sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Areia no templo - João 8 - Sermão Entregue a Ad Brás Sto Eduardo - Culto de Ceia

 

Areia no templo – João 8

 

Jesus estava iniciando um período de oposição ferrenha ao seu ministério.

Após diversas aparições públicas e manifestações claras, a respeito de Jesus restou apenas a opção de admitir que de fato ele é o filho de Deus ou rechaçá-lo como um enganador.

Os milagres se constituíam a introdução para falar de coisas mais complexas sobre seu ministério e sua natureza.

Após um embate considerável a respeito da multiplicação dos pães e peixes, Jesus vai a festa dos tabernáculos. Considerando o risco que o cercava, Jesus fala aos discípulos que subam antes dele, dando a entender inclusive a possibilidade de não ir.

Um alvoroço na festa se forma em torno da expectativa de sua aparição, as pessoas discutiam entre si, se ele era de fato um profeta, ou um enganador.

 

A festa durava sete dias, era a celebração de Sucote. Chamada festa dos tabernáculos.

·       No meio da festa Jesus sobe ao templo e passa a ensinar – João 7.14

·       Jesus causa um profundo alvoroço mais uma vez, com uma série de falas veladas, os judeus procuravam prender Jesus, mas não era chegada a sua hora – João 7.30,32

Após algumas outras falas veladas, no último dia, Jesus finalmente faz sua principal afirmação:

E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba.
Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.
João 7:37,38

 

Aqueles que desejavam prendê-lo, voltam frustrados, pois, após essas afirmações, um certo magnetismo toma conta de todos.

Estão unânimes com o discurso:

Responderam os servidores: Nunca homem algum falou assim como este homem.
João 7:46

Após uma breve tentativa de defesa sem sucesso de Nicodemos, os principais dos fariseus argumentam que nenhum deles havia crido, tampouco poderia um profeta vir da Galiléia.

Após isso todos vão para sua casa.

 

A noite anterior ao segundo embate

 

Aquele era mais um round dos embates públicos de Jesus, mais uma vez ele sobressai, mas como era de se esperar, após diversas tentativas no capítulo 7, os fariseus não iriam se conformar em ter de admitir a messianidade de Jesus, ou mesmo que parte da multidão reconhecesse.

 

Os versículos 30 e 44 mencionam que por duas vezes durante a festa intentaram prender Jesus, não iriam desistir agora.

 

A trama dos fariseus

Os fariseus sabiam que Jesus provavelmente apareceria no dia seguinte no templo, uma vez que o dia seguinte a festa, era considerado sábado. Logo, seria uma ocasião propícia para vê-lo ensinando mais uma vez em público.

Ao fazer as afirmações que fez dentro do templo, Jesus de certa forma causou uma reação de provocação por parte dos fariseus, a reação deles foi bolar um plano de ação em que Jesus não teria alternativa.

 

A proposta era fazer uma pergunta impossível de responder, pois, tomando qualquer lado, Jesus seria desmoralizado.

É pensando nisso que durante a noite, apanham uma mulher num ato de adultério, prendem-na, planejando desmoralizá-lo em público.

Jesus está ciente que não vai ser poupado pelos fariseus naquele momento, Jesus sabe que queriam prendê-lo, mas ao mesmo tempo está ciente que se for preso, a sua popularidade vai aumentar consideravelmente.

Jesus naquele dia entrou no templo, sabendo que a qualquer momento seus opositores apareceriam, com alguma arapuca e tentativa de desmoralizá-lo.

Não obstante a tudo, Jesus faz o que deseja:

E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava.
João 8:2

Jesus confirma sua posição de mestre ao se assentar para ensinar, as multidões talvez ainda movidas pela palavra do dia anterior, foram até lá para ouvi-lo.

Quando a multidão está ouvindo Jesus, ele é finalmente interrompido com os principais dos fariseus que lhe trazem a mulher apanhada em adultério:

E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;
E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.
E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
João 8:3-5

 

 

 

 

Façamos algumas considerações sobre a lei do adultério:

Primeiramente, não havendo flagrante, a lei já era muito dura com as mulheres, Números 5 fala sobre a lei dos ciúmes.

Havendo suspeita por parte do marido, a mulher era levada diante do sacerdote, uma oferta de farinha era posta em suas mãos, ao mesmo tempo o sacerdote a levava diante do Senhor, separava uma água sagrada, tomava parte do pó do tabernáculo e mandava a mulher beber.

Se ela de fato tivesse cometido o adultério, as consequências viriam em seguida:
E, havendo-lhe dado a beber aquela água, será que, se ela se tiver contaminado, e contra seu marido tiver transgredido, a água amaldiçoante entrará nela para amargura, e o seu ventre se inchará, e consumirá a sua coxa; e aquela mulher será por maldição no meio do seu povo.
Números 5:27

 

A situação presente, trata-se de um ato flagrante de adultério, havendo a lei discorrido sobre este pecado algumas vezes:

“Não adulterarás (Êxodo 20.14)”

A sanção estava em Levítico:

Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera.
Levítico 20:10

 

 

 

 

 

Vamos considerar alguns pontos:
Os fariseus queriam encurralar Jesus pela lei, mas eles próprios haviam cometido alguns deslizes:


1º - Como encontraram uma mulher em adultério? Em que ambiente isso se deu? No mínimo suspeito.

2º - No dia anterior havia amaldiçoado o povo, o que também era uma transgressão.

3º - Onde estava o homem que cometeu o ato com ela? Como poderiam ter sido clementes com ele e tão severos com ela?

4º - Ao proceder deste modo eles estão mostrando que sua preocupação não é a lei, mas sim a desonra de Jesus.

 

Kenneth Bailey observa que Herodes havia construído neste templo uma grande área com diversas passagens, chamada de claustro. Neste local, uma espécie de cobertura, nos dias de festa, uma grande quantidade de soldados se concentrava a fim de evitar motins, revoltas e afins.

Todos os atos realizados naquele dia estavam sob constante olhar da guarda romana.

 

Então consideremos a cena:

·       A multidão ainda em dúvida

·       Fariseus armando uma emboscada para Jesus

·       Soldados atentos a possibilidade de um apedrejamento

·       A mulher no meio sendo usada apenas como um objeto para desonra de Jesus.

Ao pedir uma resposta a Jesus eles pensam haver apenas duas vias possíveis:

“Tu, pois, que dizes?
João 8:5

 

A primeira é que Jesus ordenasse – “Sigamos a lei, vamos apedrejá-la”

Ao fazê-lo, automaticamente, Jesus seria preso. Uma vez que o império não liberou o apedrejamento, os judeus poderiam legislar por questões religiosas, mas não civis como era o caso, especialmente no que diz respeito a morte.

A segunda seria o caminho da relativação baseada no contexto daquele tempo.

Jesus poderia dizer que o certo era cumprir a lei, mas dado o contexto, o risco, era impossível levar adiante essa fala. De modo que ele faria assim a opressão romana pesar mais que a lei, causando desmoralização geral contra ele.

 

Na prática estão pressionando Jesus a tomar uma posição que demonstre seu conceito de justiça, como ele pensaria a este respeito?

As atitudes de Jesus:

 

Jesus até aqui está passivo, olhando, esperando o desenrolar das cenas, é então que uma atitude é exigida dele.

Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
João 8:6

Percebamos que o embate se dá em torno do que a lei diz, ou seja, se ele mata, segue a lei judaica mas fere a romana, se absorve, fere a lei judaica e honra a romana.

Lei ou Roma? Qual seria a escolha?

Sabendo que o dia posterior a festa era um sábado, Jesus tem seu primeiro ato:

 

 

 

 

1º - Escrever na areia – Jesus conhece a lei.

Se ele escreve em papel, lavra em pedras, se ele registra suas palavras com penas, certamente estaria violando o sábado.

Mas veja, Jesus faz questão de escrever num ambiente de poeira, logo as suas palavras seriam levadas pelo vento, o que ele está mostrando por este ato é que se o assunto que desejam discutir e encurralar é a lei, ele entende perfeitamente deste assunto.

Esta primeira atitude de Jesus gera uma profunda curiosidade.

O que Jesus estaria escrevendo no chão?

 

2º - Jesus lhes denuncia sem palavras ao escrever

Todo judeu que observava a lei, sabia que o toque contaminava.

Seja o toque em leprosos, seja o toque em mulheres no período de separação, ou tantos outros atos, tudo isso tornaria o judeu cerimonialmente impuro.

Em dias de festa, como eram esses de Sucote, a cidade estava lotada, as pessoas se esbarravam umas nas outras e naturalmente se tornavam cerimonialmente impuras.

Era necessário portanto uma purificação ritual para entrar no templo.

Essa purificação se dava por meio de um ato chamado Miqveh, que é uma espécie de banho.

Nos dias de Jesus, era necessário realizar o Miqveh para adentrar o templo, a fim, de adorar a Deus cerimonialmente limpo.

A cultura judaica é repleta de questões de higiene, uma vez que estavam em uma região desértica, era necessário limpar-se quando se chegava também em uma casa, um casamento, não seria diferente no templo.

As pessoas desciam as escadas, lavavam o corpo e especialmente os pés e entravam no templo.

Considerando a necessidade de purificação, mais uma violação foi feita pelos acusadores. Eles se apressaram tanto para acusar, que esqueceram de se purificar.

Levando em seus pés areia para dentro do templo.

Jesus observa isso, sabe que estão totalmente errados ao fazê-lo, então ao escrever no chão, a primeira mensagem é de conhecimento.

A segunda é uma denúncia, sem palavras Jesus mostra:

“Vocês são tão apressados para acusar, que esqueceram de limpar os pés, veja a areia que está aqui dentro do templo”.

Os acusadores são sempre apressados para fazer isso, mas eles esquecem de limpar os próprios pés.

— Por que você vê o cisco no olho do seu irmão, mas não repara na trave que está no seu próprio?
Ou como você dirá a seu irmão: "Deixe que eu tire o cisco do seu olho", quando você tem uma trave no seu próprio?
Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu olho e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.
Mateus 7:3-5

 

Infelizmente esses acusadores ainda estão conosco.

Mas Jesus sabe de onde vem a areia dos pés de cada um deles.

 

3º - Jesus sabe de onde vem a areia dos nossos pés.

Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus faz questão de passar por todos.

Pedro pisou no terreno da negação.

Judas o terreno da traição.

João está tranquilo na mesa por ser amado de Jesus.


Ainda assim Jesus lava todos os pés, sabe de onde vem a areia de todos eles.

Todos os terrenos que andamos nos últimos dias estão sob o olhar atento de Jesus.

 

4º - Jesus sabendo de onde vem a areia dos pés de cada um, lhes chamou para um confronto individual.

Os acusadores sempre agem em multidões, mas Jesus não trata multidões, Jesus trata de seres individuais.

Nós como igreja temos o hábito de aparentemente falarmos por muitos, quando na verdade a questão é nossa.

Falas do tipo: Estão dizendo, estão falando, estão declarando, quando na verdade Jesus não nos trata na coletividade, ele nos destaca.

E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
João 8:7

 

Toda a situação estava contra Jesus, mas ele inverte a questão, quando pede que algum deles inicie a execução.

Sabendo os terrenos por onde andaram, como poderiam pegar em pedras para matar a mulher?

·       A multidão não tem rosto

·       A multidão não tem personalidade

·       Logo a multidão não tem culpa

 

“Quando porém, Jesus diz: “Quem dentre vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”, ele põe nome e rosto em cada pessoa da multidão.”

Kenneth Bailey

 

 

 

5º - Jesus inverte o jogo, na medida em que força alguém a começar

 

A pergunta – Lei ou Roma? Foi invertida aos acusadores.

“Quem estiver sem pecado seja o primeiro a lançar”

Ao fazê-lo Jesus está de certa forma desafiando que alguém inicie o ato, porém se alguém num ato hipócrita iniciasse o apedrejamento, a pergunta dos soldados que estavam a volta seria:
“Quem começou tudo isso?”


O que se diz sem pecado seria o primeiro preso.

 

No que diz respeito a fé, Jesus também faz um confronto, que é o de mostrar quem deles teria coragem de mentir, dizendo não possuir pecados; ela seria envergonhada por infringir a lei que dizia que todos pecaram.

 

Jesus inverte a questão: Se alguém apedrejasse seria preso com ele, se alguém apedrejasse seria acusado de ser um hipócrita.

Ninguém poderia se habilitar para isso.

 

6º - Jesus mostra neste sentido sua nobreza e modo de operar justiça:

“E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
Quando ouviram isto, redargüidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.
João 8:8,9

 

Jesus volta a se abaixar, provavelmente para não humilhar a todos com seus olhares.

Os mais velhos são procurados como referência neste ato, logo, eles deixam as pedras, vão indo embora por possuir uma carga maior de pecado e bagagens, nesta ordem todos se vão.

Eles queriam humilhar Jesus, mas Jesus não os humilha.

Jesus é nobre.

 

 

 

 

 

 

7º - Jesus tira a ida da mulher e leva sobre ele (Alusão a cruz)

E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
João 8:10

 

A ira dos fariseus é transferida para Jesus, é a ele que vão procurar, ela está livre, ela não será apedrejada mais.

Essa é a obra redentora, a obra que aplaca a ira, que traz sobre si o peso, que substitui.

Jesus sabe que a mulher pecou, mas isso não muda sua disposição de auto sacrifício.

 

8º A história aparentemente sem fim, nos faz pensar no que fazer com o perdão recebido:

E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.
João 8:11
A  justiça de Jesus é cheia de graça, mas uma graça que nos santifica.

O desafio da nuvem de Testemunhas - Hebreus 12

Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados,
E fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado.

Hebreus 12:12,13

 

A carta aos Hebreus foi escrita no ano de 65 D.C. uma geração inteira de cristãos já havia passado, os impactos iniciais dos primeiros dias de expansão da igreja já haviam diminuído consideravelmente.
Havia um certo sentimento de transição para os dias posteriores, a primeira geração de crentes estava morrendo e viria em seguida, uma nova geração que não tinha visto Jesus, não tinha visto os milagres que ele fez, nem mesmo os grandes movimentos da igreja primitiva.

Neste tempo, havia na igreja uma série de grupos de pessoas que serviam ao Senhor.

O Judaísmo ainda era muito forte.

O Cristianismo teve sua expansão entre os gentios, por meio do ministério do apóstolo Paulo.

Porém uma terceira vertente tornava-se crescente entre os que se diziam povo de Deus, estes eram os prosélitos cristãos, advindos da religião judaica.

Estes iam se entregando a Jesus e na medida que se entregavam, abraçavam junto a nova fé, todas as dificuldades que a cercavam, de modo que ao abandonar a fé judaica estavam abraçando um grande desafio que era manter sua convicção cristã em meios às inúmeras perseguições que se desenrolavam neste tempo.

Ser cristão neste tempo era arcar com o custo de ser alguém perseguido, hostilizado e ter o risco de perder tudo o que se tinha.

Havia de certa forma um cunho revolucionário na fé Cristã, que sob inúmeras acusações ganhava o rótulo de uma religião de rebeldes.

Também havia o rótulo de que a religião cristã onde entrava, esvaziava a cultura local, a fim de que fossem abraçados novos costumes, o que não tinha tanto fundamento, mas se perpetuava por interesses diversos.

Aliado a isso, os crentes tinham por hábito não prestar cultos aos imperadores e sendo assim, unidos a religião exercida muitas vezes de forma privada, os imperadores temiam que eles organizassem motins.

A perseguição aos crentes passou a tomar proporções maiores no decorrer dos dias, os crentes nestes dias tinham seus bens saqueados, perdiam suas posses e morriam de forma muito hostil.

O Coliseu romano a princípio foi criado como uma casa de espetáculos, um estádio formatado para o lazar do povo romano em seus dias, porém quando a perseguição a fé cristã se intensificou, os cristãos eram levados a este lugar para se tornarem o espetáculo através de sua morte.

A.J O`Really relata que todo cidadão comum, tinha o hábito de aos fins de semana divertir-se com sua família vendo a morte de Cristãos pelos mais diversos métodos:

-Gladiadores que assassinavam a fio de espada

-Feras que tragavam dada a violência

-Os cristãos tinham pedaços de carne amarrados ao corpo, leões famintos eram mantidos em cativeiro a fim de que ao serem soltos, na fome que tinham tragassem os crentes em poucos minutos.

Dessa forma várias e várias vezes os crentes se viram sob a impossibilidade de terem posses, correndo risco de vida, desamparando a família em nome da fé, e tentados a deixar sua fé pelas dificuldades.

No que diz respeito aos judeus convertidos, se eles se mantivessem na fé judaica, essa dificuldade não existiria, uma vez que a religião judaica era considerada ordeira e obtivera favor imperial, as coisas tinham a tendência de se tornarem menos complexas para eles.

Então os judeus cristãos tinham a crescente tentação de não precisar passar por nada disso, eles poderiam viver uma vida tranquila, caso regressassem para a antiga confissão de fé.

Não seria uma falta de fé, seria uma fé mais simples, mais fácil, mas sem a glória de ter a pessoa de Cristo consigo.

Eles haviam avançado de forma que era impossível retroceder agora, eles conheceram a verdade, eles conheceram a Cristo, por um lado estava o encanto da pessoa gloriosa de Jesus, do outro estava a proposta de uma vida mais fácil sem ele.

Muitos estavam querendo recuar nestes dias, é considerando isto, que esta carta foi escrita.

Os destinatários são os judeus cristãos que dada a intensa pressão, estavam extremamente tentados a regressar.

A palavra-chave da carta aos hebreus é “Melhor”.

O escritor está desejoso de encorajar os novos cristãos advindos da fé judaica a manter sua fé, por considerar que os elementos fundantes da fé antes professada são apenas “sombras”, ou “tipos” do “antítipo” que é Jesus.

 

A estrutura da carta então se dá dessa forma:
-Jesus é superior aos profetas

-Jesus é superior aos anjos

-Jesus é superior a Moisés

-Jesus é superior a Arão

-Jesus é sacerdote de uma ordem superior

-Jesus fez uma aliança superior

-Jesus tem um santuário superior

-Jesus tem um sacrifício superior

 

Tendo elencado estes sete pontos nos quais Jesus é superior, o escritor sabendo das muitas tensões que cercavam os judeus cristãos do seu tempo, inicia um sermão escrito, sob tema: Perseverança.

 

“Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições.
Em parte fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribulações, e em parte fostes participantes com os que assim foram tratados.
Porque também vos compadecestes das minhas prisões, e com alegria permitistes o roubo dos vossos bens, sabendo que em vós mesmos tendes nos céus uma possessão melhor e permanente.
Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão.
Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.
Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará.
Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele.
Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma.
Hebreus 10:32-39

 

·       Ao iniciar seu sermão, o escritor fala exatamente do que as pessoas tiveram de sacrificar ao vir para a fé:
Grande combate de aflições

·       Foram feitos de espetáculo com humilhações e tribulações

·       Prisões

·       Saque dos bens

 

Considerando essas dores, o escritor dá seus primeiros conselhos:

1º - Eles deveriam olhar para frente, há um galardão – V. 35

2º - Eles precisariam de perseverança para fazer a vontade de Deus – V.36

3º - O olhar para frente os levaria a um sentido escatológico que traria alívio – V.37

 

É considerando os riscos de retorno, que o autor faz uma solene afirmação:

“Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele.
Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma.
Hebreus 10:38,39

 

O justo viverá pela fé, esta afirmação fazia alusão a profecia de Habacuque e a citação direta em Romanos.

O justo não vive fundamentado em coisas daqui – 2º Cor. 5.18

Ao ingressar para o evangelho, deixamos de ter a opção de olhar para trás, de modo que somos exortados de forma muito clara a respeito disso.

·       Aquele que lança a mão no arado e olha para trás não é digno de mim – Lc 9.62

·       2º Pedro 2 fala que seria melhor ao crente, nunca ter sido antes, do que tendo sido, optar por recuar.

·       O texto presente fala agora sobre um ato que tira o prazer de Deus em alguém, este ato é de recuar.

Neste sentido fomos convocados para um caminho sem volta, um caminho que exige tudo de nós, um caminho que nos custará tudo talvez e que sobretudo não nos permite voltar atrás. Voltar atrás é ficar pior que no início, neste sentido o autor está nos proibindo de recuar, nos proibindo de apostatar, a caminhada do crente é sempre avante.

Você está proibido de desistir.

De certa forma, o escritor parece num ato de fé dizer: Vocês não são dessa categoria.

 

A esta altura, precisamos elencar qual seria a fórmula para perseverar?

Hebreus 11 apresenta:

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.
Porque por ela os antigos alcançaram testemunho.
Hebreus 11:1,2

 

A fé é um fundamento sólido do que ainda não chegou.

Pela fé, coisas que ainda não chegaram são dadas como certeza.

Pela fé, coisas invisíveis são tratadas como palpáveis, com certeza de quem viu.

Foi pela fé que os antigos conseguiram tantas e tantas coisas.

Vejamos os frutos da fé

 

·       A fé me faz compreender a razão das coisas – V.3

·       A fé me dá condições de adorar – V.4

·       A fé nos leva aos céus – V.5

·       A fé nos faz agradar a Deus e sem ela é impossível agradá-lo – V.6

·       Pela fé Noé fez a arca sem ver chuva (A fé livra)– V.7

·       Pela fé Abraão saiu da terra (A fé direciona) – V.8-10

·       Pela fé Sara engravidou com 90 anos (A fé renova forças) V.11-12

·       Pela fé vislumbraram a terra prometida e deixaram tudo (A fé dá capacidade de renunciar) – V. 13-16

·       Pela fé Abraão ia sacrificar Isaque (Idem ao anterior) – V.17-19

·       Pela Fé Isaque abençoou seus filhos e Jacó fez o mesmo (A fé vai além da vida) – 20-21

·       Pela Fé José deu ordem a respeito de seus ossos (Idem ao anterior) – V.22

·       A vida de Moisés foi fundamentada na fé - V. 23-29

·       Pela fé derrubaram muralhas -V. 30

·       Pela fé uma prostituta foi perdoada – V.31

·       Outros exemplos – V. 32-40

 

 

 

 

 

“E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas,
Os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões,
Apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos.
As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição;
E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões.
Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados
(Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra.
E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa,
Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados.
Hebreus 11:32-40

 

Ao olhar para todos esses exemplos, o autor nos convida a pensar que eles estão para nós como uma grande nuvem de testemunhas.

Essa nuvem de testemunhas não é o mundo ao nosso redor, mas esses mártires.

A figura aqui é de uma corrida, estamos de fato em uma carreira segundo Paulo:

·       Paulo fala da corrida por uma coroa incorruptível

·       Vocês não sabem que, de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre - 1 Coríntios 9:24-25”

·       O mesmo Paulo fala da necessidade de livrar-se do que fica para trás e prosseguir na corrida – Fp. 3.13-14

·       Paulo se preocupava em completar a corrida – Atos 20.24

·       Paulo fala de completar a corrida -2º Tim 4.7

 

 

 

 

Essa é a corrida da fé, temos obstáculos, cansaço, desânimo, mas os mártires tem alguns desafios para nós:


1º-Ainda há vagas nos classificados dos heróis de Deus

Somos chamados a correr, a batalhar também, a entrar na causa de Cristo custe o que custar.

O convite da nuvem de testemunhas para nós é: Corra!

Fizemos isso e vocês?

Nós estamos escrevendo a história neste tempo, somos parte da nuvem de testemunhas.

Deus está nos chamando neste tempo para também escrever a história, ser parte da história da igreja.

Essas vagas são apenas para quem corre junto, para quem não desistiu.

Há um lugar para nós, este lugar é o lugar de quem ficou.

 

 

2º - A nuvem de testemunhas é um exemplo e um incentivo.

Se Moisés foi capaz de renunciar tudo, nós também pela fé podemos.

Se Abraão deu passos sem saber para onde ia, nós também podemos.

A nuvem de testemunhas está numa espécie de torcida por nós dizendo: não pare!

Não devemos pensar na nuvem de testemunhas como que espectadores, ou juízes, eles estão para nos incentivar.

Ao olhar para eles muitas mensagens nos são ditas.

-A figura da tocha

 

Quando pensamos em parar, devemos olhar para a nuvem de testemunhas e vendo seus exemplos prosseguir!

 

 

 

 

3º Nessa corrida há coisas que temos de deixar:
Embaraços não são pecados, mas são coisas que nos atrapalham, nos impedem de correr como deveria.

 

São pesos diversos da vida – Devemos deixá-los para correr com a ousadia necessária.

-Exemplo do saco de arroz

 

Pecados neste sentido, impedem de correr, estão sempre a espreita, para nos tirar da corrida. São obstáculos.

         

 

4º - A proposta é correr com paciência.

Correr com paciência implica correr sem vontade, correr as vezes cansado, correr mesmo em dias ruins, correr nas horas que se deseja parar.

A caminhada do crente nem sempre é como uma marcha, mas é um manquejar vitorioso.

“Dá força ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor.
Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os moços certamente cairão;
Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão.
Isaías 40:29-31

 

“Se você não puder voar, corra. Se você não puder correr, ande. Se você não puder andar, rasteje. Mas continue em frente de qualquer jeito.

Martin Luther King Jr.”

 

 

 

 

 

 

4º - Jesus está na linha de chegada:
“Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.
Hebreus 12:2,3

 

Conta-se que a corrida da são Silvestre é divida em dois momentos, antes da subida da Brigadeiro e depois.

Esta subida separa homens de meninos.

Nesta hora as pessoas se concentram apenas na chegada, pois, se cansam, esmorecem, mas nessa nossa corrida, Jesus está nos esperando na linha de chegada, ele é nosso exemplo supremo.

 

5º O escritor olhando para o conforto de alguns em relação aos heróis diz: Vocês passaram pouca coisa!

Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.
E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido;
Porque o Senhor corrige o que ama,E açoita a qualquer que recebe por filho.
Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?
Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.
Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?
Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.
E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.
Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados,

Hebreus 12:4-12

 

 

A ordem deste texto em muito se assemelha a resposta de Deus ao cansaço de Jeremias:

“Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os cavalos? Se tão-somente numa terra de paz estás confiado, como farás na enchente do Jordão? - Jeremias 12:5

 

A ideia aqui é de um pugilista, um lutador, eles ainda não tinham lutado até sangrar como as gerações passadas.

Logo as gerações que lutaram até o sangue, sendo cerrados, decapitados, humilhados, lutaram até o sangue, nós ainda não chegamos neste nível.

De modo que a nós cabe a pergunta: Parar por quê?

 

Por conta de finanças – é pouco

Por conta de relacionamentos – é pouco

Por conta de intrigas na igreja – é pouco


Diante destes exemplos estamos sem argumento.

 

6º - A fé é uma capacidade de resistir, não só de conquistar.

Fp 4, 2º Cor 4.6

 

7º - Cansaço e pavor são companheiros de caminhada, mas Jesus está nos chamando a levantar as mãos antes cansadas,  a endireitar os joelhos que estão apavorados e trôpegos. 

Levante-se Dorcas - Sermão Entregue a Ad Brás Jd Marina

 

E havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que fazia.
E aconteceu naqueles dias que, enfermando ela, morreu; e, tendo-a lavado, a depositaram num quarto alto.
E, como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles.
E, levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas fizera quando estava com elas.
Mas Pedro, fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, assentou-se.
E ele, dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva.
E foi isto notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor.
Atos 9:36-42

 

O livro de Atos tem o protagonismo divido entre Pedro e Paulo.

 Os capítulos 2 a 5 tem o protagonismo de Pedro, um hiato entre os capítulos 6 e 9.35 apresentam outros personagens proeminentes, até que a história retorna para o apóstolo.

Após a morte de Estevão uma grande dispersão foi desencadeada, essa perseguição espalhou consideravelmente todos os discípulos de Jesus, de modo que a evangelização que estava restrita a Jerusalém agora se espalhava por várias cidades. Atingindo os termos de Samaria e outros lugares.

Pedro, que era considerado um dos “colunas” da igreja fez um trabalho de supervisão pelas muitas cidades percorridas, até que chegou a Lida. Em Lida ele é usado por Deus para operar a cura de Enéias. Em cada cidade eram nomeadas pessoas que eram responsáveis pelo trabalho missionário, o livro de Atos abriu precedentes inimagináveis em seu tempo.

Possivelmente em uma cidade vizinha, Jope, uma mulher chamada Dorcas torna-se responsável pela pregação do evangelho. 

Esta mulher tem características muito peculiares:

1° - Seu nome
Dorcas – Gazela

As Gazelas exerciam um certo fascínio nas pessoas nos tempos bíblicos, visto que era um símbolo de graciosidade, beleza e habilidade.

Dorcas fez jus ao seu nome em virtude das suas características, ela não apenas carregou a graciosidade no nome, mas na vida.

As Gazelas são animais que tem muita habilidade, de modo que seus saltos transcendem a própria altura, desta forma ela avisa as demais a respeito dos perigos iminentes.

Seu modo de correr em zig zag despista e dribla muitas vezes seus predadores que podem ser mais rápidos.

As Gazelas eram rápidas tanto para ajudar como para se desviar dos predadores, de sorte que a Gazela é o segundo animal mais rápido da selva, atingindo 100 KM por hora, perdendo apenas para o guepardo que atinge até 130 KM.
Dorcas também era rápida em ajudar, em se disponibilizar.

A Gazela também tinha a profunda capacidade de se solidarizar, para isso realizava seus saltos em campos abertos para avisar as demais do perigo. Assim era Dorcas, uma mulher voltada para os outros.

 

2º trabalho Missionário de Dorcas

Em seus dias, Jope era uma terra repleta de viúvas, a atividade da pesca em uma cidade portuária tal como essa, era muito comum. A atividade pesqueira era igualmente arriscada em virtude dos acidentes que ocorriam.

Além disso, havia mulheres que em cidades portuárias, sem assistência, acabavam se prostituindo.

Dorcas estava em uma outra situação, ela a Gazela, com graciosidade, habilidade e rapidez, move-se em direção a todos que não tinham assistência, ou seja, as viúvas e as mulheres em geral.

Por isso o texto a apresenta como uma mulher cheia de Boas Obras.

As boas obras neste contexto dizem respeito a atividade pensada, projetada, Dorcas era uma mulher com planos para dar assistência as mulheres de seu tempo.

John Stott comenta que Dorcas desenvolvia peças para as mulheres de seu tempo, tanto roupas externas como peças internas, sua assistência se deu em linhas gerais.

Dorcas se preocupa com a honra das mulheres que a rodeava, ela transcende o ser cheia de qualquer característica fútil, para se tornar uma mulher cheia de boas obras.

Não bastasse ser cheia de boas obras, Dorcas é uma mulher cheia de esmolas.

A esmola diz respeito a necessidades repentinas, necessidades que urgem de imediato e exigem de nós dar “de nós”, não só do que temos. É a necessidade de uma peça em uso, de um livro, uma blusa, um valor, um alimento. A esmola é a necessidade urgente que se dá repentinamente e não permite planejamentos. Dorcas era desapegada a todas as coisas que poderiam lhe prender.


Dorcas aprendeu a usar seu trabalho como instrumento para glória de Deus, o costurar transcendia a realidade de apenas ter renda, para ela, costurar era evangelizar.

 

O trabalho como instrumento de evangelismo

Nós temos um conceito dualista, entendemos que há universos paralelos em que um senhor governa e que o SENHOR governa, de forma que não atentamos muito para as responsabilidades com os senhores terrenos. Cremos que mundo espiritual e geral tem senhores paralelos mas isso não é verdade, Jesus é Senhor de tudo. Paulo falando aos Efésios disse que devemos ser submissos aos nossos patrões sabendo que estamos trabalhando para Deus e não para eles. Quando meu serviço é bem feito, quando alguém nota algo no meu jeito de trabalhar, Deus que é exaltado. Dorcas aprendeu a glorificar a Deus com seu trabalho, que agora era um meio de servir o próximo.

 

Dorcas exercia profunda influência em seu tempo, mas um dia adoeceu, tendo adoecido, piorou até morrer.

Sepultamento judaico

Quando ela, uma serva do Senhor falece, todos se mobilizam, uma comitiva é enviada até onde Pedro estava. De Lida a Jope a distância era de 15 a 20 Km.

Neste interim era dado o devido tratamento ao corpo dela, o judeu falecido, não tinha seu velório preparado tal como um brasileiro ou ocidental.
Inicialmente era derramada água sobre seu corpo, mas nos membros e especialmente a cabeça sempre era jogada água morna. Essa água em temperatura morna visava uma possível volta aos sentidos, em caso de um coma mal interpretado como morte.

Especiarias eram postas sobre o corpo durante até sete dias, antes que houvesse o sepultamento definitivo. Um exemplo é o de Jesus, tendo sido morto em uma sexta-feira, nos dias seguintes.

Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o sepulcro. João 19:40

As especiarias eram mirras e aloés, Jesus foi ungido duas vezes.
Na mente dos judeus havia sempre a expectativa em torno de uma possível ressurreição.

 

 

O natural seria esperar os dias devidos para o sepultamento definitivo, mas no caso de Dorcas foi diferente. Talvez alguém movido por um sentimento de saudades, uma gratidão, um inconformismo, uma inquietação que é advinda de um mover de Deus, decide em seu coração que não deveriam sepultá-la sem esgotar as alternativas.

 

1º - O Deus que designa valida (A necessidade inédita)

É então que reunidos os discípulos designam dois porta-vozes com uma mensagem para Pedro:

E, como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles.
Atos 9:38

Me pego pensando no nível de espanto com o qual Pedro recebeu esta convocação.

·       Não era uma cura simples, não era uma cura de uma enfermidade grave, todas essas coisas o próprio Pedro já havia visto de perto. Talvez Pedro fez perguntas que todos faríamos:

Vocês já a lavaram?

·       A água foi posta na cabeça e nos pulsos?

·       Há quanto tempo está constatada a morte?

·       Onde a puseram?

 

Ela já estava lavada, a água já havia sido posta e ainda assim o corpo estava inerte, a morte já estava constatada, mas a colocaram num quarto alto, contrário ao que se fazia naturalmente.

Pedro recebe diante de si um desafio, um chamado a um milagre inédito, uma luta maior que sua capacidade de administrar.

 

É um espanto semelhante ao de Eliseu quando chamado ao quarto do menino morto.

É o espanto que toma Paulo quando Êutico cai.

É aquele momento exato em que toda a expectativa está sobre você, sobre o Deus que está sobre você.

Nunca antes, desde a ressurreição de Jesus havia acontecido uma ressurreição, mas Pedro sabia que este era o seu momento. Essa não era uma categoria de coisas que Jesus designou que seria feita com naturalidade, Jesus prometeu que expulsaríamos demônios, curaríamos enfermos, falaríamos novas línguas, receberíamos livramentos, mas não há menção de “em meu nome ressuscitarão mortos”.

Porém na mente de Pedro há um sentimento: Se a responsabilidade veio até a mim, é porque o mesmo Deus que me deu a responsabilidade me dará a capacidade para realizar.

 

Por maior que Seja o desafio, a demanda, a responsabilidade, por mais inédita, por mais ousada; nunca algo vem a nossas mãos para ser resolvido que Deus não tenha dado a capacidade de resolver.

 

2º - Precisamos ter uma vida que fale por nós, mesmo deitados

E, levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas fizera quando estava com elas.
Atos 9:39

 

Dorcas é uma mulher que tem uma vida que fala mesmo depois de morta, ela não precisa de pedir intercessões, pois, os seus frutos vão adiante, os testemunhos, o bem realizado.

Dorcas é a demonstração de que há um memorial diante de Deus, de modo que quando não pudermos nos levantar para interceder, para orar, pessoas se levantarão por nós.

Nós também precisamos ser tal qual aquelas mulheres, ter a dignidade de honrar quem um dia nos cobriu. Ter a dignidade de reconhecer o benefício daqueles que um dia fizeram algo por nós.

 

Mas Pedro, fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, assentou-se.
Atos 9:40

 

A cena por si só é intimidadora, o clamor já não é só dos discípulos, é também de pessoas que queriam a missionária Dorcas de volta.

 

 

 

 

Mas algumas lições podem ser extraídas:

3º - há dimensões de milagres que dependem de certa exclusividade.

Quando Jesus foi a casa de Jairo, havia carpideiras, pessoas contemplando, Jesus retira todos e apenas Pedro, Tiago e João viram.

Às vezes é necessário tirar pessoas do caminho, para que milagres aconteçam, devemos entrar em certas dimensões de intimidade que não podem ter muitas testemunhas.

 

Pedro imita os passos de Jesus na ressurreição da filha de Jairo

Retira as pessoas

“Menina levanta-se”

 

4º - Pedro não tinha consolações a dar, tinha respostas definitivas

5º - Existem membros que de tão prejudiciais são recolhidos, mas existem outros que são tão necessários que Deus preserva.

 

E ele, dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva.
Atos 9:41

 

Pedro se constituiu um portador de boas novas, ele recusou-se a sair do quarto com consolos, ele trouxe respostas.