A mulher Cananéia
Família, uma causa pela qual vale a pena batalhar.
E eis que uma mulher cananéia, que saíra
daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de
mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada.
Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós.
E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me!
Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos.
E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores.
Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.
Mateus 15:22-28
Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós.
E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me!
Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos.
E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores.
Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.
Mateus 15:22-28
Os cananeus eram
considerados um povo pagão, a terra de Canaã e seu entorno eram compostas por
um povo muito idólatra. Os cultos eram a variados deuses, as práticas eram
incompatíveis a muitos princípios éticos e morais da religião prevista em TIAGO
1.27 e toda a lei de Moisés.
O povo sacrificava
crianças a ídolos, promovia orgias, os cultos eram repletos de imoralidade e
promiscuidade. A tomada de Canaã se iniciou com a chamada de Abraão, a promessa
era de que o Senhor lhe levaria a uma terra que emana leite e mel. A
aproximação da terra foi cada vez mais notável, desde o momento em que Moisés
envia os espias conforme Números 14. Até que Josué lidera o povo e conquista a
terra.
No capítulo 1 de
Juízes é relatada a morte de Josué e a necessidade de enfrentar os Cananeus
para tomar posse da terra, Judá e Simeão decidem subir após uma palavra de
Deus. Ao chegarem a terra feriram 10 mil homens JZ 1.4.
Entre os homens
estava Adoni-Bezeque. Ele tenta fugir, lhe perseguem e cortam seus dedos
polegares das mãos e dos pés. O relato que se segue é do próprio Adoni-Bezeque:
Então disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, com os
dedos polegares das mãos e dos pés cortados, apanhavam as migalhas debaixo da
minha mesa; assim como eu fiz, assim Deus me pagou. E levaram-no a Jerusalém, e
morreu ali.
Juízes 1:7
Juízes 1:7
Os dedos polegares
hoje servem para a identificação, através das digitais é possível se diferencia
de todos os demais seres humanos. No caso da bíblia a intenção inicial não era
essa “tirar a identidade”, mas sim impedir que se manuseassem armas, até mesmo
segurar um copo seria tarefa árdua, com isso Adoni-Bezeque subjulgava os reais,
levando-lhes a um estado de humilhação extremo, tendo que pegar as migalhas que
caiam debaixo de sua mesa.
Até que o dia da
colheita chegou e ele que até então fez isso a setenta pessoas teve que
suportar o próprio mal.
Os relatos já
demonstrados nesse pequeno texto, comprovam que o povo Cananeu era idólatra,
intolerante e não servia a Deus. Em nome de suas crenças eram capazes de matar,
multilar e iriam até as últimas consequências.
No novo testamento,
Jesus se encontra com uma mulher que era parte desse povo, porém não obstante a
isso ela clama:
“Jesus, filho de
Davi, tem misericórdia de mim”.
Sua declaração a
respeito de Jesus era mais usual entre os Judeus, que sempre enalteceram Davi
como um rei inigualável, o fato de Jesus ser descendente de Davi lhe tornaria
parte da sucessão do trono, no fundo o que os Judeus queriam era um líder desse
porte. Essa mulher talvez não sabia ao certo o que esse termo significava, mas
tinha consciência de que com tal declaração ela no mínimo chamaria a atenção de
Jesus. O método foi diferenciado dos demais de sua terra. Ela provavelmente se
informou a cerca do peso dessas palavras, do quanto elas poderiam influenciar
na sua petição então com toda a força ela clama.
Mas qual a causa
desse clamor? A resposta se seque no mesmo versículo: “A minha filha está
miseravelmente endemoniada”.
Com essas palavras
ela estava comprovando que as entidades adoradas em sua terra não lhe causaram
nenhuma influencia, o fato de ser Cananéia não lhe limitou ao paganismo ou
idolatria, ela conseguia enxergar além das lentes tradicionais ao seu povo. Ela
conseguiu enxergar que a causa do problema de sua filha era espiritual. Que não
adiantaria buscar a medicina, psicologia, videntes, etc. Involuntariamente ela
estava comprovando as palavras de Jesus, que um dia ao ser questionado pelo
povo a respeito de que poder ele tinha para poder expulsar demônios disse:
“Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado, e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não
subsistirá”.
Ou seja, contra os
poderes malignos, não seria astarote, Afrodite, ou qualquer outro “deus” que
poderia pelejar, de certa forma a casa se dividiria contra si mesma, mas Jesus
agia de forma contrária a essa lógica, ele operava essas maravilhas pelo
Espírito de Deus. Essa mulher conseguiu
identificar essa diferença em Jesus e então em uma atitude fé lhe procura.
Uma das lições
fundamentais sobre essa passagem é que há problemas que podemos resolver com
nossas forças, outros exclusivamente mediante o poder de Deus. Com todo o nosso
esforço, conhecimento e experiências, não podemos expulsar demônios. A
psicologia não resolve esse problema, ou qualquer outra religião. Só o poder de
Deus seria capaz de reverter tal situação.
Essa mulher soube
identificar esse problema, percebeu que sua luta seria impossível, desde que
tratada apenas com suas forças. Só Deus pode libertar uma pessoa
“miseravelmente endemoniada”. A continuação do relato diz “Mas ele não lhe
respondeu palavra”. A primeira provação dessa mulher foi o silêncio de Deus.
Jesus não lha dá atenção imediata, não lhe presta a menor solidariedade, ela
esperava uma palavra, uma reação, ao menos seu olhar. Mas Jesus estava
consciente de quem era essa mulher, de quem ele mesmo era e onde queria chegar;
acredito muito que todos os momentos que se sequem foram para demonstrar a
todos um grande exemplo de fé.
O silencio
inicialmente martiriza, nos inquieta, incomoda por demonstrar indiferença, o
silêncio de Deus até hoje leva muitas pessoas a se desesperar, mas a questão
fundamental dos que desviam seus passos em tempos de silêncio é a falta de fé.
Nietzsche afirmou “Deus está morto” em um momento de silêncio divino, a
história diz que em um momento de desespero ele saiu a uma praça gritando “onde
está Deus?” até que ele afirmou: “Deus está morto”.
A mulher Cananéia não
obstante ao silêncio, permaneceu buscando, pois, sua busca e sua fé eram mais
fortes que qualquer momento de provação, numa mistura de amor, fé e
determinação ela não abre mão de sua filha.
A questão fundamental
das perdas e dos momentos de provação é não se perder junto com as
tempestades.
Isso aconteceu com a
viúva de 2 Reis 4. Ela perde os maridos, um credor vem levar seus filhos, mas
ao invés de perder a cabeça, ela vai até o profeta e recebe sua provisão. Hoje
um dos problemas mais graves da igreja é que o povo não tem mais a
perseverança, que é um fruto do Espírito, qualquer vento derruba os “crentes”.
Falta a paciência para entender que as provações fazem parte da vida Cristã,
que ao final os resultados compensarão todos os esforços do presente. Falta fé,
falta acreditar, há uma letra do cantor Paulo César Baruk que fala do nosso
sentimento:
“Então chega o dia
De viver tudo que se aprendeu
E a enxergar até
O que não se pode ver
Chega o dia de entender
Ate ouvi um não de Deus
Mas sem duvidar, mas sem duvidar”.
De viver tudo que se aprendeu
E a enxergar até
O que não se pode ver
Chega o dia de entender
Ate ouvi um não de Deus
Mas sem duvidar, mas sem duvidar”.
O versículo continua
dizendo: “ Os discípulos lhe rogaram: Despede-a pois vem gritando atrás de
nós”.
Infelizmente na
caminhada como obreiros, as vezes na intenção de ajudar podemos atrapalhar
pessoas de se achegarem a Cristo, queremos limitar os volumes da adoração, os
gêneros de louvor a ser entoado e sem saber ao certo a vontade de Deus, dizemos
o que é certo e o que não é certo em um culto. Grande parte das pessoas que
foram alcançadas por Cristo na bíblia causaram um certo “incômodo”. Os
discípulos querem evitar o incômodo ao mestre, mas um clamor nunca lhe gerou
desconforto, do contrário, o próprio Jesus nos diz que veio aos que precisavam
dele, aos doentes. Eles tentam ajudar e involuntariamente quase levam uma
mulher a desistir de sua filha. Se não podemos ajudar, no mínimo devemos não
atrapalhar os necessitados. Para Deus são mais relevantes as motivações do que
os sacrifícios e os métodos.
“E ele (Jesus) lhes
disse: Eu não fui enviado, se não as ovelhas perdidas da casa de Israel”.
Sabemos muito bem que
o propósito inicial de Cristo era restaurar Israel, mas a bíblia no antigo
testamento há diversas passagens apontando para uma breve redenção a todos os
povos mediante o sacrifício de Cristo. Jesus se despiu de sua glória na
intenção de resgatar para si todos os povos. A Graça se estendeu a Cananeus,
Americanos, Europeus, Latinos, Brasileiros,
enfim a todos. Aqui Jesus estava demonstrando que sua prioridade no ministério
terreno era resgatar Israel, mas isso não lhe impediria de no futuro morrer por
todos. Há quem diga que o plano de redenção se iniciou nesse milagre, com base
no comum filme “Jesus” que em ocasiões como a páscoa e o natal costuma ser
exibido em canais de TV aberta. Após o milagre da cura da mulher Cananéia, há
uma cena em que o personagem de Cristo diz: “Essa mulher me ensinou que vim
para todos”.
Completamente oposto
ao sentido bíblico. Jesus estava demonstrando que tem prioridades, que seu
maior propósito é salvação. Antes de minhas petições, ele me quer. Antes do meu
desejo ele almeja se relacionar com o que eu sou.
“Então Chegou ela e o
adorou, dizendo-lhe: Senhor, socorre-me”.
Um outro fator
fundamental na vida dessa mulher, em meio a primeira adversidade que era o
silêncio de Jesus, a intervenção dos discípulos, a demonstração da prioridade
de Jesus que naquele momento não era favorável; ela permaneceu com toda a
perseverança, adorando e nas entrelinhas dizendo “não abro mão da minha filha”.
E além de pedir socorro, ela adora a Deus. A fé nos leva a tomar atitudes que
naturalmente não tomaríamos, por isso a fé classificada como um dom espiritual,
como um pré-requisito indispensável a um Cristão, é impossível agradar a Deus
sem fé. Essa mulher olhou para as adversidades e decidiu exceder os limites de
qualquer pessoa. Antes de qualquer outra petição ela adora. Que o mesmo sirva
para a geração contemporânea, que as muitas adversidades não nos impeçam de
perceber que ele continua sendo bom. De que seu caráter é imutável, que assim
como Jeremias em sua lamentação, possamos perceber que ele sempre cuidou de nós
e mesmo em meio a tribulação, possamos trazer a memória o que nos trás
esperança, as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos.
Lamentações 3.21 e 22. Que a lembrança de que ele cuidou de nós até hoje nos
faça olhar para esse momento e lembrar que a promessa bíblica é de que o peso
da glória excederá qualquer tribulação.
“Ele porém lhes disse:
Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos, ela porém lhe
disse: Sim Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem debaixo
da mesa”
Esse com certeza é um
dos textos mais polêmicos da bíblia, há quem diga que Jesus demonstrou
preconceito, que a chamou de cachorra e aos seus olhos ela era desprezível.
Há quem diga por
exemplo que essa mulher demonstrou a sua fé ao aceitar até ofensas. Mas é
contrário ao caráter de Cristo ofender, mesmo os fariseus que lhe causaram
tantos incômodos não foram tratados como “cachorros”, não podemos analisar a
bíblia sem considerá-la como um todo. Jesus não é um sádico, um homem
indiferente como Jonas, materialista, ou algo assim. Pelo contrário ele ama,
chora com os que choram como no caso de Lázaro, se compadece das dores e
abençoa pessoas das mais diversas formas e com os mais diversos gêneros, seu
amor excede nossos defeitos. Não que houvesse defeito em ter nascido em Canaã,
a afirmação de Jesus é “Não é bom”, você há de concordar que não foi dito um
não definitivo, como no caso de Jessé que orou por Saul, 1° SM 1. Como na
oração de Paulo a cerca do espinho na carne 2 Coríntios 12. 8-9.
Nesse caso a fala de
Jesus foi: “Não é bom”, isso não é definitivo. “Então a mulher vem com a maior
declaração de fé daquele dia: Até os cachorrinhos comem das migalhas que caem
debaixo da mesa”.
Ela discerniu o que
Jesus disse, não é bom, mas ele não se negou a fazer. Um dos segredos dela foi
discernir o que Jesus falou.
O fato de usar o
diminutivo, “Cachorrinho” demonstrava estima, um cachorro geralmente é querido
por seus donos, permanecem na casa, não são filhos, mas recebem muito carinho e
cuidado. Jesus estava lhe dizendo que a queria por perto, que independentemente
de sua nacionalidade ele não abre mão de tê-la por perto. Jesus a chamaria de
filha posteriormente ao sacrifício da cruz, ele nos reconciliou com Deus. Até
então éramos criaturas de Deus, mas com a morte e ressurreição de Cristo nos
tornamos filhos por adoção. As ovelhas desgarradas agora tem um pastor. Jesus
nos amou.
Quando ela falou até
os cachorrinhos comem das migalhas que caem, ela demonstra que diferentemente
de seu povo, de Adoni-Bezeque, ela estava disposta a ceder a outra face, andar
duas milhas a exceder a justiça dos fariseus, a ir além de todos e ser uma
mulher que não desiste, sua filha era mais importante que qualquer humilhação,
então em outras palavras ela diz: “Uma migalha me basta”, Jesus sendo o pão da
vida lhe diz: Mulher grande é a tua fé”. Esse elogio se aplicou apenas duas
vezes, uma ao centurião de Cafarnaum, outra a ela. Jesus demonstra que não
importa sua nacionalidade, sua fé pode ser grande, morando em qualquer lugar,
aliás o lugar onde se está é irrelevante com relação fé. João estava em Patmus,
mas no lugar de sua aflição se abriu uma porta no céu e ele passou a receber as
maiores revelações da história. Jonas era da Galiléia, diziam que de lá não
vinham profetas, os fariseus cometeram um grande equívoco, pois, de lá surgiu o
profeta mais eficaz, com uma pregação de uma linha converteu 120 mil Ninivítas,
e o maior de toda a história, Juiz, Sacerdote, Profeta , Jesus de Nazaré na
Galiléia. Houve o dia em que Felipe e Natanel discutem, esse segundo lhe diz:
“pode vir alguma coisa boa de Nazeré? – Vem e vê!``
Há quem pergunte
ainda hoje, de Canaã vem algo bom? Do Brasil vem algo bom? Da zona sul de São
Paulo? Das comunidades do Rio? Do Sertão nordestino?
Eu e você somos a
prova constante e definitiva de que podem vir pessoas boas de qualquer lugar,
basta ter fé. Que ouviremos do próprio Cristo um dia, “oh filho, grande é a tua
fé, foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei”.
Concluo dizendo que
essa mulher foi determinada até o fim, suportou o silêncio, oposição, conflitos
de propósitos, respostas adversas. Mas o amor pela filha e sua fé excederam
tudo isso.
Minha palavra é:
Minha família e a sua, são de Deus, não abriremos mão de nenhum, pai, mãe,
filhos, irmãos, primos, tios. Vamos até o fim, seu casamento é muito precioso
para se acabar assim, sua relação familiar vale mais que sua razão, se julgar
necessário peça perdão mesmo estando errado, ceda mais, pois nossa família é
preciosa. Não abriremos mão dela.
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