sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Os ossos de José - Esperança!

OS OSSOS DE JOSÉ – UMA MENSAGEM DE ESPERANÇA

SERMÃO ENTREGUE A AD BRÁS JD GUARUJÁ 2 - PRIMEIRO SERMÃO DO MINISTÉRIO PASTORAL

E disse José a seus irmãos: Eu morro; mas Deus certamente vos visitará, e vos fará subir desta terra à terra que jurou a Abraão, a Isaque e a Jacó.
E José fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente vos visitará Deus, e fareis transportar os meus ossos daqui.
E morreu José da idade de cento e dez anos, e o embalsamaram e o puseram num caixão no Egito.
Gênesis 50:24-26

José viveu de modo fantástico, até sua pré-história foi um fato interessante. Foi o primeiro filho de Raquel, ele quebrou um ciclo de tristeza e deu a Raquel motivos para sorrir.
Por ser filho da esposa amada era constantemente privilegiado por seu pai, um fato que lhe favoreceu com uma túnica diferenciada, além disso José teve sonhos que causaram espanto aos seus 10 irmãos e inclusive aos pais. Posteriormente por conta da inveja dos irmãos ele foi vendido como escravo e administrou uma casa, nessa casa é caluniado e acaba preso. Após um período preso ele passa a administrar os demais presos e inclusive interpreta sonhos, uma promessa de restituição é feita sem sucesso e ele se vê novamente esquecido. Posteriormente um sonho perturba o rei e esse busca alguém que possa lhe interpretar, é quando então finalmente o padeiro-mor lembra-se que José lhe interpretara um sonho igualmente perturbador. José é chamado, interpreta os sonhos e é posto como governador do Egito, a fome que fora predita acontece e agora nações vizinhas se veem obrigadas a comprar do Egito, nesse momento os irmãos de José aparecem novamente na história. José se lembra deles, porém, os anos se passaram e aqueles que cometeram a ofensa acabam não reconhecendo o rosto de seu irmão. Após muitas idas e vindas José se dá a conhecer, perdoa sob profunda dor e exige rever seu pai, o reencontro é emocionante.
Após alguns anos Jacó morre, mas antes disso faz menção de bênçãos específicas a cada um de seus filhos e pede que seja sepultado em sua terra natal.
José posteriormente envelheceu e estava em seus derradeiros dias, sabia que não lhe restaria muito mais a fazer e que o tempo de sua partida já estava próximo, em seu “canto do cisne” ele diz as palavras dos versículos usados como base para esse sermão.
Quais seriam as reais intenções de José com esse ato? Por qual razão alguém obrigaria seus conterrâneos a carregar ossos, ainda mais em gerações posteriores? Porque alguém desejaria ser sepultado em outro lugar?
O fato é que essa atitude de José tinha muitas lições implícitas, José fora um homem fantástico, por ter sonhado e conquistado, por sua integridade, pela capacidade de manter o coração limpo independente dos maus que lhe causaram e sobretudo por sua fé inabalável.
Seus derradeiros dias e as suas últimas palavras registradas com certeza foram carregadas de grande significado, inclusive para gerações posteriores.



Ao ponto de que o escritor aos Hebreus citou esse fato:
Pela fé José, próximo da morte, fez menção da saída dos filhos de Israel, e deu ordem acerca de seus ossos.
Hebreus 11:22
A ordem da saída dos ossos sem dúvidas foi um ato de fé, uma fé que vai além da vida. Não é à toa que José entrou para a galeria dos heróis da fé de Hebreus 11.
Almejo enumerar algumas lições que essa atitude de José pode nos comunicar.

1° - As circunstâncias são temporais, mas a palavra de Deus é eterna.

José disse: E disse José a seus irmãos: Eu morro; mas Deus certamente vos visitará, e vos fará subir desta terra à terra que jurou a Abraão, a Isaque e a Jacó. Gênesis 50.24a

José estava levando em conta dias posteriores aos seus, ele sabia que ainda que o Egito tivesse alimento e os suprimentos necessários, aquele não era o lugar de seu povo, que estar exilado por conta da fome era algo totalmente desconfortável, ser um refugiado é correr o constante risco de que o país hospedeiro a qualquer momento opte por lhe descartar ou lhe subverter para priorizar seus reais “filhos”. Acredito que de algum modo José sabia que os dias que viriam posteriormente seriam ruins, seja por imaginação ou por revelação divina. Mas as circunstâncias do presente por certo passariam, porém, a palavra de Deus não.
José almejava dar esperança ao povo, dar motivos para caminhar nos dias vindouros, quando os algozes chicoteassem o povo, quando escravizassem os Israelitas em dias posteriores, quando faraó ordenasse a morte de todos os primogênitos, o povo lembraria: “Deus nos visitará”.
Os dias no Egito passam, os sofrimentos dos açoites passam, as inúmeras humilhações e as saudades da terra natal passam, até as saudades do tabernáculo, da antiga liberdade é temporal.
Só um fato imutável sobre os Israelitas no Egito, só há uma certeza: Deus fez uma promessa de que iria visita-los, apegando-se a promessa eles poderiam se encher de esperança por saber que Deus não mudaria de ideia, de que se tratava de algo que era imutável, invariável, estava decidido, o seu futuro estava sob rigoroso controle das palavras de Deus.
As circunstâncias passam, a palavra não.
O que estava diante dos olhos deles certamente ia passar, o que ainda não se via era permanente.
Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente;
Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.
2 Coríntios 4:17,18

José estava incentivando o povo a fazer justamente o que Paulo incentivou muitos anos depois, atentar-se ao que não se vê. Se apegar ao eterno, se apegar ao espiritual, pois isso não envelhece, não se modifica, o caráter de Deus é rocha, podemos confiar.
As tribulações são leves, mesmo quando dizemos que o seu peso excede nossa capacidade de carregar. As tribulações são momentâneas, mesmo que pensemos que os momentos de dor durarão para sempre. Porém o que vai durar é o peso de glória.
As tribulações tem tempo determinado.
Porque assim diz o Senhor: Certamente que passados setenta anos em Babilônia, eu vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.
Jeremias 29:10

Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.
Apocalipse 2:10

Todo o cativeiro tem tempo de duração e o que José queria deixar claro ao povo era justamente isso, os tempos de tribulação, angústia, açoites iriam passar, mas havia uma palavra sobre eles “Deus nos visitará”.  Quando? Não se sabia ao certo, na verdade se passam 430 anos até que um homem chamado Moisés é vocacionado pelo Senhor Deus.
E disse o Senhor: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores.
Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel;
Êxodo 3:7,8
A promessa da visitação do Senhor fora renovada! Deus descerá para livrá-los, os tempos passam, mas a palavra de Deus subsiste eternamente.
Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente.
Isaías 40:8

Se há uma palavra de Deus, devemos prosseguir, mesmo sem ver. Mais bem-aventurado é quem não viu e creu.

2° - Devemos pensar além do aqui e do agora.
Um olhar somente voltado ao presente nos leva ao imediatismo, a falta de planejamento. Há um lado bom em se concentrar no presente, que é o de não viver ansioso, mas só esse.
Viver com os olhos exclusivamente no presente pode nos fazer ser inconsequentes, não planejar os próximos passos, ou ainda cair num Hedonismo. Manter o olhar apenas no presente pode em outros casos nos causar um pessimismo terrível, por não pensar que o amanhã será melhor somos muitas vezes desmotivados. As situações do presente parecem sem fim e as forças não são concedidas em igual proporção.
Se o povo pensasse somente na situação atual se desesperariam, pois, os açoites doíam muito, os algozes pareciam irredutíveis, os reis cada vez mais intolerantes, ao ponto de que foi ordenado a todos que os meninos abaixo de 2 anos deveriam ser mortos, pensando somente no momento atual não havia como acreditar em dias melhores, todos que se concentrassem no aqui e no agora desejariam a morte.
O caso se assemelha ao dos pais que hoje mesmo estão pedindo autorização ao governo para matar as mulheres, filhas e parentes mulheres afim de não serem estupradas pelas forças armadas Sírias. O desespero é tão grande que por saber que as tropas estão avançando, as mulheres estão se suicidando, para que o sofrimento seja menor.
O que Moisés queria evitar é justamente isso, um desespero que levasse o povo a desistir. Um desespero que lhes privasse de olhar além do aqui e do agora. Se o povo desistisse de vez seria impossível sair do Egito.
José lhes diz “Eu morro, mas Deus nos visitará”.
Ele queria retirar o olhar do agora, do imediato. Naquele momento ele poderia se desesperar por saber que eram seus últimos dias, porém José vai mais além quando diz que não gostaria que os seus ossos ficassem ali.
Ele pensou em um futuro que ele sequer viu, ele almejou algo que desconhecia, mas José teve a virtude de ver além do horizonte que lhe saltava aos olhos, com uma fé indescritível ele morre em paz por saber que Deus estava de contínuo agindo na história e que num momento posterior visitaria o seu povo.
O exemplo de José motivaria o povo a enxergar além dos tempos atuais, repousando sob a palavra que diz: “Deus nos visitará”.
Precisamos ser nutridos de mais esperança, pois, ela tira nossos olhos do momento atual e dá a sensação de que um momento posterior com melhores condições virá.

Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará?
Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.
Romanos 8:24,25

A salvação se dá no campo da esperança. Não vemos, não sabemos o que virá amanhã, mas sabemos que será melhor. Que dias melhores aparecerão, não há salvação para quem perde as esperanças, o pessimismo, o existencialismo, tem feito as pessoas perderem a esperança por dias melhores, a falta de exemplos, os muitos anos de expectativas frustradas, levam as pessoas a atos de extremo desespero e desgosto pela vida.
José queria incentivar todos a continuar caminhando, a esperança é uma utopia contínua, é muito criticada por filósofos existencialistas que dizem que a vida não tem sentido algum, porém há alguns pensadores com visões otimistas. Um exemplo é Eduardo Galeano quando diz:
Eu dou um passo, ela dá dois passos,
Dou dois passos, ela dá quatro passos,
Dou quatro passos, ela dá oito passos,
Para que servem as utopias? Para eu continuar caminhando

Acreditamos não apenas em utopias inalcançáveis, mas em promessas que nos transportam a tempos futuros em que a grandiosidade dos resultados, da realização em ter chegado ao destino final, compensará todos os esforços do presente momento.
Quando algum Israelita fosse tentado a desanimar, ele olharia para os ossos e se lembraria: “Deus nos visitará”.

3° Nós precisamos de esperança póstuma

A esperança que José falava, estava para além da própria vida.
Tal como Lutherking que em um de seus discursos finais fez alusão a Moisés e disse:
“Eu não sei o que acontecerá agora. Temos dias difíceis pela frente. Mas isso realmente não tem importância para mim, agora, porque eu estive no topo da montanha. E eu não me importo.
Como todos, eu gostaria de ter uma vida longa. A longevidade tem seu valor. Mas eu não estou preocupado com isso agora. Eu só quero fazer a vontade de Deus. E Ele me permitiu subir a montanha. E eu olhei ao redor. E eu vi a Terra Prometida. Eu posso não chegar lá com vocês. Mas eu quero que vocês saibam que nós, como um povo, chegaremos à Terra Prometida. Por isso, eu estou feliz, esta noite. Eu não me preocupo com nada. Não tenho medo de homem algum! Meus olhos viram a glória da chegada do Senhor!”

Eram os últimos dias de Martin Lutherking e ele sabia disso. Após ver a morte do presidente John Kennedy ele informou a sua esposa que não resistiria a fúria de seus opositores e faz seu último discurso.
Quando seu discurso poderia ter tomado um tom melancólico e triste, ele tira os olhos de todos do presente e do passado e os projeta para frente dizendo:
“Eu estive no topo da montanha”
Tal como Moisés que não pode entrar, mas viu a montanha, Lutherking afirmou saber que dias melhores viriam, que o povo não deveria desanimar, pois, seus olhos viram a glória do Senhor.
Ainda hoje trabalhamos sem ter a certeza de que nossos reais sonhos e ideais para sociedade e igreja hão de se concretizar, há muitos que já batalharam por essa causa, mas gostaria de tomar emprestadas as palavras de Lutherking e parafrasear aplicando-as a igreja moderna:
·         Do alto da montanha vejo uma igreja que retornou a palavra
·         Do alto da montanha vejo as escolas dominicais novamente frequentadas
·         Do alto da montanha eu vejo o ensino sendo novamente prioridade
·         Do alto da montanha eu vejo uma igreja mais atalaia e menos milagreira
·         Do alto da montanha eu vejo novamente uma liderança simples
·         Do alto da montanha vejo uma igreja relevante socialmente, culturalmente e politicamente
·         Do alto da montanha eu vejo quem está longe voltando
·         Do alto da montanha vejo jovens largando as drogas e reintegrados a sociedade através da fé
·         Do alto da montanha vejo uma igreja mais escatológica e menos materialista
·         Do alto da montanha eu vejo uma igreja voltou ao seu primeiro amor

E quero dizer como Lutherking – Eu não me preocupo com nada, não tenho medo algum, pois, eu vi a glória do Senhor, nós chegaremos a terra prometida.

Precisamos ter esperança de modo que até gerações posteriores olhem para nossos exemplos e pensem consigo: “não podemos parar”.
Paulo fez isso com Timóteo ao lhe dizer: “O que vistes, ouvistes e aprendestes de mim, confia a homens fiéis para que também ensinem a outros”.
“Porque eu já estou sendo oferecido como aspersão de sacrifício e o tempo da minha partida está próximo, combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé, desde agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Justo Senhor me dará naquele dia, não somente a mim, mas a todos quanto amarem a promessa de sua vinda”.
Veja que nessas palavras Paulo deixa o exemplo de uma fé póstuma, uma fé de alguém que sebe seu destino final e incentiva seu próximo, seu sucessor a fazer o mesmo, a continuar a obra.
Os homens naturalmente fazem seus planos para os próximos 1, 5, 10 anos, José, Moisés, Paulo, tem planos para além da própria vida, pensam num legado, na posteridade.
Ainda hoje torna-se necessário perguntar:
Qual o legado que estamos deixando? Nossa fé deixará frutos póstumos?
Nós teremos influencia posterior?

“Podem matar um ganso (na sua língua, 'huss' é ganso ), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar” . João Huss 06/07/1415

João Huss, faz parte da história dos heróis da fé, pois, sua profecia apontou para o nascimento de Martinho Lutero o reformador.
Ele foi um dos precursores da reforma, infelizmente acabou sendo julgado, condenado e executado sendo queimado em uma fogueira, mas ao ser queimado ele gritava essas palavras que foram como uma profecia.
Que mesmo diante da morte não percamos a fé, mas dos momentos mais difíceis consigamos tirar as mais belas e inspiradoras palavras, tal como nossos pais na fé fizeram.

4° Nós precisamos desenvolver mais amor pela pátria – Local e espiritual
Há um constante desprezo por parte do povo em relação a nação Brasileira, com relativos motivos as pessoas tendem a desprezar totalmente sua terra natal.
Os índices de criminalidade, os escândalos políticos, a falta de referências, a falta de esperança de dias melhores, a insegurança econômica, a instabilidade em diversos sentidos, tem feito as pessoas se envergonharem da sua própria pátria. Não se pensa mais em lutar por um país melhor, por cidades melhores, bairros melhores ou por uma rua melhor. A paixão pela pátria se foi, torcemos contra muitas vezes, achamos interessante a vergonha que passamos em reuniões com outros estadistas, consideramos piada as inúmeras gafes que já cometeram ao citar o Brasil e o próprio povo não economiza em termos pejorativos contra a nação brasileira, todos sem temor algum já disseram que não tem prazer em ter nascido aqui e almejavam morar fora.
O amor pela própria pátria se foi e com ele o desejo de morar em outro lugar aumentou. Nós precisamos resgatar o amor pela pátria, deixar a apatia que toma conta de nossas lideranças e de todo o povo, estão todos parados, perplexos com tamanhos absurdos que vem ocorrendo o Brasil. Mas ainda há esperança, essa ainda é nossa pátria, essa ainda é a “mãe gentil dos filhos deste solo”. A igreja Brasileira precisa assim como José amar sua pátria, amar seu povo, não se conformar com o tráfico que está manchando totalmente nossa imagem, a corrupção que nos faz ser conhecidos por escândalos como o da lava a jato.
Precisamos voltar a oração, a intercessão pela nação tal como Moisés fez por quarenta dias junto ao Senhor. Precisamos interceder como Neemias, que confessou seus pecados ao Senhor e lhe disse seu profundo pesar por seu povo.
Vistamos panos de saco, nos lamentemos, choremos, não é por certo esse o destino que Deus almejava para a nossa pátria. Se todos envolta já desistiram, façamos jus à fama de ser o povo das segundas chances e voltemos a acreditar e orar pelo Brasil.

Que a minha mão direita definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti!
Que a língua se me grude ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, e não considerar Jerusalém a minha maior alegria!
Salmos 137:5,6
Que o mesmo sentimento dos Israelitas se apossem de nós ainda hoje.
A segunda vertente de amor à pátria que o presente texto aponta é a pátria eterna.
Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo
Filipenses 3:20
A igreja contemporânea tem perdido o amor por sua pátria celestial, de modo que pouco a pouco deixamos de ser escatológicos, para sermos materialistas.
Hoje tudo o que queremos são as bênçãos para agora, tudo o que queremos são as casas, carros, promoções, financeiramente a igreja nunca esteve tão bem! Muitos membros tem carros, muitos membros tem posses, muitos membros já tem seus “pés de meia” e o materialismo toma conta cada vez mais de nós.
Nos falta seguir o conselho de Jesus: Olhem para os lírios dos campos.
A ansiedade, os cuidados, fazem com que crentes e envolvam em negócios próprios que lhe prejudicam em sua comunhão com Deus e com os irmãos, em nome do dinheiro e da prosperidade calamos os verdadeiros profetas e negligenciamos os mestres de agora que nos dizem: Arrependam-se.
Aplaudimos os que nos prometem prosperidade e felicidade aqui e agora, segundo C.S. Lewis a igreja não foi chamada para ser feliz, foi chamada para amar e vejo pouco a pouco hedonismo nos dominando, queremos prazer, alegria, conforto, felicidade e com efeito esperamos um avô no céu que cumpra todos nossos desejos aqui e pouco se fala de escatologia, sobre a nova terra, não olhamos mais para frente, queremos as soluções do momento e esse evangelho imediatista tem privado o povo de aguardar o retorno de Cristo e de ter esperanças e anseios pela sua pátria verdadeira. Como Paulo disse, nossa cidade não é essa, nosso descanso não é aqui. MQ 2.10.
Cravamos estacas, nos acomodamos, amamos o mundo e o que nele há, negando com isso as palavras de Cristo, que voltemos a ser uma comunidade escatológica que diz “Maranata”.
Uma igreja que na verdade vive em dúvidas se o melhor para ela é ficar aqui ou ir embora, tal como Paulo fez:

Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.
Filipenses 1:21

Precisamos viver ainda hoje tal como os Israelitas estavam na páscoa, aguardando a qualquer momento que o seu libertador os resgate para a terra prometida.


5° - Precisamos desenvolver uma escatologia da esperança.

Nos tempos atuais ao falarmos sobre o fim dos tempos, ou os dias futuros temos tratado com extremo desgosto, sensacionalismo e medo.
Nossa escatologia é do medo e não da esperança.
Ao falarmos sobre apocalipse, dias futuros, arrebatamento, as pessoas anseiam ouvir os resultados para quem ficar, as descrições do inferno, o destino final de quem não fez a mesma opção que ela, no fundo há um relativo prazer em saber que os que rejeitaram a fé cristã ou foram hostis ao seu povo serão finalmente queimados, mortos.
Livros como o inferno de Dante são sucesso em vendas, visto que tratam da escatologia com medo.
Testemunhos que detalham o inferno, visões de destruições vindouras são sucesso entre nós, pouco se fala do céu, muito se fala sobre o inferno, mais ainda sobre o que pensamos ser o fim do mundo.
Esse tipo de áudio relatando visões que muitas vezes são de pessoas possessas ou fingindo estar, são os que gostamos de pensar sobre o céu.
Nós precisamos almejar o céu porque é o lugar onde Deus mora, precisamos almejar abraçar o Senhor, precisamos almejar morar neste lugar.
Consolar uns aos outros com as palavras do céu. 1° Tes. 4.18
Não se turbar em nossos corações João 14
Precisamos desenvolver a esperança de que na eternidade finalmente encontraremos nosso verdadeiro lugar


 A verdadeira personalidade situa-se no futuro — quão distante, para muitos de nós, nem ouso dizer. E a chave dela não está em nós. Não será atingida por um desenvolvimento de dentro para fora. Virá ter conosco quando ocuparmos aquele lugar da estrutura do cosmo para o qual fomos destinados ou criados. Como a cor, que só se revela em toda sua beleza quando colocada pela excelência do artista no lugar preestabelecido, entre todas as outras; como a especiaria que só revela seu verdadeiro sabor quando adicionada, onde e quando deseja o bom cozinheiro, aos outros ingredientes; como o cão que só manifesta realmente suas qualidades quando toma seu lugar na família do homem, nós também só ganharemos a nossa verdadeira personalidade quando consentirmos em que Deus nos coloque no lugar que nos compete. Somos mármore esperando ser esculpido, metal esperando ser vertido no molde.

CS LEWIS - O peso de glória

 A sensação de que somos tratados como estrangeiros neste universo, o desejo de nos fazer notar, de encontrar alguma resposta, de vencer o abismo que nos separa da realidade, tudo isso faz parte do nosso segredo inconsolável. E, com certeza, desse ponto de vista, a promessa de glória, no sentido já descrito, torna-se altamente relevante para o nosso profundo desejo. Porque glória significa ter bom nome diante de Deus, ser aceito por ele, ter sua resposta, reconhecimento, ser introduzido no âmago das coisas. A porta em que batemos toda a vida finalmente se abrirá.

Cs Lewis - O peso da glória

José visava nutrir uma esperança além da vida, de ter finalmente seus ossos depositados em sua terra natal. Que sejamos tomados pelo mesmo anseio em nossos dias e aprendamos com José a não deixar de sonhar, ainda que a beira da morte.


Também os ossos de José, que os filhos de Israel trouxeram do Egito, foram enterrados em Siquém, naquela parte do campo que Jacó comprara aos filhos de Hemor, pai de Siquém, por cem peças de prata, e que se tornara herança dos filhos de José.
Josué 24:32

SERMÃO TEMÁTICO SOBRE DEPRESSÃO

Depressão – O mal do século. 1° Reis 19

- A OMS estimava que em 2030 a população com depressão seria de 9,8%. Infelizmente esse índice foi atingido em 2010, 20 anos antes da previsão.
- Mais de 400 milhões de pessoas sofrem com esse mal, a população em depressão é equivalente a duas vezes o número de pessoas de todo o Brasil.
- Segundo Kofi Annan – (ex-secretário das nações unidas) os gastos anuais diretos e indiretos com depressão são de 800 bilhões de dólares. A estimativa é que nos próximos vinte anos esse custo seja dobrado.
- A depressão é a quarta causa de afastamento do trabalho em todo o mundo, segundo as estimativas da OMS em 2030 será a segunda maior causa de afastamento do trabalho.
- As estimativas da OMS são de quem nesse ano de 2030 a depressão será a maior doença da terra, superando o câncer e qualquer outra doença infecciosa.
- A depressão está relacionada com aproximadamente 50 % dos casos de suicídio.
- 32 Brasileiros morrer por dia devido ao suicídio.
- No mundo ocorre uma morte a cada 40 segundos, decorrente do suicídio, ainda segundo a OMS 9 em cada dez casos poderiam ser evitados.
- São 800 mil mortes por ano.

 Há pelo menos dois olhares sobre a depressão, o primeiro deles é o mais comum.
Entende-se por depressão no senso comum como a vontade de “morrer”, uma tristeza profunda, opcional, que pode ser superada e por poder ser superada não passa de mera escolha de quem vive esse mal.
Isso justifica a posição de muitos irmãos e da grande maioria da sociedade. Há um olhar de preconceito, muitos consideram de certa forma um “vitimismo”. Ou ainda dizem que essas causas são puramente espirituais, são influências de demônios, que devemos repreender, etc.
Isso leva muitos dos que vivem depressão a se isolar cada vez mais, muitas vezes por ter essa primeira ideia as pessoas evitam pedir ajuda, oram em secreto ou tentam não dividir suas dores por achar que são as únicas que passam por isso, ou mesmo por que nas poucas tentativas que tiveram de se expor acabaram sendo criticadas ou não compreendidas.

Porém não devemos ficar restritos ao senso comum. A depressão em primeiro lugar não é uma escolha, ninguém pondera e raciocina sobre o momento que “almeja” ficar triste e deprimido. Ela simplesmente acontece.
E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.
Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo.
Mateus 26:37,38

A depressão é uma doença que altera o sono, apetite, disposição física, e termina nas alterações psicológicas onde há influências sobre a autoestima, autoconfiança, conferindo um tom cinzento e pessimista a tudo o que a pessoa percebe, sente e faz. Ela pode durar dias ou anos, pode ter motivos claros ou não.
Marco André Mezzasalma.
É segundo as palavras de Kay Redfield “um horror privado” “Distinto de qualquer definição arbitrária”. Trata-se de algo que apenas quem vive poderia tentar descrever, a depressão não cabe em definições simples. Somente os que a vivenciaram tem plenas condições de se identificar com seus reais males.
A depressão paralisa nossas forças vitais, arranca a humanidade, trazendo em troca um estado árido, triste, desesperançado, é uma condição de esterilidade emocional, não se pensa em produzir nada, não há ideias, não há perspectivas, o olhar se restringe ao aqui e ao agora, o sono torna-se uma fuga, o acordar é sempre triste, o viver é uma labuta, tudo não passa mais de futilidades, não há razões para mais nada, não há mais beleza, não há esperança.
Segundo Kay Redfield “todos os apoios estão perdidos” não há em que ou quem confiar, não há razões para prosseguir, a vida perde o significado, como dito anteriormente não há mais cor.  Até a força é abalada, nada parece valer a pena, nada parece merecer o mínimo esforço, a alma atrofia. Depressão é beber o cálice da morte em quantidade suficiente para desesperar, mas não matar. É morrer emocionalmente e ter o corpo ainda em atividade. Em casos mais graves a morte torna-se a única alternativa, em busca da vida é que vão até o extremo de abreviar a existência terrena.
Veja as palavras de Neil Barreto o suicida depressivo:
“O suicida não quer acabar com a vida, mas com a dor, com um presente sem sentido. Ele é alguém que grita desesperado pela vida, mas por não conseguir viver, ele prefere morrer”.

A depressão elimina esperança totalmente, nos casos graves o desespero leva as pessoas ao suicídio conforme exposto acima.
Sob a ótica do deprimido toda vida perde o sentido, só há males no presente e há uma tendência de imaginar que o futuro reservará males ainda maiores. Não há esperança no presente nem no porvir.
É natural confundir a depressão com mera tristeza, por se tratar de palavras usadas sem saber o real sentido, usamos o termo “deprimido” quando queremos dizer que estamos tristes. Dizemos que estamos estressados quando queremos dizer que estamos cansados e por aí vai. A tristeza é um sintoma da depressão, visto que a depressão influencia sobre muitos outros fatores na vítima.


Portanto é importante notar os sintomas mais comuns da depressão, veremos abaixo alguns deles:
1. Sintomas afetivos

►Autodesvalorização, sentimento de inutilidade.
►Perda do interesse ou prazer em atividades anteriormente prazerosas.
►Tristeza persistente, choro fácil e/ou frequente.
►Apatia (indiferença afetiva - tanto faz como tanto fez).
►Sentimento de tédio, aborrecimento crônico.
►Desejo de morrer, ideias suicidas.
►Inquietação, irritabilidade.
►Desânimo, sentimento de desespero, desesperança.

2. Sintomas somáticos

►Distúrbio no sono:  insônia, despertar matinal precoce com sonolência excessiva.
►Distúrbio nos hábitos alimentares: perda ou aumento do apetite como consequente emagrecimento ou ganho de peso.
►Cansaço, fadiga excessiva, sensação de corpo pesado.
►Dores físicas persistentes que não respondem a tratamentos (Ex. dores de cabeça, distúrbios digestivos).
►Diminuição do desejo sexual, bem como da resposta sexual (disfunção erétil, orgasmo retardado, etc.).

3. Sintomas psicológicos

►Autocomiseração, baixa autoestima.
►Espírito crítico excessivo, pessimismo.
►Dificuldade para concentrar-se.
►Indecisão, insegurança.
►Desinteresse, apatia.
►Sensação de vazio.
►Ideia de arrependimento com sentimento de culpa exagerado

Em resumo, a depressão é difícil de identificar, não necessariamente o que está listado acima é definitivo, são apenas indícios de alguém que pode ter vivido ou esteja vivendo a depressão.
Silas Malafaia dá uma definição simples sobre depressão:
“É bem semelhante às estradas em que há um declínio, as placas indicam: Depressão abaixo, logo sabemos que a estrada vai descer. De igual modo, nossas emoções são como uma estrada, estável, porém há momentos em que as emoções declinam, nesse declínio a depressão se inicia”.
Acredito que muitos já viveram momentos assim, seja por desemprego, doenças, perdas, ou até sem motivos aparentes.
Lembro de uma amiga da faculdade que alegou ter vivido um momento de depressão justamente no melhor momento da vida dela. Namorando, estudando, trabalhando, já havia superado a separação dos pais. Porém sem motivos aparentes, sem nenhum tipo de mudança drástica na vida ela simplesmente passou a chorar copiosamente, perdeu toda a vontade de sair de casa, de ver familiares e amigos, perdeu o emprego, perdeu o semestre na faculdade e se não fosse uma intervenção da mãe e de um especialista ela teria perdido ainda mais tempo.
As causas são variadas:
Fatores genéticos
Estresse
Decepções contínuas
Fatores econômicos
Alterações no peso
Individualismo

Zigmunt Bauman diz que a liquidez das relações atuais escorrem pelos dedos, a falta de ideais, de pessoas em quem possamos confiar caracteriza nosso modo de viver na geração contemporânea.
Vivemos num mundo de individualismos, a intenção é sempre ser o primeiro, se não conseguir não serve, não há espeço para fragilidades, não há espaço para ajuda comunitária, vale apenas o primeiro, o segundo é coadjuvante, o esforço só é valido se tiver medalha. Não há espaço para fracassos, todos devem ser vencedores e isso influencia até a igreja.
Não demonstramos a mão aberta para ajudar, mas queremos demonstrar o marketing de valor de nossa igreja.
“Seja um vencedor, seja vitorioso, junte-se a nós” transformamos o ide em vinde. Assemelhamo-nos a babel e estamos próximos a um momento em que o próprio Senhor tratará de destruir essas fortalezas.
O pobre é retratado nas grandes mídias das igrejas sendo “exorcizado”, tratado como alguém num estado inferior, a igreja torna-se um lugar para vencedores, para reforçar os slogans das “Eu sou igreja tal, eu sou tal”; O markenting de valor trabalha justamente dessa forma, vende-se valor aos clientes. “Venha para cá e seja um vencedor como eles são”.
Não há espaço para fracassos, não há espaços para maltrapilhos, não há espaço para pedir ajuda, nesse aspecto estamos paulatinamente nos assemelhando aos islâmicos e isso é muito triste.

Vejas a partir de agora alguns exemplos de depressão na bíblia e suas respectivas causas:
Elias.
Vemos no capítulo 19 de primeiro Reis que Elias está dentro de uma caverna, pedindo a morte.
Como isso pode acontecer? Quais foram os sintomas da depressão de Elias?

1° - É uma depressão após um grande sucesso :
Ele matou 450 profetas de Baal – 1° Reis 18. 38 e 39
Segundo a sua palavra não choveu – 1° Reis 17.1
A predição de uma grande chuva -  1° Reis 18.46
Ele havia realizado alguns grandes atos, após fazer tanta coisa, ele viveu um momento sem grandes realizações. É a depressão “pós-sucesso”. Após uma sequência de grandes façanhas as pessoas de certa forma se acostumam a viver no auge, daí vemos casos que ficaram extremamente conhecidos como de artistas que eram famosos e de uma hora para outra se veem no anonimato, ou do nadador americano Michael Phelps.
É uma depressão que atinge pessoas que viveram de modo muito intenso durante um período e que voltam ao seu estado normal posteriormente.
Lembro de um período assim, vivi a chamada “Correria” durante os anos de 2012 e 2013 e por conta de diversos fatores parei os estudos, troquei de emprego e me vi sem condições de voltar. Até que apenas no segundo semestre de 2015 eu voltei.
Todo início de semestre era um tempo de profunda decepção, visto que não era possível retomar o ritmo de outrora em que dormia pouco, trabalhava muito e era conhecido por ser incansável, acostumar-se a um novo padrão, mais calmo por incrível que pareça foi uma das coisas mais difíceis que passei.

2° - Frustração.
Imagine que as razões para que o ministério do profeta Elias existisse era justamente o fato de haver profunda oposição, qualquer um imaginaria que após realizar esses tão grandes atos que já citei as coisas fossem melhorar.
Após os gritos do povo unido dizendo: Só o Senhor é Deus. – 1° Reis 18.39
Após a fala de que não haveria chuva é ordenado ao profeta se esconder – 1° Reis 17.1-3
Agora mesmo após todos os acontecimentos Jezabel se levanta contra Elias, ela já havia matado muitos profetas e os que ela não matou, fez assentar em sua mesa e os comprou.
1° Reis 19.2
Quanto mais se esforçava, pior ficava a situação.
Há momentos em que demonstramos fraquezas, não necessariamente por ser fracos, mas por cansar de ser forte por tanto tempo. Obstáculos maiores já foram ultrapassados por muitos, porém por razões inferiores as pessoas desanimam de tudo e de todos.
Não sabemos ao certo como já foi dito, o dia e a hora do desânimo e depressão, por razões inferiores nos entristecemos por extremo.
3° - Esgotamento físico e emocional.
Após tantas batalhas, Elias já estava cansado, emocionalmente e fisicamente.
Imagine, ele correu a frente dos carros de Acabe, ele andara um dia inteiro até conseguir um lugar junto a caverna, foram 150 KM.

Ele chegou ao ponto de cansar-se emocionalmente e chegar a um esgotamento que lhe levou a praticamente desmaiar junto ao zimbro. 1° Reis 19.4
O mergulho nas atividades consome pessoas ainda hoje, porém podemos chegar ao ponto de achar que não há razões para nada do que estamos fazendo, não há razões para prosseguir. Cansamos de lutar em vão, quando nos damos conta do quanto caminhamos sem êxito podemos cansar a mente, daí para frente a tristeza torna-se fixa, perde-se as razões pra continuar.

4° - Medos sem sentido.
O homem já havia matado 450 profetas, encarado o rei mais mal de toda história Israelita, porém agora está inexplicavelmente com medo de uma mulher.
O que seria uma pessoa só diante de todos os obstáculos que ele já enfrentou?
Porém ainda hoje vemos isso, pessoas que venceram grandes batalhas serem derrubadas por pequenas pedras no caminho, por pequenos obstáculos. Inexplicavelmente há pessoas que vencem vários concorrentes, são gênios em seus negócios, mas ao encarar o escuro, a solidão ou coisas que pessoas comuns encaram acabam tendo medos extremos, verdadeiras fobias. 1° Reis 19.3

5° - Incoerência de sentimentos
Elias fugiu para escapar com vida, porém agora pede a morte.
Como pode alguém ter tamanha incoerência?
A depressão causa isso, em busca da vida as pessoas vão atrás das mais diversas alternativas, sejam drogas, bebidas, movimentos, redes sociais, etc.
É em busca de um alívio de suas dores que as pessoas optam por se matar, é por querer viver.
Marieke Vervoort – ATLETA BELGA.

A atleta infelizmente dia após dia tem visto seu corpo perder movimentos, sua deficiência foi adquirida e não é de nascença. Sua única motivação são as olimpíadas e o esporte, por ver que não será possível prosseguir, ela já marcou sua morte para dias após as olimpíadas.
Há um filme recente em que o protagonista sofre de uma doença degenerativa, por sofrer assim ele opta pela eutanásia, o filme é: Como eu era antes de você.
É em busca da vida que grande parte das pessoas se suicidam, é por não ver nesse plano uma alternativa que elas imaginam que tirar a própria vida será o melhor caminho.
O que Elias quer não é morrer, mas sim pedir socorro.

6° - pois não sou melhor do que meus pais.
1 Reis 19:4
Seu conceito sobre si é baixo, sua autoestima está baixa.
Ele para e pensa no galardão dos profetas antigos, nas recompensas que receberam e as que não receberam e chega a triste conclusão que é apenas mais um sofredor, que não vale a pena profetizar, que não vale a pena viver.

7° - E deitou-se, e dormiu debaixo do zimbro; e eis que então um anjo o tocou, e lhe disse: Levanta-te, come.
E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas, e uma botija de água; e comeu, e bebeu, e tornou a deitar-se.
1 Reis 19:5,6
Alteração no sono.
Elias passa a dormir demais e a questão não é mais de cansaço, mas sim de fuga.
Quem geralmente está triste considera o sono uma boa alternativa, pois, ele por algumas horas nos desliga da realidade atual. Jó viveu isso:
 Deitando-me a dormir, então digo: Quando me levantarei? Mas comprida é a noite, e farto-me de me revolver na cama até à alva.
Jó 7:4

Dizendo eu: Consolar-me-á a minha cama; meu leito aliviará a minha ânsia;
Então me espantas com sonhos, e com visões me assombras;
Assim a minha alma escolheria antes a estrangulação; e antes a morte do que a vida.
Jó 7:13-15

Na depressão as pessoas tendem a dormir demais ou dormir de menos, o sono é um fator relevante no que tange a depressão.
Lembro-me dos tempos de desemprego em que passei virar noites inteiras acordado e passar o dia normalmente, por conta da ansiedade e desespero na procura.

8° - Falta de preocupação com a alimentação – comer demais ou comer de menos:
E o anjo do Senhor tornou segunda vez, e o tocou, e disse: Levanta-te e come, porque te será muito longo o caminho.
1 Reis 19:7

Se o anjo do Senhor não lhe interrompesse o sono, Elias sequer iria se alimentar.
Pessoas com depressão podem ainda ficar longos períodos sem se alimentar, ou se estufar de comida como um refúgio para o momento atual.

9° - Sentimento de injustiça, como alguém que acha que tudo e todos conspiram contra si, que seu trabalho não é reconhecido:
E ele disse: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem.
1 Reis 19:10


10 ° - A persistência na tristeza
Elias já havia sido amparado pelo anjo do Senhor que o alimentou duas vezes, mesmo assim ele opta por fugir.
Normalmente as pessoas deprimidas até recebem uma demonstração de afeto de alguém, porém mesmo assim continuam ficando tristes. Mesmo após uma demonstração de preocupação a pessoa continua optando pelo isolamento afinal quanto menos pessoas compartilharem da própria desgraça melhor.

11° - Falta de confiança nos outros e na vida, sensação de invalidez.

E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são?
O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
João 5:6,7
Jesus ofereceu ajuda, mas o homem desconfiante de uma perspectiva melhor e pensando apenas no trabalho que dava simplesmente diz a Jesus que não tem ninguém para lhe ajudar.
Essa sensação de solidão é bem típica de quem vive um quadro depressivo. “Ninguém se importa, ninguém me ama, que falta faria se eu morresse? ”

12° - Instabilidade emocional:
Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?
Salmos 42:1,2
A princípio parece uma grande declaração de fé, porém posteriormente há um intenso desespero.

13° Choro contínuo.
As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?
Salmos 42:3

14° - Saudosismos tristes que impedem de ver a beleza no presente e no futuro.
 Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma; pois eu havia ido com a multidão. Fui com eles à casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava.
Salmos 42:4
Saudosas lembranças de tempos perdidos. Por não ter perspectivas para o tempo atual choramos, nas saudades de bons tempos deixamos de viver o presente.







O que fazer no dia dessas angústias?

1 ° Não fique só, diga a outros o que está passando:
E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.
Mateus 26:37
O monte das aflições só pode ser suportado com a companhia de outros amigos.
O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou, e não se envergonhou das minhas cadeias.
2 Timóteo 1:16


2° - Fale com o Senhor
E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o darei todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.
E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca.
1 Samuel 1:11,12

E disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher foi o seu caminho, e comeu, e o seu semblante já não era triste.
1 Samuel 1:18

Só no falar com Deus Ana conseguiu sua solução, nem seu marido, nem o sacerdote lhe entendeu. Após falar com o Senhor seu semblante era outro.
A oração ainda é uma alternativa para corações tristes.
Ver Salmo 116.

3° - Recorde os bons momentos, sem saudades, mas como boas lembranças motivadoras:

Quero trazer a memória aquilo que pode me dar esperança.
Lamentações 3.21

Esse é apenas um pequeno resumo sobre depressão a luz da bíblia.
O assunto é muito mais extenso, não quero ignorar o fato de que há suicídios sob forte influência maligna. Como no caso do Senhor Nabor que faleceu e levou toda sua família consigo no dia 29/08.
Porém há casos tristes como o do motoboy – Carlos Ti On


“Oi, problemas pessoais. Telefone do meu irmão, minha mãe/avó. Bryan filho. Às vezes tem um suicida na sua frente e você não vê.”

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Um homem, Um profeta, O filho de Deus - Conhecendo em prosseguindo em conhecer a Cristo

A cura do cego de nascença
E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença.
E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
João 9:1,2

Cristo já havia realizado dois milagres tidos como messiânicos, o primeiro deles era a restauração de um leproso, fato que até então não havia acontecido sob vigência da lei mosaica. Posteriormente há uma libertação de um homem possesso por um espírito que lhe tornava cego e mudo. Ou seja: Incomunicável. Por ser um tipo de demônio que não permitia comunicação, era impossível sob a ótica judaica expulsar um demônio dessa natureza.

Cristo já demonstrara sinais quanto a sua missão messiânica, sua ascendência divina e realizado obras consideradas impossíveis a homens comuns, agora já estava sob constante observação por parte dos fariseus e do sinédrio judaico. Todos querem testificar se de fato ele é o messias. Rapidamente todos chegam a conclusão que ele era o que havia de vir, porém era um impasse admitir tais coisas, pois, Cristo fez uma releitura da lei, das tradições e se assentou com pessoas consideradas impuras na visão da elite religiosa da época. Esses fatos geraram uma grande perseguição, pois, Cristo era o cumprimento da profecia, mas de maneira diferente do que esperavam que fosse. Sem se aliar a segmento religioso nenhum ele provoca uma revolução e todos os líderes veem suas posições em jogo.
O próximo acontecimento instigou ainda mais a perseguição por parte das lideranças, Cristo realiza um milagre inédito e posteriormente faz um sermão de extrema confrontação.
Jesus junto de seus discípulos passam por um homem que era cego de nascença.
É provável que esse cego fosse conhecido de todos, além disso o texto informa que ele mendigava. João 9.8
Sua situação era visível, os cegos naquele tempo recebiam uma “licença” do governo para mendigar, foi simbolizada em outra passagem pela capa que de imediato Bartimeu lançou ao chão ao ser curado. Marcos 10.50

E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
João 9:2


O fato mais interessante está na pergunta posterior, há um homem com necessidade de afago e ajuda por parte de seus conterrâneos ou de pessoas que por ele passavam, mas ao invés de se concentrar na necessidade do cego os discípulos se veem presos a questões teólogo-filosóficas: “Quem pecou, o cego ou seus pais?” De quem é a culpa, por certo de Deus não era, na visão deles, tudo tratava-se de justiça retributiva. Você erra e paga, você não faz o que deve fazer é punido. Então apegaram-se a palavra de Deus que diz que o Senhor visita as iniquidades até de gerações posteriores.


Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
Êxodo 20:4,5

E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
Êxodo 20:6


O texto fala muito mais de misericórdia do que de juízo, se por um lado Deus permite que pecados de pais afetem filhos por até quatro gerações, a misericórdia se estende a milhares.
A pergunta dos discípulos vinha da crença falsa de que as dores do presente são fruto dos atos passados de outras pessoas em relação a nós. Em especial os pais.
O filho paga pelo que o pai fez, ou os próprios pais pagam, tudo depende de Deus. Tal afirmação é absurda. Somos tratados como indivíduos diante de Deus.
Ainda há a hipótese de que o próprio cego tenha pecado para nascer assim, mas como? Ainda bebê? 

Chegam ao absurdo de imaginar que o chute de uma criança no ventre de sua mãe fosse motivo para que essa nascesse cega ou ainda de que durante a gestação a natureza má e a boa estão sob constante conflito, quando a natureza má prevalece a criança nasce com defeito, a saber: Doenças, cegueira, paralisias, etc.

A pergunta é feita no sentido de identificar culpados, procurar bodes expiatórios para lhes atribuir culpa por acontecimentos aleatórios, sempre a culpa é de alguém. Obviamente tudo isso não passava de falácias e especulações. Cristo agora irá se posicionar.

Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.
João 9:3


Como é interessante o fato de que Jesus não tenta dizer quais as origens de tal mal, não é interessante procurar quais os motivos mas sim procurar soluções.
A ineficácia dos discípulos se deu por procurar explicar coisas que iam além de sua alçada sem fornecer ajuda. Não é de discussão que necessitamos hoje, não é problematizar o simples. Precisamos de soluções, não de mais argumentos, o mundo clama por esperança, sobre razões para caminhar. Então Cristo traz a resposta, tudo, absolutamente tudo isso aconteceu para que na vida do cego se manifestem as obras de Deus.

É como o agricultor que poda a videira em João 15. Se as videiras se comunicassem por certo falariam que processo é dolorido e desnecessário, mas é por ter um plano futuro melhor do que o atual que o agricultor continua a cortar tanto quanto for necessário. As videiras se perguntariam quais as razões para esse galho ao lado estar sendo cortado, a videira diria, para que dê mais frutos, para que cresça, para que seu último estado seja melhor do que o primeiro.
Quais as razões para o sofrimento?
“Deus sussurra por meio do prazer, fala em nossa consciência e grita por meio do sofrimento, o sofrimento é o megafone de Deus para demonstrar seu tão grande amor”.
CS Lewis.
Quais as razões pelas quais passamos tantos percalços, é para que em nossas vidas se manifestem as obras de Deus. Somente vidas regadas de sofrimento tendem a ser mais gratas, por não ter sofrido há homens ingratos, enjoados, difíceis de lidar, mas somente quem sabe de onde veio e o quanto cada pessoa sofre e luta para conquistar algo sabe o quanto Deus lhe ajudou até então, o sofrimento elimina o orgulho e a jactância. O sofrimento nos faz entender que há um Deus que traçou nossa história e que do menor ao maior acontecimento, tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus. Estamos em construção. Nossa vida deve ser a manifestação das obras de Deus, por mais dolorido que seja ser o canal para que isso aconteça.


As palavras seguintes são uma demonstração do que era o ministério de Jesus:
Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.
João 9:4


O bem que deve ser feito é urgente, o amor que devemos prestar é para agora. Pois o que o texto diz é que o dia representa a vida, a noite vem e com ela a impossibilidade de se fazer o que é necessário fazer. Estamos vivendo na era dos amores póstumos, enquanto ainda em vida nada é feito, mas após a morte textos são escritos, declarações que em vida nunca foram feitas e palavras que alegrariam os dias daquele que se foi são ditas apenas após o óbito.
Lembro-me das palavras de pregador Luo:
“Deem flores enquanto possam aprecia-las porque depois elas só servirão para cobrir sepulturas”
O amor que se dá não é resultado da perda, mas é por demonstrar a quem temos agora o quanto são importantes, amor sem expressão é vazio, amor sem prática é falácia, em alguns casos sequer há uma fala. Dias se passam, oportunidades se perdem, a noite chega e quando se damos conta os bons momentos da vida se passaram sem que fossem de fato aproveitados.
Mortes contemporâneas geraram grande comoção, mas ainda em vida essas pessoas não eram tão valorizadas, os exemplos?
Michael Jackson, Amy Whine House, Cristiano Araujo e inúmeros outros. Exemplos de perto e de longe. O tempo de fazer o nosso melhor é hoje, é agora! Enquanto é dia. Quando a noite chegar nos lamentaremos, pela perda. Não por ter chegado a duríssima conclusão de que poderíamos ter feito mais.


Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
João 9:5
Cristo se apresenta como a esperança do presente, a vida no presente, em Cristo podemos fazer as obras. Em Cristo podemos ser eficazes, em Cristo há possibilidade de amar sem interesses, em Cristo nosso caráter se assemelha ao dele de forma que nosso melhor é feito por tudo e por todos. Enquanto a porta da graça que é Cristo está aberta, podemos entrar, podemos ser melhores do que temos sido até agora. Cristo se apresenta como a possiblidade de fazer tudo o que não foi feito até agora, ele é o novo amanhecer em vidas de trevas, um novo tempo para aqueles que já não podiam trabalhar, o novo significado para quem já perdeu o sentido de viver. Cristo é a porta pela qual podemos entrar e fazer tudo o que não foi feito até então. Cristo é a luz disponível para nos fazer caminhar.


Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego.
E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo.
João 9:6,7


Cristo posteriormente cospe no chão, faz lodo nos olhos do cego e lhe envia ao tanque de Siloé.
Há pelos menos duas aplicações quanto a isso. A matéria usada para criação do homem no início foi o barro. Do interior de Deus foi soprado o espírito que nos deu vida. De igual modo agora Jesus usa o barro e ao usar o barro de seu interior joga saliva. Na mistura do interior de Cristo com o barro há uma personificação da encarnação de Cristo. Tal fato é reforçado com o significado do tanque “Siloé” (O Enviado). Cristo é o enviado de Deus em carne para restaurar a cegueira da humanidade.
O outro significado mais simples trata-se do incômodo causado, por certo muitos de nós teríamos ido até um tanque com urgência, não exitaríamos em obedecer para aliviar tão incômodo. Assim são as confrontações que Cristo e no tempo presente o Espírito Santo nos faz. Elas exigem mudanças e na exigência de tais mudanças há incômodo de forma que enquanto não resolvemos a nossa vida e nos adequamos a confrontação é impossível se aquietar. 

É a mesma sensação do peregrino logo no início do livro de John Bunyan:
“Neste estado voltou para sua casa, diligenciando reprimir-se o mais possível, a fim de que sua mulher e seus filhos não percebessem sua aflição. Como, porém, o seu mal recrudescesse, não pôde por mais tempo dissimulá-lo, e, abrindo-se com os seus, disse por esta forma: “Querida esposa, filhos do coração, não posso resistir por mais tempo ao peso deste fardo que me esmaga. Sei com certeza que a cidade em que habitamos vai ser consumida pelo fogo do céu, e todos pereceremos em tão horrível catástrofe se não encontrarmos um meio de escapar. O meu temor aumenta com a idéia de que não encontre esse meio.” Ao ouvir estas palavras, grande foi o susto que se apoderou daquela família, não porque julgasse que o vaticínio viesse a realizar-se, mas por se persuadir de que o seu chefe não tinha em pleno vigor as suas faculdades mentais. E, como a noite se avizinhava, fizeram todos com que ele fosse para a cama, na esperança de que o sono e o repouso lhe sossegariam o cérebro. As pálpebras, no entanto, não se lhe cerraram durante toda a noite, que passou em lágrimas e suspiros. Pela manhã, quando lhe perguntaram se estava melhor, respondeu negativamente, e que a moléstia cada vez mais o afligia. Continuou a lastimarse, e a família, em lugar de se compadecer de tanto sofrimento, tratava-o com aspereza. Esperava, sem dúvida, alcançar por este modo o que a doçura não pudera conseguir até ali: algumas vezes zombavam dele; outras repreendiam-no e quase sempre o desprezavam. Só lhe restava o recurso de se fechar no seu quarto para orar e chorar a sua desgraça, ou o de sair para o campo, procurando na oração e na leitura lenitivo a tão indescritível dor. Certo dia, em que ele andava passeando pelos campos, notei que se achava muito abatido de espírito, lendo, como de costume, e ouvindo-o exclamar novamente: “Que hei de fazer para ser salvo?” O seu olhar desvairado volvia-se para um e outro lado, como em busca de um caminho para fugir; mas, não o encontrando de pronto, permanecia imóvel, sem saber para onde se dirigir. Vi, então, aproximar-se dele um homem chamado Evangelista (Atos 16:30-31; Jó 33:23) que lhe dirigiu a palavra, travando-se entre ambos o seguinte diálogo: Evangelista -- Por que choras? Cristão -- (Assim se chamava ele). -- Porque este livro me diz que eu estou condenado à morte, e que depois de morrer, serei julgado (Heb. 9:27), e eu não quero morrer (Jó 16:21-22), nem estou preparado para comparecer em juízo! (Ezequiel. 22:14). Evangelista -- E por que não queres morrer, se a tua vida é cheia de tantos males? Cristão – Porque temo que este pesado fardo que tenho sobre os ombros, me faça enterrar ainda mais do que o sepulcro, e eu venha a cair em Tofete (Isaías 30:33). E, se não estou disposto a ir para este tremendo cárcere, muito menos para comparecer em juízo ou para esse suplício. Eis a razão do meu pranto. Evangelista – Então, por que esperas, agora que chegaste a esse estado? Cristão – Nem sei para onde me dirigir. Evangelista – Toma e lê. (E apresentou-lhe um pergaminho no qual estavam escritas estas palavras: “Fugi da ira vindoura”). (Mateus. 3:7). Cristão – (Depois de ter lido). E para onde hei de fugir? Evangelista – (Indicando-lhe um campo muito vasto). Vês aquela porta estreita? (Mateus. 7:13-14). Cristão – Não vejo. Evangelista – Não avistas além brilhar uma luz? (Salmo 119:105; II Pedro 1:19). Cristão – Parece-me avistá-la. Evangelista – Pois não a percas de vista; vai direito a ela, e encontrarás uma porta; bate, e lá te dirão o que hás de fazer. ”

O incômodo de Cristão é o mesmo que o nosso quando confrontado com as verdades até que o evangelista nos encontra e fornece uma nova luz. Um novo caminho.

E é no caminhar que vamos descobrindo o quão difícil é a jornada, mas a luz ao fim do horizonte nos motivará a continuar a caminhada:
Eu dou um passo, ela dá dois passos.
Eu dou dois passos, ela dá quatro passos.
Eu dou quatro passos, ela dá oito passos.
Para isso serve a utopia, para eu seguir caminhando.
Autor: Eduardo Galeano

Diante de nós há o incômodo do presente, mas se em obediência prosseguirmos para o alvo será possível ao chegar no destino perceber que a grandiosidade dos resultados compensou todos os esforços do presente.
A ida ao tanque exigia um grande esforço do cego, por não ver o caminho, por ser a época da festa dos tabernáculos e as ruas estarem cheias, por ter um tanque em que havia por certo uma tremenda concorrência na aproximação e uso. 
Mas o apego as promessas nos motivam a continuar dando dois, quatro, oito passos em direção de nosso real objetivo.
Os métodos podem parecer abstratos, mas há um Deus que confunde a sabedoria humana.
A partir de agora há uma sucessão de interrogações por parte daqueles que estavam ao redor do ex-cego.
Gradativamente percebemos a evolução de suas convicções sobre Jesus.

Em primeiro lugar – Um homem.


Então os vizinhos, e aqueles que dantes tinham visto que era cego, diziam: Não é este aquele que estava assentado e mendigava?
Uns diziam: É este. E outros: Parece-se com ele. Ele dizia: Sou eu.
Diziam-lhe, pois: Como se te abriram os olhos?
Ele respondeu, e disse: O homem, chamado Jesus, fez lodo, e untou-me os olhos, e disse-me: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, e lavei-me, e vi.
Disseram-lhe, pois: Onde está ele? Respondeu: Não sei.
João 9:8-12


Havia uma crença antiga entre os judeus que quando o Messias viesse seria capaz de com sua saliva e a orla de seus vestidos curar, eis aí a confirmação. Ao dizer tais palavras o cego talvez não tivesse ideia da grande desse testemunho e tudo o que ele representava.
Ser um cego de nascença era um problema para toda a vida, porém ele era o primeiro cego de nascença curado, não tratava de uma restauração, mas sim de uma reversão completa para um estado que nunca antes ele viveu; por isso vem as perguntas:
“não é este que estava mendigando”? Alguns duvidavam de uma possível substituição tamanha era a importância desse fato e a novidade que foi para todos. Porém ele reafirmava: Sou eu!
A pergunta seguinte é: “Como isso aconteceu?” e daí vem a primeira compreensão do cego sobre Jesus. Um homem. Um homem que fez algo incomum. Cristo é chamado muitas outras vezes de um homem, principalmente por aqueles que conhecem pouco sobre ele.
Para muitos Cristo é apenas um rapaz admirável, um homem fantástico, mas a medida em que lhe conhecemos nossas compreensões sobre Cristo tendem a ir aumentando gradativamente.


Levaram, pois, aos fariseus o que dantes era cego.
E era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.
Tornaram, pois, também os fariseus a perguntar-lhe como vira, e ele lhes disse: Pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me, e vejo.
Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.
Tornaram, pois, a dizer ao cego: Tu, que dizes daquele que te abriu os olhos? E ele respondeu: Que é profeta.
Os judeus, porém, não creram que ele tivesse sido cego, e que agora visse, enquanto não chamaram os pais do que agora via.
E perguntaram-lhes, dizendo: É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora?
Seus pais lhes responderam, e disseram: Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu cego;
Mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe tenha aberto os olhos, não sabemos. Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo; e ele falará por si mesmo.
Seus pais disseram isto, porque temiam os judeus. Porquanto já os judeus tinham resolvido que, se alguém confessasse ser ele o Cristo, fosse expulso da sinagoga.
Por isso é que seus pais disseram: Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo.
João 9:13-23

Ao ver tão grande testemunho, as pessoas que estavam próximas ao cego logo chamam os fariseus e lhes declaram o ocorrido. De imediato eles vão até o homem restaurado e lhe perguntam como isso aconteceu.
Ao falar como aconteceu, declarando que Cristo cuspiu no chão, fez lodo e passou nos olhos, os olhares dos fariseus deixam de estar voltados ao milagre, passando a se atentar aos métodos. Por se atentar aos métodos percebem aparentes violações quanto ao sábado.
Cuspir no chão, criar lodo e untar os olhos eram três transgressões subsequentes ao mandamento do sábado e por se atentar a isso e também por dar ouvidos a inveja dizem que Cristo não é o Senhor porque transgrediu a lei.

Segundo - Um profeta 

O relato do homem é tão contundente que há dissenção entre os próprios fariseus, uns reconhecem e se questionam como isso seria possível se não fosse mediante o poder de Deus? Outros preferem manter o status e brigar para desmascarar possíveis tramas de Jesus, estão coando os mosquitos e engolindo os camelos, não entram no caminho e não permitem outros entrarem. Então há uma segunda pergunta: O que você diz sobre Jesus? “Ele é um profeta”.

Já há uma ligeira evolução nos conceitos do homem sobre Jesus. Agora para o rapaz ele é um profeta, alguém que tem a palavra de Deus, tem poder de fazer sinais maravilhosos, tem condições de dizer palavras a cerca do futuro e além disso alguém que tem sobre si o Espírito de Deus.
Vamos notar que gradativamente a compreensão do rapaz sobre Jesus vai crescendo.
Os Judeus agora querem a todo custo invalidar todo o milagre e para isso estão dispostos a recorrer aos pais, mesmo sabendo que era inválido, visto que o rapaz era maior.
Os pais temiam os fariseus e a possível exclusão da sinagoga. Por isso apenas afirmam a paternidade e a cegueira, mas mesmo sabendo de tudo aconteceu eles se recusam a falar e transferem a responsabilidade ao filho. “Ele já tem idade”. Eles se apegaram mais ao que tinham e a segurança da religião, do que correr riscos por Jesus.


Chamaram, pois, pela segunda vez o homem que tinha sido cego, e disseram-lhe: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador.
Respondeu ele pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo.
João 9:24,25


Há uma segunda série de questionamentos, que já se torna maçante, cansativa. As respostas passam a ser mais diretas por parte do rapaz curado.
Quando lhe pedem que declarem que Jesus é pecador o homem traz uma resposta fantástica:
Se era pecador não sei, o que sei é agora vejo. Não importa para os religiosos a alegria dos outros, importa que sejam iguais, que pensem de forma parecida.
Ao cego pouco importa os métodos contato que seu problema foi resolvido. Não é necessário nexo, não é necessárias maiores explicações. Simplesmente está resolvido. Éramos cegos agora vemos, o perdido encontrou perdão.
O que importa é que ele me achou!


E tornaram a dizer-lhe: Que te fez ele? Como te abriu os olhos?
Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não ouvistes; para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós porventura fazer-vos também seus discípulos?
João 9:26,27


Estavam a todo custo querendo lhe acusar de blasfêmia. Lhe perguntam novamente o método, agora o ex-cego passa a ser um evangelista.


Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dele sejas tu; nós, porém, somos discípulos de Moisés.
Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas este não sabemos de onde é.
O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e contudo me abrisse os olhos.
Ora, nós sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve.
Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença.
Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer.
Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E expulsaram-no.
João 9:28-34


O homem é então expulso da sinagoga, Ele abriu mão da estabilidade diferentemente dos pais que optaram por um caminho mais fácil.
Ele fez como Orlando Boyer.
Como a parábola do tesouro escondido.
Optou pela dor de ser expulso da sinagoga, perdeu o mundo e ganhou a Cristo.

Terceiro - O filho de Deus

Jesus ouviu que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus?
Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia?
E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo.
Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou.
João 9:35-38


Finalmente há o encontro final com Cristo. A compreensão final foi de que Cristo era o filho de Deus, momentos diferentes fizeram a fé desse rapaz crescer, ele passa a ser um instrumento para que a fé de outros fosse estimulada e não só isso, um cego consegue ver quem é Cristo enquanto os que se consideravam maiorais são confundidos.
A cegueira ainda hoje ocorre, mas essas palavras são incômodos constantes para que nos desloquemos ao enviado e resolvamos de vez o problema de nossa cegueira.


Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.
Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;
E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são;
Para que nenhuma carne se glorie perante ele.
1 Coríntios 1:26-29



Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!
Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro?
Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?
Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.
Romanos 11:33-36

O filho mais velho e a crise dos cabritos

E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;



Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;



O filho mais velho era conforme a lei, herdeiro da maior parte do que o pai possuía, era também um sucessor após sua morte, logo herdaria tudo que o pai tem. 
Os textos acima demonstram o momento que o pródigo voltou,  é feita uma festa, um anel é colocado em sua mão e um bezerro cevado é morto. O bezerro cevado era preparado para momentos especiais, seria equivalente aos animais preparados para as grandes festas em fazendas e cidades interioranas. 
Nesse período de ausência do pródigo, o irmão mais velho permaneceu em casa, tinha direito a tudo, porém ele implica em extremo com o fato de que o pai matou o bezerro cevado ao irmão mais novo, mas nunca lhe deu um cabrito.
O que o irmão mais velho desconsiderou é que as posses do pai também eram suas, ele não levou em conta que se atentar ao cabrito que ele não ganhou, lhe privou de aproveitar das muitas cabeças de gado disponíveis em sua fazenda.
Ainda hoje o filho mais velho vive nas igrejas. Almejamos cabritos tendo fazendas, deixamos de participar das festas para lamentar o cabrito que não recebemos. O que seria esse cabrito? O trivial que nos impede de ver o crucial, as coisas fúteis que nos privam de ver o essencial, sendo ainda mais prático, o cabrito da igreja contemporânea é a "bênção", a "vitória", o "carro", a "Casa", O "deus falar comigo", e por aí vai. A lista é enorme.
Lamento muito por pensar que o que desconsideramos é muito maior e mais importante do que aquilo que almejamos, lamento pensar que estamos dispostos a abandonar a Deus por coisas fúteis, ou servir por um cabrito. 

Precisamos urgentemente deixar de cultuar as bênçãos (Nossos cabritos), para voltar a se relacionar com Deus como pai. precisamos deixar esse cristianismo platônico e frustrado que sempre quer mais, que vive com suas duas filhas "Dá e dá". Um Cristianismo que transforma o cabrito no fim, desconsiderando a grandiosidade da salvação. Que transforma a prosperidade e do dinheiro em deus, sendo que há um pai disposto a nos amar.

Que Deus nos guarde de amar mais cabritos do que irmãos, que Deus nos guarde de desconsiderar o que já temos por "cabritos" diante de nós.
Essa é minha oração.

Amém,

O pregador é uma testemunha de defesa

O mundo está continuamente julgando Jesus,
dando seus vários vereditos a respeito de Jesus. O diabo o
acusa com muitas mentiras e chama centenas de falsas
testemunhas para depor. O Espírito Santo é o Parácletos, o
advogado de defesa, e nos chama como suas testemunhas.
O pregador cristão tem o privilégio de testemunhar para
Jesus e por Jesus, defendendo-o, elogiando-o, colocando
diante da côrte alguma evidência que eles precisam ouvir e
considerar antes de dar seu veredito final.

John Stott - O perfil do pregador

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A variedade nos sermões do mordomo

O mordomo sábio fornece uma
dieta variada à família que serve. Ele procura conhecer as
suas necessidades, e usa o bom senso para decidir o que
eles vão comer. O mordomo não decide o que entra na
geladeira; este direito é de seu patrão. Mas o que sai da
geladeira, quando e em que quantidade, é responsabilidade
sua.

John Stott - O perfil do pregador

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A insistência do arauto

É por causa de Cristo, para o
engrandecimento do seu reino, para a glória do seu nome,
que nós somos embaixadores e rogamos aos homens que
se reconciliem com Deus. Não podemos suportar o
pensamento que ele tenha sofrido em vão. Deus fez,
através da morte de Cristo, tudo o que é necessário para a
reconciliação do ser humano? Então, enfrentaremos todas
as dificuldades para insistir com os homens,
persistentemente, ansiosamente, sobre a necessidade de
serem reconciliados com Deus.

John Stott - O perfil do pregador