segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Originalidade se vive, não apenas é verbal.

Refiro-me à execrável idéia (comum na crítica literária) de que em cada um de nós existe, oculto, um tesouro chamado personalidade e que expandi-lo, expressá-lo, preservá-lo de influências, ser enfim "original" é o grande objetivo da vida. É um conceito pelagiano, ou pior, autodestrutivo. O homem que valoriza a originalidade jamais será original. Mas tente dizer a verdade tal como você a vê, tente trabalhar com perfeição por amor ao trabalho, e aquilo que os homens chamam de originalidade surgirá espontaneamente.

CS LEWIS - O peso de glória

Não temos valor próprio, mas o recebemos de Jesus

Recuamos diante disso porque, em nossos dias, começamos a pôr toda essa figura de cabeça para baixo. Partindo do princípio de que cada individualidade é de "infinito valor", confundimos Deus com uma espécie de agência de emprego cuja função seria encontrar a carreira adequada para cada alma, a luva certa para cada mão. Mas o valor do indivíduo não está nele. Ele pode receber valor. Ele o recebe pela união com Cristo. Não se trata de encontrar, no templo vivo, um lugar que ponha em relevo o seu valor inerente e lhe dê espaço para as idiossincrasias naturais. O lugar já existia. O homem foi criado para ele. O homem não será ele mesmo enquanto não o preencher. Só no céu seremos pessoas autênticas, eternas e realmente divinas exatamente como, mesmo hoje, nosso corpo só é colorido quando há luz.

CS Lewis - O peso de glória

Nossa verdadeira identidade está no futuro.

 A verdadeira personalidade situa-se no futuro — quão distante, para muitos de nós, nem ouso dizer. E a chave dela não está em nós. Não será atingida por um desenvolvimento de dentro para fora. Virá ter conosco quando ocuparmos aquele lugar da estrutura do cosmo para o qual fomos destinados ou criados. Como a cor, que só se revela em toda sua beleza quando colocada pela excelência do artista no lugar preestabelecido, entre todas as outras; como a especiaria que só revela seu verdadeiro sabor quando adicionada, onde e quando deseja o bom cozinheiro, aos outros ingredientes; como o cão que só manifesta realmente suas qualidades quando toma seu lugar na família do homem, nós também só ganharemos a nossa verdadeira personalidade quando consentirmos em que Deus nos coloque no lugar que nos compete. Somos mármore esperando ser esculpido, metal esperando ser vertido no molde.

CS LEWIS - O peso de glória

Venceremos não como sociedade, mas como parte do corpo.

Não foi pelas sociedades ou pelos estados que Cristo morreu, mas pelos homens. Nesse sentido, pode parecer aos coletivistas seculares que o cristianismo envolve uma afirmação quase desvairada da individualidade. Mas não será o indivíduo como tal que participará da vitória de Cristo sobre a morte. Participaremos dessa vitória estando no Vencedor. A renúncia ou, na linguagem forte das Escrituras, a crucificação do eu é o passaporte para a vida eterna. Nada que não morreu ressuscitará.

CS LEWIS - O peso da glória

A posição estrutural que o mais humilde dos cristãos ocupa na igreja é eterna e mesmo cósmica.

Assim, a vida cristã defende a pessoa em detrimento da coletividade; sem colocá-la em isolamento, mas dando-lhe a posição de um órgão do corpo de Cristo. Como se diz em Apocalipse, o cristão é feito "coluna no santuário de Deus"; e acrescenta-se: "E daí jamais sairá". Essas palavras apresentam um outro aspecto da questão. A posição estrutural que o mais humilde dos cristãos ocupa na igreja é eterna e mesmo cósmica. A igreja sobreviverá ao universo; nela, o indivíduo sobreviverá ao universo. Tudo que se liga ao Cabeça imortal participará de sua imortalidade. Pouco se fala disso nos púlpitos cristãos dos nossos dias.

CS Lewis - O peso de Glória

As almas não tem valor infinito, pelo contrário.

O valor infinito de cada alma humana não é doutrina cristã. Deus não morreu pelos homens por algum valor que neles houvesse. O valor de cada alma humana, considerada de per si, independentemente de Deus, é zero. Como escreve Paulo, morrer por homens bons seria um ato puramente heróico, não divino; mas Deus morreu por homens pecadores. Ele amou-nos, não porque éramos dignos do seu amor, mas porque ele é amor. Pode ser que ele ame a todos igualmente — com certeza, ele amou a todos até a morte — e eu não sei direito o significado da expressão. Se existe igualdade, está no seu amor, não em nós.

CS Lewis - O peso de Glória

Não somos iguais diante de Deus

E agora preciso dizer o que lhe pode parecer um paradoxo. Ouvimos dizer muitas vezes que, embora ocupemos posições diferentes neste mundo, todos somos iguais aos olhos de Deus. De certo modo é assim. Deus não faz acepção de pessoas: o amor que ele nos tem não se mede pela nossa posição social ou pela nossa capacidade intelectual. Mas creio haver um sentido em que essa máxima é oposta à verdade. Aventuro-me a dizer que uma igualdade artificial é necessária na vida de um Estado, mas que na igreja tiramos essa máscara, recuperamos nossas verdadeiras desigualdades e somos, dessa forma, renovados e revitalizados.

CS LEWIS - O peso de glória

Necessidades mútuas no corpo

Todos vivemos ensinando e aprendendo, perdoando e sendo perdoados, representando Cristo para o homem quando por ele intercedemos e representando o homem para Cristo quando outros intercedem por nós. O sacrifício de nossa intimidade egoísta, exigido diariamente de nós, é compensado diariamente, cem vezes, no crescimento pessoal que a vida do corpo estimula. Os que são membros uns dos outros tornam-se tão diferentes quanto a mão o é do ouvido. É por isso que os filhos do mundo têm uma semelhança tão monótona, se comparados com a quase fantástica variedade dos santos.

CS LEWIS - O peso de glória

No batismo somos chamados a um corpo

A sociedade à qual o cristão é chamado no batismo não é uma coletividade, mas um corpo. É o corpo do qual a família é a imagem no nível natural. Alguém que se integrasse nesse corpo com a idéia falsa de que seria membro da igreja no sentido moderno, esvaziado — um aglomerado de pessoas, como se fossem moedas ou fichas — seria corrigido já na entrada, ao descobrir que o Cabeça desse corpo é tão diferente dos membros inferiores, que estes nada têm em comum com aquele, salvo por analogia. Somos chamados, logo de princípio, a associar-nos como criaturas ao Criador; como mortais ao Imortal; como pecadores redimidos ao Redentor sem pecado. Sua presença, a interação entre ele e nós, sempre deve constituir o maior fator dominante da nossa vida dentro do corpo; excluindo qualquer concepção de comunhão cristã que não signifique, em primeiro lugar, comunhão com ele.

Cs Lewis - O peso de glória

A DIFERENÇA DE COLETIVIDADE E MEMBRESIA

O preso ostenta um número no lugar do nome. É o coletivismo levado ao extremo. Mas o homem que vive em sua casa também pode perder o nome, sendo chamado simplesmente de "pai". É a participação num corpo. Os dois casos de perda do nome fazem-nos lembrar que há dois caminhos opostos para sair do isolamento.

CS Lewis - O peso da glória

A alegria está em coisas simples

 Se considerarmos apenas os valores naturais, podemos dizer que nada há melhor debaixo do sol do que uma família que ri à volta da mesa, dois amigos que conversam bebendo café ou um homem só, lendo um livro que lhe interesse; e que toda a economia, a política, o direito, o exército e as instituições, salvo à medida que contribuem para prolongar e multiplicar tais cenas, são como um arado na areia ou uma sementeira no oceano, uma vaidade sem sentido e uma afronta para o espírito.

CS LEWIS - O Peso de glória

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Em Salmos 56:8 diz assim: "Registra, Tu mesmo, o meu lamento; recolhe as minhas lágrimas em teu odre; acaso não estão anotadas em Teu livro?"

Em Salmos 56:8 diz assim:
"Registra, Tu mesmo, o meu lamento; recolhe as minhas lágrimas em teu odre; acaso não estão anotadas em Teu livro?"

Olhando com os olhos de Deus.

Tenho que me ajoelhar diante do Pai, encostar o ouvido ao seu peito e escutar ininterruptamente as palpitações do seu coração. Então, e só então, posso dizer, com sumo cuidado e muito amavelmente, o que oiço. Agora sei que devo falar desde a eternidade para o tempo real, desde a alegria duradoura para as realidades passageiras da nossa curta existência neste mundo, desde a morada do amor para as moradas do medo, desde a casa de Deus para as casas dos seres humanos. Tenho plena consciência da grandeza desta vocação. Mais ainda, estou totalmente certo de que é este, para mim, o único caminho. Poderia chamar-se visão «profética»: olhar as pessoas e este mundo com os olhos de Deus

Henry Nowen - A volta do pródigo

Eu sou casa de Deus

 É um lugar dentro de mim que Deus escolheu para Se hospedar. É um lugar onde me sinto a salvo, no abraço de um Deus todo amor que me chama pelo nome e me diz: «És o meu filho amado que muito me agrada». É o lugar onde saboreio a alegria e a paz que não são deste mundo. Este lugar sempre ali esteve. Eu sempre soube onde ficava a fonte da graça. No entanto, não era capaz de entrar e de ali viver de verdade. Jesus disse: «Se alguém Me ama, guardará a minha palavra; meu Pai amá-lo-á e viremos a ele e faremos nele morada» (Jo 14, 23). Estas palavras sempre me impressionaram muito profundamente. Sou a casa de Deus!

Henry Nowen - A volta do pródigo

Os discursos prontos do pródigo

Ainda sou como o filho pródigo: viajo, preparo discursos, conjecturo como tudo vai ser quando por fim chegar a casa do meu Pai. Mas estou a caminho. Deixei o país distante e sinto-me mais perto do amor. Agora estou preparado para contar a minha história. Descobrir-se-á nela um pouco de esperança, luz, consolação; muito de quanto vivi ao longo destes últimos anos, não como expressão de confusão ou desespero, mas como etapas do meu caminho para a luz.

Henry Nowen - A volta do pródigo

Para viver o amor é necessário entrega

Cada pequeno passo para nele penetrar era como que uma pretensão impossível, uma pretensão que me exigia por a parte, uma vez mais, o desejo de controlar, de adivinhar; uma pretensão a superar o medo de não saber onde tudo aquilo me levaria; uma pretensão a render-me ao amor que não conhece limites. Sabia que nunca seria capaz de viver o grande mandamento de amar sem condições nem requisitos. O percurso entre lecionar sobre o amor e deixar-me amar iria ser mais longo do que supunha.

Henry Nowen - A volta do pródigo



Junto aos pés do pai

É o lugar da luz, o lugar da verdade, o lugar do amor. É o lugar onde quero estar, embora tenha muito medo de chegar a atingi-lo. É o lugar onde receberei tudo o que desejo, tudo o que sempre esperei, tudo aquilo de que vou ter necessidade, mas também é o lugar onde tenho que largar tudo quanto quero reter. É o lugar que me confronta com o facto de que aceitar de verdade o amor, o perdão e a cura, é frequentemente muito mais duro que concedê-lo. É o lugar para além do que cada um, por si mesmo, pode obter ou merecer, das recompensas que possa receber. É o lugar da rendição e da total confiança.
Henry Nowen - A Volta do pródigo

O olhar do espectador ao ver o pródigo

Embora tenha tido, ao longo de toda a vida, o desejo de me sentir interiormente implicado, optei, uma e outra vez, pelo papel de observador distante. Às vezes lançava um olhar curioso, outras um olhar ciumento, outras ainda um olhar inquieto e, de vez em quando, um olhar de amor. Mas abandonar o que, de qualquer maneira, era a posição segura do espectador crítico, parecia-me equivaler a dar um salto para o desconhecido.

Henry Nowen

De volta para casa

O facto de, após uma viagem esgotante, ter vindo para um lugar protegido, significara, para mim, como que voltar para casa; deixar o mundo dos professores e dos estudantes e viver numa comunidade dedicada a cuidar de homens e mulheres com doenças mentais, fez-me sentir outra vez em casa; conhecer o povo de um país que se isolara do resto do mundo por meio de muros e fronteiras fortemente vigiados, era também uma forma de voltar para casa. No entanto, mais que tudo isso, «voltar para casa» significava, para mim, caminhar passo a passo em direcção ao Único que está à minha espera, de braços abertos, e que deseja ter-me ao pé de Si num abraço eterno.

Henry Nowen - A volta do pródigo

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Todas atividades naturais devem ser oferecidas a Deus.

Todas as nossas atividades meramente naturais serão aceitas se forem oferecidas a Deus, mesmo as mais humildes, e todas elas, mesmo as mais nobres, serão pecaminosas se não forem oferecidas a Deus

CS Lewis o peso de glória