¹ O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.
² Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
³ Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu
nome.
⁴ Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal
algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
⁵ Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a
minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
⁶ Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da
minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias.
Salmos 23:1-6
Conta-se que um certo orador esteve em uma cidade, ele recitava como
ninguém qualquer texto e sua capacidade de oratória era tal que as pessoas o
ouviam por horas sem hesitar, sem cochilar, recitando letras de músicas, textos
famosos, inclusive textos bíblicos.
No último dia de suas apresentações, aquele determinado orador soube que
um velho pastor de igreja da cidade estaria lá, mandou reservar um lugar para
ele, no meio de sua apresentação ele propôs ao povo um desafio, de ele
primeiro citar o Salmo 23 na sua voz, a multidão empolgada lhe ouviu.
O pastor falaria em seguida, sob toda a pressão e sem o glamour do orador.
Terminada a fala do orador todos estavam extasiados, o pastor sob toda a
pressão então toma a palavra.
O pastor trêmulo fecha os olhos e cita o salmo, da forma que sabia, sem
pausas dramáticas, mas com a força de quem conhece o sumo pastor e tendo
terminado, todos estão chorando, impactados. Ao que o orador toma a palavra
e diz:
“A diferença fundamental entre mim e esse pastor, é que conheço o Salmo do
pastor decor e salteado, mas ele conhece o pastor do Salmo”.
O salmo 23 é um texto que decoramos, que recitamos, que fez parte das
chamadas de EBD, o Salmo que mesmo os não crentes conhecem, que virou
quadro nas casas, que virou texto de pano de prato.
Ao gastarmos muito uma determinada palavra temos a tendência de esvaziar
seu significado, dando a ele pouca ênfase ou estando muito aquém do que
essa palavra de fato quer dizer.
Ao decorarmos o salmo, a tendência natural é que deixemos de nos apropriar
do que ele quer de fato dizer e não consideremos mais essa palavra em
primeira pessoa, como foi para Davi.
Hoje meu desafio é que com toda a simplicidade que este Salmo tem,
possamos nos apropriar não mais do texto decorado, mas do Senhor do
Salmo, não mais da palavra declarada, mas do pastor verdadeiro.
Decorar o texto tem seu valor, mas se apropriar dele tem muito mais valor.
Durante trinta anos de caminhada, nenhuma vez esse texto fez tanto sentido
para mim, como no último mês em que sozinho no carro ouvindo um louvor
sobre o bom pastor, fui tocado e me apropriei dessa palavra.
Vamos meditar, frase por frase deste Salmo e nos apropriar das verdades nele
contidas.
1. O Senhor é meu pastor
As afirmações sobre quem Deus é, dificilmente vem da fala dele próprio, ainda
que algumas vezes ele tenha se apresentado dessa forma.
Na bíblia Deus tem pelo menos 72 nomes, os nomes de Deus estavam
associados a experiências pessoais das pessoas com ele próprio, de modo que
a cada manifestação de Deus, os seus servos tinham uma nova percepção a
respeito de quem ele é.
Davi era pastor de ovelhas, Davi exercia este ofício e sabia a complexidade
dessa relação, Davi sabia o caráter da ovelha e do pastor.
É a luz de suas experiências pessoais como pastor que ele faz essa afirmação
atribuindo mais um nome a Deus.
O termo é “Adonai El Roi”.
O cultivo de ovelhas é um dos ofícios mais interessantes da agricultura, isso
em virtude das características das ovelhas.
O pastor Allan Brizotti diz que pesquisou um ano a respeito das ovelhas, uma
primeira distinção muito importante é que existem pastores de ovelhas de corte
de carnes e pastores de cultivo e apascentamento.
Os cultivadores de ovelhas para consumo não se importam com quase nada,
mas no caso dos pastores que apascentam para corte de lã e delas cuidam, a
relação é extremamente profunda.
É muito interessante a colocação de Davi a respeito deste assunto, ao se
comparar a ovelhas, porque elas têm algumas características peculiares:
Elas são presas fáceis dos predadores
Ovelhas não são atenciosas
Ovelhas não sabem discernir perigos
Ovelhas são teimosas
Ela confia em extremo no seu pastor
Ovelha não tem senso de direção
Ovelha não tem faro
Ovelha se suja facilmente
No cultivo de ovelhas o mais importante é ter um bom pastor, a relação da
ovelha com o pastor é essencial para sua subsistência.
muitas coisas me saltam aos olhos olhando para este texto:
“O Senhor é meu” – Esse pronome possessivo parece uma presunção, alguém
poderia argumentar, como posso eu dizer que o Senhor é meu? Se a fala fosse
isolada poderia denotar isso, mas ao adicionar “meu pastor”, Davi não está
fazendo uso de uma figura que remete a nenhuma qualidade.
Ele diz: Eu sou frágil, eu não sei enxergar os perigos, eu não sei caminhar
sozinho, eu sou teimoso, eu não sei sequer me alimentar só, mas eu tenho um
pastor.
A figura aqui é de dependência: “Eu tenho um pastor, por isso vivo”.
Para Davi, Deus não é pastor do mundo em geral, ele era seu pastor no âmbito
pessoal.
Se ele não for pastor para mais ninguém, ele é para mim.
Citar Batismo na Bola de Neve.
Para uns ele é só Senhor, para uns ele é um tirano, para uns ele é apenas um
curandeiro, mas para mim, ele é pastor.
À luz de seu relacionamento com as ovelhas, Davi se posiciona tal qual uma
delas e apropria para si cada uma das características delas.
A realidade que Davi aborda é sempre presente: Ele é (presente contínuo)
2. Nada me faltará
Existem algumas possibilidades para esse texto, os Hebraístas dizem que o
termo “El Rói” é “amigo íntimo” e a conotação é: “Ele não deixará de estar
comigo”.
Existe a interpretação que diz que sendo ele pastor, nada faltará, inclusive
coisas ruins e difíceis, dando grande ênfase ao nada.
Existe ainda a sensação de completude, que melhor define o texto: O Senhor é
meu pastor, tendo meu pastor eu não preciso de mais nada.
À luz da relação das ovelhas com o pastor, essa terceira afirmação é a mais
assertiva.
Porque tenho o pastor eu estou contente, porque tenho o pastor estou
satisfeito, porque tenho o pastor eu tenho o que eu preciso de verdade.
O nosso conceito do que precisamos e do que queremos é muito distorcido, o
sumo pastor sabe o que eu preciso de verdade.
“Pedi calor, Deus me deu verão
Pedi voz, Deus me deu canção
Pedi resposta, Deus me deu solução
Pedi que olhasse, Deus me deu a mão
Pedi amigos, Deus me deu irmãos
Porque ele tem mais do que eu consigo pedir
E sempre sabe o que é melhor para mim
Não dá o que eu quero, nem o que mereço
Mas o que preciso para ser feliz
Me ensina a te agradecer”
É a luz do caráter do pastor que Davi diz: Nada me faltará.
Não terei falta das coisas temporais, pois, se ele alimenta as aves, não
alimentará a nós que somos filhos?
Não terei falta de coisas espirituais: A sua graça me basta – 2º Cor. 12.9
Eu posso não ter o que quero, mas nada me faltará.
“Os filhos dos leões necessitam e sofrem fome, mas àqueles que buscam
ao Senhor bem nenhum faltará”.
Salmos 34:10
Não me falta no presente e não faltará no futuro – Venha o que vier, quer a
fome devaste a terra, ou a calamidade destrua a cidade, nada me faltará.
“O coração do pecador está longe de estar satisfeito, mas o espírito gracioso
habita no palácio do contentamento”.
3. Deitar-me faz em verdes pastos
Para uma ovelha deitar-se, duas necessidades precisam estar plenamente
supridas:
Comida e bebida
Presença do pastor
A ovelha jamais se deita sem estar alimentada, mas também jamais se deita
sem ver o pastor, ela não pode ser forçada a isso.
A ovelha além do mais tem a visão extremamente limitada, ela enxerga até 10
metros de distância, então a chance de não ver o pastor e assim não deitar é
muito grande.
Para a ovelha se deitar ela precisa comer, beber e ver o pastor, só com todas
essas necessidades atendidas ela se deita.
A ovelha naturalmente não sabe se autossustentar, logo ela precisa do pastor
para alimentar, para lhe dar água e para encontrar descanso.
Alguns de nós não estão descansando como deveriam, nem se alimentando
como deveriam, talvez em busca de ver o pastor, mas lhes digo de forma
aberta, nosso pastor não é como os pastores terrenos, eu posso lhe esquecer,
eu posso deixar de lhe dar a atenção que você pensa ser necessária, mas o
sumo pastor jamais te perde de vista.
Se você não o está enxergando, talvez seja uma questão de sua visão, mas
hoje meu pedido é que você abra os olhos e veja: O pastor está por perto, o
pastor está te trazendo alimento e bebida, você pode descansar, pode
repousar, o pastor não está longe.
As ovelhas, segundo a revista o berro, quando doentes ficam discretas, mal se
apresentam, mal se movem, em alguma medida ovelhas sequer querem
incomodar o pastor, quem o faz são os bodes.
Talvez você esteja aqui como uma ovelha ferida, mas o pastor te viu e está
atando as feridas, está cuidando de tudo e você poderá em breve deitar-se em
verdes pastos novamente.
4. Guia-me mansamente as águas tranquilas
O guiar mansamente diz respeito a uma das limitações das ovelhas, elas não
correm, elas não são velozes e todos os seus predadores o são.
O pastor não as faz correr, o pastor não as faz ir além de seus limites, as
ovelhas caminham tranquilas, pois, o pastor sabe as limitações delas.
Nosso pastor nos garante proteção, ele não vai te apertar além da
necessidade.
“Como é seu dia, assim será suas forças” – Dt. 33.25
O pastor sabe seus limites, sua estrutura – Salmo 103
A segunda parte deste verso me chama a atenção, ovelhas tem os ouvidos
muito sensíveis e não bebem águas correntes, de modo que existem casos de
ovelhas morrerem de sede ao lado das águas, se o pastor não conduzir as
ovelhas as águas tranquilas, elas morrem de sede, mas o cuidado do pastor é
tal que ele nos guia mansamente a águas tranquilas.
A figura das torrentes do Neguebe – O pastor geralmente dá de beber das
águas pós tempestade.
Quando a tempestade vem, as ovelhas ficam suscetíveis a tormentos por ouvir
demais, mas a mesma tempestade faz a ovelha ser saciada em sua sede.
5. Refrigera a minha alma - Paz
A ideia diz respeito a psiquê, as vezes nossa mente está um turbilhão,
quente, a ponto de explodir, os problemas se acumulam:
Finanças
Compromissos
Demandas
Doenças
Filhos
Família
Coisas que faltam
Ansiedade
O pastor sabe como nossa mente ferve, mas ele tem refrigério para a nossa
mente.
Figura da janela quando se abre – O vento de Deus soprando para
acalmar.
6. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ele me guia por caminhos de justiça, neste mundo perdido, não se encontram
avenidas seguras, neste mundo não encontramos referencias, lugares para
caminhar, mas ele me leva nos caminhos da justiça com amor.
O pastor me conduz porque ele me ama, em cada porta fechada, em cada
coisa que deu errado, o pastor está me conduzindo no caminho da justiça.
7. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria
mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me
consolam.
O vale da sombra da morte é um lugar necessário para passar para se
alcançar as montanhas onde havia alimento.
Nos vales habitavam todos os predadores possíveis, lobos, escorpiões, hienas,
nos vales poderiam se machucar.
O pastor sabe passar pelo vale conosco. O pastor passa pelo vale, ele não nos
deixa no vale.
O pastor já passou pelo vale mais vezes e sabe para onde está nos levando,
nas veredas da justiça vales de sombra e morte virão.
Veja também que o vale não é de morte, são apenas sombras. Você pode
passar por todos os medos possíveis durante o tempo de vale, mas o pastor
está te levando, te conduzindo.
Por saber quem é o pastor, a morte pode fazer sombras, mas ele me guarda.
O vale da sombra de morte era um lugar geográfico segundo Rodrigo Silva, ao
lado de uma pirambeira e cheio de predadores, por serem muito sensíveis ao
som, as ovelhas poderiam se assustar com os predadores e caírem ou serem
atacadas, o pastor tinha então um método de adestramento:
Ele cantava e tocava e as ovelhas formavam uma fila, ouvindo a voz do
pastor elas seguiam.
As minhas ovelhas conhecem a minha voz, e eu conheço-as, e elas
seguem-me. 28 Dou-lhes a vida eterna e jamais perecerão. Ninguém as
arrancará de mim, porque meu Pai é quem mas deu. 29 E sendo ele mais
poderoso do que ninguém, ninguém as pode roubar. João 10.27-29
Quando uma ovelha se perdia, o pastor usava seu cajado para trazê-la de
volta.
O cajado tinha três funções:
Vara – Correção (Quando a ovelha se perdia)
Cajado – Para resgatá-la de um buraco
Arma – Contra os predadores
Quando uma ovelha se perdia o pastor lhe batia e em seguida a carregava por
alguns dias.
8. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos
Salmos 23:5
A mesa não é preparada para mim, mas perante mim.
A mesa não é para eu ser honrado, mas é Deus cuidando sem que eu veja.
A mesa estava no centro da casa e era o lugar da provisão de Deus, todos
poderiam ir até a mesa, mas quando o meu Deus estende a toalha sobre a
mesa e põe o pão, os meus inimigos veem que eu tenho um Deus!
Ele é pastor sobre mim e sobre minha mesa.
9. Unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. -
Salmos 23:5
Quando no deserto, as ovelhas poderiam facilmente ser infectadas por moscas
que entravam pelo seu ouvido.
As ovelhas batiam a cabeça na rocha até morrer para tirar o mosquito, ou
quando não percebiam a entrada do mosquito elas deixavam de comer dada a
infecção.
O óleo sobre a cabeça era colocado na cabeça de cada ovelha, o pastor
formava uma espuma e elas poderiam fazer a viagem tranquilas com uma
espécie de espuma impermeável.
O pastor guarda minha mente e meus ouvidos.
O meu cálice transborda – Completude e provisão
10. ⁶ Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os
dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias.
Salmos 23:6
O pastor andava com um copastor, este o supria em sua ausência.
O meu pastor é Cristo; João 10.
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