sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A graça preciosa

Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao ser humano, e é graça, por assim, lhe dar a vida; é preciosa por condenar o pecado, e é graça por justificar o pecador. Essa graça é sobretudo preciosa por ter sido preciosa para Deus, por ter custado a Deus a vida de seu Filho - "vocês foram comprados por preço" - e porque não poder ser barato para nós aquilo que custou caro para Deus.

Dietrich Bonhoeffer - O preço do discipulado

A graça preciosa

A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o ser humano sai e vende com alegria tudo quanto tem; a pérola preciosa, para cuja aquisição o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o senhorio régio de Cristo, por amor do qual o ser humano arranca o olho que o faz tropeçar, o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o discípulo larga as redes e o segue.
A graça preciosa é o evangelho que se deve procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta à qual se tem que bater.

Dietrich Bonheffer - A graça preciosa

Graça barata

Graça barata significa justificação do pecado, e não do pecador. Como a graça faz tudo sozinha, tudo também pode permanecer como antes. "Afinal, a minha força nada faz." O mundo continua sendo mundo, e nós continuamos sendo pecadores "mesmo na vida mais piedosa".
Viva pois o crente como vive o mundo, coloque-se, em tudo, em pé de igualdade com o mundo, e não se atreva - sob pena de ser acusado de heresia entusiasta" - a ter, sob a graça, uma vida diferente da que tinha sob o pecado! Que se guarde de encolerizar-se contra a graça, de envergonhar essa graça grande e barata e de instituir um novo culto ao literalismo tentando ter uma vida de obediência de acordo com os mandamentos de Jesus Cristo!

Dietrich Bonhoeffer - O preço do discipulado

Graça barata

Graça barata significa a graça como doutrina, como princípio, como sistema; significa perdão dos pecados como verdade geral, significa o amor de Deus como conceito cristão de Deus.

Dietrich Bonhoeffer - O preço do discipulado

Graça barata

Graça barata é graça como refugo, perdão malbaratado, consolo malbaratado, sacramento malbaratado, é graça como inesgotável tesouro da igreja, distribuído diariamente com mãos levianas, sem pensar, sem limites; a graça sem preço, sem custo.

Dietrich Bonheffer - O preço do discipulado

Qual o destino ao seguir Jesus?

Aonde o chamado ao discipulado conduzirá as pessoas que lhe obedecem? Que decisões e separações acarretará esse chamado? Temos de levar essa pergunta àquele que é o único que a conhece a resposta. Somente Jesus Cristo, que nos ordena que o sigamos sabe aonde o caminho conduz. Nós, porém sabemos que esse caminho será, sem dúvida, caminho de misericórdia sem limites. O discipulado é alegria.

Dietrich Bonheffer - O preço do discipulado

Jesus exige e dá os meios para cumprir as exigências

Jesus nada nos exige sem nos dar forças para o realizar. O mandamento de Jesus jamais pretende destruir a vida, mas a conservar, fortalecer e curar.

Dietrich Bonheffer - O preço do discipulado


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A depressão e os sentimentos

A primeira coisa que vai embora é a felicidade.
Não é possível ter prazer em nada. Isso é notoriamente o sintoma cardeal da depressão
severa.5 Mas logo outras emoções caem no esquecimento com a
felicidade: a tristeza como você a conhecia, a tristeza que parecia tê-lo conduzido
até esse ponto, o senso de humor, a crença no amor e na sua própria capacidade
de amar. Sua mente é sugada a tal ponto que você parece um total imbecil, até
para si próprio. Se seu cabelo sempre foi ralo, parece mais ralo ainda; se você tem
uma pele ruim, ela fica pior. Você cheira a azedo até para si mesmo. Você perde a
capacidade de confiar nas pessoas, de ser tocado, de sofrer. Posteriormente,
ausenta-se de si.

Andrew Solomon - O Demônio do meio dia

A depressão é morte e vida

O nascimento e a morte que constituem a depressão ocorrem simultaneamente.
Há pouco tempo, voltei a um bosque em que brincara quando criança e vi
um carvalho, enobrecido por cem anos, em cuja sombra eu costumava brincar
com meu irmão. Em vinte anos, uma enorme trepadeira grudara-se a essa árvore
sólida e quase a sufocara. Era difícil dizer onde a árvore terminava e a trepadeira
começava. Esta enrolara-se tão completamente em torno da estrutura dos galhos
da árvore que suas folhas pareciam à distância ser as da árvore. Só bem de perto
podia-se ver como haviam sobrado poucos ramos vivos e quão poucos gravetos
desesperados brotavam do carvalho, espetando-se como uma fileira de polegares
do tronco maciço, suas folhas continuando o processo de fotossíntese ao modo
ignorante da biologia mecânica.
Tendo acabado de sair de uma depressão severa, na qual eu dificilmente
acolhia os problemas de outras pessoas, me senti cúmplice daquela árvore. Minha
depressão havia tomado conta de mim como aquela trepadeira dominara o
carvalho. Ela me sugou, uma coisa que se embrulhara à minha volta, feia e mais
viva do que eu. Com vida própria, pouco a pouco asfixiara toda a minha vida. No
pior estágio de uma depressão severa, eu tinha estados de espírito que não reconhecia
como meus; pertenciam à depressão, tão certamente quanto as folhas
naqueles altos ramos da árvore pertenciam à trepadeira. Quando tentei pensar
claramente sobre isso, senti que minha mente estava emparedada, não podia se
expandir em nenhuma direção. Eu sabia que o sol estava nascendo e se pondo,
mas pouco de sua luz chegava a mim. Sentia-me afundando sob algo mais forte
do que eu. Primeiro, não conseguia usar os tornozelos, depois não conseguia controlar
os joelhos e em seguida minha cintura começou a se vergar sob o peso do
esforço, e então os ombros se viraram para dentro. No final, eu estava comprimido
e fetal, esvaziado por essa coisa que me esmagava sem me abraçar. Suas gavinhas
ameaçavam pulverizar minha cabeça, minha coragem e meu estômago,
quebrar-me os ossos e ressecar meu corpo. Ela continuava a se empanturrar de
mim quando já parecia não ter sobrado nada para alimentá-la.
Eu não era suficientemente forte para parar de respirar. Sabia que jamais poderia
matar essa trepadeira da depressão. Assim, tudo que eu queria era que ela
me deixasse morrer. Mas ela se apoderara de minha energia. Eu precisaria me
matar, ela não me mataria. Se meu tronco estava apodrecendo, essa coisa que se
alimentava dele estava agora forte demais para deixá-lo cair. Ela se tornara um
apoio alternativo para o que destruíra. No canto mais apertado da cama, rachado
e atormentado por essa coisa que ninguém parecia ver, eu rezava para um Deus
no qual nunca acreditara inteiramente e pedia libertação. Teria ficado feliz com
uma morte dolorosa, embora estivesse letárgico demais até para conceber o suicídio.
Cada segundo de vida me feria. Porque essa coisa drenara tudo que fluía de
mim, eu não podia sequer chorar. Até a minha boca estava ressecada. Eu pensava
que, quando nos sentimos muito mal, as lágrimas jorrassem, mas a pior dor possível
é a dor árida da violação total que chega depois de todas as lágrimas já terem
se exaurido. A dor que veda cada espaço através do qual você antes entrava em
contato com o mundo, ou o mundo com você. Essa é a presença da depressão
severa.

Andrew Solomon - O demônio do meio dia

Precisamos olhar para as estrelas

Tudo passa — sofrimento, dor, sangue, fome, peste. A
espada também passará, mas as estrelas ainda permanecerão
quando as sombras de nossa presença e nossos feitos
se tiverem desvanecido da Terra. Não há homem que
não saiba disso. Por que então não voltamos nossos olhos
para as estrelas? Por quê?
MIKHAIL BULGAKOV - Citado por Andrew Solomon - "O demônio do meio dia"

A depressão é gradual

A depressão começa do insípido, nubla os dias com
uma cor entediante, enfraquece ações cotidianas até que suas formas claras são
obscurecidas pelo esforço que exigem, deixando-nos cansados, entediados e obcecados
com nós mesmos — mas é possível superar isso. Não de uma forma feliz,
talvez, mas pode-se superar. Ninguém jamais conseguiu definir o ponto de
colapso que demarca a depressão severa, mas quando se chega lá, não há como
confundi-la.

Andrew Solomon - O demônio do meio dia

O Deus indefinível

Mas não há como aplicar a lógica e a justiça humanas ao Deus vivo. A
lógica humana está baseada na experiência humana e na natureza
humana. Iavé não se encaixa nesse modelo. Se Israel é infiel, Deus
permanece fiel contra toda a lógica e contra todos os limites de justiça,
apenas porque ele é. O amor explica a feliz irracionalidade da conduta de
Deus. O amor tende a ser irracional às vezes. Ele persevera a despeito da
infidelidade. Ele floresce em ciúme e ira — que delatam um interesse
sincero. Quanto mais complexa e emocional torna-se a imagem de Deus
na Bíblia, maior ele se torna, e mais nos aproximamos do mistério da sua
indefinibilidade.

O evangelho Maltrapilho - Brennam Manning

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Vinde - O convite de Jesus

"No último julgamento Cristo nos dirá: 'Vinde, vós também! Vinde, bêbados! Vinde, vacilantes! Vinde, filhos do opróbrio!' E dir-nos-á: "Seres vis, vós que sois à imagem da besta e trazem a sua marca, vinde porém da mesma forma, vós também!' E os sábios e prudentes dirão: 'Senhor, por que os acolhes?' E ele dirá: 'Se os acolho, homens sábios, se os acolho, homens prudentes, é porque nenhum deles foi jamais julgado digno*. E ele estenderá os seus braços, e cairemos a seus pés, e choraremos e soluçaremos, e então compreenderemos tudo, compreenderemos o evangelho da graça! Senhor, venha o teu reino!".

Fiodor Dostoiévski

As feridas da instituição

A igreja institucional tornou-se alguém que inflige feridas nos que curam, em vez de ser alguém que cura os feridos

Brennam Manning - O evangelho maltrapilho

O monergismo - iniciativa de Deus

Embora as Escrituras insistam que é de Deus a iniciativa na obra da salvação — que pela graça somos salvos, que é o Formidável Amante quem toma a iniciativa — freqüentemente nossa espiritualidade começa no eu, não em Deus. A responsabilidade pessoal substituiu a resposta pessoal. Falamos sobre adquirir a virtude como se ela fosse uma habilidade que pudesse ser desenvolvida, como uma bela caligrafia ou um bom gingado numa tacada de golfe.

Brennam Manning - O evangelho Maltrapilho

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Confissões de um pregador

Confissões de um pregador
Uma das coisas que mais me apaixona é pregar. Pregar mexe comigo como nenhuma outra coisa. O esforço para encontrar a passagem adequada, o sentido da passagem, e depois colocar este sentido em um formato fácil de explicar e de ser entendido; e o mais importante, poder espiritual para entregar a mensagem de maneira clara, direta, que fira as consciências, que levante os ânimos e que instrua as mentes; enfim, que seja instrumento na mão do Espírito Santo para glorificar a Deus e exaltar a Jesus Cristo.
Apesar de toda a preparação, é no momento da entrega que a verdade aparece. Quando estou no púlpito, com a Bíblia aberta, e centenas derostos olhando pra mim em expectativa. Ali eu me sinto trêmulo, vacilante e frequentemente tímido. Tenho que superar o meu medo natural para anunciar com clareza e alta voz o sentido do texto bíblico e fazê-lo chegar até os corações e as mentes.
Durante a pregação, manter contato visual com as pessoas, perceber se estão seguindo, sendo encorajadas, se estão sendo abençoado ou se estão simplesmente se sentindo enfadonhas. Em seguida, ajustar ohorário, as palavras, o tom, o timbre da voz, até que a palavra penetre finalmente por entre as barreiras, obstáculos e dificuldades que as pessoas levantam em suas mentes e aí seus corações quando vem a igreja.
E quando o sermão termina, não termina a minha tarefa. Sinto-me geralmente arrasado, fracassado, como quem fez um péssimo trabalho.Não poucas vezes vou pra casa procurando um buraco pra me esconder. E aí que tenho que orar, pedindo perdão a Deus, e suplicar que a palavra pregada, mesmo de forma imperfeita, seja usada por ele para converter e santificar. Um sentimento de vazio com frequência entra em meu coração, como alguém que não fez o que deveria ter feito direito.
As noites de domingo, na cama, são aquelas em que a insônia torna-se minha companheira.

Augustus Nicodemus

O pródigo era obrigado a voltar

O filho pródigo estava obrigado a voltar para sua casa tal como estava, pois não havia nada que pudesse fazer. Estava reduzido a tais extremos de pobreza que não podia comprar uma peça nova de pano para remendar suas roupas, nem um pedaço de sabão com que pudesse limpar-se; e é uma grande misericórdia quando um homem está tão espiritualmente reduzido que não pode fazer nada a não ser ir até Deus como um mendigo, quando ele está tão falido que não pode pagar nem um centavo, quando ele está tão perdido que não é capaz nem de crer ou se arrepender longe de Deus, e mais sente que está eternamente arruinado a não ser pela intervenção do Senhor. Nossa sabedoria consiste em ir a Deus para tudo.
Além disso, não se necessitava nada do filho pródigo

O retorno do pródigo - Charles Spurgeon

A oração como fuga

“Mas eu tenho a intenção de orar,” diz um. O que você pediria? Acaso espera que o Senhor lhe ouça quando você não quer ouvi-lo? Você orará melhor no colo do Pai – mas as orações de um coração orgulhoso, desobediente, cético, são zombarias! Suas próprias orações lhe arruinarão se são convertidas em um substituto para ir de uma vez a Deus.
Suponham que o filho pródigo tivesse sentado perto dos porcos e tenha dito: “vou orar aqui”? De que lhe teria servido? Ou suponha que ele tenha orado ali, que bem o teria lhe acometido? A oração e o pranto eram muito bons uma vez que tivesse ele ido até seu pai, mas poderiam ter substituído seu regresso.

O retorno do pródigo - Charles Spurgeon

Afogue-se na graça

“Oh, mas eu quero vencer minha inclinação para o pecado, quero controlar minhas fortes tentações‖. Eu sei o que você quer. Você quer a melhor roupa sem a necessidade de que o Pai te dê, e calçado para teus pés que você tenha conseguido sozinho. Você não quer ir com roupas de mendigo e receber tudo da amorosa mão do Senhor! Mas tem que renunciar a esse seu orgulho e vir a Deus ou morrerás para sempre! Deve esquecer-se de si mesmo, só lembrando-se de ti para sentir que és mal por completo, e que és indigno de ser chamado filho de Deus. Renuncie a si mesmo como um barco que afunda e não vale a pena ser resgatado, mas tem que deixar que se afunde, e tem que subir ao bote salva-vidas da Graça imerecida. Pense em Deus como seu Pai, n‘Ele, lhe digo, e em Seu amado Filho, o único Mediador e Redentor para os filhos dos homens! Ali está sua esperança; corre de você mesmo e aproxime-se a seu Pai.

O Retorno do pródigo - Charles Spurgeon

"Venha para casa"

Há um tempo para os pecadores quando seus velhos companheiros parecem dizer: “não queremos estar ao seu lado. Estás demasiadamente abatido e melancólico. Por que você não vai para casa?”. O enviaram a alimentar porcos, e parecia que os próprios animais gruniam: “vá para casa!” quando recolhia as alfaborras, e queria comer elas, esas alfaborras crepitavam: “volte para casa”. Olhava seus trapos e esses abriam suas bovas dizendo: ―vá para casa!‖ Sua barriga faminta e sua fraqueza clamavam: ―vá para casa‖. Logo ele pensou no rosto de seu pai e quão amavelmente havia olhado para ele, e parecia dizer-lhe: ―venha para casa!‖. Ele se lembrava da abundância de pão, e cada bocado parecia dizer: “venha para casa!”. Ele imaginou os servos setandos para jantar e festejando plenamente – e cada um parecia olha-lo de longe, sobre o deserto, e dizendo: “venha para casa. Seu pai nos alimenta bem. Venha para casa!”. Cada coisa lhe dizia : “venha para casa!”. Só o diabo sussurrava: “nunca volte. Tem que lutar até o fim! Melhor é morrer de fome que render-se! é um jogo de azar!”. Mas dessa vez ele fugiu do diabo, pois caindo si e disse: “não! Me levantarei e irei a meu pai!”.

O retorno do pródigo - Charles Spurgeon