“Ora,
muito me regozijei no Senhor por finalmente reviver a vossa lembrança de mim;
pois já vos tínheis lembrado, mas não tínheis tido oportunidade.
Não
digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que
tenho.
Sei
estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as
coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter
abundância, como a padecer necessidade.
Posso
todas as coisas em Cristo que me fortalece”.
Filipenses
4.10-13
O
segredo de estar contente
Existem aprendizados que são muito úteis, conhecimentos que
abrem portas, concedem melhores colocações profissionais, outros salvam vidas,
outros ajudam a viver um pouco melhor. Existem cursos sobre gestão financeira,
gestão do tempo, “inteligência emocional”, todos tem seu valor, a depender da
instituição, carga horária, certificações concedidas, etc.
Paulo
escrevendo aos Filipenses diz que aprendeu algo, um tipo de segredo, esse
segredo de acordo com a escritura é uma fonte de riqueza. Mais que
investimentos, mais que bitcoins, mais que profissões, Paulo aprendeu o que é
chamado em suas palavras de “grande fonte de lucro”.
Paulo aprendeu o segredo de estar contente em toda e
qualquer situação.
“Paulo aprendeu que é uma grande fonte de lucro
a piedade com o contentamento” – 1º Tim. 6.6
·
Quem aprende a estar contente enriquece, mas
não enriquece por ganhar mais, enriquece por valorizar o que já possui.
·
Não se torna rico como quem tem mais coisas,
mas como quem aprendeu que já tem o que precisa.
Paulo chegou a um nível de satisfação tal, que a vida para
ele era dádiva:
“Porque nada trouxemos para este
mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele.
Tendo, porém, sustento, e com que
nos cobrirmos, estejamos com isso contentes”.
1º Tim. 6.7-8
Consciente
de que ele não trouxe nada e nada levaria para a eternidade, tudo o mais é
dádiva. Ao olhar assim, tendo o suficiente para se cobrir e o que comer,
devemos estar contentes.
Esse aprendizado do contentamento também foi compreendido
por Salomão no fim de sua vida.
A
insatisfação crônica dos homens
Salomão aprendeu que não há nada melhor para o homem do que
comer, beber e se alegrar consciente de que tudo isso vem da mão de Deus.
Antes disso experimentou de tudo, o capítulo 2 de
Eclesiastes resume essa busca.
·
No riso V.2 (Entretenimento)
·
Bebida V.3 (Felicidade no fundo de uma garrafa)
·
Grandes edificações e realizações – V. 4 a 6
·
Empregou muita gente – V.7
·
Dinheiro e música de qualidade – V.8-9
“Consegui tudo o que desejei.
Não neguei a mim mesmo nenhum tipo de prazer. Eu me sentia feliz com o meu
trabalho, e essa era a minha recompensa.11 Mas, quando pensei
em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para conseguir
fazê-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito. Era
como se eu estivesse correndo atrás do vento” - 10-11
Em qualquer situação em qualquer casa, as pessoas estão
inquietas, insatisfeitas, desgastadas.
Uma das coisas mais difíceis de achar nos nossos dias é
alguém satisfeito, a grande maioria das pessoas está insatisfeita com a vida
que tem, a esposa, o marido, o carro a casa, o corpo, o cabelo, a estatura, o
trabalho, a saúde, o bairro que mora, a cor da pele, a igreja que congrega, a
cozinha, a geladeira, os filhos, a escola.
Uma geração extremamente ambiciosa, sempre buscando algo
mais alto do que o que já possui, quando não se alcança o que se quer, se torna
insatisfeito.
A cada dia novas coisas surgem, gerando o desejo de se
estar atualizado.
Isso infelizmente afetou a igreja, os crentes,
boa parte de nós tornamo-nos pessoas incontentes. Os rostos dos Cristãos ao
nosso redor são prostrados, abatidos, a razão primária é o fato de não
conseguir o que se quer.
Fomos condicionados com a lei da linearidade,
em que se faço o que deve ser feito serei abençoado, terei mais dinheiro,
melhor posição social e profissional, meus filhos não farão besteiras, minha
família será um exemplo.
A
teologia da prosperidade, a confissão positiva, o pensamento triunfalista
afetou diretamente a forma como enxergamos a fé e isso geral uma geração de
crentes descontentes.
Fomos tomados pela comparação, pelo sentimento de
desatualização, por uma profunda sensação de incompletude, isso constantemente
nos leva a alguns pecados como a murmuração, a ambição desenfreada e a cometer
pecados diretamente ligados a essa insatisfação.
Vejamos alguns malefícios da insatisfação
crônica:
1. Ela é
a raiz de vários pecados
·
Foi a insatisfação que fez Eva ser tentada pela
serpente
·
Foi a insatisfação que fez o Pródigo sair da
casa do pai
·
A insatisfação leva a traição, leva ao roubo,
leva a consumo de drogas e vícios, leva a corrupção.
2. Ela é
a raiz da ingratidão
·
Insatisfeito até o jardim parece pouco
·
Insatisfeito eu não ligo para o pai
·
Insatisfeito eu me considero escravo quando sou
filho
3. Ela é
um caminho escorregadio para a fé (Asafe)
4. Ela é
um passo anterior à murmuração e essa é rechaçada por Deus.
“As ervas daninhas crescem rapidamente; a
cobiça, o descontentamento e a murmuração são tão naturais para o homem quanto
os espinhos são para o solo. Você não precisa semear cardos e arbustos, eles
surgem naturalmente, porque são nativos da terra, sobre a qual repousa a
maldição. Levando isso em consideração, você não precisa ensinar os homens a
reclamar, eles
reclamam rápido o suficiente sem nenhuma
educação. Mas as coisas preciosas da terra devem ser cultivadas. Se quisermos
trigo, devemos arar e semear, se quisermos ter flores belas, deve haver o
jardim e todo o cuidado do jardineiro.
Ora, o contentamento é uma das flores do céu e,
se quisermos tê-lo, devemos cultivá-lo”. – Spurgeon
Apesar de tudo isso que é inerente da nossa natureza, Paulo
aprendeu o segredo de estar contente!
Sob que circunstâncias Paulo estava?
A
ocasião da carta – Atos 26-28
·
Paulo havia suportado a prisão por pregar o
evangelho em Jerusalém e tendo passado por vários juízes apelou a Roma.
·
No trajeto seu barco afunda.
·
Numa ilha ele é picado por uma cobra.
·
Em Roma é preso de forma “preventiva” por dois
anos aguardando sentença definitiva.
·
Preso a dois soldados
·
Paulo não tinha uma casa, sua casa era alugada
·
Paulo no fim da vida está preso, dependendo de
amigos e igrejas para ser sustentado
·
Paulo já não poderia mais trabalhar
·
A igreja de Filipos envia um obreiro para
socorrer Paulo e é em resposta a essa atitude que essa carta nasceu.
Eu já recebi cartas de presos, já li livros a respeito
disso, em geral eles refletem o valor da liberdade, falam do desejo de estar lá
fora, o que é por si algo legítimo, mas Paulo escrevendo uma carta da prisão só
fala das alegrias de servir a Deus.
Aparentemente Paulo é quem estava livre e
incentivando os outros.
É este homem, preso a dois soldados, que ganha
a guarda pretoriana para Cristo, ao ponto de declarar que os irmãos de Roma
Saúdam a igreja.
“Todos os santos vos saúdam, mas principalmente
os que são da casa de César”. Fp 4.22
Esse homem sob essa circunstância é que declara: “Aprendi o
segredo de estar contente”.
Vamos refletir em como isso aconteceu na prática a partir
do próprio texto:
1º - Aprendi a estar humilhado e Aprendi a ser
honrado
É fácil estar contente sendo honrado, reconhecido,
abraçado, quando alguém te elogia.
Devemos aprender a glorificar a Deus mesmo na vergonha,
mesmo quando outros são honrados em nosso lugar, quando alguém é promovido às
nossas custas.
Alguns aprendem a ser humilhados, mas se perdem quando a
honra vem, tornam-se seres vingativos, desejam pisar nos outros.
"Há muitos homens que sabem um pouco como
se humilhar, mas não sabem nada como ter abundância. Quando são colocados na
cova com José, eles olham para cima e veem a promessa estrelada, e esperam uma
fuga. Mas quando eles são colocados no topo de um pináculo, suas cabeças ficam
tontas e eles ficam prontos para cair”. – Spurgeon
·
Ao ascender alguns se orgulham e se perdem
·
Ao ascender alguns se envolvem no canto das
sereias do sucesso e não ouvem mais a Deus
·
Alguns cresceram para ajudar outros, mas o
dinheiro grudou nas suas mãos.
·
Paulo foi chamado de Tagarela em Atenas
·
Fugiu de Jerusalém num cesto
·
Festo disse que as muitas letras lhe deixaram
louco
·
Mulheres acusaram Paulo falsamente em Antioquia
“São eles servos de Cristo? — estou fora de mim
para falar desta forma — eu ainda mais: trabalhei muito mais, fui encarcerado
mais vezes, fui açoitado mais severamente e exposto à morte repetidas vezes.
Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove
açoites.
Três vezes fui golpeado com varas, uma vez
apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à
fúria do mar.
Estive continuamente viajando de uma parte a
outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus
compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto,
perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos.
Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem
dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e
nudez”.
2º Coríntios 11.23-27
Paulo aprendeu a ser envergonhado, humilhado pisado. Ele
não tinha nada a ver com os apóstolos e líderes de hoje.
Ele também foi honrado
·
O povo de Éfeso queimou os livros de Diana
·
O povo de Atenas lhe recebeu no Areópago
·
Ele escreve 13 cartas
“Por honra e por desonra, por infâmia e por boa
fama; como enganadores, e sendo verdadeiros;
Como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos;
como morrendo, e eis que vivemos; como castigados, e não mortos;
Como contristados, mas sempre alegres; como
pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo”.
2º Cor. 6.8-10”
2 – Aprendi a ter fome e necessidade, fartura e
abundância
Estar contente com fome é menos difícil do que quando temos
tudo, ao estar na escassez dependemos mais de Deus. Ao estar com portas
fechadas, desempregado, valorizamos mais cada coisa.
Nossa grande tentação é quando as coisas estão andando,
quando não falta o básico, reclamamos dissolutamente.
Acabamos não apenas com o Maná do dia, mas guardamos porção
dupla do Maná e este, cria vermes e bichos.
Paulo aprendeu a depender de Deus.
Paulo aprendeu em outras palavras a oração de Agur:
“Duas coisas te pedi; não mas negues, antes que
morra: afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a
pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção acostumada; para
que, porventura, de farto te não negue e diga:
Quem é o Senhor? Ou que, empobrecendo, venha a furtar e lance
mão do nome de Deus” Provérbios 30.7-8
O que Paulo viveu não foi um estoicismo, foi um
conhecimento divino.
Não foi adaptação, foi estar contente apesar da situação.
Isso só é dado a quem crê – Ex. Karnal.
Como ele adquiriu esse conhecimento?
1. Paulo
se via como um viajante, sua casa era outra – Fp. 3.20
2. Paulo
se via como um guerreiro em combate – 2º Tim. 2.3
3. Não só
isso, ele era um veterano de guerra, isso quer dizer que não necessariamente
ele suportou o tempo inteiro essas privações gargalhando, mas que tendo
suportado, hoje ele conta com um sorriso no rosto – Em todas essas coisas somos
mais que vencedores Rm. 8.37
A quarta e principal razão de
Paulo é o próprio Senhor
“Posso todas as coisas em
Cristo que me fortalece”.
Filipenses 4.13
·
A razão de Paulo suportar era o Cristo que o
fortalecia.
·
Ele não era fortalecido para conseguir tudo,
mas para resistir tudo.
·
Não era fortalecido para conquistar, mas era
fortalecido para suportar.
·
A graça capacitadora de Deus lhe deu condições
– 2º Tim. 2
·
Paulo foi tomado de convicções da palavra.
·
Paulo sabia que sob qualquer circunstância era
do Senhor – Rm 14.8
·
Paulo tinha o viver em Cristo e o morrer era
lucro – Fp 1.21
·
Paulo sabia que a graça se aperfeiçoava na
fraqueza – 2º Cor. 12.9-10
Nós também somos encorajados hoje a se alegrar, apesar da
circunstância:
·
Como Habacuque – HC 3.17-20
·
Tirar força das fraquezas – HB 11.34
·
Os discípulos que foram espancados e se
alegraram por isso – Atos 5.41
·
Estevão antes de morrer só via os céus abertos
– Atos 7
“O valor de uma causa não é determinado pelo que conquisto,
mas pelo que suporto ou abro mão em nome da causa”.
·
Temos um pastor – Salmo 23
·
Temos o Senhor ao nosso redor – Salmo 125
·
Ele está conosco todos os dias – Mateus 28.20
“Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais
satisfeitos nEle”. John Piper
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