terça-feira, 13 de junho de 2023

A Dracma perdida – Em busca do que se perdeu - Sermão entregue à Ad Brás Santo Eduardo

 

A Dracma perdida – Em busca do que se perdeu

 

A tríade de parábolas que está inserida em Lucas 15 trata-se de uma reação de Jesus aos comentários dos fariseus, que o criticam pelo fato de receber publicanos e pecadores e se assentar com eles.

Em resposta a esse pensamento, Jesus conta três histórias que tem um sentido em comum:

 

·      Algo que foi perdido

·      Esse algo é encontrado

·      Ao ser encontrado há alegria e festa

 

A primeira parábola da tríade, trata-se da ovelha perdida.

A terceira é a mais conhecida, trata-se da parábola dos dois filhos, ou popularmente conhecida como “o filho pródigo”.

A parábola que pretendo meditar hoje é a da Dracma perdida.

 

 

Definição de DRACMA

A pergunta fundamental para iniciar essa reflexão é: O que é uma dracma?

Há um louvor que fala sobre uma “pedra tão pequena”.

Porém a Dracma não se trata de uma pedra e sim de uma moeda de Prata.

R.N Champlin diz que na antiguidade a Dracma era tanto uma unidade monetária como um peso padrão para a prata.

A dracma correspondia a 4,37 gramas de prata; a moeda padrão era a peça de prata que era equivalente a 4 dracmas.

Na Grécia moderna a dracma foi usada até o ano de 2001, quando foi definitivamente substituída pelo Euro.

Portanto, por definição a Dracma era uma espécie de moeda que foi usada por muitos anos e até a modernidade.

 

Os usos da Dracma

A Dracma era uma moeda usada para pagar os impostos anuais do templo, cada cidadão judeu pagava o equivalente a 2 dracmas por ano de imposto. Numa ocasião que os discípulos são cobrados, Jesus os ordena pescar e eles encontram no peixe o valor suficiente para pagar o imposto.

 

Warren Wiersbie diz que as dracmas eram usadas como uma espécie de colar nas mulheres casadas, elas ainda quando noivas preparavam seu colar como que uma aliança, neste sentido, seria uma grande decepção ao pai da noiva e ao seu noivo ou marido, notar que uma das suas dracmas se perdeu.

A dracma provavelmente não era dada a ela novamente, ela tinha que tentar zelar pelas dez que recebia.

Craig Keener diz que as dez dracmas da mulher, provavelmente correspondiam ao seu dote, que era uma espécie de garantia financeira de sustento em caso de dissolução do casamento.

É plenamente possível que o dote que essa mulher recebeu era este colar usado, com suas 10 moedas.

 

O dote tinha alguns modelos, o pai dava um presente a filha, ou o noivo compensava o pai pela saída dela de casa e este a presenteava com uma parte do valor, ou ainda os noivos trocavam presentes.

Seja qual for o modo, perder uma das moedas era algo extremamente desesperador, uma vez que representava muito para ela possuir todas.

Perder uma dracma era sinal de descuido, desvalorização, desleixo, incompletude, falta de garantia de futuro entre muitas outras coisas, se ainda hoje nos ofendemos com o fato de alguém perder algo que damos a essa pessoa, imagine neste contexto em que ele só tinha 10 moedas, que eram restritas ao seu casamento, sua garantia de vida em caso de divórcio, era uma ofensa sem tamanho, ao noivo, ao pai e entre as pessoas que estavam próximas a ela.

 

A parábola que estamos analisando tem apenas 3 versículos, quais as lições que este texto pode nos trazer?

 

 

1º - A expectativa de Jesus é que alguém que perde algo, busque diligentemente.

 

Ao falar “qual é a mulher que possuindo dez e perdendo, não procura a que perdeu?”

Jesus está dizendo que a expectativa dele é que alguém que perdeu algo, tenha dignidade de notar a falta e procure até encontrar.

 

Qual é a pessoa que não procura até achar?

·      A pessoa que se contenta em estar incompleta

·      A pessoa que não zela pelo que recebe

·      A pessoa que não valoriza o que tem

 

É com tristeza que digo que há pessoas que são o contrário da mulher, vivem incompletas e estão satisfeitas assim, elas perdem e pensam, ainda tenho 9.

·      Elas perdem e pensam, é só uma moeda.

·      Elas perdem e pensam, não é tão importante assim, Mas Jesus parte de um pressuposto em que quem tem algo deve guardar o que tem.

 

·      Foi o que ele disse para a igreja de Filadélfia: Guarda o que tens!

·      Foi o que tornou Nabote alguém admirável: Não vendo minha vinha.

·      Foi o que tornou Samá um herói: Guardar um campo de lentilhas

·      Onesíforo procurou Paulo em Roma até encontrá-lo

·      Jefté se tornou um herói da fé, por não abrir mão das terras que seu Deus te deu.

 

2º - Jesus não tem quer incompleto

 

Perder uma dracma naquele contexto, era estar com sua coroa incompleta, ela ainda poderia se alegrar por ter 9, mas estaria incompleta.

·      Ela poderia polir as 9, mas estava incompleta.

·      Ela poderia se gloriar das 9, mas estaria incompleta.

Houve um homem que procurou Jesus e se gabava de seguir os mandamentos, cheio de arrogância ele pergunta o que faz para ganhar a vida eterna, ao ser informado sobre suas condições, Jesus simplesmente lhe diz: Uma coisa lhe falta.

 

Essa é a realidade sobre muitos de nós, estamos muitas vezes tal como este jovem, nos gabamos de não fazer “nada errado”, de ter talentos, de saber cantar, de saber pregar, de ser um bom obreiro, mas a realidade é que uma coisa nos falta.

·     
Alguns de nós tem grande talento, mas uma coisa falta e Jesus não te quer incompleto.

·      Alguns de nós prega com maestria, mas uma coisa falta, Jesus não nos quer incompleto.

·      Alguns de nós temos um caráter ilibado, mas uma coisa falta, e Jesus não nos quer incompleto.

·      Jesus hoje está nos convidando a procurar o que perdemos, talvez foi a alegria da salvação, talvez foi a unção que um dia tivemos, talvez foi o primeiro amor.

·      Não adianta ter as nove moedas dos dons e faltar o amor – 1º Coríntios 13

·      Não adianta ter boas obras e perder a dracma primeira que é o amor – Apocalipse 2.4

·     
Jesus está nos convidando a ir atrás do que perdemos, a buscar o que nos falta.

 

Como eu posso encontrar o que perdi?

 

1º - Ascenda a candeia – Palavra


As casas dos judeus naquele contexto eram feitas de pedras, com muitas fissuras e facilmente a moeda poderia cair numa dessas fissuras, dificultando a localização.

As casas eram naturalmente escuras, os arqueólogos segundo Kraig Keener, até hoje encontram moedas perdidas nessa época, os arqueólogos conseguem datar o tempo que a casa tinha baseado nas moedas que encontram.

Apenas passando as mãos no chão ela não encontraria, apenas tentando olhar, ela não encontraria, de formas naturais, com seus recursos humanos ela não conseguiria, o único jeito era ascendendo uma candeia.

 

A candeia era uma espécie de lamparina, era acesa com óleo e emitia uma pequena luz.

Essa mulher só poderia encontrar a casa por meio da iluminação da candeia.

 

A candeia é a palavra!

 

·      Eu não encontro o que perdi espiritualmente vendo filmes, eu encontro na palavra.

·      Eu não encontro o dom que se apagou apenas tentando executar, eu encontro na palavra.

·      Eu não vou conseguir enxergar que algo me falta, sem a confrontação da palavra

·      Eu não consigo perceber que perdi o amor, sem ser denunciado pela palavra.

 

Portanto, pare de tentar encontrar o que você perdeu das mãos do noivo em livros que não te adicionam, em vídeos do youtube de gente incompleta.

Pare de tomar como referência pessoas que só tem 9 moedas ou menos.

Pare de ouvir pessoas que já perderam sua dracma.

 

Eu só encontro a Dracma perdida ascendendo a candeia:

·      A palavra ilumina o ambiente escuro que estamos

“Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos”.
Salmos 19:8

 

“Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, é luz para os meus caminhos”.
Salmos 119:105

 

“A revelação das tuas palavras traz luz e dá entendimento aos simples”.
Salmos 119:130

 

Porque o mandamento é lâmpada, e a lei é luz; e as repreensões da correção são o caminho da vida”,
Provérbios 6:23

 

E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações”.
2 Pedro 1:19

 

·      A palavra penetra o meu interior e eu a escondo lá

“Guardo a tua palavra no meu coração para não pecar contra ti”.
Salmos 119:11

 

·       A palavra passa a iluminar não só o ambiente, mas o meu interior por meio do Espírito que usa nossa consciência:

A consciência do homem é como que uma lâmpada para o Senhor, que ilumina e desvenda tudo o que há de mais secreto no seu íntimo”.
Provérbios 20:27

 

·      Há um ponto em que eu a casa, guardo a palavra no coração, ela penetra meu ser e desvenda meu íntimo, até que de tanto ter a palavra, eu me torno uma luz:

 

Vós sois a luz do mundo – Mateus 5.

 

2º - É necessário varrer a casa – Ato Contínuo


Com a infinidade de coisas que se coloca na nossa frente, não dá para encontrar a Dracma perdida.

As vezes não nos damos conta do quanto de poeira e lixo, estamos carregando na casa que somos nós.

 

·      Na nossa mente limitada, as vezes pensamos que vale mais a pena deixar os móveis ali, do que mexer e descobrir o que não se quer.

·      É o que muitos homens fazem a respeito da sua saúde, é melhor não ir ao médico para descobrir.

·      As vezes a gente se acostuma com coisas que não deveríamos.

·      Não dá pra se acostumar a não encontrar o que perdemos na poeira do nosso ser:

 

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

 

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E por não ter vista, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E por não abrir as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia sobre as guerras de longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir ao telefone: “hoje eu não posso ir”. A sorrir para as pessoas, sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho. Para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se compra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes. A abrir revistas e a ver anúncios. A ligar a televisão e assistir aos comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor daqui, um ressentimento dali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e o suor do resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola nos fins de semana. E se, no fim de semana, não há muito o que fazer, vai dormir cedo, e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele, se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquecer-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida, que aos poucos se gasta e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma”.

Marina Colasanti

 

É necessário tirar algumas coisas do meio, varrendo a casa.

O escritor aos Hebreus diz que na corrida eu deixo os embaraços e o pecado que me rodeia para correr – Hb 12

Os embaraços são os pesos desnecessários para a caminhada.

Os pecados nos tiram da corrida.

Devemos nos livrar de ambos.

Na caminhada do crente, deve-se deixar algumas coisas pra trás, se desfazer do que não é extremamente necessário, por isso, essa mulher varre a casa.

 

 

3º - Deus não me chamou para ser um colecionador de perdas:

 

Eu coleciono livros, roupas, mulheres colecionam bolsas.

Alguns estão acostumados a perder coisas e não se dar conta.

 

4º - É tempo de se alegrar por reencontrar

 

A alegria de reencontrar, pode ser maior do que a alegria de ganhar pela primeira vez.

A mulher celebra a recuperação, chama as amigas, chama as vizinhas e avisa a todas que achou o que tinha perdido.

 

O meu desejo é que hoje encontremos o que perdemos.

Deus está propondo um tempo de recuperação do que perdemos.

Deus está propondo um tempo de celebrar a interrupção das perdas

Deus está propondo um tempo em que você vai encontrar o que perdeu.

 

Essa é a alegria do pai ao encontrarmos o que perdemos.

sábado, 6 de agosto de 2022

Não a Banalização - Sermão Entregue no culto de Ceia Ad Brás Sto Eduardo

 

“Nisto que vou dizer não vos louvo” – Dizendo não a Banalização

1 Coríntios 11:17-32

 

A cidade de Corinto

Corinto era capital da Acaia, neste tempo, uma das principais cidades do mundo.

Era uma cidade rica, visto que tinha na atividade portuária sua principal fonte de renda, a cidade era privilegiada por ter dois portos, sendo ponto de parada de diferentes embarcações do mundo em seu tempo. Os barcos desembarcavam em um dos portos e evitavam a viagem no entorno da cidade que tinha canais perigosos, seguindo por terra, gerando também viagens terrestres na cidade.

Devido a sua grande quantidade de visitantes anuais, a cidade prosperou financeiramente e tornou-se uma das mais ricas de seu tempo.

Cultura de Corinto

Também era uma cidade repleta de questões culturais delicadas, os seus padroeiros eram Afrodite e Apolo, as sacerdotisas de Afrodite, tinham o hábito diário de no final das tardes descer até o povo e oferecer seus corpos como parte do ritual de culto, também havia considerável atividade de contrabando e outras coisas desta natureza.

A cidade era tão profana que na antiguidade ser chamado de “Corintio” era uma ofensa, um sinônimo de profanação.

\A cidade foi reconstruída em 44 ac. Para ser um lugar de escravos libertos, de várias nacionalidades. Nos dias apostólicos havia 250.000 cidadãos livres e 400.00 escravos, tendo crentes de ambos os lados.

Neste tempo havia uma infinidade de credos, linhas de pensamento, influências, tornavam a cidade um lugar considerado repleto de intelectuais sob influência grega, romana e de inúmeros outros lugares do mundo.

 

Paulo em Corinto

Paulo vinha de uma infinidade de problemas nesta sua segunda viagem missionária, a princípio sua rota seria o retorno por todas as cidades da primeira viagem, porém impedido pelo Espírito de pregar Paulo muda a Rota, partindo para Trôade, Tessalônica, Beréia e por fim Atenas. Em todos estes lugares Paulo fala sob intensa dificuldade.

Ao chegar a Corinto, Paulo estava, segundo suas próprias palavras em fraqueza e temor.

 

Corinto se constitui um ambiente hostil para quem deseja se recuperar, porém Deus prepara este local em vários sentidos. Inicialmente Claudio, que era o imperador expulsou os judeus de Roma, por conta de seus tumultos gerados a partir da expansão da fé cristã. Neste tempo, Priscila e Áquila, descem a Corinto, onde exercem o mesmo ofício que Paulo, provavelmente este tenha sido o elo inicial entre Paulo e seus ajudadores. A princípio, Paulo faz assim como tantas outras vezes, prega inicialmente aos Judeus, enquanto prepara tendas na semana.

É neste local que Paulo planta uma igreja em sua segunda viagem missionária, tendo passado dias tentando ensinar aos judeus e gregos sobre Jesus. A princípio Paulo pregava séries de mensagens aos sábados, após a chega de Timóteo e Silas, Paulo pode se dedicar exclusivamente a pregação, o que se constituiu um grande encorajamento. Porém sendo resistido por um espaço de tempo, passou a pregar aos gentios como era seu costume fazer.

Justo abriu as portas de sua casa e lá iniciou-se o trabalho entre os gentios, durante 1 ano e 6 meses o evangelho crescia em Corinto, Crispo, o que antes era principal da sinagoga se entregou a Cristo e Paulo foi ainda mais encorajado a permanecer.

Paulo prevendo certo agravamento na hostilidade dos Judeus, recebeu do próprio Espírito a coragem para permanecer:

E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales;
Porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.
E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
Atos 18:9-11

Paulo foi levado ao tribunal pelos Judeus e logrou êxito, mediante um grande livramento de Deus.

É sob todas essas dificuldades que Paulo vê em Corinto, um lugar difícil, avesso aos conceitos de santidade e pureza, uma porta grande e eficaz para pregação do evangelho.

 

A igreja é plantada ali após 1 ano e meio, obreiros são constituídos, a organização da igreja estava sob cuidado destes e Paulo vai adiante em suas missões.

 

 

 

 

 

A igreja de Corinto:

Ao se dirigir a Éfeso, onde ficou dois anos e três meses, Apolo assume a responsabilidade de ensinar a igreja de Corinto, porém considerando as muitas dificuldades do local, alguns problemas surgem na organização da igreja, de modo que uma primeira carta é enviada a Paulo com algumas dúvidas e este documento se perdeu.

Passado algum tempo, as coisas se intensificaram no que diz respeito aos problemas da igreja, de modo que a Família de Cloé envia uma série de perguntas e relatos ao apóstolo Paulo, que em resposta aos problemas redige essa carta que chegou até a nós, denominada 1º Coríntios.

 

Os principais problemas da igreja poderiam ser listados abaixo:

·       Depravação

·       Bebedices

·       Licenciosidade (graça barata)

·       Partidarismos (Sou de Paulo, Sou de Apolo, Sou de Pedro e sou de Cristo).

·       Arrogância intelectual

·       Desorganização da igreja no culto

 

Considerando todos esses problemas, Paulo envia esta carta a igreja, a fim de corrigir os rumos.

 

A instituição da ceia do Senhor

Tendo sua celebração realizada de forma regular em toda igreja Cristã, a ceia do Senhor, ou santa Ceia, dependendo da interpretação, tem suas pequenas variações, tais como horas para se tomar os elementos, a composição dos elementos, regularidade de celebração, etc.

Porém ainda que pequenas partes do ato variem, há elementos que são comuns: Sempre a celebração da ceia obedece a uma regularidade, as vezes mensal, as vezes semanal, em alguns poucos lugares é anual.

Sempre se celebra fundamentado no mandato de Cristo de que ele deveria feito em memória dele. Alguns rituais são repetidos em toda e qualquer profissão de fé cristã, são eles o batismo e a ceia do Senhor. Estes são pedidos finais de Jesus, um deles é feito antes da morte, o outro, posterior a ressurreição.

Desta forma, independentemente do método utilizado, tudo o que não se pode perder é a sacralidade do momento, a importância dada a celebração.

 

A Banalização da Ceia

Na medida em que o tempo passa, as palavras, os atos, vão se esvaziando de sacralidade e importância que lhe foram conferidos inicialmente, passamos a lidar com um certo descaso com aquilo que naturalmente é importante para aquele que nos chamou.

Ainda hoje há uma certa indiferença no que diz respeito à ceia, não são poucos que a trocam por coisas de todo fúteis, desconsiderando a importância que o próprio Jesus deu a ela. Muito disso se dá por falta de conhecer a importância do ato, por um desencantamento da própria igreja com o momento, com as “repescagens de ceia”, com a falta de seriedade de nós líderes que na realização do ato, o fazemos sem zelo, sem cuidado, sem intensidade.

Este problema de falta de importância ao que é importante não é algo novo, já nos tempos do apóstolo Paulo, pouquíssimos anos após a instituição inicial de Jesus, já se tornava banal a celebração da Eucaristia. Especialmente na cidade de Corinto, Paulo recebe a informação de que as coisas iam mal, considerando os relatos de Cloé o apóstolo faz duras correções e um redirecionamento da celebração da ceia

 

A ceia em Corinto capítulo 11

 

A ceia nos tempos bíblicos era um ato de refeição coletiva, isto se dava desde os primeiros atos dos apóstolos – AT. 2.42, era uma espécie de ato de comunhão, solidariedade e de favorecimento aos menos privilegiados.

Wiersbie menciona que neste tempo, o jantar da ceia era chamado de “jantar ágape”, a refeição do amor entre irmãos.

Porém assim como foi dito, atos coletivos na igreja começam bem, mas tendem as e esvaziar do seu significado, tornando-se banalizados e essa era a maior queixa de Paulo, a banalização.

É então que Paulo faz sua denúncia:

“Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior.
Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio.
E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.
1 Coríntios 11:17-19

 

 

 

1º O ajuntamento quando esvaziado de propósito não traz benefício coletivo.

2º A igreja não deve ter grupos paralelos, todos devem estar juntos e ter tudo em comum – At. 2.

3º Quando perdemos o sentido de comunhão tornamos a igreja um ajuntamento que em nada difere dos demais ajuntamentos do mundo e com todas suas características.

4º Paulo trata com ironia o modo dos Coríntios pensarem, visto que com as muitas divisões internas, eles tornavam claro quem de fato era verdadeiro, aparentemente eram poucos.

5º Aparentemente as diferenças de fora eram trazidas para dentro da igreja, escravos e livres, ricos e pobres, santos e profanos, eram tratados de formas distintas.

 

Paulo prossegue em sua denúncia:

De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor.
Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se.
Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo.
1 Coríntios 11:20-22

 

·       O esvaziamento foi tão intenso, que se reuniam para qualquer coisa que não fosse a ceia do Senhor. Ausência de propósito – V.20

·       A ceia tornou-se em Corinto uma espécie de competição em que cada um mostraria o quanto poderia comer, quais pratos poderia levar, o quanto se tinha – V.21

·       O nível da segregação era tanto, que os ricos, os livres, comiam antes dos demais, até se embriagar, enquanto o pobre estava com fome.

·       Paulo chega as vias de dizer que era impossível que se tratassem assim em suas casas, havia um mínimo de hospitalidade, mas o ambiente de culto estava tão banalizado, que eles “desprezavam a igreja de Deus e envergonhavam os outros.

 

 

 

 

Com tristeza digo, há uma banalização, uma falta de sacralidade, uma ausência de propósito, uma não hospitalidade, hostilidade mútua, desigualdade e em muitos aspectos nos assemelhamos aos Coríntios, é pensando nisso e considerando que tudo que foi escrito, foi para nossa edificação, que gostaria de pregar o sermão de Paulo para fazer uma apologia ao momento da ceia.

Não foram poucas as vezes que vi pessoas argumentarem que não sabem as razões da ceia ser considerada tão importante.

Mensalmente celebramos a ceia e dizemos que este é o principal ato da igreja, o principal culto, aliás, de tanto repetir, decoramos o texto da ceia.

Mas a pergunta que devemos fazer é: Por que a ceia é tão importante?

 

Paulo respondeu através deste sermão escrito.

A importância da ceia

 

1º - A ceia não foi inventada por qualquer pessoa, é um mandato de Jesus:

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei - 1 Coríntios 11:23

Não foi um mandato da igreja, não foi apenas uma decisão do apóstolo Paulo, Não foi apenas algo que consideraram interessante, mas foi uma ordem direta de Jesus.

·       Paulo recebeu isso diretamente de Jesus – Gl 1.15-17

·       Foi no primeiro dia da festa dos pães asmos que Jesus ordenou que preparassem o salão, a mesa e tudo mais.

·       Foi ele quem disse “façam em memória de mim”.

·       Foi Jesus quem disse “desejei muito este momento” Lc 22.15

·       Jesus eternizou o momento – Eu não comerei da ceia até que se cumpra.

 

O que torna a ceia importante é o simples fato de que se é importante para Jesus, também é para nós.

Se Jesus desejou, eu também desejo.

 

 

 

 

 

 

 

2º - Na ceia Jesus mostra que a comunhão vence as diferenças e decepções.

que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
1 Coríntios 11:23b”

 

Poderia ter sido escolhido qualquer dia, mas Jesus escolheu a noite em que foi traído, Judas estava lá, Judas saiu de lá para o vender, Judas já havia negociado o preço.

·       Jesus está lavando seus pés sabendo do que ele fez, a areia sobre o seu pé é de quem pisou no terreno da traição.

·       A areia sobre o pé de Pedro é de quem pisou o terreno da negação.

Mas naquele momento, todas aquelas diferenças ficaram por terra, todos esses atos, ficaram de lado. Na noite que Jesus foi traído ele fez o ato de maior comunhão.

Foi no dia que levantaram o calcanhar João 13.18, na prática, levou um chute, que ele fez o maior ato.

Jesus num ato de honra lhe dá o bocado molhado no vinho – Um sinal de amor.

A comunhão é maior do que as diferenças, traições, o sacrifício de Cristo nos une a ele.

 

3º - Este era o pedido final de Jesus ao partir o pão: Lembrem de mim.

“fazei isto em memória de mim.  1 Coríntios 11:24

Pedidos finais de pessoas são levados a sério, logo não seria de menor importância com Jesus.

Annamnesis representa a memória vívida de Jesus, não apenas lembrar, mas tornar a sentir.

 

Dt. 16-3 Pão sem fermento na páscoa.

·       Paulo deseja transportar os discípulos para o dia da instituição da ceia.

·       Consideremos como Jesus se sentia, como estava, seus anseios.

·       A alegria, também a expectativa.

·       Jesus queria que seus discípulos mantivessem viva sua memória, que nunca se esquecessem dele, neste sentido, é tudo sobre Jesus, não sobre nós, como nos sentimos, o que queremos, é sobre ele.

 

 

4º - A ceia é um convite de Jesus que ressignifica o primeiro elemento: O pão – Corpo

(Considere os sofrimentos físicos)

·       Os açoites

·       A roupa posta e tirada

·       A coroa de espinhos

·       Os pregos

·       A asfixia

·       O abandono

·       A humilhação

 

5º - A comunhão da ceia quando negligenciada é deixar de ter “Parte com Jesus”, mas o contrário também é verdadeiro

(Isto é meu corpo)

Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.
Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
João 6:53-58

 

6º - A ceia apresenta um novo fundamento para a aliança entre Deus e nós. Ao tomar o cálice Jesus fala de uma aliança fundamentada na graça – V.25

Toda a aliança do A.T estava fundamentada na observância da lei, tendo como pontos fundantes a exclusividade de alguns poucos que compunham seu povo.

Jesus agora faz uma nova aliança, essa aliança era fundamentada no seu sangue, o sangue é a garantia de que eu e Deus não somos mais inimigos, o sangue é a garantia de que eu fui comprado, eu pertenço a ele.

Na nova aliança não dependo do meu desempenho, o sangue limpa, o sangue garante, o sangue perdoa.

7º - A ceia lembra a centralidade da Cruz – V. 26

(Há um desencantamento com a mensagem central da bíblia).

A cruz se constitui um escândalo, Paulo já havia falado aos Coríntios sobre isso.

Para os gregos era simples, para os Judeus uma Blasfêmia, para nós é poder.

 

8° - A ceia é um convite a reflexão, confissão e gratidão – V. 27-28

O autoexame é necessário, mas não nos incentivando a não participar, mas sim a considerar tudo.

A dignidade não se dá no merecer (ninguém merece)

A dignidade está no temor e reverência e empatia V. 27

O amor da cruz nos constrange – 2º Cor. 5.14

Morri na cruz por ti, que fazes tu por mim?

 

9º - O não discernimento transforma corpo e sangue em Juízo

Engolindo-se o Juízo se enfraquece e adoece. (Isso influencia na vida da igreja como corpo, iniquidades, pecados ocultos, irreverência, insensibilidade).

 

10º - A ceia é um dia de entender o amor de Deus por nós.

 

Ao sermos repreendidos na ceia, somos chamados a meditar como filhos.

Deus só dá alertas tão intensos a quem ele ama, a falta de repreensão caracteriza um abandono de quem desistiu, de quem já não se importa, ao nos repreender de formas tão intensas, Jesus não quer nos perder de vista, Jesus não quer que sejamos levados para o mundo, que percamos o foco ingerindo juízo para si ao invés de coisas boas.

 

O resumo de todo o sermão de Paulo na ceia, é que todo o ato, tudo que pensamos neste dia, tudo é sobre Jesus e não sobre nós.