quinta-feira, 23 de julho de 2015

A mulher Cananéia

A mulher Cananéia
Família, uma causa pela qual vale a pena batalhar.


E eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada.
Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós.
E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me!
Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos.
E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores.
Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.
Mateus 15:22-28

Os cananeus eram considerados um povo pagão, a terra de Canaã e seu entorno eram compostas por um povo muito idólatra. Os cultos eram a variados deuses, as práticas eram incompatíveis a muitos princípios éticos e morais da religião prevista em TIAGO 1.27 e toda a lei de Moisés.
O povo sacrificava crianças a ídolos, promovia orgias, os cultos eram repletos de imoralidade e promiscuidade. A tomada de Canaã se iniciou com a chamada de Abraão, a promessa era de que o Senhor lhe levaria a uma terra que emana leite e mel. A aproximação da terra foi cada vez mais notável, desde o momento em que Moisés envia os espias conforme Números 14. Até que Josué lidera o povo e conquista a terra.
No capítulo 1 de Juízes é relatada a morte de Josué e a necessidade de enfrentar os Cananeus para tomar posse da terra, Judá e Simeão decidem subir após uma palavra de Deus. Ao chegarem a terra feriram 10 mil homens JZ 1.4.
Entre os homens estava Adoni-Bezeque. Ele tenta fugir, lhe perseguem e cortam seus dedos polegares das mãos e dos pés. O relato que se segue é do próprio Adoni-Bezeque:

Então disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, com os dedos polegares das mãos e dos pés cortados, apanhavam as migalhas debaixo da minha mesa; assim como eu fiz, assim Deus me pagou. E levaram-no a Jerusalém, e morreu ali.
Juízes 1:7

Os dedos polegares hoje servem para a identificação, através das digitais é possível se diferencia de todos os demais seres humanos. No caso da bíblia a intenção inicial não era essa “tirar a identidade”, mas sim impedir que se manuseassem armas, até mesmo segurar um copo seria tarefa árdua, com isso Adoni-Bezeque subjulgava os reais, levando-lhes a um estado de humilhação extremo, tendo que pegar as migalhas que caiam debaixo de sua mesa.
Até que o dia da colheita chegou e ele que até então fez isso a setenta pessoas teve que suportar o próprio mal.

Os relatos já demonstrados nesse pequeno texto, comprovam que o povo Cananeu era idólatra, intolerante e não servia a Deus. Em nome de suas crenças eram capazes de matar, multilar e iriam até as últimas consequências.
No novo testamento, Jesus se encontra com uma mulher que era parte desse povo, porém não obstante a isso ela clama:
“Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim”.
Sua declaração a respeito de Jesus era mais usual entre os Judeus, que sempre enalteceram Davi como um rei inigualável, o fato de Jesus ser descendente de Davi lhe tornaria parte da sucessão do trono, no fundo o que os Judeus queriam era um líder desse porte. Essa mulher talvez não sabia ao certo o que esse termo significava, mas tinha consciência de que com tal declaração ela no mínimo chamaria a atenção de Jesus. O método foi diferenciado dos demais de sua terra. Ela provavelmente se informou a cerca do peso dessas palavras, do quanto elas poderiam influenciar na sua petição então com toda a força ela clama.

Mas qual a causa desse clamor? A resposta se seque no mesmo versículo: “A minha filha está miseravelmente endemoniada”.
Com essas palavras ela estava comprovando que as entidades adoradas em sua terra não lhe causaram nenhuma influencia, o fato de ser Cananéia não lhe limitou ao paganismo ou idolatria, ela conseguia enxergar além das lentes tradicionais ao seu povo. Ela conseguiu enxergar que a causa do problema de sua filha era espiritual. Que não adiantaria buscar a medicina, psicologia, videntes, etc. Involuntariamente ela estava comprovando as palavras de Jesus, que um dia ao ser questionado pelo povo a respeito de que poder ele tinha para poder expulsar demônios disse: “Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado, e toda a cidade,  ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá”.
Ou seja, contra os poderes malignos, não seria astarote, Afrodite, ou qualquer outro “deus” que poderia pelejar, de certa forma a casa se dividiria contra si mesma, mas Jesus agia de forma contrária a essa lógica, ele operava essas maravilhas pelo Espírito de Deus.  Essa mulher conseguiu identificar essa diferença em Jesus e então em uma atitude fé lhe procura.
Uma das lições fundamentais sobre essa passagem é que há problemas que podemos resolver com nossas forças, outros exclusivamente mediante o poder de Deus. Com todo o nosso esforço, conhecimento e experiências, não podemos expulsar demônios. A psicologia não resolve esse problema, ou qualquer outra religião. Só o poder de Deus seria capaz de reverter tal situação.
Essa mulher soube identificar esse problema, percebeu que sua luta seria impossível, desde que tratada apenas com suas forças. Só Deus pode libertar uma pessoa “miseravelmente endemoniada”. A continuação do relato diz “Mas ele não lhe respondeu palavra”. A primeira provação dessa mulher foi o silêncio de Deus. Jesus não lha dá atenção imediata, não lhe presta a menor solidariedade, ela esperava uma palavra, uma reação, ao menos seu olhar. Mas Jesus estava consciente de quem era essa mulher, de quem ele mesmo era e onde queria chegar; acredito muito que todos os momentos que se sequem foram para demonstrar a todos um grande exemplo de fé.
O silencio inicialmente martiriza, nos inquieta, incomoda por demonstrar indiferença, o silêncio de Deus até hoje leva muitas pessoas a se desesperar, mas a questão fundamental dos que desviam seus passos em tempos de silêncio é a falta de fé. Nietzsche afirmou “Deus está morto” em um momento de silêncio divino, a história diz que em um momento de desespero ele saiu a uma praça gritando “onde está Deus?” até que ele afirmou: “Deus está morto”.
A mulher Cananéia não obstante ao silêncio, permaneceu buscando, pois, sua busca e sua fé eram mais fortes que qualquer momento de provação, numa mistura de amor, fé e determinação ela não abre mão de sua filha.
A questão fundamental das perdas e dos momentos de provação é não se perder junto com as tempestades. 
Isso aconteceu com a viúva de 2 Reis 4. Ela perde os maridos, um credor vem levar seus filhos, mas ao invés de perder a cabeça, ela vai até o profeta e recebe sua provisão. Hoje um dos problemas mais graves da igreja é que o povo não tem mais a perseverança, que é um fruto do Espírito, qualquer vento derruba os “crentes”. Falta a paciência para entender que as provações fazem parte da vida Cristã, que ao final os resultados compensarão todos os esforços do presente. Falta fé, falta acreditar, há uma letra do cantor Paulo César Baruk que fala do nosso sentimento:
Então chega o dia
De viver tudo que se aprendeu
E a enxergar até
O que não se pode ver
Chega o dia de entender
Ate ouvi um não de Deus
Mas sem duvidar, mas sem duvidar”.
O versículo continua dizendo: “ Os discípulos lhe rogaram: Despede-a pois vem gritando atrás de nós”.
Infelizmente na caminhada como obreiros, as vezes na intenção de ajudar podemos atrapalhar pessoas de se achegarem a Cristo, queremos limitar os volumes da adoração, os gêneros de louvor a ser entoado e sem saber ao certo a vontade de Deus, dizemos o que é certo e o que não é certo em um culto. Grande parte das pessoas que foram alcançadas por Cristo na bíblia causaram um certo “incômodo”. Os discípulos querem evitar o incômodo ao mestre, mas um clamor nunca lhe gerou desconforto, do contrário, o próprio Jesus nos diz que veio aos que precisavam dele, aos doentes. Eles tentam ajudar e involuntariamente quase levam uma mulher a desistir de sua filha. Se não podemos ajudar, no mínimo devemos não atrapalhar os necessitados. Para Deus são mais relevantes as motivações do que os sacrifícios e os métodos.

“E ele (Jesus) lhes disse: Eu não fui enviado, se não as ovelhas perdidas da casa de Israel”.

Sabemos muito bem que o propósito inicial de Cristo era restaurar Israel, mas a bíblia no antigo testamento há diversas passagens apontando para uma breve redenção a todos os povos mediante o sacrifício de Cristo. Jesus se despiu de sua glória na intenção de resgatar para si todos os povos. A Graça se estendeu a Cananeus, Americanos, Europeus,  Latinos, Brasileiros, enfim a todos. Aqui Jesus estava demonstrando que sua prioridade no ministério terreno era resgatar Israel, mas isso não lhe impediria de no futuro morrer por todos. Há quem diga que o plano de redenção se iniciou nesse milagre, com base no comum filme “Jesus” que em ocasiões como a páscoa e o natal costuma ser exibido em canais de TV aberta. Após o milagre da cura da mulher Cananéia, há uma cena em que o personagem de Cristo diz: “Essa mulher me ensinou que vim para todos”.
Completamente oposto ao sentido bíblico. Jesus estava demonstrando que tem prioridades, que seu maior propósito é salvação. Antes de minhas petições, ele me quer. Antes do meu desejo ele almeja se relacionar com o que eu sou.

“Então Chegou ela e o adorou, dizendo-lhe: Senhor, socorre-me”.
Um outro fator fundamental na vida dessa mulher, em meio a primeira adversidade que era o silêncio de Jesus, a intervenção dos discípulos, a demonstração da prioridade de Jesus que naquele momento não era favorável; ela permaneceu com toda a perseverança, adorando e nas entrelinhas dizendo “não abro mão da minha filha”. E além de pedir socorro, ela adora a Deus. A fé nos leva a tomar atitudes que naturalmente não tomaríamos, por isso a fé classificada como um dom espiritual, como um pré-requisito indispensável a um Cristão, é impossível agradar a Deus sem fé. Essa mulher olhou para as adversidades e decidiu exceder os limites de qualquer pessoa. Antes de qualquer outra petição ela adora. Que o mesmo sirva para a geração contemporânea, que as muitas adversidades não nos impeçam de perceber que ele continua sendo bom. De que seu caráter é imutável, que assim como Jeremias em sua lamentação, possamos perceber que ele sempre cuidou de nós e mesmo em meio a tribulação, possamos trazer a memória o que nos trás esperança, as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos. Lamentações 3.21 e 22. Que a lembrança de que ele cuidou de nós até hoje nos faça olhar para esse momento e lembrar que a promessa bíblica é de que o peso da glória excederá qualquer tribulação.

“Ele porém lhes disse: Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos, ela porém lhe disse: Sim Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem debaixo da mesa”

Esse com certeza é um dos textos mais polêmicos da bíblia, há quem diga que Jesus demonstrou preconceito, que a chamou de cachorra e aos seus olhos ela era desprezível.
Há quem diga por exemplo que essa mulher demonstrou a sua fé ao aceitar até ofensas. Mas é contrário ao caráter de Cristo ofender, mesmo os fariseus que lhe causaram tantos incômodos não foram tratados como “cachorros”, não podemos analisar a bíblia sem considerá-la como um todo. Jesus não é um sádico, um homem indiferente como Jonas, materialista, ou algo assim. Pelo contrário ele ama, chora com os que choram como no caso de Lázaro, se compadece das dores e abençoa pessoas das mais diversas formas e com os mais diversos gêneros, seu amor excede nossos defeitos. Não que houvesse defeito em ter nascido em Canaã, a afirmação de Jesus é “Não é bom”, você há de concordar que não foi dito um não definitivo, como no caso de Jessé que orou por Saul, 1° SM 1. Como na oração de Paulo a cerca do espinho na carne 2 Coríntios 12. 8-9.
Nesse caso a fala de Jesus foi: “Não é bom”, isso não é definitivo. “Então a mulher vem com a maior declaração de fé daquele dia: Até os cachorrinhos comem das migalhas que caem debaixo da mesa”.
Ela discerniu o que Jesus disse, não é bom, mas ele não se negou a fazer. Um dos segredos dela foi discernir o que Jesus falou.
O fato de usar o diminutivo, “Cachorrinho” demonstrava estima, um cachorro geralmente é querido por seus donos, permanecem na casa, não são filhos, mas recebem muito carinho e cuidado. Jesus estava lhe dizendo que a queria por perto, que independentemente de sua nacionalidade ele não abre mão de tê-la por perto. Jesus a chamaria de filha posteriormente ao sacrifício da cruz, ele nos reconciliou com Deus. Até então éramos criaturas de Deus, mas com a morte e ressurreição de Cristo nos tornamos filhos por adoção. As ovelhas desgarradas agora tem um pastor. Jesus nos amou.
Quando ela falou até os cachorrinhos comem das migalhas que caem, ela demonstra que diferentemente de seu povo, de Adoni-Bezeque, ela estava disposta a ceder a outra face, andar duas milhas a exceder a justiça dos fariseus, a ir além de todos e ser uma mulher que não desiste, sua filha era mais importante que qualquer humilhação, então em outras palavras ela diz: “Uma migalha me basta”, Jesus sendo o pão da vida lhe diz: Mulher grande é a tua fé”. Esse elogio se aplicou apenas duas vezes, uma ao centurião de Cafarnaum, outra a ela. Jesus demonstra que não importa sua nacionalidade, sua fé pode ser grande, morando em qualquer lugar, aliás o lugar onde se está é irrelevante com relação fé. João estava em Patmus, mas no lugar de sua aflição se abriu uma porta no céu e ele passou a receber as maiores revelações da história. Jonas era da Galiléia, diziam que de lá não vinham profetas, os fariseus cometeram um grande equívoco, pois, de lá surgiu o profeta mais eficaz, com uma pregação de uma linha converteu 120 mil Ninivítas, e o maior de toda a história, Juiz, Sacerdote, Profeta , Jesus de Nazaré na Galiléia. Houve o dia em que Felipe e Natanel discutem, esse segundo lhe diz: “pode vir alguma coisa boa de Nazeré? – Vem e vê!``
Há quem pergunte ainda hoje, de Canaã vem algo bom? Do Brasil vem algo bom? Da zona sul de São Paulo? Das comunidades do Rio? Do Sertão nordestino?
Eu e você somos a prova constante e definitiva de que podem vir pessoas boas de qualquer lugar, basta ter fé. Que ouviremos do próprio Cristo um dia, “oh filho, grande é a tua fé, foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei”.

Concluo dizendo que essa mulher foi determinada até o fim, suportou o silêncio, oposição, conflitos de propósitos, respostas adversas. Mas o amor pela filha e sua fé excederam tudo isso.
Minha palavra é: Minha família e a sua, são de Deus, não abriremos mão de nenhum, pai, mãe, filhos, irmãos, primos, tios. Vamos até o fim, seu casamento é muito precioso para se acabar assim, sua relação familiar vale mais que sua razão, se julgar necessário peça perdão mesmo estando errado, ceda mais, pois nossa família é preciosa. Não abriremos mão dela.








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