sexta-feira, 17 de março de 2017

O filho pródigo - Parte 1 - Sermão entregue a Ad Brás Jd. Guarujá 1

E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles.
Lucas 15:1,2

O público que Jesus atraiu após si não era de forma alguma o mais agradável, tratava-se da escória da sociedade de seus dias, aqueles que os religiosos tinham repulsa. O povo dos quais viravam os rostos, os últimos na escala de “bons moços e boas moças”.
Seus discípulos eram por certo, pessoas inadequadas em sua maioria, homens iletrados, pescadores, braçais e que até então viviam sem nenhuma relevância cultural e religiosa. Dentre os discípulos encontra-se um coletor de impostos, alguém que ninguém queria receber ou manter vínculo. Cristo opta por estar em casas onde as pessoas naturalmente não gostariam de estar, como a de Zaqueu, o publicano de baixa estatura, ao olhar para ele Cristo diz: “Desça porque me convém pousar em sua casa”.
Cristo opta por entrar em casas de publicanos, opta por absorver uma mulher apanhada em adultério, opta por comemorar na festa de conversão de Mateus, uma festa cercada de gente considerada pelos religiosos inadequada. Jesus permite que o leproso lhe dirija a palavra e ele lhe toca, Jesus come sem lavar as mãos, Jesus cura no sábado, cospe no chão, unta os olhos do cego e lhe ordena se lavar, manda um homem carregar sua cama.
Jesus nunca se recusou a estar com esses considerados rejeitados, e sua questão não era de evitar confrontação, mas o que ele buscava era uma honestidade ao ponto de admitir seu pecado e reconhecer a carência de misericórdia divina. Cristo não se agrada do pecado de forma alguma, porém o fato de ser um pecador arrependido é algo que lhe ativa uma misericórdia ativa que provê os meios para a restauração.
Era isso que Cristo buscava. Se os templos não forneciam espaço, com Cristo haveria, se os lugares considerados santos, se afogam em suas ordenanças que nem mesmo seus líderes seguem, há um Cristo com um convite aberto para as bodas.
 Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes.
E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados.
Mateus 22:9,10

Essas atitudes de Jesus causavam extrema repulsa nos Fariseus e escribas, pois, se o reino chegou vindo de um homem maltrapilho, de Nazaré, filho de carpinteiro, um homem que não lava as mãos, pois, informa que o que contamina vem de dentro. Um homem que fala com mulheres samaritanas sem se deixar corromper, um homem que entra em casas de publicanos e os faz restituir quatro vezes mais, era tudo o que eles não esperavam. Tenho pra mim, que os fariseus esperavam um Jesus mais rígido do que eles eram, um Jesus que de tão amargo seria mal como o Deus que projetaram em suas cabeças. Queriam um Messias rei, autoritário, alguém que a qualquer momento poderia exterminar os desobedientes, sob o pretexto de ter lhe desagradado, porém a face de Jesus era sorridente, humilde, simples e totalmente diferente de tudo quanto os fariseus e escribas pensavam.

A postura de Jesus foi duramente criticada, pensando nisso Cristo propõe três parábolas de resgate.
Essas três parábolas receberam nomes usados até hoje, a saber: Ovelha perdida, dracma perdida e filho pródigo.
A ideia desses três prefácios é: Coisas que se perderam. Se olharmos exclusivamente para elas, veremos que o foco estará sobre o que se perde e não de quem busca o que se perdeu.
Em resumo, é como focar o pecador, mas não o Deus perdoador que está disposto a lhe procurar.
Portanto proponho novos nomes a essas parábolas, aliás, nomes que já são usados por aqueles que estudaram mais a fundo o contexto dessa passagem.
O correto seria:

1° Um homem que tinha cem ovelhas e perdeu uma.
O homem (Pastor), é o próprio Deus.
As noventa e nove ovelhas, São os fariseus e escribas.
A ovelha que escapa é o pecador, o publicano, o pagão.

2° Uma mulher que tinha uma dracma.
A mulher representa Deus.
A dracma somos nós.

3° Por último um pai que tinha dois filhos, um mais novo e um mais velho.
O pai representa Deus e seu caráter e postura, o filho mais velho são os judeus com seus preconceitos, o filho mais é o tipo dos pecadores arrependidos.

Warren Wiersbie diz que esse capítulo 15 pode se resumir em três palavras:
Perdido, encontrado e alegria.

O mal dos fariseus foi não enxergar que eles também se perderam, mas não tinham a capacidade de discernir isso e o pior cego é o que se recusa a ver, as evidências estão diante de si, não há o que contestar, porém numa esquizofrenia eles estão se isolando em seu mundo, projetando para si belas imagens sem de fato vive-las.
Jesus queria explicar de vez sua missão, mostrar para todos como podemos nos comportar e essas parábolas são sensacionais pois, de modo claro podemos nos assemelhar na ovelha que se perde, na dracma perdida em casa e principalmente em filhos rebeldes ou ingratos.

                                          E disse: Um certo homem tinha dois filhos;
Lucas 15:11

A parábola é sobre um homem com dois filhos. É o pai, não seus filhos que são o foco.
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
Lucas 15:12,13

Não era um fato totalmente incomum um filho receber sua herança em vida, porém quando isso acontecia era por iniciativa do pai, não do filho:
Porém Abraão deu tudo o que tinha a Isaque;
Mas aos filhos das concubinas que Abraão tinha, deu Abraão presentes e, vivendo ele ainda, despediu-os do seu filho Isaque, enviando-os ao oriente, para a terra oriental.
Gênesis 25:5,6

Não foi um ato nada amoroso esse do filho, pois, se não tratava de uma iniciativa do pai, ele deveria se manter junto ao pai até a morte, porém ele antecipa atitudes que deveriam ser póstumas. O pai de modo totalmente gracioso lhe permite ir, sem dizer palavras negativas, sem retrucar, mas num respeito fora do comum lhe permite sair.
Outro fato interessante para se notar é de que o filho opta por sair e o texto dá a entender que essa decisão fora premeditada por alguns anos ou meses. AO receber o que lhe interessava, o filho sai poucos dias depois. Para longe! 

Esse moço mais novo, que representa a primeira parte da parábola trata-se da representação prática dos publicanos e pecadores que comiam com Jesus, ele representa todos os maltrapilhos de ontem e hoje.
Representa a humanidade como um todo, representa o estado deplorável a qual nós chegamos.
Pensemos nas catástrofes atuais, tínhamos tudo, poderíamos viver em paz, porém o homem vive de modo dissoluto, vive de modo totalmente inconsequente.
Hoje há infelizmente abortos acontecendo de modo totalmente irresponsável, pelo simples desejo de não danificar o corpo, homens cometem estupros, mortes violentas, milhares passam fome e inúmeros outros problemas advém de más decisões dos homens.


Pensemos no que nos levou a esse estado atual, olhando para o filho pródigo:

1° Substituição de afetos contínuos por uma pluralidade de afetos momentâneos.
Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence.
Lucas 15:12
O filho tinha o pai de contínuo demonstrando amor por atitudes, cuidado, respeito e segurança, porém numa decisão precipitada ele opta por viver novas sensações, opta por algo que ele ainda não possui, é uma busca contínua, um interesse insaciável. Não bastava ter um pai de amor, era necessário ter mais pessoas, não bastava ter a profundidade de um amor enorme, era necessário ter várias fontes rasas.
"O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água.
Jeremias 2:13
O filho fez o que Israel fizera no antigo testamento, optou pelas suas cisternas, tendo uma fonte contínua de águas que não se encontrariam em outro lugar.
Ainda hoje os homens fazem o mesmo com suas famílias, trocam histórias por lances, trocam relacionamentos contínuos por aventuras e a busca do novo gera uma satisfação que desacredita num “felizes para sempre”, que desconsidera a família como algo plenamente feliz com base em exceções.
As relações são mutáveis, uma hora se ama, pouco tempo depois já não há mais sentimento.
As paixões são confundidas com afetos e num hedonismo terrível o povo troca a segurança pelo risco.

2° A supervalorização de coisas em detrimento de pessoas
Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence.
Lucas 15:12

Imagine a cena: Um filho, olha para o pai e antecipa o desejo de receber a herança, sob a cultura antiga isso era declarar que o desejo era de que o pai sequer deveria existir.
Uma ingratidão profunda, pois, se havia herança, se havia vida, se o rapaz chegara ao ponto de ter idade e intelecto para tomar suas decisões, tudo isso era devido ao pai.
Porém ao filho pouco importa o que o pai pensa, pouco importa a vergonha posterior de ter um filho ainda vem vida levando suas partes nas heranças, pouco importa a pergunta dos criados e amigos: “Onde está seu filho?” “Por que ele saiu?” Não levou em conta o fato de que os outros também tem sentimentos, mas num egoísmo frenético ele opta por seguir seu caminho com o que de fato lhe importava.
Ele trocou o que tem valor, por aqui que tem preço.
Optou por trocar o eterno pelo temporal.
Amou mais coisas do que pessoas e quando o que se está amando não tem coração, a recompensa do amor doado será a indiferença de algo que nada pode fazer.
É o exemplo de Jonas que amou mais a aboboreira do que as pessoas. Jonas 4.
O exemplo do Jovem Rico Mateus 19.19-22


3° O anseio de viver sem limites: Fuga da culpa

Partiu para uma terra longínqua
Lucas 15:13
O rapaz poderia ter optado por permanecer próximo, mas os choros do pai, as saudades dele, os limites impostos até então, tudo isso ele queria esquecer e viver sem restrições, se permitindo, sem senso de culpa, sem medos, sem nenhum tipo de repulsa.
É típico de quem se afasta da comunhão criar algum tipo de aversão por tudo o que se refere a igreja, dessa forma vemos pessoas que um dia temeram a Deus ficar dez anos sem pisar numa igreja, querem sair e errar à vontade, usam o “não julgueis” como uma permissão para pecar em paz. O rapaz vai para longe com a intenção de não ter com o que se preocupar, queria viver sua liberdade sem limites, sem proibições.
A pior coisa que podemos almejar é uma autonomia. É um viver sem responsabilidades.
Thomas Huxley disse: "As piores dificuldades de um indivíduo começam quando ele tem a possibilidade de fazer o que bem entende".
Após muito tempo sob vigilância do pai, o filho quer reverter os tempos “perdidos”, longe de tudo e de todos e a culpa tem esse efeito. Essa busca por liberdade é um salto para fora da existência, Deus é o todo, viver longe do que Deus quer é não viver.
Para não permitir tal coisa Deus dá passos para trás, mas nós queremos tudo, menos ele, evitamos o diálogo, evitamos vê-lo nas pregações, nos louvores, pegamos até uma certa raiva e o desejo é de viver em paz, a falsa paz que o mundo promete.
O que o rapaz deseja de fato é fugir da culpa, quanto mais longe melhor.
4° Felicidade individualista: Egoísmo
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu
Lucas 15:13
O filho acreditou de modo espantoso que é possível ser feliz sozinho, que não precisava do pai, de irmãos, de ninguém!
Que poderia se virar só, que poderia conquistar novas amizades, que mesmo em sua pouca idade poderia viver sem os afetos do passado e iniciar uma vida só. Porém a solidão é um verdadeiro demônio, é impossível ser feliz sem ter com quem compartilhar a alegria, é impossível viver em total isolamento, quando se trata de um isolamento por horas, podemos dizer que é agradável, mas tratando-se de uma vida sem ninguém, uma vida sem família, sem amigos, sem pessoas que se preocupam de verdade.
Com quem ele se alegrará nas alegrias? Com quem ele chorará nas tristezas? Rm 12.15
Essa autossuficiência leva muitos ao topo, mas construindo uma vida em forma de pirâmide o espaço para que pessoas compartilhem do topo com você é pequeno, cheio de dinheiro como esse rapaz estava, as relações se tornariam mero interesse, sem afeto, e quando se trata de uma relação movida por interesses, é melhor estar só.
Ele queria crescer, mas crescer só. E isso não é vida, é disputa, é ser campeão olhando para trás e vendo os ex-amigos distantes em nome de um darwinismo emocional, cultural, profissional.
                                 
5° Desconsiderou o futuro para viver de modo hedonista no presente

E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
Lucas 15:13,14
Ele não levou em conta que o amanhã chegaria e com ele inúmeras dificuldades, não importava o que estava por vir, até porque viver o momento era tudo o que ele queria.
Eles não entenderam que a “vida cobra”. Que cedo ou tarde iria colher a dissolução do presente.
Um sentimento gnosticista que diz que quanto mais se curte, mais se valoriza a carne santifica a alma.  Esse jovem é movido por seus instintos, por certo pagou bebidas, viajou muito, fechou bordeis, fez tudo o que pode.
A busca do prazer era incessante, ele queria atender todos os seus desejos sem restrições e seu destino era a ruína.

6° Buscou solidariedade num mundo que jaz no maligno
E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
Lucas 15:15
Ele imaginava que todos seriam bons como o pai era, desconsiderou que esse mundo é um lugar com gente má, gente que se aproveita, gente que se possível envia moças para prostíbulos fora do país, um mundo onde brincam com sonhos de jovens e de velhos.
Um mundo onde cada um atenta somente ao que é seu.
Sobre o materialismo e pessimismo pós-moderno Lillian Hellman diz:

"A única maneira de sobreviver neste ninho de cobras é agarrando-se a um princípio. Um princípio nobre. O mais nobre que você puder. E, enquanto eles estiverem olhando para este princípio, você escapa com o dinheiro"

Trecho do livro: Fim do milênio, os perigos e desafios da pós-modernidade na igreja. Pr Ricardo Gondim;

Cada um por si, Deus por todos. Diriam no senso comum, infelizmente esse é a realidade. O amigo mais solidário forneceu um emprego de apascentador de porcos.
Comer carne de porcos era proibido, o emprego de apascentador era sem dúvidas um dos menos nobres de todos.
E o que restou ao rapaz não foram as noitadas, as festas, os amigos de bar se vão, o que fica é o amor de quem de fato nos ama antes do sucesso, de quem dividiu conosco os pães duros da pobreza, de quem não se importou das roupas que tínhamos ou de não ter dinheiro, de quem valorizou a presença e não os presentes. O mundo é mal, não devemos trocar o amor do pai por tais amizades pois todas são traiçoeiras e interessadas.

7° Ele vivia sob a constante certeza de que iria se superar
E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
Lucas 15:16
Infelizmente as qualidades que temos, podem nos cegar para viver de modo medíocre acreditando que vamos sempre nos superar.
Procrastinamos mudanças, com aquela sensação contínua e de auto engano de que “estamos no controle”.
Sensação que toma os viciados que nunca admitem seu real estado, que toma os que praticam iniquidades as escondidas e dizem: “eu tenho total controle sobre isso”.
Dos adúlteros que entendem que tudo não passa de um lance, mas não consegue sair.
Ricardo Gondim cita o exemplo de quando era jovem e ia estudar, sempre nas últimas semanas varava noites em claro e se superava em seus limites, e temos sempre a sensação de que vamos conseguir, de que vamos sair, de que é só mais uma situação, eu vou conseguir voltar para casa, ou melhor no caso dele, ele chega ao ponto de pensar que conseguiria sair da situação de apascentador de porcos, para ser um homem honrado como fora na casa de seu pai, porém não.
A única alternativa era o arrependimento, ele já estava num submundo onde desejava comer a mesma comida dos porcos.

É como Sansão em Juízes 16.20

"Deixastes teu primeiro amor" - Uma palavra sobre o amor a Deus

“ Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas , que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência,e que não podes sofrer os maus; e os que se dizem ser judeus e o não são e tu os achastes mentirosos; e sofrestes e tens paciência; e trabalhaste e não cansaste pelo nome meu nome e não te cansaste. Tenho porém contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o seu castiçal, se não te arrependeres. Tens, porém, isto: que aborreces as obras dos nicolaítas, quais eu também aborreço. Quem tem ouvidos ouça o que o espírito diz às igrejas: Ao que vencer, Dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus.”   
Apocalipse 2.1-7 (Carta a igreja de Éfeso)

As sete cartas tem um padrão de escrita, em todas elas Cristo Jesus se apresenta de uma maneira diferente, demonstra seu conhecimento em relação a igreja, faz promessas aos vencedores.
Em Duas dessas cartas há apenas elogios: Esmirna (AP. 2.8-11) e Filadélfia (Ap. 3. 7-13) e em Laodicéia ( AP 3.14-22) há apenas repreensões.
A conclusão das cartas tem o seguinte trecho: “Quem tem ouvidos ouça o que o espírito diz as igrejas...”
A cidade de Éfeso era a maior da Ásia, a igreja dessa cidade sofreu diversas perseguições, pois, a idolatria era generalizada. O apóstolo Paulo dedicou boa parte de seu ministério a essa igreja, em Atos ele pregou um de seus sermões mais marcantes e emocionados, quando disse: “ E, agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto” (AT. 20.25)
Após essa declaração de Paulo e mais algumas exortações, ele orou com a igreja: “ E, havendo dito isto, pôs-se de joelhos e orou com todos eles, E levantou-se um grande pranto entre todos e lançando-se ao pescoço de Paulo o beijavam.” (AT 20.36-37)
Assim como predito por Paulo eles sofreram muito, na época em que o livro do Apocalipse foi escrito os cristãos estavam sofrendo sobre o império de Domiciano, imperador romano (81-96 d.C.).
O autor do livro estava exilado na ilha de patmos, tudo parecia estar perdido pra João, mas no momento de tristeza Jesus apareceu a João mostrando-se ressurreto, mostrando ao seu servo as coisas que foram, são e estão pra acontecer.
Antes de iniciar a análise das cartas, é importante ressaltar que o livro do Apocalipse utiliza linguagem simbólica, os sete candeeiros (castiçais), representam as sete igrejas.

Jesus apresenta-se a Éfeso como aquele que tem em suas mãos as sete estrelas, que representam Os sete anjos.
Ou seja, ele tem o controle sobre a igreja, Éfeso estava nas mãos de Jesus Cristo.
Após isso a carta diz “Aquele que anda no meio dos sete castiçais”, Jesus não só conhece e tem controle sobre a igreja, como também anda entre ela. Seguindo esse pensamento é possível chegar à conclusão que quem olha pra igreja vê a semelhança de Cristo, tanto que João antes de ver Jesus, viu a igreja.  Somos a imagem e semelhança de Deus, não há como ver Jesus Cristo nos nossos dias sem olhar para a igreja.
Nos versículos 2 e 3, Jesus demonstra conhecer a igreja intimamente, como o esposo conhece sua esposa, ele diz: “Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência,e que não podes sofrer os maus; e os que se dizem ser judeus e o não são e tu os achastes mentirosos; e sofrestes e tens paciência; e trabalhaste e não cansaste pelo nome meu nome e não te cansaste.”
A igreja de Éfeso pode ser um ótimo exemplo para as igrejas dos nossos dias, eles tinham compromisso a ponto de rejeitar falsas doutrinas, sofrer pelo evangelho de Cristo, a filosofia de vida desses cristãos era semelhante à de Paulo: “Pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho”. (FP 1.21)
Infelizmente as igrejas dos nossos dias, estão seguindo o evangelho dos sinais, estão sendo levados por qualquer vento de doutrina. São poucos que realmente estão dispostos e sofrer e até mesmo a morrer pelo evangelho verdadeiro.
Mas após essa série de elogios, Jesus traz uma dura repreensão: “Tenho, porém contra ti que abandonaste a tua primeira caridade”. ( AP. 2.4)

A igreja de Éfeso demonstra ser possível que haja um compromisso sem amor, eles eram perfeitos em sua conduta, trabalho, paciência ETC. Mas falharam em um ponto crucial: Passaram a agir de maneira “mecânica”, como um simples costume. Suas motivações já não eram as mesmas, tinham muito zelo no serviço ao Senhor, mas só as obras não garantem a aprovação divina, até então estavam agindo corretamente, não haviam se conformado com o mundo, não mancharam suas vestes como parte da igreja de Sardes, não se deixaram levar por heresias como Pérgamo, mas deixaram de servir a Deus com amor.
Era como se Jesus estivesse dizendo: “Vocês fizeram tudo certo, mas falharam apenas em um ponto, esqueceram que o amor é maior do que os dons, maior que todos os sentimentos, maior do que todas as suas boas obras.”
Paulo escrevendo aos Coríntios diz: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. (1 Cor. 13.1)
A igreja de Éfeso havia se afogado no mar do ativismo religioso, o famoso: “Fazer por costume”;” cumprimento de rotina”.
O amor, para Deus excede as obras, as motivações pesam mais que os sacrifícios, Míquéias demonstra isso em seu ministério ao questionar-se: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus Altíssimo”?
Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? O fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou ó homem o que é bom; e o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e Andes humildemente com teu Deus?” ( MQ. 6.6-8)
O que Deus espera de nós não é apenas o sacrifício externo e visível, ele espera algo que venha de nosso coração!  Os nossos lábios podem muito bem expressar belas palavras, mas Cristo vê além do exterior.
A igreja de Éfeso estava comprometida, mas sem o amor. Quando falo em primeiro amor, imagino algo puro, um sentimento completamente voluntário, isento de interesses, pretensões, ETC.
O verdadeiro amor foi expresso por Deus através de Cristo : “ Mas Deus prova seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” ( RM 5.8)
“ Porque Deus, amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” ( JO 3.16)
Deus não espera de nós apenas o zelo no serviço, mais do que a nossa dedicação ele espera nosso amor.  Os Fariseus eram zelosos em relação à lei, porém pouco sabia sobre o amor, jamais compreenderam que a grandeza do evangelho é a Graça de Deus, manifesta em Jesus Cristo. Eles tinham uma boa aparência, mas o importante em nosso relacionamento com Deus é o nosso sentimento e desejo de expressar uma verdadeira adoração, há uma grande distância entre a aparência e essência.
Quando penso em desvio das primeiras obras, lembro-me de dois exemplos bíblicos: Sansão e o filho-pródigo.
Sansão tinha tudo pra ser o maior herói do antigo testamento, seu nascimento foi completamente diferente dos demais juízes, patriarcas e ícones da fé cristã. Sua mãe recebeu a visita de um anjo anunciando seu nascimento, antes de nascer Sansão já recebeu uma ordem, seria nazireu de Deus, ou seja, não teria contato com mortos, não iria ingerir bebida forte, não passaria navalha em sua cabeça, ETC.
Com o passar do tempo ele deveria ter uma vida completamente regrada, correta, sendo assim um exemplo para o povo. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário, ele a cada dia foi se afastando de Deus, por diversas vezes o espírito se apoderava de Sansão, ele passou a se conformar com momentos ao lado de Deus e desprezou a comunhão.
Chegou ao ponto de tocar em animais mortos, (JZ 14.6,9) contar seu segredo a uma mulher que tinha a intenção de afligi-lo (JZ 16.6,18)

O Filho pródigo assemelha-se a Sansão pelo fato de sair de sua casa, onde tinha estabilidade, boa comida, servos à sua disposição, boas vestimentas e principalmente um pai exemplar.
Mas ele preferiu arriscar-se saindo de casa e deixar amor de seu pai, mergulhou em uma crise tão grande a ponto de desejar a comida que os porcos comiam.
O versículo seguinte é uma das partes mais importantes da carta a igreja de Éfeso:
“Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o seu castiçal, se não te arrependeres.”
O filho pródigo lembrou-se da casa de seu pai, mas não só lembrou, pois, a simples lembrança do bom estado gera um sentimento chamado remorso.
Cristo não só espera de sua igreja o remorso, mas uma atitude em direção a mudança, a simples lembrança não muda a vida do cristão.
Arrependimento exige atitudes, o filho pródigo diz: “ Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai pequei contra o céu e perante ti...” (LC 15.18)
O filho volta pra casa e é recebido por seu pai, torna a praticar as primeiras obras.
Sansão da mesma maneira, antes de morrer fez uma oração ao Senhor dizendo: “ Deus, peço-te que lembres de mim, e fortalece-me agora só esta vez ó Deus para que de uma só vez me vingue dos filisteus pelos meus dois olhos” (JZ 16.28)
Houve arrependimento por parte de Sansão e do filho pródigo, Deus sempre está disposto a nos perdoar, e receber-nos de braços abertos, podemos estar como o filho pródigo fedendo a porcos, mas Cristo está disposto a saltar em nosso pescoço e beijar-nos, se movendo de íntima compaixão.
O arrependimento deve fazer parte da conduta Cristã, a igreja de Éfeso se acostumou a olhar para os outros, esquecendo-se que o importante é antes de notar o cisco no olho de nosso irmão, remover a imensa trave que está diante de nossos olhos.
A auto-avaliação é importantíssima na vida de qualquer pessoa, sem a qual ninguém poderá notas as próprias limitações e arrepender-se dos seus erros.
Caso a igreja de Éfeso não se arrependesse eles teriam seu castiçal removido. O castiçal no tabernáculo tinha a função de iluminar o interior.
Paulo nos compara a um tabernáculo quando diz: “ Sabemos que se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício...” ( 2 Cor 5.1a)
Somos habitação de Deus, morada do espírito santo, a diferença entre tabernáculo e templo é na mobilidade.
O tabernáculo sem castiçal perde a luz.  Assim é todo cristão que abandona o seu primeiro amor, Uzias é um exemplo de orgulho e falta de arrependimento. Devido a esses erros ele acabou leproso, longe do templo, da família, do reino. ( 2 Cr. 26)
Cristo nos compara à Luz do mundo (MT 5.14).
O grande problema da falta do castiçal é a ausência do brilho, luz, capacidade de influência da igreja.
Muitas igrejas estão sem o castiçal, ao invés de serem luz e exemplos para o mundo, tem sido motivo de desonra ao evangelho, muitas tem se tornado apenas um museu, cristãos estão vivendo do passado da igreja e não terá no futuro algo a apresentar a seus filhos e sucessores. E quando me refiro ao castiçal no interior do tabernáculo, chego a conclusão que o brilho começa no nosso caráter, a grandeza dos valores cristãos não está baseada em palavras, mas sim em atitudes, o que sai da nossa boca não é maior que nosso caráter, nossa conduta fala mais que as palavras...


  

Perdão - Sermão entregue a AD São Mateus - Chácara Santana

Texto base:

O QUE É A MÁGOA?

Mágoa – A origem da palavra mágoa tem a ver com o latim “Mácula” que indica algo como sujar-se.
Há ainda indícios de que essa palavra fora usada originalmente para se referir a sujeiras geradas em contusões.
Partindo desse princípio, a mágoa é a sujeira das feridas, as manchas das quedas, a consequência de quem foi machucado. Além da dor do ato, há uma sujeira que contamina, é visível e que contagia quem se aproxima.

AS CONSEQUÊNCIAS DAS MÁGOAS

A mágoa tem por característica o fato de ser de alguma forma contagiosa, a aproximação de pessoas magoadas pode dependendo do nível de contato, contaminar também.
Esse sentimento impede o sorriso sincero, a confiança se perde, os traumas falam mais alto, a dor da ferida ainda aberta é dolorosa demais para ser esquecida ou medicada e o pior, o tempo passa agravando ainda mais a situação. O que poderia ser tratado de início, ganha proporções enormes ao ponto de que quando finalmente se dá conta das origens e a dimensão inicial do problema, nota-se que houve uma grande negligência.
Não é raro ver pessoas brigadas há anos pelos motivos mais banais, uma briga boba, ciúmes sem motivos, má interpretação de palavras, autocomiseração, expectativa enormes em cima dos outros, tudo isso produz pessoas magoadas. Gente amarga, triste e que não confia em ninguém, que optaram por entrar em seus casulos sem nenhum contato externo.
Como é triste saber que há casais que passam fins de semana sem se falar por conta de um celular, por conta de uma palavra expressada de modo inadequado, algo colocado fora do lugar, um momento de explosão geram afirmações que se não forem tratadas de imediato podem gerar até o fim de uma história.
Como o mundo está magoado! O ciclo da falta de graça gerada pelas mágoas está levando as pessoas a se ofenderem entre si, recebe-se uma herança maldita, ou seja, as projeções são feitas de geração em geração, os filhos querem vingar os pais, aqueles que são oprimidos sonham em ser opressores, a vingança é contínua e o ciclo da culpa não tem fim. Até quando uma mágoa pode se estender? Qual o limite da decepção?
A mágoa é um ciclo contínuo. Muitos não sabem ao certo sequer porque estão brigando, apenas brigam, é o estado natural do ser humano.
Grande parte das batalhas e guerras vigentes foram ocasionadas por interesses mesquinhos e perpetuadas por vinganças contínuas, o motivo inicial por certo se perde com o tempo, mas como já estão na briga, não há como voltar atrás, já há muitos envolvidos, sangue a vingar e enquanto uma das partes não opta por parar, a guerra continua.
Como é ruim ter que evitar lugares, ter que evitar o contato a todo custo, mudar a rota, evitar o olhar, ou se distrai com o celular, fingir que não viu, etc.
Qualquer uma das alternativas demonstra que é bem pior não perdoar do que perdoar, aliás, o perdão não é nada fácil, porém deixar de perdoar dói mais, gera ressentimentos, a sensação que se tem ao estar magoado é de que a ferida nunca se cicatrizou e para piorar ela está de contínuo inflamada e sendo reaberta. Sempre há um sentimento de retrospectiva e as dores de coisas feitas há mais de 1, 2 ou em casos mais graves de 30 anos, são revividas de contínuo.

Esse assunto da mágoa não é novo, desde os tempos da bíblia as pessoas sofreram desse mal, pretendo no decorrer desse estudo falar sobre alguns casos e as características da mágoa.

ELA NÃO ESCOLHE GRAUS DE PARENTESCO NEM PRESCREVE
“Porém Absalão não falou com Amnom, nem mal nem bem; porque Absalão odiava a Amnom, por ter forçado a Tamar sua irmã.
2 Samuel 13:22

E Absalão deu ordem aos seus servos, dizendo: Tomai sentido; quando o coração de Amnom estiver alegre do vinho, e eu vos disser: Feri a Amnom, então o matareis; não temais: porque porventura não sou eu quem vo-lo ordenei? Esforçai-vos, e sede valentes.
E os servos de Absalão fizeram a Amnom como Absalão lho havia ordenado. Então todos os filhos do rei se levantaram, e montaram cada um no seu mulo, e fugiram.
2 Samuel 13:28,29




Amnom tinha por irmã Tamar, a bíblia diz que ele se apaixonou em extremo pela própria irmã. O que é extremamente absurdo. Ao ponto de que não comia, entristecendo-se e vivendo um extremo desalinho entre vontade e razão.
Ao ponto de que ele é aconselhado por um amigo que trama uma dissimulação maligna, a intenção é possuir a própria irmã independente dos meios.
Amnom ouve o conselho de seu amigo e finge estar doente, pede a presença da irmã ao pai, que prontamente lhe atende. Ao chegar, Tamar lhe faz uma pequena refeição e Amnom ordena que todos seus empregados saiam e ele fique a sós com sua irmã.
O homem agora está a sós com a moça e lhe propõe o absurdo, ela espantada pensando num meio de escapar lhe propõe que peça ao pai sua mão. Porém Amnon estava decidido a possuí-la mesmo que a força, e ele assim o fez. Tamar é violada, logo após extremamente rejeitada e o mal da rejeição supera o do estupro. Um nojo maligno toma conta de Amnom, uma tristeza profunda aliada da vergonha domina Tamar. Davi fica sabendo de tudo o que aconteceu e nada faz, de igual modo Absalão, irmão de Tamar.

Dois anos se passam, Absalão promove uma festa, convida seu pai e ele não pode ir. Porém os planos eram de que o pai realmente não fossem, dois anos depois, a mágoa estava ainda maior, o tempo apenas agigantou a ferida, o tempo apenas agravou as coisas. Há um acordo macabro na intenção de matar Amnom, Absalão ordena aos seus servos que assim que a ordem fosse dada eles deveriam ferir Amnom. Quando o momento finalmente chega no decorrer da festa, Amnom é executado. Um irmão mata o outro. Esse ato abalou profundamente Davi, posteriormente Absalão está disposto a matar o próprio pai para tomar o reino.
A mágoa não passa com o tempo quando não tratada, a mágoa não escolhe graus de relacionamento, do desconhecido ao familiar, ela afeta todas as relações. Vejamos que o caso de Absalão é de silêncio por dois anos, porém o tempo não alivia a tensão causada pela péssima atitude de Amnom. O tempo pelo contrário, agrava as coisas, faz com que as lentes maximizem os erros em extremo, de modo que não se vive até que se vingue. Pior ainda, é perceber que a vingança não satisfaz, de fato não perdoar é algo muito difícil. Absalão assassina o próprio irmão. A mágoa retira todos os nossos filtros de relacionamento, não importa se trata-se de alguém do mesmo sangue, do mesmo povo, do mesmo Deus. A mágoa afeta pais e filhos, irmãos, amigos. Pessoas moram dentro da mesma casa sem se falar, quando não há perdão as lentes do pessimismo estão sempre postas sobre os outros, de modo que o simples ato que essa pessoa comete causa a maior aversão de todas. O jeito de falar irrita, o jeito de se portar, até o silêncio é perturbador quando se está magoado ou irritado. Coisas que não nos incomodam em outras pessoas, incomodam nos pais, nos filhos, na esposa. Na relação conjugal a intolerância dá o tom. As vezes por um único vacilo, toda a relação é prejudicada, não levamos em conta que o perdão é sobre cada erro, não apenas sobre o montante, porque dessa forma todas as vezes que a pessoa errar a carga de todos os erros do passado virá novamente.

Absalão pensava que o tempo ia curar as mágoas, o tempo pode ajudar com relação a dores, a perdas e muitas outras coisas, mas tratando-se de mágoas o tempo é um agravante. Novos pensamentos negativos surgem. Novas afirmações emocionais que tornam o convívio totalmente impossível. O resultado é a morte entre familiares, o que é extremamente triste. O perdão é o único antídoto contra o veneno da mágoa. A mágoa pode matar, a mágoa pode fazer irmãos virarem estranhos dentro do lar, a mágoa pode fazer amigos se tornarem inimigos declarados.


Se não houver perdão, ainda que continuem debaixo do
mesmo teto as almas se divorciam. Sem perdão dorme-se na
mesma cama mas não se tem uma cama comum para as mesmas
almas descansarem, para dormirem juntas no repouso psicológico,
espiritual e moral da oração. Sem perdão não há unidade que
sobreviva numa relação familiar.

Caio Fábio - Perdão: A encarnação da graça



A mágoa não prescreve, a mágoa não passa, é um câncer maligno, que se espalha e pode chegar a uma infecção generalizada. Mata todos os órgãos, mata toda a esperança, a mágoa não nos permite viver como antes. Absalão poderia suceder Davi, mas a mágoa lhe rouba, tira seu prazer na vida, ele passa a apenas existir.








A AUTOPIEDADE ELEVADA

A mágoa gera um sentimento de auto piedade absurdamente elevado, há uma sensação de que todos estão lhe traindo, de que ninguém é confiável, de que a vida lhe direcionou a ser um sofredor, que fomos predestinados a isso.
Já ouvi pessoas que após uma grande decepção disseram: “Eu nasci para sofrer, a alegria é privilégio de poucos”.
As situações que a vida lhe causa, ou que pessoas lhe fizeram passar tornam a pessoa amarga ao ponto de agir como Noemi. “Me chame de Mara”.
Parece que as pessoas que nos fizeram o mal, são as piores pessoas do mundo, nós as melhores. Ouça pessoas que estão magoadas e verás que elas não reconhecem seus erros, elas sempre dizem: “Eu fiz tudo por ele, eu dei meu melhor, eu não merecia isso, ele é uma péssima pessoa”.

A mágoa gera um sentimento de que somos perfeitos, não podemos perdoar porque nosso padrão está acima dos demais. A mágoa se dá também porque no fundo temos como mecanismo de defesa “inocentar nossa imagem” gerando um sentimento de que somos as vítimas. Os magoados são propensos a pensar que todos estão contra ele, que ninguém gosta dele, logo ele não confia em mais ninguém.


PERDA DA CONFIANÇA EM TODAS AS RELAÇÕES

Sempre as relações que sobram são feitas com um “pé atrás”. Esperando o tempo inteiro o momento em que o colega ou amigo vá lhe trair e demonstrar quem de fato é, que não há homem justo, que não há alguém em quem possamos confiar. Pessoas que não se relacionam mais, pessoas que não sorriem na mesma intensidade de antes, pessoas desgostosas com a vida.
Quantas pessoas hoje não querem mais saber da igreja porque em algum momento foram vítimas de abuso de autoridade por parte de sua direção, hoje não se firmam porque não acreditam mais na instituição. A  autopiedade lhe faz pensar que não obstante ele ser uma excelente pessoa, todos ao seu redor são na verdade abusadores. Logo, não congregam mais, não se reúnem, pois, acham que a prática de culto é algo totalmente sem nexo. “Na igreja há muita gente falsa”, “Para ser como alguns são, prefiro não ir”. No fundo a sensação é de umaauto piedade aliada a um orgulho sem sentido.  Pensam ser bons demais para poder conviver om gente tão ruim.

O ACÚMULO DE BAGAGENS E ALGOZES
Quando não há perdão as bagagens se acumulam de modo que sempre que se é ofendido há uma sensação de que todos os algozes voltam de uma vez, dessa vez num único ataque. Projeta-se na imagem do que causa a mágoa atual todos os vilões da vida. Uma simples palavra mal colocada leva os magoados a chorar copiosamente, se alguém em algum momento deixa de cumprimentar a pessoa ela já lembra de todas as vezes que foi rejeitada, logo a mágoa é um meio pelo qual nos amarramos a todos os vilões de uma só vez e todos optassem por nos oprimir juntos.

PESSIMISMO QUANTO AOS ACONTECIMENTOS E MAXIMIZAÇÃO DOS DEFEITOS DOS OUTROS
A mágoa nos leva a maximizar defeitos de quem nos magoou, de modo que a pessoa para nós parece ser a pior do mundo. Num simples erro, somos capazes de construir imagens assustadoras. No momento da decepção e da tristeza, nossos amigos parecem ter adquirido traços muito negativos, nossas lentes são de pessimismo, de modo que não conseguimos olhar e ver nada bom, os defeitos excedem todas as qualidades de até então.

O pior é que quando se está magoado tentamos compartilhar o defeito maximizado e logo estamos falando mal de quem nos magoou, correndo o risco inclusive de ser antiético e tornar-se um opressor, se igualar a quem nos ofendeu.
NEGAÇÃO PRÁTICA DO CRISTIANISMO

A mágoa nega a oração do “pai nosso”. Quem em sã consciência pode orar pai, nos perdoa como nós perdoamos em alto e bom som, tendo seus desafetos? Se a medida de perdão de Deus fosse proporcional ao nosso perdão, seríamos perdoados por algo?
No fundo a mágoa é um esquecimento do quanto se foi perdoado. É uma constante ingratidão. Só quem é perdoado perdoa.  
A mágoa faz com que nações não se relacionem plenamente, até hoje se alguém diz a um Chinês que ele é Japonês, há um profundo desconforto. As feridas dos massacres de Nanquim estão abertas e não há como reestabelecer as alianças tão cedo.







OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE.

Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado.
E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal.
Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver.
Jonas 4:1-3

E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?
Lucas 9:54

A mágoa nos faz desejar morte aos “inimigos”, perdão para nós. Justiça sobre outros, graça apenas sobre mim.
As balanças deixam de ser justas, os julgamentos são parciais. Queremos de todo jeito retribuir o mal feito, é como duas crianças que se batem até que alguém pare, as agressões tendem a ir ganhando força até que ambas estão completamente machucadas, as pessoas almejam vingança. Perdão não é um ato natural, a mágoa sim.
O mundo nos diz, fale com quem fala com você, ame os que te amam, retribua conforme lhe fizerem.
Já li:
“Não me julgue pelas minhas atitudes, elas não dependem do que eu penso, mas sim de como você é comigo”.
A mágoa nos faz estar sob constante controle do outro. É o outro que determina como vou agir, o magoado não tem condições de decidir como vai proceder. O magoado tende a viver em função de demonstrar sua insatisfação com vinganças contínuas, o padrão para essas coisas é mundano.
Já os meus olhos estão consumidos pela mágoa, e têm-se envelhecido por causa de todos os meus inimigos.
Salmos 6:7
Pelo que já se escureceram de mágoa os meus olhos, e já todos os meus membros são como a sombra.
Jó 17:7

Sede desenfreada por vingança, ela é insaciável.

PERDÃO – DEFINIÇÕES

Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe.
E, se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe.
Disseram então os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a fé.
E disse o Senhor: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria.
E qual de vós terá um servo a lavrar ou a apascentar gado, a quem, voltando ele do campo, diga: Chega-te, e assenta-te à mesa?
E não lhe diga antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me até que tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás tu?
Porventura dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não.
Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.
Lucas 17:3-10
“Apesar de já termos ouvido uma centena de sermões a respeito do perdão, não perdoamos facilmente, nem somos facilmente perdoados. Descobrimos que o perdão é sempre mais difícil do que os sermões o fazem parecer",
Elizabeth O'Connor





Hb. Kaphar – Perdoar é cobrir
O perdão é uma borracha emocional, é um meio pelo qual tiramos de diante de nós a opressão, o peso, cobrimos o que nos faz chorar, tiramos de nosso olhar a constante dor, a constante sensação de que todos estão contra nós, tiramos de nosso olhar as lentes do pessimismo, eu cubro os defeitos e não vejo mais de forma micro, mas sim macro. Ao invés de me concentrar no que me estressa no cônjuge, opto por enxergar o que há de bom. Obviamente não vou desconsiderar o que há de ruim, mas vamos cobrir o que há de ruim para não sacrificar o todo, em geral há mais qualidades nas pessoas do que defeitos.
O sentido de cobrir é de perdão provisório, quando Cristo diz para amar quem nos persegue e orar por eles, não quer dizer que eles não vão mais pisar na bola, errar, mas sim que para todas as vezes em que houver arrependimento verdadeiro a mão bondosa de Deus e a nossa estarão estendidas a fim de fornecer uma nova chance.

Gr. Aphíemi – Perdoar é deixar ir
Como dito anteriormente, a falta do perdão põe nosso opressor diante de nós o tempo inteiro, e em casos de falta de perdão que perduram por anos, os opressores se acumulam em extremo.
O perdão é a liberação para que o opressor vá de vez embora, o perdão fornece a liberação para que o opressor não lhe atormente mais.
Li sobre um Judeu que certa vez pensava em ir até os EUA, antes de partir ele declarou que perdoava Hitler. Porque não queria Hitler viajando junto, não queria Hitler tomando café junto.
O perdão nos põe ao lado do inimigo, porém como ajudador. Deixamos finalmente o opressor ir embora. A relação não é mais desgastante, ninguém é obrigado a permanecer com alguém que só lhe fere.

Veja o texto:

Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão;
Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada.
E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.
Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu.
Mateus 18:15-18

1° - Repreensão pessoal – Se ele ouvir continue a relação. A iniciativa deve ser nossa.
2° - Caso não escute, Repreensão com duas testemunhas.
3° - Traze-o a igreja. Se diante da igreja ele não ouvir os conselhos e optar por permanecer dessa forma. Aplica-se a disciplina.

Ninguém é obrigado a estar de contínuo com uma relação desgastante. Se são inúmeras falhas, perdoe, mas não permaneça. Perdoe, não tenha raiva, não deseje o mal, mas evite antes que os níveis de mágoa agora de sua parte, sejam elevados e o veneno da mágoa lhe consuma.


Gr. Charizomai – Perdoar é ser gracioso com quem não merece - Abrir mão do direito de cobrar:


Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta.
E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?
Lucas 7:41,42

Há muitas coisas que podem de alguma forma justificar a falta de perdão, há muitas vezes em que se agirmos exclusivamente com justiça não sobrará nada. Como dito anteriormente, será olho por olho, dente por dente e o prejuízo será maior. Famílias desfeitas, antigos amigos virando inimigos. Temos direito sobre a mágoa, temos direto de se vingar, mas a vida é mais feliz quando por vezes abrimos mão da razão em nome da graça, abrimos mão do mal em nome de ser criança, deixamos as nossas inúmeras demandas simplesmente para ser feliz.
Se tropeçaram em você? Caiu um café? Atrasou? Perdoe, perdoe. Nem sempre ter razão é saudável, sorria disso tudo, a vida ficará mais fácil. Sorria com mais frequência, Temos muitos devedores, mas a gratidão por perdoar excede qualquer dor nos causarem.


Martin Luther King  Jr. Tinha todos os motivos do mundo para ser alguém magoado, para combater o mal com resistência e oposição armadas. Para promover uma grande revolta entre os do norte contra o sul. Mas Luther King tinha um sonho, de ver todos unidos, de ver finalmente os negros assentando-se com os brancos para comer, de que reconhecessem que todos eram irmãos.
Philip Yancey cita o fato de que existiam três banheiros: Feminino, masculino e o dos negros em qualquer lugar. Uma igreja de brancos não recebia negros, os homens chegaram ao ponto de vender tacos de três tamanhos: Pai, mãe e Jr, um senhor chamado Lester Maddox fechou seu restaurante e ganhou a vida vendendo esses tacos Para bater em negros.
Porém Lutherking se mantivera totalmente passivo, acreditava em uma segunda milha, acreditava em não pagar o mal por mal, mas vencê-lo com o bem.
Há relatos sobre uma mulher que fora humilhada e recebeu uma cusparada na cara, mas não reagiu, Simplesmente agradeceu e disse para cuspir também nos outros dois filhos.
A graça anula o poder do mal, o perdão excede toda a injustiça:
Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.
Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.
Romanos 12:20,21

 Perdão é uma questão de fé que excede os milagres:

Disseram então os apóstolos ao Senhor: Acrescenta-nos a fé.
Lucas 17:5

Perdão é uma questão de fé, perdoo porque sou perdoado, amo porque sou amado, e é por ter sido perdoado de antemão que o perdão não me é opcional.
Perdoar exige mais fé do que fazer milagres, perdoar, não é para um cristianismo raso, é para discípulos radicais, pessoas que vão além do simples. Perdoar é um ato mais excelente do que a espiritualidade aparente, é mais forte do que o serviço.
Atos de fé não são as grandes ofertas que dão, não são os grandes atos realizados na religiosidade, mas o perdão.
O perdão excede o culto, excede as orações públicas, excede demonstrações externas.

Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.
Mateus 5:23,24

Perdão não é opção – Mas sim obrigação

"Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’?
Pelo contrário, não dirá: ‘Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’?
Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado?
Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’ ".
Lucas 17:7-10

Não devemos nos sentir a melhor pessoa do mundo por perdoar, não devemos sentir que somos o suprassumo da teologia ou o melhor dos filhos de Deus quando simplesmente perdoamos, quando fizermos apenas o que Cristo nos ordenou, não devemos estar repletos de orgulho, mas em profunda humildade e consciência dizer: “Sou apenas um servo inútil, porque fiz o que foi ordenado”.
Digo com freqüência: "Eu perdôo você". Mas, mesmo quando digo essas palavras, meu coração continua zangado ou ressentido. Ainda quero ouvir a história que me diz que eu estava certo, afinal de contas; ainda quero ouvir pedidos de desculpas e justificativas; ainda quero ter a satisfação de receber algum louvor em troca — pelo menos o louvor de ser tão perdoador!


O Perdão não tem limites - Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? "
Jesus respondeu: "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete.

Costumamos dizer quantas vezes toleraríamos algo, porém Cristo fornece a graça para suportar porque ele também suportou.

Somos todos devedores – Tanto o que devia dez mil talentos como o que devia 100 deviam-no ao seu Senhor. 24

O perdão é uma questão de reconhecer que também devemos.



Somos perdoados, logo devemos perdoar. 25-27

Qualquer dívida de um próximo em relação a nós é extremamente menor do que a dívida que temos para com o nosso Senhor. 28

Ao rei, ele devia 10 mil talentos, 60 milhões de denários. Já o outro ele devia 100 denários. Observem a diferença de 60 milhões para 100. O que meu próximo deve a mim não se compara com o que eu devo a Deus.
Quando não perdoo eu ajo de modo diferente de meu Senhor. É ingratidão, tratar o outro como Deus não nos tratou. 29-30

O perdão é um estatuto perpétuo – 31-32

Quem não perdoa volta a ter sobre si o juízo de Deus. 33 a seguir.



“Aquele que não pode perdoar destrói a ponte sobre a qual ele mesmo tem de passar. George Herbert”

“A falta de graça provoca rachaduras entre mãe e filha, pai e filho, irmão e irmã, entre cientistas, prisioneiros, tribos e raças. Quando abandonadas, as rachaduras se alargam e, para os abismos resultantes da não-graça há apenas um remédio: a frágil ponte de corda do perdão.
Philip Yancey”

“Não perdoar me aprisiona ao passado e exclui todo potencial de mudança. Assim, transfiro o controle ao outro, meu inimigo, e me condeno a sofrer as consequências do erro.”
Philip Yancey”

Quando você perdoa alguém, você secciona o erro da pessoa que o cometeu. Você separa essa pessoa do ato ruim. Você a recria. Em um momento você a identifica radicalmente como a pessoa que errou contra você. No outro, você muda a identidade dela. Ela é refeita em suas lembranças.
Assisti outro dia uma reportagem sobre o martírio de 21 cristãos, assassinados pelo EI na Líbia, tiveram sua morte filmada e divulgada para todo o mundo e as imagens correram pela mídia e pelas redes sociais, o ato que geraria pavor ou seria o estopim de uma guerra, tornou-se a oportunidade de mostrar ao mundo a verdadeira fé Cristã.
Beshir Kamel, sabendo disso foi convidado a falar sobre o assassinato de seus irmãos que eram cristãos, ele em uma atitude totalmente inesperada agradeceu a eles, por eternizar o nome da aldeia que viviam, por ter dado a aldeia o privilégio de ter mártires.
As últimas palavras de alguns dos mortos naquele dia foram “Jesus Cristo”. Um testemunho fantástico, mas que ao mesmo tempo geraria inúmeras reações, alguns seriam mais enérgicos, outros optariam pelas armas, uma guerra como já disse, poderia ser iniciada. Mas ele disse: “Eu os perdôo”.  Bishoy Kamel e Estefanos Kamel morreram, mas ainda falam...
“Minha mãe me disse que se encontrasse alguém do EI, convidaria para entrar em sua casa, porque o martírio de seus filhos me ajudou a entrar no reino de Deus”
Ainda segundo as palavras de Beshir, foi um grande favor ao Cristianismo deixar o áudio das últimas palavras de seus irmãos.


Perdoar dói - Então José não se podia conter diante de todos os que estavam com ele; e clamou: Fazei sair daqui a todo o homem; e ninguém ficou com ele, quando José se deu a conhecer a seus irmãos.
E levantou a sua voz com choro, de maneira que os egípcios o ouviam, e a casa de Faraó o ouviu.
Gênesis 45:1,2

Não foi de modo algum fácil para José Perdoar, não foi de forma alguma algo que ele fez naturalmente, mas foi necessário. Ele perdoou, chorou algumas vezes, pôs dinheiro nos sacos de seus irmãos, pôs um copo, acusou-lhes de roubo, garantiu o reencontro, mas conseguiu.
- Não perdoar me iguala a qualquer animal; só os homens tem essa capacidade maravilhosa de dar novas chances.
- O caráter não se manifesta nos planejamentos, mas nas reações.
- Há apenas uma coisa mais difícil do que perdoar, é não perdoar.
- Perdão não exige penitências – Jacó e Esaú
Perdoar é deixar o outro nascer de novo na nossa história, sem as
memórias que fizeram dele uma desagradável lembrança.
Caio Fábio - Perdão: A encarnação da graça.
- O perdão redesenha o passado.

- O perdão é o único antídoto contra o veneno da mágoa.