caráter dos grandes homens da bíblia,
dos heróis da fé famosos e anônimos, são dignos de cópia. Porém o que se
enaltece são costumes e não atitudes, usos e não valores, regras e não caráter.
A igreja precisa urgentemente quebrar esse retrovisor, ou melhor, deixar o
questionamento tratado por Salomão: Porque os dias passados são melhores do que
esses? Do contrário estaremos nos privando de viver, avançar e ser uma igreja
que Deus se agrada, que seja presente que serve a humanidade.
Os problemas com
relação ao passado não são novidade, na bíblia há alguns exemplos e trataremos
de alguns deles.
1° - O saudosismo
triste: Porém muitos dos sacerdotes, e levitas e
chefes dos pais, já idosos, que viram a primeira casa, choraram em altas vozes
quando à sua vista foram lançados os fundamentos desta casa; mas muitos
levantaram as vozes com júbilo e com alegria.
De maneira que não discernia o povo as vozes do júbilo de alegria das vozes do choro do povo; porque o povo jubilava com tão altas vozes, que o som se ouvia de muito longe.
Esdras 3:12,13
De maneira que não discernia o povo as vozes do júbilo de alegria das vozes do choro do povo; porque o povo jubilava com tão altas vozes, que o som se ouvia de muito longe.
Esdras 3:12,13
Ao ver a obra do segundo templo, sem luxo, sem materiais
refinados, os anciãos são tomados por um profundo pesar. Lamentam-se pelo fato
de compararem o tempo passado com o atual e percebem que a diferença era
imensa. No primeiro templo a inauguração se dá mediante a uma grande festa, com
levitas tocando e cantando e a glória de Deus invadindo a casa de forma que os
sacerdotes não conseguiam ficar em pé. O segundo templo não contava com o revestimento
de ouro, não contava com os instrumentos em madeiras nobres ou algo assim, pelo
contrário, a obra era simples, discreta e tudo isso fez os anciãos compararem o
momento atual com o passado e movidos por um grande saudosismo choram, ao ponto
de que seu lamento se equiparou ao júbilo dos que estavam comemorando. Ao ponto
de que a bíblia diz que não se distinguia se choravam de alegria ou tristeza.
As bagagens do passado além de nos privarem de ser feliz,
podem desmotivar outros que tem essa intenção. Saudosistas não se alegram e
ainda ao trazer lembranças do passado a tona, fazem os que batalham por um
momento atual melhor irem aos poucos desistindo, com isso o povo torna-se
eternamente amarrado ao passado.
A solução nesse caso foi dada por Ageu ao profetizar: “ A
glória dessa última casa será maior que a da primeira”. Essa promessa diz
respeito ao temor que tomaria conta do povo, a submissão a palavra, um
verdadeiro avivamento ocorreu. Um grande clamor se levantou para se lamentar a
cerca dos pecados. A glória estava nas
atitudes, na devoção e não nos utensílios, os saudosistas não conseguem
entender o fato de que nos dias atuais Deus ainda opera, de formas diferentes
as do passado, mas o poder é o mesmo, ele não agirá de acordo com necessidades
alheias ao momento atual, Deus não dá só palavras a quem tem fome, Deus não
manda um cego levantar quando ele simplesmente precisa ver. Deus é correto ao
atender os anseios do povo, o grande erro de tornar o passado melhor do que
hoje é que se estagna, é impossível
avançar se os olhos estão o tempo inteiro no caminho percorrido. Afirmações do
tipo: “Eu era feliz e não sabia” desvalorizam o tempo atual, muitos irmãos
dizem: “Lembra quando o pastor X estava aqui?!” Antigamente não era assim. No
meu tempo isso não acontecia. Tais palavras podem desmotivar novos convertidos,
ofuscar o brilho nos olhos dos que querem trabalhar. Devemos ter muito cuidado com isso,
principalmente em uma igreja tão mesclada com a Assembleia de Deus.
2° Remorso- Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me
subir? Então disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam
contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais, nem pelo
ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso te chamei a ti, para que me
faças saber o que hei de fazer.
1° Samuel 28.15
A situação era terrível, os filisteus se reuniram para
guerrear contra Israel, Saul temeu sobremaneira. Orou, pediu respostas a Deus e
Samuel nesse tempo já havia morrido. Não houve respostas por sonhos, Urim ou
profetas. Samuel estando morto reduziu as alternativas de aconselhamento de
Saul. Não havia palavra de Deus, ninguém poderia direcioná-lo sobre tudo porque
Deus cessou sua misericórdia para com Saul. Ao ponto de que Samuel intercedeu por
ele Deus lhe questionou até quando agiria com dó. A misericórdia havia cessado
principalmente pelo fato de Saul rejeitar os conselhos divinos. O próprio fato
de ter um rei já não agradava a Deus, que dirá um homem nessa condição? Com
Samuel ainda em vida, Saul não lhe deu valor. Profetizou uma única vez, para
nunca mais, faltava compreender a grandeza de ser tomado pelo Espírito de Deus
no antigo testamento.
Quando a morte de Samuel ocorre, toda a nação se comove e
durante esse tempo os filisteus se levantam. Saul que até então não valorizara
o profeta, se vê sem saída. Com a rejeição divina, ausência daquele que sempre
lhe ajudou ele se vê num bêco sem saída, ao ponto de em uma atitude desesperada
recorrer a uma vidente. Ao ser questionado sobre quem deveria invocar, Saul
responde sem exitar: Traga-me Samuel.
Amor póstumo, ainda em vida não se deu valor, mas após a
morte um espírito enganador é visto por Saul, ele entende que é Samuel e se
prostra. Saul sabia que recorrer a uma feiticeira era erradíssimo, que Deus não
lhe dava respostas até então por conta da sua rebeldia. Mas por não acreditar
no seu potencial, não acreditar que Deus pudesse ter misericórdia mediante um
arrependimento verdadeiro, ele se apega ao seu passado, toma a atitude errada e
desce ainda mais. Hoje em dias o amor póstumo toma conta da sociedade, pessoas
ainda em vida não são valorizadas, mas após a morte cantores anônimos se tornam
estrelas, atores viram príncipes, até políticos, recebem mais declarações após
a morte do que em vida. O grande exemplo da sociedade atual se deu após a morte
de Michael Jackson, ainda em vida inúmeras vezes foi acusado de abuso sexual de
crianças, criticado pelo número exagerado de cirurgias plásticas e seu rosto
figurava nas revistas apenas para críticas, não se falava da pessoal do Michal
Jackson, ou de seu talento, apenas polêmicas e a imprensa conseguiu fazer uma
péssima imagem do “rei do pop”.
Já diria o rapper pregador Luo: “Dêem flores enquanto possam
apreciá-las porque depois elas só servirão para cobrir sepulturas”.
Os filhos só valorizam os pais após a morte, quando o tempo
passa e os dias perdidos são notados, infelizmente tarde demais, o caixão já
desceu a cova e após a morte não se acessa rede social, não vale criar
depoimentos enormes para reverter o tempo perdido. Amor não é falácia, mas sim
demonstração de atitudes e sentimentos. Não se dá só na ausência e na saudade,
mas na presença.
Saul cometeu esse erro, só notou o valor de Samuel após a
morte dele. Quantas amizades perdemos por não dar valor? O Quanto já poderíamos
ter sido abençoado e não fomos por cultivar boas amizades? Quantos filhos
choram amores póstumos de pais mortos?
O passado mal resolvido corrói, faz com que uma sequência
imensurável de atitudes errôneas sejam tomadas.
Façamos o nosso melhor hoje. “A noite vem, quando ninguém
pode trabalhar”.
3° - Traumas - Junto aos
rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade de Sião.
Ali, nos salgueiros penduramos as nossas harpas;
ali os nossos captores pediam-nos canções, os nossos opressores exigiam canções alegres, dizendo: "Cantem para nós uma das canções de Sião! "
Como poderíamos cantar as canções do Senhor numa terra estrangeira?
Salmos 137:1-4
Ali, nos salgueiros penduramos as nossas harpas;
ali os nossos captores pediam-nos canções, os nossos opressores exigiam canções alegres, dizendo: "Cantem para nós uma das canções de Sião! "
Como poderíamos cantar as canções do Senhor numa terra estrangeira?
Salmos 137:1-4
O texto acima fala do momento em que o povo de Judá estava
na Babilônia, exilado. Privado de sua
terra natal. A invasão Babilôna se deu em três fases, todas foram muito
doloridas, em especial a primeira. O povo viu seus sábios e intelectuais sendo
levados, homens, mulheres crianças, etc. Viu o seu tempo sendo destruído, suas
casas arruinadas, os muros da cidade com brechas, portas queimadas a fogo.
Agora teriam de viver em uma nova cultura, novos costumes, comer alimentos
sacrificados a ídolos, se submeter as mais diversas humilhações.
Tudo isso fez com que o povo ficasse traumatizado, as
lembranças da terra natal, da liberdade, do direito de ir e vir ainda estavam
frescas na mente do povo. O choro era inevitável, quando a ficha caiu, estavam
junto ao rio Quebar aos prantos.
Penduram-se as harpas, em sinal de que o louvor não seria
mais entoado, de que o trauma foi tão forte que não seria mais possível louvar,
exercer qualquer atividade sacerdotal e nas entrelinhas é dito que o ministério
se encerrou, que a dor é insuperável. Ainda que hajam pedidos por parte dos
opressores pra que eles cantem, a resposta seria “como cantar em terra
estranha?” O segredo fundamental dessa passagem está no fato de que não
conseguiram superar o trauma, a dor do exílio que deveria estar no passado e
ser encarada como algo anterior, estava presente o tempo inteiro diante dos
olhos do povo, de sorte que era impossível que alguém cantasse, tocasse, etc.
Consideravam a sua dor paralisante. O trauma lhes impedia de louvar.
Hoje em dia, há aqueles que nunca conseguiram superar uma
traição, um abuso, um estupro, uma decepção amorosa e por isso não conseguem se
relacionar.
Há os que se isolam por não acreditar mais na humanidade,
evitam amizades, se fecham em seus casulos para que ninguém lhes toque. Não se
expõem e não contam com ninguém.
Os traumas ministeriais entram nessa categoria, alguns
irmãos já foram líderes, já fizeram muitas coisas, mas em algum momento uma
decepção, incompreensão ou desavença lhe fez parar e limitar o chamado de Deus
pra sua vida. Muitos hoje não querem se envolver no ministério por ver exemplos
daqueles que sofreram e sofrem para mantê-lo.
Os traumas são causadores de depressão, indiferença, inércia
e profunda tristeza. Essa era a situação do povo naquela ocasião, a dor de
estar exilado lhes parou.
4° Considerar o passado melhor que o tempo atual.
O povo Israelita passou 430 anos no Egito, sofrendo, sendo
humilhado e enfrentando dores profundas. Por decreto de faraó todos os bebês
eram lançados no rio Nilo para que morressem, as aflições do povo eram tantas
que o clamor deles chegou a Deus. Moisés é vocacionado a ir até lá depois de 40
anos em Midiã. Ao chegar no Egito, Deus permite que o coração de Faraó se
endureça ainda mais, intervenções sobrenaturais tornam-se necessárias. Deus
envia 10 pragas, a última em especial era terrível, a morte dos primogênitos.
Fez com que Faraó cedesse anistia aos Israelitas. O povo assistiu coisas
maravilhosas, quando moscas vieram, invadiram todas as aldeias e casas mas
Israel não sofreu com isso. No caso das rãs, da mesma maneira todas as casas
foram invadidas, sofreram inúmeras coisas, mas o povo Israelita era alcançado
pelos livramentos divinos.
Não havia razão alguma para ter saudades do Egito, os tempos
de escravidão eram um martirizantes, e causaram danos irreversíveis na vida do
povo Israelita.
Deus institui a páscoa, o povo celebra a libertação e a
partir daí tinha tudo para viver um novo tempo. Quando estão a caminho da terra
prometida, Faraó se arrepende de ter lhes liberado, vai atrás do povo e lhes
ameaça, ao ver o os exércitos de Faraó, o mar a frente e as alternativas se
dissipando, o povo murmura contra Deus.
Afirmando a Moisés: “Não havia sepulcros no Egito para que fôssemos
enterrados por lá e não perecêssemos no deserto?”.
É impressionante o questionamento do povo, eles viram tudo o
que Deus havia feito posteriormente os profetas ao se referirem a esse momento
citava: “Vocês estão cientes de como o SENHOR com braço forte vos livrou do
Egito”. Mas o povo em si estava resistente às mudanças, não queriam mais
avançar, para eles o passado de comodismo como escravos era ótimo. Suas mentes
acostumaram-se a funcionar baseados em surras, ofensas, etc. O processo de
libertação iniciou-se com sua saída do Egito, mas mentalmente muitas correntes
ainda deveriam cair.
Movidos por uma saudade sem nexo eles afirmam: E disseram a Moisés: Não havia sepulcros no
Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos
fizeste isto, fazendo-nos sair do Egito?
Êxodo 14:11
Êxodo 14:11
A falta de fé, o medo de mudar, geraram saudades do que é
cômodo, afinal, sempre foi assim, sempre funcionou, não há porque mudar. Há
pessoas acostumadas com as mais diversas opressões, mas continuam resistindo as
mudanças, resistindo ao que lhes poderia ser extremamente benéfico. Evoluir é
necessário, quebrar paradigmas é uma conquista que não são todos que estão
prontos a obter. O povo conseguiu sentir saudades dos chicotes, das comidas
oferecidas, das senzalas. Hoje não é diferente, o que é cômodo nos serve, sendo
tradição devemos preservar e uma velha tradição pode ser apenas um velho erro.
Legalismo hoje é defendido com unhas e dentes por alguns, mas poucos procuram
bases bíblicas para essas afirmações. Há
quem tenha saudades da ditadura militar, dos tempos em que se matava primeira
para se perguntar quem era depois. Infelizmente a realidade da mente egípcia
paira sobre a igreja contemporânea. A lei sendo aperfeiçoada na cruz para
alguns é insuficiente, exceder a justiça dos fariseus está muito mais ligado ao
exterior do que ao interior na visão de alguns líderes, sentem saudades das
palmatórias nas escolas, dos casamentos arranjados, dos espancamentos dos pais.
Para piorar, há quem viva em um relacionamento conturbadíssimo, que sofra
traições, injúrias, agressões e movidos por um breve sentimento de mudança opte
por desatar o relacionamento, poucos dias depois o arrependimento bate e tal
como o provérbio “Deste modo sobreveio-lhes
o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e
a porca lavada ao espojadouro de lama. 2° Pedro 2.22
O povo estava livre, mas
murmurou por ter fome, dizendo que era melhor morrer junto às panelas de carne
Egípcias.
Murmuraram por terem apenas aguas amargas em
Mara, murmuraram por não ter carne, murmuraram porque enfrentariam grande
batalha contra os Cananeus, etc. Tudo isso levou-lhes a uma profunda
decadência, tudo era novo, mas isso justificava tanta reclamação, eram
resistentes em suas mentes e sentiam saudades do inútil.
Tal como os Israelitas, há Cristãos que hoje em dia vivem
com saudades de coisas inúteis a caminhada em direção oposta ao pecado não lhes
atrai, pelo contrário o anseio é em regressar.
O provérbio que usamos como texto base para esse breve
estudo fala sobre considerar o passado melhor que o tempo atual. Infelizmente,
as pessoas não estão sabendo lidar com o passado, estão paradas, por terem
lembranças de outros tempos não conseguem avançar no atual. E isso as destrói.
Salomão vem dizer que não é sábio agir assim, qual a lição nas entrelinhas
desse texto? O tempo de fazer melhor é hoje! Remorso sem atitudes não promove
mudanças, sem atitudes o filho pródigo comeria a comida dos porcos.
A pergunta que fica é: Como agir corretamente em relação ao
passado?
José – Os traumas curados.
José é certamente um dos maiores exemplos de alguém que
soube lidar com o passado. O problema inicial era a inveja por parte de seus
irmãos, motivada pela preferência notória de seu pai. Ao ponto de dar-lhe uma
capa, diferenciada, colorida e que colocava os demais irmãos em situação
inferior. Tal sentimento se reforçava no fato de que José sonhava
simbolicamente lugares de destaque em detrimento dos demais. De forma que os
seus irmãos passaram a odiá-lo, assim como seus sonhos. Um dia José vai a pedido
de seu pai conversar com seus irmãos, até que notam sua vinda e decidem entre
si fazer algo para pará-lo.
Inicialmente observam-no ainda longe, decidem mata-lo,
lançar em uma cisterna com a seguinte afirmação “veremos o que será de seus
sonhos”.
Tomam sua capa, lançam-no em uma cisterna sem água e comem
pão a sua volta.
Inicialmente são três dores, arrancar a capa (humilhação),
cisterna (medo), o ato de comer pão como se nada acontecesse (indiferença).
Os três atos sucessivos até sua venda lhe fariam ter
traumas. Alguns viveriam sem conseguir voltar à família por essas três
atitudes, mas o pior estava por vir. Na sequência seus irmãos decidem que não
vão lhe matar, mas a decisão que tomam também é péssima. Ao ver os ismaelitas
se aproximando optam por vendê-lo por miseras 20 moedas de prata.
As dores que se seguem são a da traição, desvalorização e
exílio. José segue para o Egito e no momento de Oásis que ele poderia viver
teve de enfrentar as propostas indecentes da esposa de Potifar, que diversas
vezes foram rejeitadas. A dor que se segue é da calúnia. Isso leva-lhe a
prisão.
José ainda na prisão revela sonhos, a um padeiro e um
copeiro. O copeiro jura lealdade a José mas na sua ascensão não lembra de José.
A dor do esquecimento.
Até que José se torna um governador. Seus irmãos vem até ele
e lhe pedem perdão, José tinha a oportunidade de se vingar, porém ao falar com
seus irmãos e se dar a conhecer ele diz:
Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus
o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita
gente com vida.
Gênesis 50:20
Gênesis 50:20
José teve a capacidade de canalizar todos os problemas
positivamente, de forma que nada lhe deteve, ao ponto de que todo o mal que ele
sofreu contribuiu para o seu bem.
José escolhe perdoar, ser bênção, não se render as mágoas e
a depressão por conta das injustiças que sofreu, etc.
Paulo e o perdão a si próprio.
Circuncidado ao oitavo
dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a
lei, fui fariseu;
Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.
Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo,
Filipenses 3:5-8
Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.
Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo,
Filipenses 3:5-8
Esta é uma palavra fiel,
e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os
pecadores, dos quais eu sou o principal.
1 Timóteo 1:15
1 Timóteo 1:15
A mim, que dantes fui
blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz
ignorantemente, na incredulidade.
1 Timóteo 1:13
1 Timóteo 1:13
Sabe-se que o passado de Paulo lhe reservava inúmeras
lembranças ruins, por seu zelo na lei, ele acabou fazendo coisas erradas,
arrastava os cristãos que em sua concepção eram os propagadores da “seita dos
nazerenos”.
Ao se converter, logo no início Paulo enfrenta oposições,
descrença e é obrigado a fugir de Damasco num cesto. Mesmo após sua conversão
as lembranças dos tempos de ignorância lhe vinham a mente, pessoas sendo
arrastadas, chorando de dor e pela privação de pregar, o olhar de Estevão ao
ser apedrejado, suas palavras, as roupas de Estevão lançadas aos pés de Paulo,
enfim, tudo isso lhe fazia sentir pesar por outros tempos. Condenações mentais,
peso na consciência, remorso, tudo isso poderia fazer Paulo deixar de avançar,
o passado de erros seria um peso a carregar por toda a vida, mas ele conseguiu
ser consciente do perdão divino, de que a graça se manifestou. Ao citar seu
passado Paulo usa termos como “as considero como refugo”, “o principal dos
pecadores”, “Blasfemo, perseguidor, injurioso”. A cédula referente a sua dívida
era impagável, mas o sacrifício vicário de Cristo lhe purificava do pecado.
Paulo se conscientizou disso, entendeu que ele poderia viver um novo tempo, em
que a graça excederia os dias de pecado, de que havia uma segunda chance a ele
tal como houve a Jonas. A superação é
clara ao falar sobre perdão: “onde abundou o pecado, superabundou a graça”, “Se
alguém está em Cristo nova criatura é”.
Hoje o remorso trava, bloqueia emoções, além da falta de
perdão, quando o ofendido perdoa o ofensor recusa-se a ser perdoado, a
mentalidade de escravo faz com que pessoas não aceitem anistia sem punição, ou
que vivam na ideologia da meritocracia entendem que se recebem tais dádivas
fizeram algo para merecer, o fato é que o perdão divino, a graça, não está
relacionada a méritos. Salvação não vem por obras, mas graça!
Se sinta perdoado, João diz em sua carta que não pequemos,
mas caso aconteça temos um advogado para com o pai. O cédula já está riscada, a
dívida paga então há esperança para você, supere o remorso, tire as
experiências disso tudo e viva!
Pedro e o sentimento de culpa.
Pedro, filho do trovão era explosivo, impulsivo e sobretudo
alguém que não analisava muito seus atos antes de fazê-lo.
Ao ver Jesus falando sobre sua morte, ele expõe com suas
palavras dizendo que Jesus não deveria se entregar, que poderia pensar em si
mesmo. Até que lee é repreendido pelo senhor, que lhe diz: “Pra trás de mim satanás”.
Pedro em outro momento disse que iria até o fim por jesus,
até que ao ver sua prepotência Jesus diz: “Antes que o galo cante, por três
vezes me negarás”.
Pedro nega, diz que de modo nenhum faria isso, porém ao ver
Jesus sendo levado a julgamento e posterior morte Pedro lhe nega, algumas
pessoas lhe veem e o reconhecem, então Pedro diz novamente, não o conheço.
Jesus nesse momento passa por ele e seu olhar vai de encontro a Pedro que sente
o pesar. Mas o olhar de Cristo naquele momento não revela julgamento, mas
misericórdia, Jesus estava dizendo a Pedro eu
te amo mesmo em suas pisadas, eu estou contigo mesmo nos dias da tua
fraqueza, tal como Elias ao entrar na caverna.
Acredito que Pedro tenha desenvolvido muitos traumas a
partir disso, o sentimento de culpa lhe faria parar sempre que quisesse tentar
fazer algo para Deus, as lembranças das três negações, o corte na orelha de
Malco, enfim, Pedro não era o homem mais habilitado a conduzir uma igreja ou
ser um pregador.
Mas Jesus fez questão de tratar isso, após sua ressurreição,
ascensão, ele vem conversar com os discípulos a beira do mar. Após uma pescaria
frustrante, ele lhes indaga se tinham alimento, eles afirmam que não. Até que
Jesus lhes ordena que lancem a rede a direita do barco, quando fazem isso junto
vem 153 peixes grandes.
Ao chegarem a praia está posto peixe a brasa e pão, Jesus
lhes convida a comer e trazer os peixes. Todos sabiam e quem se tratava, mas
ninguém quis lhe perguntar. Então por
três vezes Jesus lhe pergunta: “Amas-me Pedro?” Ao ser indagado pela terceira
vez jesus lhe diz para que apascente as
ovelhas. Jesus lhe diz qual seria seu final, a morte numa cruz lhe estava
reservada. Na sequência Pedro questiona
qual seria a morte de João, Jesus não lhe declara, apenas diz a Pedro: Siga-me!
As emoções de Pedro foram curadas pelo olhar de Jesus e sua
subsequente afirmação de que havia potencial no discípulo, de que ele
apascentaria as ovelhas, que até sua morte seria para glória de Deus e por fim
essa palavra de Cristo lhe serviria de incentivo constantemente, quando
pensasse em parar, lembraria dessa nova chance. Hoje devemos da mesma maneira
substituir fins por recomeços, decepções por novos desafios, não parar no lugar
da tristeza, mas ter a consciência de que os próximos passos podem lhe reservar
lugares felizes de alegria constate.
Por fim, Jesus diz: “Tomai sobre vós o meu julgo, aprendei
de mim que sou manso e humilde de coração, pois o meu julgo é suave e o meu
fardo é leve”.
O julgo servia para igualar dois bois, era um instrumento
usado na condução de dois bois, se o julgo fosse desigual, um dos dois seria
sobrecarregado e sofreria muito, o jugo pesado era martírio aos animais, visto
que causaria profundo desconforto, os fardos referem-se as cargas, bagagens,
traumas, passado, etc. Jesus diz que o andar com ele é mais fácil, que a vida
tem outro significado, que com ele aprendemos a perdoar, que o julgo da
servidão nos escraviza, o julgo humano tenta mostrar que devemos merecer algo,
mas Jesus em contrapartida diz, que o julgo é suave e o fardo é leve para
mostrar que a vida com ele é simples. Que ele troca o seu passado pesado, por
um “tudo se fez novo”, ele troca o “apanhada em adultério” por um vá e não
peques mais. Em termos práticos nós enviamos nosso pecado, ele com seu sangue
filtra e nos devolve graça!
Jesus curou o passado de Pedro, Paulo, José e hoje pode
arrancar a depressão de qualquer pessoa, pode fazer com que um tempo de alegria
sobrevenha e faça com que o choro de até então seja incomparável ante a glória
revelada. O passado está aberto, podemos dar a ele o significado que quisermos,
Jesus estava na última ceia dizendo aos discípulos que poderiam olhar para o
corpo e o sangue de Cristo representados na ceia e não lembrarem dos momentos
horríveis da cruz, mas sim daquele momento em especial, com todos ao redor da
mesa, dando novo significado ao dia que deveria ser o dia de tristeza. Ao ponto de Jesus dizer que não faria isso
até que se cumpra no reino dos céus, ou seja as bodas do cordeiro. Jesus
eterniza momentos simples, transforma o dia da tristeza das despedidas no dia
da celebração mensal do cristianismo mais evidente. Transformar o passado é
possível, perdoe quem te magoou e o fantasma daquela pessoa não dormirá mais no
seu quarto e não permeará mais sua mente. Desapegue-se do remorso e viva o
hoje! O que passou, passou! Não viva de saudosismos, mas transforme esse
momento atual, simples, no momento mais marcante da sua vida.
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