terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O pastor e as ovelhas - Salmo 23

 ¹ O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.


² Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.

³ Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu


nome.


⁴ Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal

algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.

⁵ Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a


minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.


⁶ Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da

minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias.


Salmos 23:1-6


Conta-se que um certo orador esteve em uma cidade, ele recitava como

ninguém qualquer texto e sua capacidade de oratória era tal que as pessoas o

ouviam por horas sem hesitar, sem cochilar, recitando letras de músicas, textos


famosos, inclusive textos bíblicos.


No último dia de suas apresentações, aquele determinado orador soube que

um velho pastor de igreja da cidade estaria lá, mandou reservar um lugar para

ele, no meio de sua apresentação ele propôs ao povo um desafio, de ele

primeiro citar o Salmo 23 na sua voz, a multidão empolgada lhe ouviu.

O pastor falaria em seguida, sob toda a pressão e sem o glamour do orador.

Terminada a fala do orador todos estavam extasiados, o pastor sob toda a


pressão então toma a palavra.


O pastor trêmulo fecha os olhos e cita o salmo, da forma que sabia, sem

pausas dramáticas, mas com a força de quem conhece o sumo pastor e tendo

terminado, todos estão chorando, impactados. Ao que o orador toma a palavra


e diz:


“A diferença fundamental entre mim e esse pastor, é que conheço o Salmo do

pastor decor e salteado, mas ele conhece o pastor do Salmo”.


O salmo 23 é um texto que decoramos, que recitamos, que fez parte das

chamadas de EBD, o Salmo que mesmo os não crentes conhecem, que virou


quadro nas casas, que virou texto de pano de prato.


Ao gastarmos muito uma determinada palavra temos a tendência de esvaziar

seu significado, dando a ele pouca ênfase ou estando muito aquém do que


essa palavra de fato quer dizer.


Ao decorarmos o salmo, a tendência natural é que deixemos de nos apropriar

do que ele quer de fato dizer e não consideremos mais essa palavra em


primeira pessoa, como foi para Davi.


Hoje meu desafio é que com toda a simplicidade que este Salmo tem,

possamos nos apropriar não mais do texto decorado, mas do Senhor do

Salmo, não mais da palavra declarada, mas do pastor verdadeiro.

Decorar o texto tem seu valor, mas se apropriar dele tem muito mais valor.

Durante trinta anos de caminhada, nenhuma vez esse texto fez tanto sentido

para mim, como no último mês em que sozinho no carro ouvindo um louvor

sobre o bom pastor, fui tocado e me apropriei dessa palavra.

Vamos meditar, frase por frase deste Salmo e nos apropriar das verdades nele


contidas.


1. O Senhor é meu pastor


As afirmações sobre quem Deus é, dificilmente vem da fala dele próprio, ainda


que algumas vezes ele tenha se apresentado dessa forma.

Na bíblia Deus tem pelo menos 72 nomes, os nomes de Deus estavam

associados a experiências pessoais das pessoas com ele próprio, de modo que

a cada manifestação de Deus, os seus servos tinham uma nova percepção a


respeito de quem ele é.


Davi era pastor de ovelhas, Davi exercia este ofício e sabia a complexidade

dessa relação, Davi sabia o caráter da ovelha e do pastor.


É a luz de suas experiências pessoais como pastor que ele faz essa afirmação


atribuindo mais um nome a Deus.

O termo é “Adonai El Roi”.


O cultivo de ovelhas é um dos ofícios mais interessantes da agricultura, isso


em virtude das características das ovelhas.


O pastor Allan Brizotti diz que pesquisou um ano a respeito das ovelhas, uma

primeira distinção muito importante é que existem pastores de ovelhas de corte


de carnes e pastores de cultivo e apascentamento.


Os cultivadores de ovelhas para consumo não se importam com quase nada,

mas no caso dos pastores que apascentam para corte de lã e delas cuidam, a


relação é extremamente profunda.


É muito interessante a colocação de Davi a respeito deste assunto, ao se

comparar a ovelhas, porque elas têm algumas características peculiares:

 Elas são presas fáceis dos predadores

 Ovelhas não são atenciosas

 Ovelhas não sabem discernir perigos


 Ovelhas são teimosas

 Ela confia em extremo no seu pastor

 Ovelha não tem senso de direção

 Ovelha não tem faro

 Ovelha se suja facilmente


No cultivo de ovelhas o mais importante é ter um bom pastor, a relação da

ovelha com o pastor é essencial para sua subsistência.

muitas coisas me saltam aos olhos olhando para este texto:


“O Senhor é meu” – Esse pronome possessivo parece uma presunção, alguém

poderia argumentar, como posso eu dizer que o Senhor é meu? Se a fala fosse

isolada poderia denotar isso, mas ao adicionar “meu pastor”, Davi não está

fazendo uso de uma figura que remete a nenhuma qualidade.

Ele diz: Eu sou frágil, eu não sei enxergar os perigos, eu não sei caminhar

sozinho, eu sou teimoso, eu não sei sequer me alimentar só, mas eu tenho um

pastor.

A figura aqui é de dependência: “Eu tenho um pastor, por isso vivo”.

Para Davi, Deus não é pastor do mundo em geral, ele era seu pastor no âmbito

pessoal.

Se ele não for pastor para mais ninguém, ele é para mim.

 Citar Batismo na Bola de Neve.

Para uns ele é só Senhor, para uns ele é um tirano, para uns ele é apenas um

curandeiro, mas para mim, ele é pastor.

À luz de seu relacionamento com as ovelhas, Davi se posiciona tal qual uma

delas e apropria para si cada uma das características delas.


A realidade que Davi aborda é sempre presente: Ele é (presente contínuo)


2. Nada me faltará

Existem algumas possibilidades para esse texto, os Hebraístas dizem que o

termo “El Rói” é “amigo íntimo” e a conotação é: “Ele não deixará de estar

comigo”.

Existe a interpretação que diz que sendo ele pastor, nada faltará, inclusive

coisas ruins e difíceis, dando grande ênfase ao nada.

Existe ainda a sensação de completude, que melhor define o texto: O Senhor é

meu pastor, tendo meu pastor eu não preciso de mais nada.


À luz da relação das ovelhas com o pastor, essa terceira afirmação é a mais

assertiva.

Porque tenho o pastor eu estou contente, porque tenho o pastor estou

satisfeito, porque tenho o pastor eu tenho o que eu preciso de verdade.

O nosso conceito do que precisamos e do que queremos é muito distorcido, o

sumo pastor sabe o que eu preciso de verdade.

“Pedi calor, Deus me deu verão

Pedi voz, Deus me deu canção

Pedi resposta, Deus me deu solução

Pedi que olhasse, Deus me deu a mão

Pedi amigos, Deus me deu irmãos


Porque ele tem mais do que eu consigo pedir

E sempre sabe o que é melhor para mim

Não dá o que eu quero, nem o que mereço

Mas o que preciso para ser feliz

Me ensina a te agradecer”


 É a luz do caráter do pastor que Davi diz: Nada me faltará.

 Não terei falta das coisas temporais, pois, se ele alimenta as aves, não

alimentará a nós que somos filhos?

 Não terei falta de coisas espirituais: A sua graça me basta – 2º Cor. 12.9

 Eu posso não ter o que quero, mas nada me faltará.

“Os filhos dos leões necessitam e sofrem fome, mas àqueles que buscam


ao Senhor bem nenhum faltará”.


Salmos 34:10


Não me falta no presente e não faltará no futuro – Venha o que vier, quer a

fome devaste a terra, ou a calamidade destrua a cidade, nada me faltará.

“O coração do pecador está longe de estar satisfeito, mas o espírito gracioso

habita no palácio do contentamento”.


3. Deitar-me faz em verdes pastos


Para uma ovelha deitar-se, duas necessidades precisam estar plenamente

supridas:


 Comida e bebida

 Presença do pastor


A ovelha jamais se deita sem estar alimentada, mas também jamais se deita

sem ver o pastor, ela não pode ser forçada a isso.

A ovelha além do mais tem a visão extremamente limitada, ela enxerga até 10

metros de distância, então a chance de não ver o pastor e assim não deitar é

muito grande.

Para a ovelha se deitar ela precisa comer, beber e ver o pastor, só com todas

essas necessidades atendidas ela se deita.

A ovelha naturalmente não sabe se autossustentar, logo ela precisa do pastor

para alimentar, para lhe dar água e para encontrar descanso.

Alguns de nós não estão descansando como deveriam, nem se alimentando

como deveriam, talvez em busca de ver o pastor, mas lhes digo de forma

aberta, nosso pastor não é como os pastores terrenos, eu posso lhe esquecer,

eu posso deixar de lhe dar a atenção que você pensa ser necessária, mas o

sumo pastor jamais te perde de vista.

Se você não o está enxergando, talvez seja uma questão de sua visão, mas

hoje meu pedido é que você abra os olhos e veja: O pastor está por perto, o

pastor está te trazendo alimento e bebida, você pode descansar, pode

repousar, o pastor não está longe.

As ovelhas, segundo a revista o berro, quando doentes ficam discretas, mal se

apresentam, mal se movem, em alguma medida ovelhas sequer querem

incomodar o pastor, quem o faz são os bodes.

Talvez você esteja aqui como uma ovelha ferida, mas o pastor te viu e está

atando as feridas, está cuidando de tudo e você poderá em breve deitar-se em

verdes pastos novamente.


4. Guia-me mansamente as águas tranquilas


O guiar mansamente diz respeito a uma das limitações das ovelhas, elas não

correm, elas não são velozes e todos os seus predadores o são.

O pastor não as faz correr, o pastor não as faz ir além de seus limites, as

ovelhas caminham tranquilas, pois, o pastor sabe as limitações delas.

Nosso pastor nos garante proteção, ele não vai te apertar além da

necessidade.

 “Como é seu dia, assim será suas forças” – Dt. 33.25


 O pastor sabe seus limites, sua estrutura – Salmo 103


A segunda parte deste verso me chama a atenção, ovelhas tem os ouvidos

muito sensíveis e não bebem águas correntes, de modo que existem casos de

ovelhas morrerem de sede ao lado das águas, se o pastor não conduzir as

ovelhas as águas tranquilas, elas morrem de sede, mas o cuidado do pastor é

tal que ele nos guia mansamente a águas tranquilas.


A figura das torrentes do Neguebe – O pastor geralmente dá de beber das

águas pós tempestade.

Quando a tempestade vem, as ovelhas ficam suscetíveis a tormentos por ouvir

demais, mas a mesma tempestade faz a ovelha ser saciada em sua sede.


5. Refrigera a minha alma - Paz

A ideia diz respeito a psiquê, as vezes nossa mente está um turbilhão,

quente, a ponto de explodir, os problemas se acumulam:

 Finanças

 Compromissos

 Demandas

 Doenças

 Filhos

 Família

 Coisas que faltam

 Ansiedade

O pastor sabe como nossa mente ferve, mas ele tem refrigério para a nossa

mente.

 Figura da janela quando se abre – O vento de Deus soprando para

acalmar.

6. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.

Ele me guia por caminhos de justiça, neste mundo perdido, não se encontram

avenidas seguras, neste mundo não encontramos referencias, lugares para

caminhar, mas ele me leva nos caminhos da justiça com amor.

O pastor me conduz porque ele me ama, em cada porta fechada, em cada

coisa que deu errado, o pastor está me conduzindo no caminho da justiça.


7. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria

mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me

consolam.


O vale da sombra da morte é um lugar necessário para passar para se

alcançar as montanhas onde havia alimento.

Nos vales habitavam todos os predadores possíveis, lobos, escorpiões, hienas,

nos vales poderiam se machucar.

O pastor sabe passar pelo vale conosco. O pastor passa pelo vale, ele não nos

deixa no vale.

O pastor já passou pelo vale mais vezes e sabe para onde está nos levando,

nas veredas da justiça vales de sombra e morte virão.

Veja também que o vale não é de morte, são apenas sombras. Você pode

passar por todos os medos possíveis durante o tempo de vale, mas o pastor

está te levando, te conduzindo.

Por saber quem é o pastor, a morte pode fazer sombras, mas ele me guarda.


O vale da sombra de morte era um lugar geográfico segundo Rodrigo Silva, ao

lado de uma pirambeira e cheio de predadores, por serem muito sensíveis ao

som, as ovelhas poderiam se assustar com os predadores e caírem ou serem

atacadas, o pastor tinha então um método de adestramento:


 Ele cantava e tocava e as ovelhas formavam uma fila, ouvindo a voz do

pastor elas seguiam.

 As minhas ovelhas conhecem a minha voz, e eu conheço-as, e elas

seguem-me.  28  Dou-lhes a vida eterna e jamais perecerão. Ninguém as

arrancará de mim, porque meu Pai é quem mas deu.  29  E sendo ele mais

poderoso do que ninguém, ninguém as pode roubar. João 10.27-29


Quando uma ovelha se perdia, o pastor usava seu cajado para trazê-la de

volta.

O cajado tinha três funções:


 Vara – Correção (Quando a ovelha se perdia)

 Cajado – Para resgatá-la de um buraco

 Arma – Contra os predadores

Quando uma ovelha se perdia o pastor lhe batia e em seguida a carregava por

alguns dias.


8. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos


Salmos 23:5


A mesa não é preparada para mim, mas perante mim.

A mesa não é para eu ser honrado, mas é Deus cuidando sem que eu veja.

A mesa estava no centro da casa e era o lugar da provisão de Deus, todos

poderiam ir até a mesa, mas quando o meu Deus estende a toalha sobre a

mesa e põe o pão, os meus inimigos veem que eu tenho um Deus!

Ele é pastor sobre mim e sobre minha mesa.


9. Unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. -

Salmos 23:5


Quando no deserto, as ovelhas poderiam facilmente ser infectadas por moscas

que entravam pelo seu ouvido.

As ovelhas batiam a cabeça na rocha até morrer para tirar o mosquito, ou

quando não percebiam a entrada do mosquito elas deixavam de comer dada a

infecção.

O óleo sobre a cabeça era colocado na cabeça de cada ovelha, o pastor

formava uma espuma e elas poderiam fazer a viagem tranquilas com uma

espécie de espuma impermeável.

O pastor guarda minha mente e meus ouvidos.

 O meu cálice transborda – Completude e provisão


10. ⁶ Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os

dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias.

Salmos 23:6

O pastor andava com um copastor, este o supria em sua ausência.


O meu pastor é Cristo; João 10.

Aprendendo a estar contente - Sermão entregue à igreja 3.16

 

“Ora, muito me regozijei no Senhor por finalmente reviver a vossa lembrança de mim; pois já vos tínheis lembrado, mas não tínheis tido oportunidade.

Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho.

Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade.

Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”.

Filipenses 4.10-13

 

O segredo de estar contente

Existem aprendizados que são muito úteis, conhecimentos que abrem portas, concedem melhores colocações profissionais, outros salvam vidas, outros ajudam a viver um pouco melhor. Existem cursos sobre gestão financeira, gestão do tempo, “inteligência emocional”, todos tem seu valor, a depender da instituição, carga horária, certificações concedidas, etc.

Paulo escrevendo aos Filipenses diz que aprendeu algo, um tipo de segredo, esse segredo de acordo com a escritura é uma fonte de riqueza. Mais que investimentos, mais que bitcoins, mais que profissões, Paulo aprendeu o que é chamado em suas palavras de “grande fonte de lucro”.

Paulo aprendeu o segredo de estar contente em toda e qualquer situação.

“Paulo aprendeu que é uma grande fonte de lucro a piedade com o contentamento” – 1º Tim. 6.6

·        Quem aprende a estar contente enriquece, mas não enriquece por ganhar mais, enriquece por valorizar o que já possui.

·        Não se torna rico como quem tem mais coisas, mas como quem aprendeu que já tem o que precisa.

Paulo chegou a um nível de satisfação tal, que a vida para ele era dádiva:

“Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele.

Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes”.

1º Tim. 6.7-8

Consciente de que ele não trouxe nada e nada levaria para a eternidade, tudo o mais é dádiva. Ao olhar assim, tendo o suficiente para se cobrir e o que comer, devemos estar contentes.

Esse aprendizado do contentamento também foi compreendido por Salomão no fim de sua vida.

 

A insatisfação crônica dos homens

Salomão aprendeu que não há nada melhor para o homem do que comer, beber e se alegrar consciente de que tudo isso vem da mão de Deus.

Antes disso experimentou de tudo, o capítulo 2 de Eclesiastes resume essa busca.

·        No riso V.2 (Entretenimento)

·        Bebida V.3 (Felicidade no fundo de uma garrafa)

·        Grandes edificações e realizações – V. 4 a 6

·        Empregou muita gente – V.7

·        Dinheiro e música de qualidade – V.8-9

 

“Consegui tudo o que desejei. Não neguei a mim mesmo nenhum tipo de prazer. Eu me sentia feliz com o meu trabalho, e essa era a minha recompensa.11 Mas, quando pensei em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para conseguir fazê-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito. Era como se eu estivesse correndo atrás do vento” - 10-11

 

Em qualquer situação em qualquer casa, as pessoas estão inquietas, insatisfeitas, desgastadas.

Uma das coisas mais difíceis de achar nos nossos dias é alguém satisfeito, a grande maioria das pessoas está insatisfeita com a vida que tem, a esposa, o marido, o carro a casa, o corpo, o cabelo, a estatura, o trabalho, a saúde, o bairro que mora, a cor da pele, a igreja que congrega, a cozinha, a geladeira, os filhos, a escola.

Uma geração extremamente ambiciosa, sempre buscando algo mais alto do que o que já possui, quando não se alcança o que se quer, se torna insatisfeito.

A cada dia novas coisas surgem, gerando o desejo de se estar atualizado.

Isso infelizmente afetou a igreja, os crentes, boa parte de nós tornamo-nos pessoas incontentes. Os rostos dos Cristãos ao nosso redor são prostrados, abatidos, a razão primária é o fato de não conseguir o que se quer.

Fomos condicionados com a lei da linearidade, em que se faço o que deve ser feito serei abençoado, terei mais dinheiro, melhor posição social e profissional, meus filhos não farão besteiras, minha família será um exemplo.


A teologia da prosperidade, a confissão positiva, o pensamento triunfalista afetou diretamente a forma como enxergamos a fé e isso geral uma geração de crentes descontentes.

Fomos tomados pela comparação, pelo sentimento de desatualização, por uma profunda sensação de incompletude, isso constantemente nos leva a alguns pecados como a murmuração, a ambição desenfreada e a cometer pecados diretamente ligados a essa insatisfação.

 

 

 

 

 

Vejamos alguns malefícios da insatisfação crônica:

 

1.   Ela é a raiz de vários pecados

·        Foi a insatisfação que fez Eva ser tentada pela serpente

·        Foi a insatisfação que fez o Pródigo sair da casa do pai

·        A insatisfação leva a traição, leva ao roubo, leva a consumo de drogas e vícios, leva a corrupção.

 

2.   Ela é a raiz da ingratidão

·        Insatisfeito até o jardim parece pouco

·        Insatisfeito eu não ligo para o pai

·        Insatisfeito eu me considero escravo quando sou filho

 

3.   Ela é um caminho escorregadio para a fé (Asafe)

4.   Ela é um passo anterior à murmuração e essa é rechaçada por Deus.

 

“As ervas daninhas crescem rapidamente; a cobiça, o descontentamento e a murmuração são tão naturais para o homem quanto os espinhos são para o solo. Você não precisa semear cardos e arbustos, eles surgem naturalmente, porque são nativos da terra, sobre a qual repousa a maldição. Levando isso em consideração, você não precisa ensinar os homens a reclamar, eles

reclamam rápido o suficiente sem nenhuma educação. Mas as coisas preciosas da terra devem ser cultivadas. Se quisermos trigo, devemos arar e semear, se quisermos ter flores belas, deve haver o jardim e todo o cuidado do jardineiro.

Ora, o contentamento é uma das flores do céu e, se quisermos tê-lo, devemos cultivá-lo”. – Spurgeon

 

Apesar de tudo isso que é inerente da nossa natureza, Paulo aprendeu o segredo de estar contente!

 

 

Sob que circunstâncias Paulo estava?

 

A ocasião da carta – Atos 26-28

·        Paulo havia suportado a prisão por pregar o evangelho em Jerusalém e tendo passado por vários juízes apelou a Roma.

·        No trajeto seu barco afunda.

·        Numa ilha ele é picado por uma cobra.

·        Em Roma é preso de forma “preventiva” por dois anos aguardando sentença definitiva.

·        Preso a dois soldados

·        Paulo não tinha uma casa, sua casa era alugada

·        Paulo no fim da vida está preso, dependendo de amigos e igrejas para ser sustentado

·        Paulo já não poderia mais trabalhar

·        A igreja de Filipos envia um obreiro para socorrer Paulo e é em resposta a essa atitude que essa carta nasceu.

 

Eu já recebi cartas de presos, já li livros a respeito disso, em geral eles refletem o valor da liberdade, falam do desejo de estar lá fora, o que é por si algo legítimo, mas Paulo escrevendo uma carta da prisão só fala das alegrias de servir a Deus.

Aparentemente Paulo é quem estava livre e incentivando os outros.

É este homem, preso a dois soldados, que ganha a guarda pretoriana para Cristo, ao ponto de declarar que os irmãos de Roma Saúdam a igreja.

 

“Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de César”. Fp 4.22

 

Esse homem sob essa circunstância é que declara: “Aprendi o segredo de estar contente”.

 

Vamos refletir em como isso aconteceu na prática a partir do próprio texto:

 

1º - Aprendi a estar humilhado e Aprendi a ser honrado

É fácil estar contente sendo honrado, reconhecido, abraçado, quando alguém te elogia.

Devemos aprender a glorificar a Deus mesmo na vergonha, mesmo quando outros são honrados em nosso lugar, quando alguém é promovido às nossas custas.

 

Alguns aprendem a ser humilhados, mas se perdem quando a honra vem, tornam-se seres vingativos, desejam pisar nos outros.

 

"Há muitos homens que sabem um pouco como se humilhar, mas não sabem nada como ter abundância. Quando são colocados na cova com José, eles olham para cima e veem a promessa estrelada, e esperam uma fuga. Mas quando eles são colocados no topo de um pináculo, suas cabeças ficam tontas e eles ficam prontos para cair”. – Spurgeon

 

·        Ao ascender alguns se orgulham e se perdem

·        Ao ascender alguns se envolvem no canto das sereias do sucesso e não ouvem mais a Deus

·        Alguns cresceram para ajudar outros, mas o dinheiro grudou nas suas mãos.

 

·        Paulo foi chamado de Tagarela em Atenas

 

·        Fugiu de Jerusalém num cesto

 

·        Festo disse que as muitas letras lhe deixaram louco

 

·        Mulheres acusaram Paulo falsamente em Antioquia

 

“São eles servos de Cristo? — estou fora de mim para falar desta forma — eu ainda mais: trabalhei muito mais, fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente e exposto à morte repetidas vezes.

Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites.

Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar.

Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos.

Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez”.

2º Coríntios 11.23-27

 

 

Paulo aprendeu a ser envergonhado, humilhado pisado. Ele não tinha nada a ver com os apóstolos e líderes de hoje.

 

Ele também foi honrado

 

·        O povo de Éfeso queimou os livros de Diana

·        O povo de Atenas lhe recebeu no Areópago

·        Ele escreve 13 cartas

 

“Por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros;

Como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como morrendo, e eis que vivemos; como castigados, e não mortos;

Como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo”.

2º Cor. 6.8-10”

 

 

2 – Aprendi a ter fome e necessidade, fartura e abundância

Estar contente com fome é menos difícil do que quando temos tudo, ao estar na escassez dependemos mais de Deus. Ao estar com portas fechadas, desempregado, valorizamos mais cada coisa.

Nossa grande tentação é quando as coisas estão andando, quando não falta o básico, reclamamos dissolutamente.

Acabamos não apenas com o Maná do dia, mas guardamos porção dupla do Maná e este, cria vermes e bichos.

Paulo aprendeu a depender de Deus.

Paulo aprendeu em outras palavras a oração de Agur:

“Duas coisas te pedi; não mas negues, antes que morra: afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção acostumada; para que, porventura, de farto te não negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecendo, venha a furtar e lance mão do nome de Deus” Provérbios 30.7-8

 

O que Paulo viveu não foi um estoicismo, foi um conhecimento divino.

Não foi adaptação, foi estar contente apesar da situação.

Isso só é dado a quem crê – Ex. Karnal.

 

Como ele adquiriu esse conhecimento?

 

1.   Paulo se via como um viajante, sua casa era outra – Fp. 3.20

2.   Paulo se via como um guerreiro em combate – 2º Tim. 2.3

3.   Não só isso, ele era um veterano de guerra, isso quer dizer que não necessariamente ele suportou o tempo inteiro essas privações gargalhando, mas que tendo suportado, hoje ele conta com um sorriso no rosto – Em todas essas coisas somos mais que vencedores Rm. 8.37

 

A quarta e principal razão de Paulo é o próprio Senhor

“Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”.

Filipenses 4.13

·        A razão de Paulo suportar era o Cristo que o fortalecia.

·        Ele não era fortalecido para conseguir tudo, mas para resistir tudo.

·        Não era fortalecido para conquistar, mas era fortalecido para suportar.

·        A graça capacitadora de Deus lhe deu condições – 2º Tim. 2

·        Paulo foi tomado de convicções da palavra.

 

·        Paulo sabia que sob qualquer circunstância era do Senhor – Rm 14.8

·        Paulo tinha o viver em Cristo e o morrer era lucro – Fp 1.21

·        Paulo sabia que a graça se aperfeiçoava na fraqueza – 2º Cor. 12.9-10

 

Nós também somos encorajados hoje a se alegrar, apesar da circunstância:

 

·        Como Habacuque – HC 3.17-20

·        Tirar força das fraquezas – HB 11.34

·        Os discípulos que foram espancados e se alegraram por isso – Atos 5.41

·        Estevão antes de morrer só via os céus abertos – Atos 7

“O valor de uma causa não é determinado pelo que conquisto, mas pelo que suporto ou abro mão em nome da causa”.

·        Temos um pastor – Salmo 23

·        Temos o Senhor ao nosso redor – Salmo 125

·        Ele está conosco todos os dias – Mateus 28.20

 

“Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nEle”. John Piper

 

 



A importância da comunhão - Sermão entregue à igreja 3.16

“E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só” – Gênesis 2.18

Um só corpo, muitos membros – 1º Coríntios 12.12-27

 

Comunhão – Para além das teorias

 

Deus criou o mundo em seis dias, por essência, cada um dos seus atos foi gracioso, tudo foi feito com perfeição, excelência, o próprio Deus contemplava e dizia “Isso é bom”, outras coisas ainda eram definidas como “muito boas”.

Tudo quanto Deus faz tem esses adjetivos, há apenas uma vez que Deus diz que algo não é bom, Deus viu o homem só e entendeu que por essência não é bom que ele esteja só.

O homem tinha tudo a sua disposição, um lugar bonito, fértil, com toda variedade de espécies para contemplar, com toda a variedade de alimentos possíveis, com a liberdade de dar nomes, com a liberdade de não ter o mal sobre o mundo, de modo que não corria riscos aparentemente.

O problema do homem em essência não é o dinheiro, não é o alimento, não é o possuir as coisas, ainda que sejam essas as coisas que ele mais busque, o homem tinha tudo isso, mas ainda assim estava só.

Deus o viu assim e disse, não é bom!

O próprio Deus por essência é a comunhão perfeita, ele foi quem disse, “façamos”, a palavra está plural em virtude de Deus ser a junção de “Pai”, “filho” e Espírito”, Deus é a comunhão perfeita, por ser assim, ele próprio em essência não é só, ao nos fazer sua imagem e conforme sua semelhança, ele próprio sabe que não é bom o homem estar só.

A solidão é um problema da natureza humana dos mais profundos, mas ao mesmo tempo nós a negligenciamos em busca de coisas que são totalmente secundárias, nos tornamos sozinhos mesmo após Deus criar pessoas para estar conosco.

Desejoso de resolver a questão de o homem estar só, Deus criou a mulher, mas ambos caíram e o objetivo primário da serpente, foi fazer que o homem deixasse de se perceber como um ser coletivo, para perceber apenas a si mesmo como um ser individual.

O verbo do Éden só era conjugado na primeira pessoa do plural, tudo era sobre nós, “o que vamos comer?”, “aonde nós vamos?”, “o que faremos?”.

Ao pecar o homem deixa de ser um nós, se tornando um eu.

Ao se observar de forma individual, o homem e a mulher enxergaram a própria nudez, ao se perceber um ser individual, o homem passou a se proteger e fez roupas de folhas de figueira para si, ao pecar, os dois deixam de se enxergar uma só carne e após a queda, a separação é tão intensa, que Adão dá um nome a sua mulher.

“E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes” – Gênesis 3.20

 

“O Plano do adversário sempre foi nos tornar seres individualistas, o egoísmo se constitui assim não apenas algo inofensivo, mas um grande pecado”.

O problema do homem com o pecado é que além se afastar de Deus pelo pecado, o homem se desconectou do outro, tendo se desconectado do outro, o homem se viu só e buscando seus próprios interesses.

Deus é extremamente acessível, a qualquer hora, em qualquer lugar você fala com ele, mesmo após o pecado, mas o pecado nos roubou outra coisa que importa muito, é a relação com os irmãos.

 

O problema da solidão

A solidão é problemática, o homem não nasceu para estar sozinho, o homem não nasceu para ser apenas um “eu”, ao viver isolado inúmeros problemas acontecem:

 

•A solidão afeta a saúde mental;

•A solidão faz pessoas falarem sozinhas;

•A solidão é como um fantasma na vida;

•O problema do homem não é saúde, dinheiro, bens, alimentos, o problema do homem é ainda estar só.

Mas ao mesmo tempo que não é bom o homem estar só, homem busca apenas seus interesses, dificultando assim o convívio em virtude do seu egoísmo, o homem então entrou num eterno ciclo repetitivo de precisar de pessoas, mas buscar seus interesses e afastar as pessoas.

Toda convivência com alguém é um desafio, porque as pessoas se tornaram um coletivo de “eus”, que buscam seus interesses e se esses interesses não são atendidos, elas mudam de companhia, elas descartam outras pessoas, elas rompem relações.

Toda atividade coletiva é estressante, se não tomarmos cuidado evitamos a todo custo atividades em grupo e sem perceber cultivamos nosso próprio egoísmo.

O egoísmo tornou-se um problema muito mais intenso com o passar do tempo.

 

·         Exemplo de Crianças tocadas – Jesus Copy

·         A solidão é a maior causa de morte nos EUA – Expectativa de vida diminuindo.

·         A população está ficando velha, rica e solitária.

 

Apesar de todos os apelos para conseguirmos trabalhar em grupo, inegavelmente trabalhar só te leva ao destino mais rápido, te livra de alguns transtornos que as pessoas podem te causar, trabalhar sozinho te obriga a lidar apenas consigo mesmo e nossa visão acerca de si é romantizada.

Isso afeta até mesmo a igreja, não é nem um pouco raro, cristãos que estão desprezando totalmente as companhias para viverem sós, negando assim a fala do criador que é, “não é bom que você esteja sozinho”.

Estamos cultivando isso de tal forma que pensamentos são constantemente repetidos por nós:

·         “Acho que levei a sério demais esse negócio de ter paz, me afastei de todo mundo”.

·         “Me dizem, você precisa sair e conhecer gente nova, ao que digo, ah é muita burocracia e eu não quero”.

·         “Eu cheguei naquela fase que troco qualquer rolê para ficar em casa com meu pet”.

·         “Minha meta principal é ser aquele parente que se mudou e ninguém mais teve notícias, estou lutando para isso”.

·         “Eu amo bloquear pessoas, você não vai me estressar no meu celular que comprei com meu dinheiro”.

·         “Quem gosta de visita é adolescente, adulto gosta de se trancar em casa e fingir que viajou”.

·         “Hoje resolvo tudo na vida me afastando, não mais idade para cobrar o básico de ninguém”.

·         “Não gosto quando a pessoa marca para sair e no dia quer sair mesmo, cara, fica de boa”.

·        

Estamos fazendo tudo em torno de si, evitamos a dor, evitamos os desgastes que uma vida em comunhão pode trazer, evitamos a todo custo ser afetado pelo outro.

Cultivamos cada vez mais uma preguiça social e isso afetou a igreja de várias maneiras.

Constantemente conheço pessoas que saem imediatamente do culto sob a alegação “Vou logo embora para não perder minha bênção”

Só que essa pessoa ignora o fato de que está perdendo a bênção ao “ir” logo.

Sem perceber a grande maioria das igrejas que deveriam ser lugares de comunhão se tornaram um conjunto de individualidades, nós sentamos lado a lado, confessamos o mesmo Deus, mas somos um conjunto de indivíduos, buscando o próprio interesse e ai de quem interromper nossa solidão.

Contra toda essa lógica do Egoísmo, o evangelho de Cristo é o convite para a mesa.

 

Nem Jesus quis viver sozinho

“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” – João 12.24

Esse versículo se refere ao próprio Jesus, a sua questão é que nem ele quis ser um filho “único” de Deus.

Ele sacrificou tudo, como grão de trigo morreu e gerou fruto! Ele tornou-se então o primogênito entre “muitos irmãos” – Romanos 8.29b

Deus as vezes permite coisas acontecerem conosco para que nos lembremos que a gente precisa de irmãos.

 

Exemplo de Jó, ele tinha tudo, mas precisava orar pelos amigos, não se isolar, por isso seu cativeiro vira quando se lembra deles.

 

Contra tudo e contra todos, Deus está nos chamando para o sacrifício do “Eu”, para viver novamente um “nós”.

 

Existem comportamentos que não combinam com o evangelho, o egoísmo talvez seja o principal deles, egoísmo e evangelho são mutuamente excludentes.

No evangelho o que eu quero, o que eu penso, o que eu desejo, é constantemente chamado ao sacrifício para que se viva o nós, isso é constantemente reforçado na mensagem de Jesus.

“E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará”. Marcos 8.34-35

 

Falando aos seus seguidores, ele disse:

 

“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.

E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo”

Lucas 14.26-27

“Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem”

1º Coríntios 10.24

“Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.”

Filipenses 2.4

“Ele morreu por todos, para que quem vive, não viva mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”

2º Cor. 5.14

É totalmente incompatível com o evangelho o modo de viver autocentrado.

 

O Cristão assim é chamado a ser crucificado com Cristo, para junto dele ressuscitar em novidade de vida, mas é inegociável o sacrifício do eu.

 

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. Gálatas 2.20

 

O problema em Corinto


Paulo sabia que a igreja quando não conhece a verdadeira comunhão torna-se mais um conjunto de individualidades.

 

A igreja de Corinto estava enfrentando isso com muita intensidade

·         Primeiro com as divisões - 1º Cor. 1.10-13

·         Partidarismos – 1º Cor. 3.1-4

·         O seu ajuntamento individualista se tornou algo para “pior” – 1º Cor. 11.17-18 (Quando somos egoístas nosso ajuntamento é esse).

Paulo visando unir a igreja novamente recebe o relato da família de Clóe e retorna com a carta que nós lemos e neste momento ele deseja tratar da unidade da igreja.


A falta de unidade da igreja gerou divisão, pecados graves, banalização dos sacramentos e a falta de testemunho.

Pretendo a partir do sermão de Paulo sobre unidade da igreja trazer algumas lições para nós:

1º - A igreja não é mais uma coletividade da qual fazemos parte, a igreja é um corpo – V.12

A palavra membro se desgastou em virtude de usarmos o termo “membro” para muitas coisas, somos membros de um time, de uma empresa, de um grupo.

O termo membro passou a conotar o indivíduo que faz parte de uma determinada coletividade, como toda atividade coletiva é desafiadora, diversos conceitos foram difundidos, para mediar as relações coletivas nós criamos registros:

·         Grande parte das vezes você é pouco mais do que um número (Rg, CPF, CNH, número da fila, matrícula da empresa, a chamada na escola visando evitar tempo perdido era feita por número, o preso tem uma matrícula, é o coletivismo levado ao extremo).

 

Se sou membro como apenas um número em uma fila, minha saída não afeta nada, não muda nada, é um número a menos na fila, é um CPF cancelado, é uma matrícula baixada na empresa.

Paulo não falou que somos membros neste sentido, o termo mais próximo seria algo como “órgãos”.

Se subtrair um órgão você não reduz apenas a quantidade de órgãos, você altera a estrutura do corpo, de modo que é possível ainda ser corpo sem uma mão, mas é um corpo alterado.

Você pode sair do seu individualismo sendo um RI de uma torcida, sendo uma matrícula em uma empresa, um número na fila, você perde seu nome para ser um número.

Na igreja as vezes perco meu nome, mas não para ser uma matrícula, um número na fila, eu perco meu nome para ser um “irmão”.

 

Você então ao ser batizado não é apenas um membro de um clube, um RI, uma carteirinha, você agora é parte de um corpo e sua presença é fundamental para a ele.

Nós somos um corpo e dessa forma dependemos um do outro para existir.

Somos um corpo e não uma instituição comum, apesar de alguns lugares possuírem RI, apesar de em virtude de decisões meramente administrativas excluírem pessoas do registro de “membros terreno”, jamais podemos ser excluídos do que é o corpo.

 

2º - Toda atividade coletiva é desgastante, Só Jesus pode nos fazer dar certo – V.13

 

·         Descrever dificuldades de trabalhar em grupo – V.13

 

Jesus é a confluência dos diferentes, ele une em si pessoas das mais distintas:

Tabela

Descrição gerada automaticamente

 

Como pode a igreja dar certo? Como pode um lugar que une pessoas tão distintas conseguir viver em harmonia?
A resposta é que a nós foi dado de um só Espírito, somos batizados num só corpo.

O que faz a igreja dar certo apesar de todas as suas dificuldades? A resposta é Cristo!
Ele nos une, de modo que somos irmãos apesar de termos mães diferentes, apesar de termos estamos diferentes, apesar de termos diferenças tão grandes, a nossa comunhão com ele é mais forte que todas as diferenças e dificuldades.

Nós as vezes nos aproximamos da vida em comunidade cheios de ideais e esquecemos que somos imperfeitos.

 

 

A irmandade Cristã não é um ideal, as pessoas as vezes trazem consigo ideias de um tipo de vida cristã aceitável, mas logo nos decepcionamos.

Deus é o Deus da verdade e ele trata de revelar que não somos perfeitos, apesar de sermos corpo, ainda pecamos, ainda erramos, logo minha comunhão não é fundamentada no ideal que tenho de igreja, sou chamado a amar o meu irmão apesar de todos os erros, de todos os defeitos, inclusive os meus, o que nos une é muito maior.

O corpo de Jesus foi partido na noite em que ele foi traído 1º Cor. 11.24

Toda visão idealizada afasta a verdadeira comunhão.

 

Quem ama mais sua ideia do que a comunhão, destrói a comunhão – Bonhoeffer

 

“Deus odeia esses sonhos ou essas visões idealizadas, porque levam ao orgulho e à presunção. Quem idealiza ou sonha com um modelo de comunhão acaba por exigir de Deus, dos outros e de si mesmo a concretização desse ideal. Esse indivíduo aparece em meio à comunhão dos cristãos como alguém que faz exigências. Promulga uma lei própria e de acordo com ela julga os irmãos e o próprio Deus. Mostra-se rígido e aparece em meio aos irmãos como uma acusação viva para todos. Age como se primeiro tivesse de estabelecer a comunhão cristã, como se a visão que idealizou devesse unir as pessoas. Tudo aquilo que não ocorre segundo sua vontade ele considera um fracasso. No momento em que sua visão idealizada é destruída, entende que a comunhão se desfaz. Assim, ele se torna inicialmente acusador de seus irmaõs, depois acusador de si mesmo. Deus já lançou o único fundamento de nossa comunhão. Há muito, antes de entramos na vida em comunhão com outros cristãos, Deus nos uniu com esses cristãos em um só corpo em Jesus”.

 

·         Quem ama vidros cuidando serem diamantes, diamantes ama e não vidros.

·         Somos chamados a amar a igreja como ela é.

 

“A irmandade cristã não é um ideal que nós temos de tornar realidade. Pelo contrário, é uma realidade criada por Deus em Cristo, da qual temos o privilégio de participar. Quanto mais clara for a nossa compreensão de que apenas Jesus Cristo é a base, a força e a promessa de nossa comunhão, tanto mais calmamente aprenderemos a refletir sobre a nossa comunhão, a orar e esperar por ela.

Por estar fundamentada unicamente em Jesus Cristo, a comunhão cristã é uma realidade pneumática e não psíquica. Nisso a comunhão cristã se distingue radicalmente de qualquer outra comunhão.

Comunhão espiritual é a comunhão daqueles que foram chamados por Cristo; comunhão psíquica ou natural é a comunhão de almas piedosas. Na comunhão espiritual reina agápe, o puro amor do serviço fraterno; na comunhão natural vigora eros, o obscuro amor do desejo que é ao mesmo tempo ímpio e piedoso”.

 

Irmãos não se escolhem, se tem.

 

3º - Nossa variedade é uma dádiva, mesmo entre irmãos mais fracos.

Devemos tomar o cuidado de não buscar ter comunhão apenas com pessoas aparentemente fortes, isso se parece mais com a lógica do Network.

A comunhão cristã é diferente das conexões profissionais que visam me levar a lugares, pessoas não são links, pessoas não são apenas trampolins, pessoas são variadas e necessárias.

O corpo é tão variável como é um nariz diferente do braço, um olho diferente do pé, mas essa diferença nos completa.

O mundo por natureza nos padroniza para proporcionar o convívio coletivo, por isso a constituição brasileira tem como artigo de direitos fundamentais a igualdade, igualmente na declaração universal dos direitos humanos.

Na igreja o conceito varia um pouco, nós temos uma igualdade apenas: O Amor de Cristo sobre nós, mas somos tão variados como é um corpo, com órgãos diferentes, com funções diferentes.

·         O corpo não é só um membro mas muitos – V.14

·         Todos os membros são por natureza importantes com suas diferenças – V.15-17

·         Não há corpo na igualdade absoluta – V.18-20

·         Todos por natureza são necessários – V.21-22

 

“Excluir da comunidade cristã aquele que é fraco e insignificante, aquele que parece ser inútil, pode muito bem significar a exclusão de Cristo, que bate à nossa porta por meio do irmão pobre”.

Bonhoeffer

 

Cuidado para não ser seletivo demais com as pessoas que você pensa serem desnecessárias, todos somos membros do corpo.

Não existe gente desnecessária no corpo.

·         Função do dedo mindinho do pé.

 

Nós crescemos na comunhão e nas nossas diferenças:

“Estamos todos constantemente ensinando e aprendendo, perdoando e sendo perdoados, representando Cristo para as pessoas, quando intercedemos por elas, e representando as pessoas para Cristo, quando outros intercedem por nós. O sacrifício da privacidade pessoal, que é diariamente exigido de nós, é recompensado diariamente, cem vezes mais, no verdadeiro crescimento da personalidade que a vida do corpo encoraja. Aqueles que são membros uns dos outros se tornam tão diferentes quanto a mão e o ouvido. Essa é a razão por que as pessoas do mundo são tão monotonamente parecidas entre si, quando comparadas com a quase fantástica variedade dos cristãos. Obediência é o caminho para a liberdade, humildade é o caminho para o prazer, unidade é o caminho para a personalidade”.

 

4º - A comunhão é um chamado para sorrir e chorar juntos – V.26

“De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele.

Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular” 1º Cor. 12.26-27

“Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram” – Romanos 12.15

 

Por que é atrativo ir para um lugar que vou sentir a dor do outro?

Por que é atrativo ir para um lugar em que se outro padece eu padeço junto?

 

Porque se eu sofro junto, também sou curado junto, se sinto dor junto, sinto alívio junto.

 

Só se dá conta do valor de um irmão quando você não vê nenhum – Paulo no fim da vida, irmãos perseguidos, minha experiência na Europa.

 

Existem benefícios incomparáveis na comunhão, logo, não é bom que o homem esteja só, a vida no corpo é uma forma de Deus de nos tirar da solidão, veja alguns benefícios:

 

·         Deus abençoa as relações – Mateus 18.18

·         Conseguimos coisas fantásticas juntos – Eu e Deus resisto mil, com um irmão resisto a 10.000 – Deuteronônio 32.30

“Um cavalo sozinho arrasta até mil quilos, mas dois cavalos podem arrastar até 10.000 KG.”

 

Por isso é melhor serem dois do que um – Ec. 4.9

Você ganha mais coletivamente, o outro te levanta, você tem quem lhe “aqueça”, você resiste mais coletivamente.

 

·         A Vida no corpo “levanta” os caídos

“Mas, rodeando-o os discípulos, levantou-se, e entrou na cidade, e no dia seguinte saiu com Barnabé para Derbe” -  Atos 14.20

 

·         Na comunhão somos perdoados – 1º João 1.6

·         Na comunhão somos afiados – Pv 27.17

·         A comunhão transforma amigos em irmãos – PV. 17.17

 

Jesus veio para nos curar de tudo o que segrega:

“Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho” – Mateus 11.5

 

Jesus veio para curar tudo que nos afasta dos irmãos. Hoje o que nos faltam são amigos, temos dinheiro, casas, empregos, mas faltam amigos, Jesus quer curar isso com a igreja.

O partir do pão de Jesus é o contrário do comer de Eva. Ali ela se tornou um “eu”, dando o resto para o marido, Jesus parte e depois come.

O que mais impressiona em Jesus não é o ensino, não é o andar, é o partir do pão, é o pensar no outro.