É tempo de voltar...
“ Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete
estrelas , que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e
a tua paciência,e que não podes sofrer os maus; e os que se dizem ser judeus e o não são e tu
os achastes mentirosos; e sofrestes e tens paciência; e trabalhaste e não cansaste pelo nome
meu nome e não te cansaste. Tenho porém contra ti que deixaste a tua primeira caridade.
Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te e pratica as primeiras obras; quando não,
brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o seu castiçal, se não te arrependeres. Tens, porém,
isto: que aborreces as obras dos nicolaítas, quais eu também aborreço. Quem tem ouvidos
ouça o que o espírito diz às igrejas: Ao que vencer, Dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que
está no meio do paraíso de Deus.”
As sete cartas tem um padrão de escrita, em todas Jesus Cristo se apresenta de uma maneira
diferente, demonstra seu conhecimento em relação a igreja, faz promessas aos vencedores.
Em Duas dessas cartas há apenas elogios: Esmirna (AP. 2.8-11) e Filadélfia (Ap. 3. 7-13) e em
Laodicéia ( AP 3.14-22) há apenas repreensões.
A conclusão das cartas tem o seguinte trecho: “Quem tem ouvidos ouça o que o espírito diz as
A cidade de Éfeso era a maior da Ásia, a igreja dessa cidade sofreu diversas perseguições, pois,
a idolatria era generalizada. O apóstolo Paulo dedicou boa parte de seu ministério a essa
igreja, em Atos ele pregou um de seus sermões mais melancólicos, quando disse: “ E, agora, na
verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu
Após essa declaração de Paulo e mais algumas exortações, ele orou com a igreja: “ E, havendo
dito isto, pôs-se de joelhos e orou com todos eles, E levantou-se um grande pranto entre todos
e lançando-se ao pescoço de Paulo o beijavam.” (AT 20.36-37)
Assim como predito por Paulo eles sofreram muito, na época em que o livro do Apocalipse foi
escrito os cristãos estavam sofrendo sobre o império de Domiciano, imperador romano (81-96
A autor do livro estava exilado na ilha de patmos, tudo parecia estar perdido pra João, mas no
momento de tristeza Jesus apareceu a João mostrando-se ressurreto, mostrando ao seu servo
as coisas que foram, que são e estão pra acontecer.
Antes de iniciar a análise das cartas, é importante ressaltar que o livro do Apocalipse utiliza
linguagem simbólica, os sete candeeiros (castiçais), representam as sete igrejas.
Jesus apresenta-se a Éfeso como aquele que tem em suas mãos as sete estrelas, que
representam Os sete anjos.
Ou seja ele tem o controle sobre a igreja, Éfeso estava nas mãos de Jesus Cristo.
Após isso a carta diz “Aquele que anda no meio dos sete castiçais”, Jesus não só conhece e tem
controle sobre a igreja, como também anda entre ela. Seguindo esse pensamento é possível
chegar a conclusão que quem olha pra igreja vê a semelhança de Cristo, tanto que João antes
de ver Jesus, viu a igreja. Somos a imagem e semelhança de Deus, não há como ver Jesus
Cristo nos nossos dias sem olhar para a igreja.
Nos versículo 2 e 3, Jesus demonstra conhecer a igreja intimamente, como o esposo conhece
sua esposo, ele diz: “Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência,e que não podes
sofrer os maus; e os que se dizem ser judeus e o não são e tu os achastes mentirosos; e
sofrestes e tens paciência; e trabalhaste e não cansaste pelo nome meu nome e não te
cansaste.”
A igreja de Éfeso pode ser um ótimo exemplo para as igrejas dos nossos dias, eles tinham
compromisso a ponto de rejeitar falsas doutrinas, sofrer pelo evangelho de Cristo, a filosofia
de vida desses cristãos era semelhante a de Paulo: “ Pois para mim o viver é Cristo, e o morrer
é ganho”. (FP 1.21)
Infelizmente as igrejas dos nossos dias, estão seguindo o evangelho dos sinais, estão sendo
levados por qualquer vento de doutrina. São poucos que realmente estão dispostos e sofrer e
até mesmo a morrer pelo evangelho verdadeiro.
Mas após essa série de elogios, Jesus traz uma dura repreensão : “ Tenho porém contra ti que
abandonaste a tua primeira caridade”. ( AP. 2.4)
A igreja de Éfeso demonstra que é possível que haja um compromisso sem amor, eles eram
perfeitos em sua conduta,trabalho, paciência ETC.
Mas falharam em um ponto crucial: Passaram a agir de maneira “mecânica”, como um simples
costume. Suas motivações já não eram as mesmas, tinham muito zelo no serviço ao Senhor,
mas só as obras não garantem a aprovação divina, até então estavam agindo corretamente,
não haviam se conformado com o mundo, não sujaram suas vestes como parte da igreja de
Sardes, não se deixaram levar por heresias como Pérgamo, mas deixaram de servir a Deus com
Era como se Jesus estivesse dizendo : “ Vocês fizeram tudo certo, mas falharam apenas em um
ponto, esqueceram que o amor é maior do que os dons, maior que todos sentimentos, maior
do que todas as suas boas obras.”
Paulo escrevendo aos Coríntios diz : “ Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e
não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”. (1 Cor. 13.1)
A igreja de Éfeso havia se afogado no mar do ativismo religioso, o famoso “ fazer por
costume”, “ cumprimento de rotina”.
O amor para Deus excede as obras, as motivações pesam mais que os sacrifícios, Míquéias
demonstra isso em seu ministério ao questionar-se: “ Com que me apresentarei ao Senhor e
me inclinarei ante o Deus Altíssimo?
Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de
milhares de carneiros? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? O fruto do meu
ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou ó homem o que é bom; e o que o Senhor
pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e Andes humildemente com
teu Deus?” ( MQ. 6.6-8)
O que Deus espera de nós não é apenas o sacrifício externo e visível, ele espera algo que venha
de nosso coração! Os nossos lábios podem muito bem expressar belas palavras, mas Cristo vê
além do exterior.
A igreja de Éfeso estava comprometida, mas sem o amor. Quando em primeiro amor, imagino
algo puro, um sentimento completamente voluntário, isento de interesses, pretensões, ETC.
O verdadeiro amor foi expresso por Deus através de Cristo : “ Mas Deus prova seu amor para
conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” ( RM 5.8)
“ Porque Deus, amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” ( JO 3.16)
Deus não espera de nós apenas o zelo no serviço, mais do que a nossa dedicação ele espera
nosso amor. Os Fariseus eram zelosos em relação a lei, porém pouco sabia sobre o amor,
jamais compreenderam que a grandeza do evangelho é a Graça de Deus, manifesta em Jesus
Cristo. Eles tinham uma boa aparência, mas o importante em nosso relacionamento com Deus
é o nosso sentimento e desejo de expressar uma verdadeira adoração, há uma grande
distância entre a aparência e essência.
Quando penso em desvio das primeiras obras, lembro-me de dois exemplos bíblicos: Sansão e
o filho-pródigo.
Sansão tinha tudo pra ser o maior herói do antigo testamento, seu nascimento foi
completamente diferente dos demais juízes, patriarcas e ícones da fé cristã. Sua mãe recebeu
a visita de um anjo anunciando seu nascimento, antes de nascer Sansão já recebeu uma
ordem, seria nazireu de Deus, ou seja, não teria contato com mortos, não iria ingerir bebida
forte, não passaria navalha em sua cabeça, ETC.
Com o passar do tempo ele deveria ter uma vida completamente regrada, correta, sendo
assim um exemplo para o povo. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário, ele a cada
dia foi se afastando de Deus, por diversas vezes o espírito se apoderava de Sansão, ele passou
a se conformar com momentos ao lado de Deus e desprezou a comunhão.
Chegou ao ponto de tocar em animais mortos, (JZ 14.6,9) contar seu segredo a uma mulher
que tinha a intenção de afligi-lo (JZ 16.6,18)
O Filho pródigo assemelha-se a Sansão pelo fato de sair de sua casa, onde tinha estabilidade,
boa comida, servos à sua disposição, boas vestimentas e principalmente um pai exemplar.
Mas ele preferiu arriscar-se saindo de casa e deixar amor de seu pai, mergulhou em uma crise
tão grande a ponto de desejar a própria comida que os porcos comiam.
O versículo seguinte é uma das partes mais importantes da carta a igreja de Éfeso:
“Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te e pratica as primeiras obras; quando não,
brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o seu castiçal, se não te arrependeres.”
O filho pródigo lembrou-se da casa de seu pai, mas não só lembrou, pois, a simples lembrança
do bom estado gera um sentimento chamado remorso.
Cristo não só espera de sua igreja o remorso, mas uma atitude em direção a mudança, a
simples lembrança não muda a vida do cristão.
Arrependimento exige atitudes, o filho pródigo diz: “ Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e
dir-lhe-ei: Pai pequei contra o céu e perante ti...” (LC 15.18)
O filho volta pra casa e é recebido por seu pai, torna a praticar as primeiras obras.
Sansão da mesma maneira, antes de morrer fez uma oração ao Senhor dizendo: “ Deus, peço-
te que lembres de mim, e fortalece-me agora só esta vez ó Deus para que de uma só vez me
vingue dos filisteus pelos meus dois olhos” (JZ 16.28)
Houve arrependimento por parte de Sansão e do filho pródigo, Deus sempre está disposto a
nos perdoar, e receber-nos de braços abertos, podemos estar como o filho pródigo fedendo a
porcos, mas Cristo está disposto a saltar em nosso pescoço e beijar-nos, se movendo de íntima
compaixão.
O arrependimento deve fazer parte da conduta Cristã, a igreja de Éfeso se acostumou a olhar
para os outros, esquecendo-se que o importante é antes de notar o cisco no olho de nosso
irmão, remover a imensa trave que está diante de nossos olhos.
A auto-avaliação é importantíssima na vida de qualquer pessoa, sem a qual ninguém poderá
notas as próprias limitações e arrepender-se dos seus erros.
Caso a igreja de Éfeso não se arrependesse eles teriam seu castiçal removido. O castiçal no
tabernáculo tinha a função de iluminar o interior.
Paulo nos compara a um tabernáculo quando diz: “ Sabemos que se a nossa casa terrestre
deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício...” ( 2 Cor 5.1a)
Somos habitação de Deus, morada do espírito santo, a diferença entre tabernáculo e templo é
na mobilidade.
O tabernáculo sem castiçal, perde a luz. Assim é todo cristão que abandona o seu primeiro
amor, Uzias é um exemplo de orgulho e falta de arrependimento. Devido a esses erros ele
acabou leproso, longe do templo, da família, do reino. ( 2 Cr. 26)
Cristo nos compara à Luz do mundo (MT 5.14).
O grande problema da falta do castiçal é a ausência do brilho, luz, capacidade de influência da
igreja.
Muitas igrejas estão sem o castiçal, ao invés de serem luz e exemplos para o mundo, tem sido
motivo de desonra ao evangelho, muitas tem se tornado apenas um museu, cristãos estão
vivendo do passado da igreja e não terão no futuro algo a apresentar a seus filhos e
sucessores. E quando refiro-me ao castiçal no interior do tabernáculo, chego a conclusão que o
brilho começa no nosso caráter, a grandeza dos valores cristãos não está baseada em palavras,
mas sim em atitudes, o que sai da nossa boca não é maior que nosso caráter, nossa conduta
fala mais que as palavras...
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