sexta-feira, 28 de julho de 2017

É NECESSÁRIO NASCER DE NOVO - 1° PARTE

É NECESSÁRIO NASCER DE NOVO
E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
João 2:23

Após o milagre da transformação da água em vinho, Jesus fez ainda muitos outros sinais, na bíblia estão relatados 53 milagres de Jesus, além de muitos outros que João fez questão de dizer que se anotados o mundo seria insuficiente para comportar a biblioteca.
Jesus fez muitos sinais durante a páscoa, sinais que são ocultados de nós, porém não menos impactantes para as testemunhas daqueles dias. A crença dos que testemunhavam era aguçada na medida em que comparavam ao poder de seus líderes, Cristo fazia o que nenhum outro costumava fazer. Por ser tão eficaz ele foi reconhecido, logo creram em seu nome.
Não se tratava de uma fé na pessoa, no caráter, mas sim um mero convencimento inicial, por ele ser quem está demonstrando ser, por fazer os sinais que faz, o povo crê. De forma que se outro demonstrasse mais poder, logo seria o admirado, não era uma fé no caráter, mas um mero reconhecimento.

Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia;
João 2:24

Jesus nunca se iludiu quanto a esses aplausos, nunca contou com a crença de quem apenas o admira, de quem apenas é de alguma forma convencido por ele.
Por essas razões Jesus não confiava neles, pois, de todo os conhecia. Cristo no fundo sabe quais as reais motivações de todos, sabe se a fé é uma fé de “leite”, ou seja, uma fé que precisa amadurecer, que resiste ao desafio da vida cristã que é crer sem ver, pois, andamos por fé e não por vista. 2° Coríntios 5.7.
A fé de “leite” é uma fé baseada em sinais de modo que invertem as palavras de Jesus:
“Esses sinais seguirão os que crêem” Marcos 16.17.
Estamos em tempos em que os que creem seguem os sinais.
Onde há um sinal, ali está o povo, onde há um mover diferenciado a popularidade tende a aumentar. Ainda hoje há muitos seguidores de sinais, que vivem uma fé insólita, infrutífera. Quando não há sinais logo se enfraquecem e a necessidade por novos e mais fortes sinais geram uma obsessão por tudo que é diferente.
Jesus de todo os conhecia, sabia as reais motivações de todos.
Desde os tempos mais remotos até agora a humanidade tem uma fascinação pelo sobrenatural, por coisas que principalmente possam ser vistas, por deuses que povoem o céu e a terra.
E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem.
João 2:25
Cristo não necessitava de alertas humanos para saber que as motivações do povo eram diversas, de que essa fé era apenas temporária, que o povo não necessariamente gostaria de crer e passar por um discipulado, pelo contrário, eles estavam crendo como quem é convencido, mas as atitudes não mudariam, continuariam em seus devidos lugares, continuariam levando as mesmas vidas.
Jesus bem sabia o que havia neles, seus pensamentos e suas intenções foram sondadas por Cristo.
E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
João 3:1
Na separação posterior de capítulos e versículos, esse texto ficou fragmentado. O assunto de João 2.23-25 é o mesmo de João 3.
A fim de contar sobre essa “fé” que na verdade é mero convencimento e a verdadeira fé bem como seus resultados, João cita a história de um fariseu chamado Nicodemos.
Era como uma continuação, o ideal seria uma escrita semelhante a:
“Porque ele bem sabia o que havia no homem. Para reforçar isso Jesus lhes contou uma história: Havia entre os fariseus um homem....”
Há quatro características em especial sobre Nicodemos que são dignas de nota:

1° - Os fariseus eram a “elite” religiosa dos tempos de Jesus, eram extremamente zelosos quanto a lei, acredita-se que a origem dos fariseus se deu durante o período de exílio babilônico, em quem alguns buscaram manter a lei, copiar e reforçar os ensinos ao povo. Com o posterior retorno do povo a Jerusalém e a valorização da religião naqueles tempos eles acabaram pouco a pouco se tornando soberbas, julgavam ser os principais da religião de sua época, instituindo ainda outros 613 mandamentos para de alguma forma preencher as lacunas da lei.
Nicodemos era um deles, nunca haviam mais de 6.000 fariseus em Israel. Eles eram dedicados exclusivamente ao cumprimento de toda a lei, estavam sempre dispostos a fazer o que for preciso a fim de agradar a Deus por suas obras.
Os fariseus acreditavam que a lei era a coisa mais importante que poderiam possuir, de modo que todos esforços deveriam ser empregados em preservar e cumprir toda ela. Os fariseus juravam total fidelidade diante de três testemunhas segundo Willian Barclay. Segundo eles a lei possuía tudo que precisavam para serem felizes. Mesmo que não de forma explícita, estaria implícito, na intenção de descobrir o que estava implícito é que os escribas criaram esses mandamentos a mais. O significado de fariseu é “separado”.

2° - Nicodemos não só era um fariseu, mas era um dos chefes dos fariseus. Um membro do sinédrio. O sinédrio tinha um número fixo de 70 pessoas, eles constituíam uma espécie de júri sobre Israel, a suprema corte. Seu poder até que o império romano dominasse era sob questões civis, penais e religiosas. Sob domínio de Roma seu poder se restringiu a questões religiosas. Todos os judeus se submetiam a eles.
Quando um profeta surgia, eles julgavam suas palavras, atitudes e possíveis milagres.
Com a promessa iminente de que o Messias estaria com eles, o sinédrio avaliava as profecias e comparavam com o proceder de Jesus. Quando Jesus fez milagres que em outros tempos não se realizaram, eles logo fizeram questão de estar mais próximos e acompanhar cada passo dele.  Jesus curou um leproso, expulsou um demônio mudo e cego e posteriormente curou um cego de nascença. Na casa de Jesus conforme Marcos 2.1 o Sinédrio foi presenciar sua fala e possíveis milagres, a fim de atestar sua autenticidade.
O sinédrio foi um dos principais culpados pela morte de Jesus, quando lhe apresentam ao sumo sacerdote do ano “Caifás”, ele é julgado e condenado sem provas, apenas com falsos testemunhos. Quando alguns dos chefes dos fariseus ordenam a prisão de Jesus, os homens que receberam essa ordem não conseguiram fazê-la e acabam defendendo que Jesus era de fato diferenciado. Os chefes dos fariseus ficaram irritados, até que há uma intervenção de Nicodemos para que ao menos ouçam o que ele tem a dizer. Em resumo, tudo o que diz respeito a religião e questões espirituais era julgado pelo sinédrio judaico, entre eles estava Nicodemos.
3° - Nicodemos certamente era um homem de posses, pois, após a morte de Jesus ele providenciou junto a José de Arimatéia um Túmulo para Jesus bem como um composto de diversas especiarias para preparar o corpo de Jesus.



E foi também Nicodemos (aquele que anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis de um composto de mirra e aloés.
João 19:39
Tratava-se de algo restrito a pessoas de posses, pois, essas especiarias custavam caro.

Nicodemos por certo era parte da aristocracia judaica nos tempos de Jesus, um homem de posses, um homem bem visto na sociedade, um homem honrado por onde passava, membro do sinédrio. Ele estava no topo. Por certo quando passava na rua ou quando ministrava na sinagoga todos queriam se assemelhar a ele. Era um homem digno de ser copiado, um exemplo a ser seguido. Alguém a quem todos que conheciam, tinham orgulho de conhecer. Um homem que de forma alguma iria se submeter a procurar um outro a fim de pedir conselhos. Apenas diria e todos ouviriam. Um homem que não se humilharia ao ponto de dizer que desconhece algo. Um homem que não tinha do que se envergonhar, Nicodemos era a personificação do homem ideal, do religioso perfeito.

4° - Nicodemos significa “vitorioso sobre o povo”
Nicodemos era um representante do melhor que o povo tinha a oferecer, ele representava a nação, seus anseios, suas perguntas e tudo que os religiosos sempre foram e buscam ser.

Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
João 3:2
Qual a razão de Nicodemos ir ter com Jesus de noite?
Muito tem se discutido sobre essa parte em especial.
Nicodemos teria vergonha?
Ou ainda poderia se sentir receoso com Jesus?
Ou estava apenas em buscas de respostas que não conseguira no judaísmo?

Uma primeira hipótese seria a do orgulho.
Por saber que Jesus conhecia de fato muitas coisas, Nicodemos pode ter optado por ir ter com Jesus a noite na intenção de que não o vissem e notassem que ele conhecia mais, que o rabino Nicodemos tinha dúvidas e estava em busca de um Galileu. Ir até lá de dia, era a demonstração de que Nicodemos também é limitado, de que mesmo um homem filho de carpinteiro poderia contribuir para o crescimento dele.

A segunda hipótese era a do medo
Por temer represálias Nicodemos pode ter optado por ir a noite de forma “oculta”. Assim o sinédrio não saberia desse encontro, tampouco sobre seu interesse em ouvir o homem chamado Jesus. O medo lhe impediu de ir sob a vista de todos, por isso ele foi de noite.

A terceira hipótese é de mera curiosidade
Por ver os sinais e o povo cada vez mais fascinado por Jesus, ele opta por ir a noite a fim de não causar tumultos e ver finalmente quem é esse tal “Jesus” que dizem ser o Messias, apenas para fins de o conhecer, analisar seus ensinos, suprir a curiosidade que a fama dele causou em Nicodemos.

A quarta Hipótese era de que Nicodemos queria um tempo a sós com Jesus, por isso optou pela noite.
Essa com certeza é a mais plausível, Nicodemos notou que Jesus tinha algo em especial que ele não encontrara até então, notou que os anseios mais profundos de sua alma poderiam ser respondidos pelo Galileu Jesus.  Porém como se aproximar em meio a tantas pessoas? Tanto as que lhe cercavam como os adeptos dos pensamentos de Nicodemos? De dia, Nicodemos seria tentado a se orgulhar, a buscar exclusividade, a esbanjar seu poder como fariseu e membro do sinédrio. Considerando todos esses fatores e o anseio pessoal por respostas que ele vai até Jesus de novo, para ter um tempo para conversar, para ouvir suas palavras, para de alguma maneira poder desabafar coisas que tinha vontade de dizer, poder confessar a culpa contínua e o peso de ser alguém a quem todos respeitam. Nicodemos vai em busca de Jesus porque buscava um tempo a sós com alguém que conseguia ser apenas ele mesmo, sem precisar dos cerimonialismos sacerdotais e rituais da lei. Talvez até chegar junto a Jesus seu anseio era de mostrar quem de fato ele era e finalmente remover os pesos de si.
Porém ao se aproximar de Jesus, novamente os títulos lhe sobem a cabeça, a posição social e religiosa para ele é impossível de ser deixada. A partir daí vem sua afirmação que não é a totalidade do que está em seu coração:

Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
João 3:2

Nicodemos a princípio reconhece que Jesus é um grande mestre, um Rabi e é por essa razão que usa esse termo.
Nicodemos fala no plural “bem sabemos” na verdade ele representava parte do próprio sinédrio que mesmo não admitindo, reconhecia que Jesus era o Cristo. Ao se expressar dessa forma ele declara acreditar em Jesus com base no que ele fez.
Sabemos que és vindo de Deus porque ninguém faz o que ele faz, ele de alguma forma é convencido pelos sinais, é atraído pelo que ele fez, ao calcular as profecias e o que Jesus fazia ele traz a conclusão: Você é vindo da parte de Deus.
Como 1+1 é igual a 2.
Como o amanhã vem depois de hoje.
Conclusões óbvias, alguém que diz o que ele diz, faz o que ele faz, só pode vir da parte de Deus, pois, ninguém pode fazer isso se Deus não for com ele.
Com essas respostas Nicodemos de alguma forma elogia Jesus, mas não revela os reais motivos de ir ter com ele, ao ver Jesus ele não consegue admitir seu real estado, não se desnuda totalmente para dizer que almejava respostas que não encontrava no judaísmo, ele busca a Jesus do seu jeito, ao seu modo. Não há entrega, não são declarados os reais anseios, a posição inicialmente fala mais alto, como admitir que o membro do Sinédrio tinha dúvidas?
Assim somos nós, a aproximação de boa parte das pessoas em relação a Cristo ocorre sob os mesmos moldes, é difícil admitir os pecados, dizer que precisa de Deus, temos dificuldades em admitir que devemos e que alguém pagou por nós, gostamos da sensação de mérito, de ser digno.
A sua relação com o Senhor Jesus é de alguém que forja falas, de quem premedita todas as atitudes. As falas são muito bem pensadas de modo que ele almeja causar boas impressões.
Quando a adoração é forjada na intenção de esconder quem realmente ele é, elogios feitos para esconder o desespero.
“O fariseu em mim usurpa meu eu verdadeiro sempre que prefiro as aparências à realidade, que tenho medo de Deus, que entrego o controle da alma às regras em lugar de me arriscar a viver em união com Jesus, quando escolho parecer bom e não ser bom, quando prefiro as aparências à realidade”
Brennam Manning – O impostor que vive em mim

A partir daí Jesus começa seu sermão ao mestre Nicodemos:
Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
João 3:3

Jesus poderia ter simplesmente agradecido os elogios de Nicodemos, ter dito que era uma grande honra ser reconhecido por alguém de tão alto escalão. Mas Jesus não se relaciona com nossos impostores, não se engana com a beleza das palavras e não se contamina com o sucesso. O impostor que há em Nicodemos lhe faz dizer: “Bem sabemos que és mestre”, mas o coração no fundo diz: “Como posso ser salvo”?
E Jesus examina os corações: RM 8.27
Sonda o nosso coração Salmo 139
Conhece nossa estrutura e sabe que somos pó – Salmo 103.14
Por saber a estrutura de Nicodemos ele interpretou o que seu coração de fato queria dizer, pois, antes de ouvir as palavras, ou melhor dizendo, maior que a importância das palavras proferidas são os gritos do coração para Deus.
Nicodemos se apresenta a Jesus com elogios vazios, pois, seu coração estava com anseios, mas adiando totalmente os passos que ele precisava dar, Nicodemos continuava com o jogo da religiosidade demonstrada, é muito difícil deixar a imagem do membro do sinédrio, o que vão pensar se ele finalmente disser tudo o que tem vontade? Se ele simplesmente disser o que todos no fundo sentem? Nicodemos tem medo de ser mais um, sua busca por ser diferente, por não ter fraquezas, ser alguém perfeito, pouco a pouco lhe sufocam e cada vez mais torna-se difícil ser apenas ele mesmo.
Até que Jesus lhe diz: “Quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus”.
Uma coisa é dizer isso a um traficante, um político todo sujo, um bêbado qualquer, mas quando se trata de um doutor da lei, principal dos fariseus, maioral da religião, as coisas tendem a se complicar mais. Dizer para um corrupto nascer de novo é algo fácil, mas como dizer isso a alguém que é exemplo para toda a sociedade? Porque essa era a visão que as pessoas tinham de Nicodemos. Ele não poderia errar, admitir falhas, muito menos ser repreendido por um judeu qualquer, mas agora um homem lhe diz que ele deve nascer de novo, que deve recomeçar tudo, que o modo atual está incorreto e um novo começo se faz necessário. Dizer isso a Nicodemos era algo ousado que ninguém teria coragem de fazer.
Ele precisa resgatar seu eu verdadeiro, precisa se desfazer dos velhos costumes sem sentido, precisa viver uma nova realidade, sem fingimentos ou aparências.
Jesus almeja se relacionar com alguém disposto a aprender, a descobrir no caminhar diário as grandes novidades de ser seu discípulo, seu filho. As descobertas de aprender a falar, aprender a andar, enfim, desaprender para aprender certo.

Nicodemos precisava experimentar esse novo começo, essa nova história, que nos faz ser crianças, discípulos novamente, transforma o fariseu letrado em alguém que considera tudo o que viveu como refugo, que faz o homem vender as propriedades por um terreno, a fim de encontrar o tesouro escondido.
Ninguém se torna apto a enxergar o reino sem nascer de novo, é necessário se despir dos velhos olhares e opiniões antigas, todos preconceitos logo vão sendo removidos dando lugar ao coração puro da criança que cresce dia após dia desejando afetuosamente o leite racional para crescer. 1° Pedro 2.2

Brennam Manning expôs perfeitamente as diferenças entre o fariseu e a criança.
“Para o fariseu, a ênfase está sempre no esforço e na conquista pessoal. O evangelho da graça enfatiza a primazia do amor de Deus. O fariseu saboreia a conduta impecável; a criança se delicia na ternura implacável de Deus
O fariseu precisa usar a máscara religiosa o tempo todo. O apetite voraz do fariseu por atenção e admiração o obriga a apresentar uma imagem edificante e evitar, com muito cuidado, os erros e as falhas. Não censurar as emoções pode render grandes problemas.
Livro – O impostor que vive em mim
O nascer de novo implica num processo posterior ao chamado mediante a proclamação da palavra, a palavra é o instrumento que Deus usou para criar o mundo, na palavra as pessoas são regeneradas, tornam a viver, estavam mortas em seus delitos e pecados e agora passam a compreender seu real estado, lamentam-se por seu pecado. Somente os regenerados enxergam o reino de Deus, se não houver novo nascimento mediante a palavra é impossível por mais que se esforce, compreender integralmente a palavra. Daí vem a afirmação de Jesus “Quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus”.
O estado natural do ser humano é de um coração petrificado, indiferente, fingido, tingido, não legítimo, essa é a ideia do inimigo aos homens desde o antigo testamento.
Conhecendo superficialmente o próprio coração Nicodemos se aproxima de Cristo na intenção de se declarar, dizer o que de fato sente, mas quando se apresenta elogia.
Jesus começa a responder a pergunta implícita, a mesma feita pelo jovem rico.
“O que devo fazer para ser salvo?”
Essa na verdade era uma dúvida que pairava sobre muitos, já reconheciam quem Jesus de fato era, mas estavam envolvidos demais para simplesmente largar suas vidas, abraçar um discipulado radical que deixa tudo e todos na intenção de seguir exclusivamente a Cristo.
Nicodemos almeja respostas mais concretas, almeja uma experiência mais profunda, a criança de seu interior grita enquanto o fariseu externamente permanece lhe privando da comunhão.
Que devo fazer para ser salvo? A questão fundamental a partir daqui é que ele pensa numa religião meritocrática, porém o evangelho trata-se de algo que Deus fez por nós, e não algo que nós faremos para alcança-lo. Essa realidade só será de fato compreendida a partir do momento que renascermos em Cristo, desaprender o errado para aprender o certo. Só se enxerga isso nascendo novamente mediante a palavra de Cristo.
Não se alcança salvação por méritos, não se alcança salvação quando se está morto, quem está morto não pensa, não vive, mas em Cristo fomos vivificados.
Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),
E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;
Efésios 2:4-6
Ainda estando mortos o amor, a palavra de Cristo nos vivificaram, pois, pela graça somos salvos.
O nosso estado se assemelha (ainda que o sentido inicial da palavra não seja esse), ao vale de ossos secos descrito por Ezequiel.
A visão fala de um vale de ossos sequíssimos, que mediante o “Ruah” (vento) de Deus, se reuniu e junto ao Espírito profetizado através de Ezequiel transformou o que até então era um vale de ossos secos em um exército forte.

A palavra de Deus tem esse poder de trazer vida aos corações mortos em delitos e pecados, só ela pode fazer isso, convidar quem está morto ao discipulado, para caminhar junto a Cristo.
Mortos não enxergam, mortos não conseguem avançar em nada, estão estáticos, apodrecendo, essa é a condição do homem sem Deus, está preso a sua morte, às suas limitações, mas a palavra de Cristo tem o poder de trazer vida.
A partir daí o homem vê o reino de Deus.
Outro exemplo perceptível é o do homem descrito em João Cap. 9.
Ele é cego de nascença, não é uma cegueira adquirida.
Jesus abre seus olhos, ele enxerga Jesus como um homem fantástico, posteriormente um profeta, por fim o filho de Deus. 9.35.
Só a partir do momento que enxergou esse homem pode ver o reino de Deus, o rosto de Jesus e todos os seus feitos.
Os fariseus assim como Nicodemos estavam cegos, mortos, eram chamados por Jesus de sepulcros caiados, mortos internamente e exteriormente belos.
Essa era a situação de Nicodemos, nesse mesmo capítulo 9 Jesus fala sobre a condição espiritual dos fariseus. Esses eram os verdadeiros cegos. Loucos não errariam o caminho, porém eles estavam errando, estavam cegos, não queriam ver.
Não importava a condição de Nicodemos, ele estava cego, só nascendo de novo veria a Deus. Essa questão de nascer de novo não se aplica só aos maltrapilhos, talvez eles sendo isentos de justiça própria estejam mais propícios a recomeçar. Mas quando se constrói a identidade baseando-se no impostor que vive em nós, no fariseu externo, é necessário nascer de novo, pois, com as máscaras atuais não se vê o reino de Deus, com os vícios e velhas manias do escriba não se enxerga o reino de Deus, esse reino fala de desaprender tudo que se sabe para ouvir apenas a palavra de Cristo.
Para ver o reino minhas faculdades não ajudam, para ver o reino não dependo de cargos ou relevância social.
Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.
Filipenses 3:7

Paulo rejeitou tudo o que possuía até então, deixou o velho homem, os costumes do “desejado” (Saulo) para voltar a ser “pequeno” (Paulo).
Só quando tornou-se pequeno viu o reino, só quando Zaqueu desceu recebeu Cristo em sua casa, só quando largou o barco Pedro viveu a plenitude de Deus, só quando deixou a coletoria de impostos Mateus abraçou o discipulado, só após matar os bois Eliseu viveu a porção dobrada. Ainda hoje somos chamados pela palavra a nascer de novo para ver o reino, para enxergar a Cristo.
O coração do fariseu é petrificado, mas sem méritos, por estarmos mortos no pecado ele troca o coração por um de carne
E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ezequiel 36:26

E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne; Ezequiel 11:19

Essa obra é exclusivamente de Deus, ele muda nosso coração na pregação da palavra. Não há méritos nossos, após essa mudança o poder da decisão é restaurado.
O reino de Deus passa a ser visto, estando diante de nós o tempo todo.
Só com um novo coração eu posso enxerga-lo, quando as escamas caem tal como Paulo em sua conversão.
“Quem não vive na luz não sabe o que é escuridão” Lorena Chaves.

Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
João 3:4

Estava claro de qual Nascimento Jesus falava, não se trata de nada físico.  O nascimento do qual Jesus fala ocorre no espírito, na mente, é a renovação no nosso entendimento Rm 12.2.
Porém temos dificuldades com simplesmente obedecer, gostamos de questionar e problematizar coisas que estão claras, patentes diante de nós.
Gostamos de perguntar: E se eu fizesse assim? E quem é meu próximo? Quais são as situações de brecha nessa lei?
São os conflitos éticos com os quais esbarramos o tempo todo, gostamos de adiar o início da obediência, a adaptação necessária a partir do momento em que a vontade de Deus fica clara para nós.
Assim como o jovem rico que pergunta, o que devo fazer para ser salvo? E no fundo sabe que sua “salvação” não estava na justiça própria, nem na observância dos mandamentos. Nada disso era suficiente, ele deveria largar seu “deus” a saber as riquezas, deixar tudo e seguir Jesus. Mas antes disso ele adia a conversa, pergunta mais coisas, quer saber se de fato precisa ser tão radical e não há discipulado sem radicalidade, sem mudanças, sem obediência simples.
Deus falou, eu farei.  Deus mandou, eu vou!
Como Abraão que cheio de fé leva seu filho ao Moriá, como Josué que sem ver nada simplesmente dá voltas numa cidade.
Obedecer sem questionar, confiando na palavra do que chama.
Não fazia sentido descer do barco e ir andando sobre as águas, mas como Jesus autorizou a ida, Pedro foi.
Da mesma maneira, dizer a um homem já velho que ele precisa nascer de novo deve ser entendido não sob a ótica de um novo parto, até porque isso era inútil, sem sentido, mas Nicodemos quer adiar a obediência. Apela ao conflito ético para que Deus providencie outro meio de salvá-lo, que não exija reaprender e recomeçar tudo como uma criança, porém Deus não vai mudar de ideia.
“Como pode um homem renascer sendo velho”?
Como pode Deus me separar ao ministério se eu não almejo?
Como posso pregar se não quero?
Como posso ser líder se sou pesado de língua?
Como posso ser separado profeta com lábios impuros?
O conflito ético talvez seja o maior inimigo da real conversão, sempre tememos parecer fanáticos demais, obedecer demais, o que antes era nossa preocupação:
“Não espiritualizar tudo”.
Se tornou nosso problema, questionamos tudo, não obedecemos nada!
Precisamos resgatar a obediência simples, de doar sem questionar, de simplesmente partir ainda que por cima das águas para encontrar Jesus, de sair da terra, do meio da parentela para ir a uma terra que o Senhor vai mostrar.
Confiando em sua palavra para lançar uma rede no lado oposto do barco, tendo pescado a noite inteira.
Almejo que resgatemos a obediência simples, que diante dela a nossa inteligência e experiência se prostre.
Nicodemos provavelmente fingiu não entender, se sua primeira pergunta fosse feita sozinha seria compreensível, mas ele almeja coagir Jesus com sua segunda pergunta:
“Porventura voltará ao ventre de sua mãe”?
Essa não era a única alternativa que ele tinha. Mas ele propõe a mais óbvia como quem demonstra superioridade intelectual.
Os que são chamados ao discipulado muitas vezes tendem a ser confrontados nas áreas que dominam, pois, não há ciência da qual Cristo não entenda.
Até a teologia de Nicodemos, um membro do Sinédrio, fora confrontada pela obediência simples que Jesus propõe.
Daí em diante vem a segunda afirmação de Jesus.

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
João 3:5

Jesus especifica mais sua fala, se a obediência simples é desviada de Nicodemos ele opta por tornar ainda mais claro seu chamado e o que se exige.
E Jesus almeja reafirmar com veemência: “Na verdade, na verdade te digo”
Essa é uma verdade absoluta.
Nascer da água refere-se ao Batismo. O batismo é a demonstração pública do discipulado. Seja por imersão ou por aspersão.
O batismo é a demonstração da morte do velho homem, do nascimento de “cima”.
O batismo segundo Dietrich Bonhoeffer é a comunhão na cruz de Cristo, somos chamados ao sepultamento da natureza terrena, somos chamados ao sepultamento do velho homem.
Esse é o fardo que devemos levar e colocar aos pés da cruz. O batismo é a demonstração externa do discípulo de que se dispôs a amaldiçoar seus desejos mesquinhos, de que ele almeja agora transformar o que era um fardo pesado em algo suave e leve pois o discipulado lhe permite isso. A cruz que Cristo carregou é pesada, a do discípulo é leve, o batismo na água é a comunhão do discipulado. É a cruz do discípulo.

O batismo indica que o pecado já não tem poder sobre mim, pois, morri para o pecado.
Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?
De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.
Romanos 6:3,4

Somos batizados na morte, na comunhão da cruz. No Batismo nos apropriamos do sacrifício de Cristo e tomamos nossa cruz para o seguir.
No batismo somos imersos em Deus, em sua morte, e na morte do batismo deixamos sobre as águas o velho homem e seus pecados, para que assim como Cristo foi ressuscitado, renasçamos agora sob nova condição, pois, o pecado não tem poder sobre mortos ou ressurretos. Na ressureição de Cristo encontra-se a vitória contra o pecado, assim andamos em novidade de vida. Nisso consiste o nascimento da água.
Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.
E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas,
Colossenses 2:12,13

Estávamos mortos, como dito anteriormente aos Efésios, agora reforçado em Colossenses, Paulo explica a condição anterior do pecador sem Cristo. Estávamos mortos nos pecados, mas em Cristo fomos sepultados e ressuscitados para viver em novidade de vida e vivificados na com ele, mediante a nossa parte da “cruz” que é o batismo.
O Batismo é o sinal externo, porém é por si só insuficiente. É a demonstração de que alguém viu o reino. Porém Jesus diz, não basta ver, é necessário entrar no reino. Essa entrada se dá mediante o nascer do espírito.
O nascer do espírito é o agir do próprio Deus nos inclinando diariamente ao bem, nos separando para um fim específico, a saber a chamada divina.
Quando Jesus se referiu a água e espírito, também falava da água como o lavar externo comum dos fariseus.
Eles se higienizavam a cada saída, a cada refeição e sua preocupação não era mais com saúde, mas apenas mero formalismo sem sentido.
O lavar da água são as nossas atitudes externas, são as lavagens de pés após as viagens, são as lavagens das mãos antes das refeições. São nossas tentativas de ser santo, de parecer puro.  São as obras decorrentes da fé, porque a fé só é confirmada mediante as obras que exerço. Fé que não é vista, é morta.
O nascer do espírito é a mudança radical da vida, que não se dá de outra forma que não seja nascendo de novo. É algo tão gritante que não se pode comparar com nenhum outro acontecimento na vida, se não com um novo nascimento. É um reinício nas atitudes, nos pensamentos, nas motivações, é o desaprender para aprender certo.
O nascer da água era alcançado pelo proselitismo, quando um homem era convertido ao Judaísmo lhe consideravam uma nova pessoa, seu passado de pecado ficou para trás. Esse pode ser um dos sentidos de nascer da água. Porém o nascimento do Espírito depende só de Deus. Nascer de cima não é um privilégio que outorgo a mim mesmo, trata-se de uma dádiva exclusivamente divina.
É impossível que um homem nasça de novo por si só, apenas na mortificação da natureza terrena e na regeneração o homem pode viver o nascimento de cima. Mortos não renascem. Mas o mesmo poder criativo de Deus nos garante o novo nascimento.
Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.
2 Coríntios 4:6
O nascer do espírito é a lavagem interna de caráter. Novos pensamentos e atitudes que são impulsionados pelo espírito.
Só se torna discípulo, quem nasceu do alto. Nasceu em Cristo.

Há uma diferença entre ver o reino de Deus e entrar no reino de Deus, na verdade o novo nascimento fala da única possibilidade de enxergar o reino inicialmente. Porém o novo nascimento não é um evento realizado uma única vez e de modo totalmente definitivo, o novo nascimento é um processo contínuo. É um norte que se dá e o que foi direcionado deve manter-se caminhando em direção ao destino proposto.
É possível ver o reino de Deus e não entrar nele, é possível enxergar, compreender, entender o certo, ver a terra e não a possuir.
Ainda hoje há pessoas que viram o reino de Deus, já sabem o caminho, foram alcançadas e enxergaram seu real estado pecaminoso, frequentam igrejas, fazem parte de grupos, participam dos sacramentos (ceia e batismo), porém infelizmente apenas viram o reino e deixaram de caminhar. Se entregaram a Cristo, viram o que lhe estava obscuro até o presente momento, enxergaram seus pecados e pontos em que deviam melhorar. Mas se satisfizeram em ver sem andar, em sentir e não ter comunhão, em ouvir sem praticar, em professar a fé sem de fato exercê-la.
Todos cristãos viram o reino de Deus, é por essa razão que se encontram na igreja e tem interesse em ouvir a palavra. Todos enxergaram o reino, mas nem todos estão na caminhada para entrar. A regeneração se deu em um nascimento do alto, mas falta a mortificação da antiga natureza. Carne e espírito militam entre si, mas para os que apenas viram o reino sobre a culpa ou o cinismo, a carne acaba prevalecendo.
São “cristãos”, mas sua conversão não mudou seu viver diário, bem como sua mente. O que mudou de antes para agora, é que eles têm uma consciência do caminho, ainda que ofuscada com o passar do tempo. Precisam crescer em graça e conhecimento, precisam correr prosseguindo para o alvo.
Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.
Colossenses 3:1

Precisamos pensar na conversão como um processo contínuo, uma vez que fomos ressuscitados com Cristo, devemos buscar as coisas dessa nova natureza que assumimos. Devemos pensar nas coisas de origem da nossa natureza que agora é de “cima”.
“Cima” se refere a uma ordem superior, ao céu, a pensamentos que excedem, devemos buscar não mais o interesse do velho adão que está arraigado em nossa natureza, mas os pensamentos do alto.
Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a fornicação, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria;
Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência;
Nas quais, também, em outro tempo andastes, quando vivíeis nelas.
Mas agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca.
Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos,
E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;
Colossenses 3:5-10

Devemos mortificar os próprios membros que inclinam-se para o mal. Pecados de natureza sexual, moral, desejos indevidos, altivez e idolatria. Somos tentados continuamente a cair nesses erros, é nossa natureza. Paulo nos aconselha a despojar de tudo isso, para nos revestir do novo.
Há irmãos que viram o novo, mas não querem se despojar e os dois extremos são propostos, sem meio termo, ou se caminha ou paramos, e parar implica em não entrar no reino de Deus.
Há irmãos parados, pessoas que deveriam progredir na sua fé, em santificação, em novas atitudes. Mas não mudam, o mesmo proceder dos tempos em que não conheciam a verdade tornaram a acontecer.
Irmãos que se asseguram da salvação em um culto, mas permanecem na imoralidade.
Pessoas com graves problemas morais, mas que julgam ser servas de Cristo.
Pessoas cheias de ira, cólera, palavras torpes, mas que dizem ser de “Deus”, esses precisam de um novo nascimento.

Muitos anualmente se entregam a Cristo, aceitam a fé e até iniciam bem, mas os velhos desejos estão a porta lhes convidando a voltar para a antiga maneira de viver. Infelizmente boa parte das pessoas dá ouvidos a isso e não avança na regeneração. Estão prestes a tornar a morrer

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