Jonas
– O ministério profético e seus conflitos
Introdução
O livro de Jonas é um dos mais conhecidos na bíblia, os
mais diversos segmentos que estudam a religião já consideraram a leitura deste
livro. A história de Jonas neste contexto é extremamente conhecida.
Lembro de quando dava aulas às crianças e uma das histórias
que mais lhe fascinavam era a do profeta Jonas, isso por várias razões, o
imaginário das pessoas tende a ser despertado com uma história repleta de
intervenções divinas, de um homem que ousou não seguir uma ordem aberta de Deus
e sobretudo a história do grande peixe.
Ronaldo Lidório, um grande Missiólogo e exegeta ao pregar
numa etnia que ainda não conhecia o evangelho, desenvolveu uma encenação da
história de Jonas às crianças dessa aldeia, lá elas reproduziram a cena do
“vômito” do grande peixe, a cena do profeta todo sujo, repleto do que seriam
algas, entrando pelas portas de Nínive, era algo que chamava a atenção de
todos.
Estes elementos tornam a história de Jonas conhecida em
todas as eras, inclusive algumas literaturas foram inspiradas na história
fatídica de Jonas.
Moby Dick, Os irmãos Karamazov de Dostoyevsky, Robinson
Crusoé, entre outros foram inspirados direta ou indiretamente, pela história
deste profeta, mesmo sendo um livro relativamente curto, sem dúvidas, Jonas é o
mais influente dos profetas menores.
As três principais religiões monoteístas do
mundo lhe citam em seus livros sagrados, a saber o judaísmo, Cristianismo e
Islamismo.
O livro de Jonas
4 capítulos, 48 versículos, 688 palavras.
O personagem principal de Jonas não é um grande
peixe, pois este é citado 4 vezes, ou a grande cidade mencionada 8 vezes, ou
sobre o profeta desobediente mencionado 18 vezes. Mas sobre Deus, Deus é
mencionado 36 vezes, O livro de Jonas é sobre a vontade de Deus e como reagimos
a ela. Também é sobre o amor de Deus e sobre como o compartilhamos com outros.
Warren Wiersbie
Críticas ao livro
Há críticas das mais diversas categorias a respeito do
livro de Jonas, a primeira delas diz respeito ao fato do livro ter sofrido
adições posteriores, mas todo o livro é coeso, apesar da interrupção no gênero
literário no capítulo 2, de modo algum ele deixa de harmonizar com o restante
da história.
O alvo de maior crítica são os atos do capítulo 1 e 3,
especialmente no que diz respeito ao grande peixe.
Há uma crítica considerável, no que diz respeito a
impossibilidade de que Jonas tenha sido engolido por um peixe e tenha
sobrevivido.
·
As objeções se dão por algumas razões
específicas, a saber, a impossibilidade de que ele sobrevivesse a passagem da
garganta de uma baleia, visto que ela é bastante estreita.
·
A segunda crítica diz respeito ao suco gástrico
do estômago dos peixes que consumiria e poderia asfixiar o profeta.
Porém o tempo trabalha em favor dos relatos bíblicos, uma
vez que estes vão sendo confirmados com repetições históricas no decorrer do
tempo, no caso de Jonas não foi diferente, houve pelo menos três vezes
em que esta história se repetiu.
A primeira objeção seria a de que o estômago de uma baleia
não comportaria um ser humano, porém Carlos
Augusto Vaillati apresenta uma densa pesquisa a respeito deste assunto
onde afirma:
“Nas últimas décadas, os pesquisadores têm encontrado muitos objetos
dentro dos estômagos de animais marinhos de grande porte. No estômago de uma
baleia de Bryde foi encontrado o total de 14 pinguins, em 1976 no Havaí também
foi descoberto um grande peixe que engoliu um tubarão de 4,5 MT, em vista
destas informações, é razoável afirmar que devia haver espaço suficiente no
interior do peixe para que Jonas pudesse ser ali abrigado”.
Macloskie ao Analisar a
fisiologia de uma baleia menciona o fato de que ela possui uma espécie de bolsa
junto a sua laringe que possui paredes grossas e flexíveis que podem sim
abrigar um ser vivo e ainda supri-lo de ar para respirar, tornando a
sobrevivência possível.
A única intervenção inevitavelmente miraculosa
neste caso seria a preservação do suco gástrico que seria extremamente ácido
para quem estivesse nessa região, neste sentido devemos supor que se tratava
sim de um milagre.
No decorrer da história houve um acontecimento semelhante,
na verdade 2.
1. O
primeiro diz respeito a um homem chamado Marshall Jenckins em 1771, o outro é
James Bartley, este segundo é ainda mais incisivo, pois, conta-se que o homem
foi engolido e retirado mais de 36 horas após o acontecimento ainda com vida,
inclusive com fotos.
2. Em
nossos dias também houve uma repetição do que ocorreu a Jonas, sendo que este
caso em especial foi amplamente divulgado nos jornais.
Exibir vídeo.
Vocação profética no A.T.
O profeta do A.T. recebeu o termo derivado da palavra
Hebraica “Nabi”, os profetas eram um dos três principais ofícios nos dias de
Israel, sendo ladeado de Reino e Sacerdócio.
·
Estes outros dois se davam em sua maior por certa
tradição familiar, ou seja, apenas os levitas descendentes de Arão é que se
tornavam sacerdotes, visto que estes tinham certa hereditariedade.
·
Os reis do mesmo modo, dificilmente tinham
outra escolha que não era alheia a hereditariedade.
Os profetas por sua vez, tinham escolha
estritamente divina, não se dava por hereditariedade, mas por vocação.
O conceito de vocação vem da palavra Latina “Voccare”
que significa voz, ou seja, vocação está diretamente relacionada a ouvir uma
voz que chama para a função.
O profeta tinha sua função diretamente ligada a esta
vocação e com esta vocação não era possível escolher outro caminho, a não ser
cumprir a função designada. O profeta era alguém que tinha aquilo que os
teólogos chamam de “Pathos” divino, que se trata de um peso, um peso do coração
de Deus e do povo que ele representava, o profeta mediava as relações entre
Deus e o povo, era uma relação de cima para baixo, uma vez sendo mediador, ele
se colocava inúmeras vezes em favor de Deus contra o povo, mas sendo parte do
povo que ele agora se virava contra.
O profeta carregava os seus pesos, o peso do povo e o peso
do coração de Deus, logo carregando o coração de Deus inúmeras vezes era
obrigado a sentir na pele o que Deus sentia, é por esta razão que várias vezes
eles se tornavam uma espécie de parábola viva, de provérbio ambulante.
Abraham
Joshua Heschel
“certa
vez disse que o profeta é alguém quebrantado, mas quebrantado não porque é
humilhado, quebrantado porque carrega sobre si o peso, o peso do coração de
Deus, o profeta é o homem abatido, angustiado, é uma pessoa que esqueceu se de
seus próprios pesos e recebeu sobre seus ombros o coração de Deus, o sentimento
de Deus é derramado sobre o profeta, ele tem seus próprios sentimentos e também
o do povo”.
·
Ezequiel teve de dormir de lados opostos para
representar os anos de pecado de cada nação. 40 dias por Judá, 380 por Israel.
·
Jeremias teve de carregar cadeias de madeira.
·
Oséias teve de tolerar uma esposa adúltera.
·
Ágabo atou os cintos nas mãos para representar
a prisão de Paulo.
·
O profeta por vezes se submetia a situações ridículas a fim
de demonstrar ao povo o sentimento de Deus. Muitas vezes sua vocação era alheia
a sua vontade.
O livro que estamos estudando fala de um profeta, este era
Jonas, mais um vocacionado, chamado por Deus.
O homem Jonas
Jonas era habitante de Gate-Hefer, tratava-se de uma aldeia
Noroeste de Nazaré, ambiente considerado hostil para a profecia em virtude de
não haver tradição profética na região e por ser considerado uma região muito
mestiça. Esse conflito se arrastou até o N.T nos dias de Jesus quando os Fariseus
o criticavam pelo fato de ser da Galiléia, ou seja, a região norte da
Palestina.
Jonas era filho profeta Amitai conforme 2º Reis
14.25, este era profeta no reino do norte.
Há lendas judaicas que dão conta de que Elias
era filho da Viúva de Sarepta, ou seja, ele teria sido ressuscitado por Elias,
há quem diga também que sua vocação profética se deu através de Eliseu que o
ordenou ao ministério.
Tais informações ainda que interessantes não podem ser
verificadas nas escrituras.
A vocação de Jonas
Assim como foi dito, vocação é o chamado através de uma
voz, e a palavra do Senhor veio ao profeta Jonas:
“E veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai,
dizendo:
Levanta-te,
vai - Jonas 1:1,2”
Impressiona-me muito a comparação entre a vocação de Jonas
com a de outros profetas, via de regra há uma série de incentivos que vem junto
a vocação.
·
Jeremias – Recebe uma série de incentivos e
encorajamentos
·
Isaías – Da mesma maneira tem suas limitações
retiradas
·
Ezequiel – Motivado por uma visão
·
Amós – Ao se referir ao modo como Deus o chamou
Há uma certa repetição nas vocações proféticas, que é o
chamado seguido de encorajamentos, mas no que diz respeito a Jonas, há apenas
uma palavra: Levanta-te e vai.
1º - Um chamado diferenciado
Considero que há razões claras para isso, a razão primária
é que todos os demais profetas ainda não têm ciência de sua vocação, Jeremias
se planejava para ser sacerdote, Isaías para ser parte da Aristocracia,
Ezequiel também para o Sacerdócio, Amós para ser um homem do campo, em todos
esses casos em que não há clareza da vocação que se tem, há uma certa necessidade
de novos encorajamentos, palavras de incentivo, etc.
No que diz respeito a Jonas, considerando que este é filho
de profeta e sabia muito bem da vocação que teria, não é necessário incentivos,
a capacidade já está em suas mãos, a preparação já foi realizada, não há razões
para que ele relute, para que seja incentivado, no que diz respeito a alguém
que sabe quem é o que foi chamado a fazer, só há uma palavra, levanta-te e vai.
Talvez essa a situação de muitos dos nossos, não há mais o
que dizer, o que incentivar, há apenas uma necessidade de cumprir o que lhe foi
proposto.
Sophia Miller ao falar sobre vocação disse:
“Eu jamais tive
um chamado, li uma ordem e a obedeci”.
2º - Deus neste sentido não é politicamente
correto
Deus não aceita as argumentações possíveis de Jonas, não
aceita o fato de ele não querer com todos os talentos que possui, não cumprir o
que Deus o chamou a fazer.
Neste sentido, Deus não é nenhum pouco politicamente
correto, ele exige apenas a obediência e a quem procrastina, há um ponto
específico em que o “cerco” se fecha, neste ponto específico precisamos seguir;
3º - Se todos que possuem os talentos
exercessem teríamos bem menos dificuldades na igreja
A estes a palavra é simplesmente essa: Levanta-te, vai!
Temos uma infinidade de pessoas que conhecem muito, tem
bagagem, experiências, mas por razões diversas não exercem o que é necessário
exercer.
São pessoas cientes de seu potencial, cientes de sua
vocação, mas que se constituem apenas pessoas sem prática.
São pessoas que tem brilhantes opiniões, pensamentos,
teorias, mas não executam.
Hernandes Dias Lopes diz que se as disciplinas
espirituais que exercemos desenvolvessem simbolicamente partes dos nossos
corpos, alguns de nós teríamos uma enorme cabeça, mas braços e pernas pequenas,
finos.
Temos grandes pensadores, grandes teóricos, grandes
conhecedores, mas poucos que põe a mão na massa.
Neste sentido importa mais para Deus a vontade do que o
talento em si, pois, habilidade são comunicadas com mais facilidade do que
vontades.
As omissões que temos por diversos motivos sobrecarregam
uns poucos e até impedem grandes obras de acontecerem:
“Porque pela obra de Cristo chegou até bem
próximo da morte, não fazendo caso da vida para suprir para comigo a falta do
vosso serviço. Filipenses 2:30”
Toda igreja de Jonas gera um Epafrodito desgastado.
Errando
o caminho – Jonas 1.1-5
Jonas é vocacionado, e como foi dito, sua vocação não foi
seguida de encorajamentos adicionais, isto por não haver necessidade.
A questão que naturalmente nos ocorre é: Teria Jonas dado
ouvidos a esta vocação?
Consideremos o local para o qual Jonas está sendo chamado:
“vai à grande cidade de Nínive, e clama
contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença” - Jonas 1:2
Nínive era capital da Assíria, neste sentido é interessante
que os leitores da bíblia façam uma distinção entre a “Síria” e o
império da “Assíria”.
·
Síria existe até hoje, com a capital chamada
Damasco, sendo cenário de muitas guerras.
·
A Assíria já não existe há muito tempo, a sua
capital era Nínive.
O
expansionismo Assírio
A Assíria tinha pretensões de ser o maior império do mundo,
para isso, tinha políticas expansionistas diferente dos Babilônicos que eram
extremamente ligados ao próprio território e para o desenvolvimento deste,
importavam de mão de obra por meio do exílio; os Assírios tinham por hábito
tomar as terras e expulsar e subjugar os povos.
Assim, sempre que a Assíria almejava tomar um lugar, tinha
como estratégia sitiar a cidade, agir com considerável tortura psicológica para
por fim invadir e sob intensa violência tomar o território.
Os
pecados de Nínive
Os pecados dos Ninivitas são descritos por um outro profeta
que também dirigiu sua palavra a eles, Naum.
Carlos Augusto Vaillati fala de alguns pecados
identificados no texto:
1º - Idolatria – 1.14
2º - Violência mentira e roubo – 3.1
3º - Feitiçarias – 3.4
4º - Maldade Contínua – 3.19
Escritores como Tim Keller, Hernandes Dias Lopes e Maier,
descrevem outras maldades feitas:
·
Cortar mãos e pés
·
Orelhas e narizes
·
Cortar cabeças e amarrar junto a porta da
cidade
·
Empalamento
·
Esfolamento ainda vivo
·
Língua cravada no chão para matar de sede
·
Arrancavam dentes aos poucos.
Ronaldo Lidório ainda descreve que numa invasão consumada
dos Assírios, três pilares de Israel corriam sérios riscos:
·
Família real – Para que não houvesse mais
governo possível.
·
Família sacerdotal – Para que não houvesse mais
culto.
·
Família profética – Para que não houvesse
palavra de Deus
Ainda segundo Ronaldo Lidório, até os dias de Jonas haviam
acontecido 14 tentativas de invasão por parte dos Assírios, deste modo, Jonas
vivia sob intensa ameaça deste povo que lhe era extremamente hostil.
Consideremos a possiblidade de Jonas ter sido criado
ouvindo sobre os riscos que os Assírios lhe causavam, por pelo menos 14 vezes
ele aguardava de forma ansiosa que não houvesse uma consumação nos planos dele,
do contrário, ele, seu pai, sua mãe, morreriam de forma cruel.
Os Ninivitas desta forma fizeram parte de toda a história
pregressa de Jonas, ser vocacionado para pregar lá era algo que mexia
diretamente com Jonas.
Qual
seria a reação do profeta ao receber tal chamado?
“Porém,
Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a
Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu
para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do
Senhor. Jonas 1:3”
Ironicamente Jonas se levanta sim, mas se levanta para
fugir.
Sua ideia era ir para Társis, esta cidade
estava a aproximadamente 3700 a 4000 KM em direção oposta ao que ele deveria
ir.
Ele desce a cidade portuária de Jope, onde compra passagem
para fugir.
Há detalhes que valem a pena notar, Jonas daqui em diante
entra num processo de “descendência”:
·
Desceu a Jope
·
Desceu para dentro do Barco
·
Desceu para o fundo do mar
·
Desceu par ao ventre do peixe
De certa forma, há um recurso poético, aparentemente o
desalinhamento com a vontade declarada de Deus nos coloca num estado de
decadência, descemos cada vez mais e isso de forma totalmente negativa.
Tendo descido de forma contínua, devemos nos perguntar, por
qual razão Jonas fugiu?
Talvez
o medo, talvez a reputação de pregar a estrangeiros, talvez o desejo de ter um
Deus exclusivamente seu, ou mesmo a necessidade de viver uma missão mais
“fácil”.
O motivo real da fuga será apresentado mais a frente. Mas
vamos meditar algumas coisas a respeito deste texto:
1º - Todos nós buscamos fugas daquilo que é
motivo de conflito para nós.
A procrastinação é um hábito que arrastamos, que adquirimos
sem se dar conta e que nos atrasa em vários sentidos.
Somos seres que fogem das responsabilidades, quanto mais
difíceis são as tarefas, mais as adiamos, muitas vezes elas são
intransferíveis, mas gostamos de dar tempo, de tentar se superar, ou mesmo de
por um momento fingir que não é nossa responsabilidade.
Tiramos da frente do que parece ser mais fácil, priorizamos
o que dá menos trabalho e tentamos ao máximo fugir do que é mais difícil de
encarar, Jonas é desta forma parecido com cada um de nós, ele tenta adiar, ou
mesmo transferir sua responsabilidade.
Há coisas importantes a meditar sobre grandes
responsabilidades que possuímos, primeiramente, devemos considerar que há
coisas que são intransferíveis.
Só eu posso ser o filho pra minha mãe, só eu
posso ser o marido para minha esposa, o pai para os filhos, o funcionário que
foi designado, o obreiro escolhido para aquela função
.
Mas dada a dificuldade fugimos, adiamos, deixamos para
depois, a história de Jonas é uma história de transferências e procrastinações.
·
O aprendizado inicial sobre isso é que o tempo
muitas vezes é um fator negativo no que diz respeito a certas obrigações que
possuímos. O tempo torna mais complexo, mais frustrante, mais trabalhoso o
processo.
Diante de uma tarefa indigesta, tire ela da frente
primeiro, pois, desta forma as tarefas menos indigestas não nos causarão tanto
mal.
“Amanhã eu faço”
“depois eu vejo”
“Deixa pra outra hora”
São coisas que dizemos o tempo inteiro e li algo
interessante a respeito disso:
“Primeiro eu perco metade do meu tempo
procrastinando e depois perco a outra metade surtando e reclamando da minha
própria procrastinação”.
Jonas não precisava sofrer o que sofreu se tivesse sido
objetivo, o trajeto se constituiu muito mais árduo pelo tempo que ele tentou
ganhar.
2º - Cedo ou tarde aquilo que procrastinamos
nos encontra
Há uma aparente paz naqueles que inicialmente fogem de suas
consciências:
·
Jonas encontrou um navio esperando
·
Tinha o dinheiro da passagem
·
Conseguiu um lugar perfeito pra dormir.
Já seria um incômodo considerável a Jonas ter de ir a
Nínive, mas ele quer fugir do inevitável e há um momento em que aquilo que
adiamos nos encontra.
Seja pendências pessoas, emocionais, financeiras,
manutenções, há uma série de coisas que quando adiadas voltam, mas voltam com
intensidades extremamente superiores a aquelas que teríamos de enfrentar
inicialmente.
Jonas poderia apenas ter ido, mas uma série de problemas passam
a lhe seguir:
“Mas o Senhor mandou ao mar um grande vento, e
fez-se no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se.
Jonas 1:4”
Deus deu um jeito de lembrar Jonas do que ele estava
deixando para trás, enviando ventos, tempestades marítimas, o barco estava ao
ponto de se despedaçar.
Nós devemos desenvolver certo senso de urgência, do
contrário o cérebro se acostuma e cria mecanismos para justificar nossa
inércia.
Dá trabalho encarar as coisas, resolver, conversar, mas dá
muito mais trabalho o que vem quando negligenciamos essas coisas.
Era apenas uma viagem na direção certa, agora ele é
obrigado a encarar tempestades, prejuízos no barco, constrangimentos e chega ao
destino por um meio bastante desconfortável.
As coisas são feitas enquanto é dia – João 9.4
(Senso de urgência).
3º - Todos sabemos o que fazer, mas queremos
fugir da nossa própria consciência
“Então os marinheiros ficaram com medo e
clamavam cada um ao seu deus. Lançaram no mar a carga que estava no navio, para
que ele ficasse mais leve. Jonas, porém, havia descido ao porão do navio; ali
havia se deitado, e dormia profundamente. Jonas 1:5”
Jonas sabe onde deveria estar, o que deveria fazer, mas
opta por dormir, uma fuga, um atalho, ele pensava que estando cada vez mais
baixo, chegaria a um ponto de que as cosias simplesmente se resolveriam, ele
quer uma alternativa, ele quer que Deus proponha outro caminho, que use outra
pessoa.
Jonas sabe o que deve fazer, mas busca alternativas para
transgredir.
Assim são grandes partes das dúvidas que temos, ou fingimos
ter, sabemos o que devemos fazer, mas buscamos respostas que nos agradem.
Paulo alertou Timóteo sobre um tempo semelhante, o tempo em
que as pessoas procurariam alguém que dissesse o que elas querem ouvir – 2º
Tim. 4
“amontoarão para si Doutores segundo sua própria concupiscência”
Dietrch Bonhoeffer fala sobre um conceito chamado “conflito
ético”
O conflito ético é a tentativa de relativizar coisas claras
e simples para que sigamos o caminho que mais nos agrada.
Jesus encontra um doutor da lei que interroga-lhe como
herdar a vida Eterna, Jesus responde com outra pergunta. Na sua tréplica o
homem pergunta-lhe quem é o seu próximo.
Estava claro, mas ele queria uma alternativa.
O contrário do conflito ético é a obediência simples.
Exemplo da moça que queria namorar fora.
Grande parte das nossas perguntas não são
feitas com a intenção de se adquirir uma informação, mas sim de se ouvir o que
se deseja para abalizar a tentativa de transgressão.
“Jonas sabe que não pode fugir. Então ele tenta
pedir demissão dormindo”.
Warrem Wiersbie
4º - Quando não ouvimos mais a palavra, Deus
usa outros meios para nos falar.
Naturalmente bastaria ao profeta a palavra que vem do
Senhor, mas muitas vezes há um desprezo pela palavra proferida como sendo algo
de menor importância, de menor peso.
Neste sentido, Deus deixou de falar a partir daí com Jonas,
por meio de palavra.
Falou através de ventos, tempestades, sortes que caíram
sobre ele, pelos marinheiros.
Jonas não ouve mais a palavra, Jesus fala sobre seus
discípulos, aqueles que ouvem sua palavra como galhos que são limpos na
videira:
“Vós já estais
limpos, pela palavra que vos tenho falado.
João 15:3”
De certa forma o estágio inicial de Deus é falar, mas se
não ouvirmos, ele usa outros instrumentos: Sua tesoura, machado, etc.
Estes são instrumentos divinos para podar, cortar coisas
vivas ou mortas para que frutifiquemos.
C.S. Lewis diz:
“Deus sussurra em nossos ouvidos através do prazer, fala em nossa consciência e
grita através do sofrimento, o sofrimento é um megafone de Deus para mostrar o
seu amor”.
Jonas poderia ter ouvido os sussurros, poderia ter ouvido a
voz, mas escolheu o amargo som do sofrimento para perceber onde Deus estava.
Todos deveríamos levar mais a sério o que a palavra diz, se
a palavra é um instrumento pelo qual Deus fala, não deveria ser necessário
outros recursos, mas há vezes em que eles se fazem necessários.
Lições de Jonas e os marinheiros do barco
Jonas embarcou rumo a Társis na tentativa de procrastinar,
esquecer o seu chamado e de certa forma da própria consciência que o leva a retornar
para sua missão.
Jonas ao embarcar causou problemas não só para si, mas para
aqueles que estavam à sua volta. Não se sabe ao certo quantas pessoas estavam
no barco, mas todas elas foram diretamente afetadas pela sua presença e pela
razão de ele estar lá.
Ao embarcar e encontrar um bom lugar para dormir, Jonas
causa uma considerável tempestade, que imediatamente mobiliza todos seus
companheiros de embarcação, dado o risco que corriam.
Algumas atitudes são tomadas inicialmente:
“Então temeram os marinheiros, e clamavam cada um ao seu
deus, e lançaram ao mar as cargas, que estavam no navio, para o aliviarem do
seu peso; Jonas, porém, desceu ao porão do navio, e, tendo-se deitado, dormia
um profundo sono - Jonas 1:5”
·
Os marinheiros tiveram medo (O que era
totalmente compreensível)
·
Clamaram aos seus deuses
·
Lançaram no mar suas cargas
As viagens neste contexto eram muito arriscadas por si só,
em virtude das tempestades, consideremos o risco de afogamento, o barco virar,
o barco quebrar-se, etc. A tempestade impossibilitaria os marinheiros até mesmo
se salvarem nadando numa situação extrema dadas as ondas que se formavam e
açoitavam o barco.
A reação natural deles foi recorrer a fé, eles clamaram ao
deus pessoal de cada um. Neste tempo pensavam que atitudes inesperadas tal qual
aquela eram advindas de alguma divindade que estivesse irada, por esta razão,
no panteão de deuses dos assírios e das nacionalidades ali representadas, os
mais diversos deuses foram invocados, pois, acreditava-se que ao descobrir e
rogar perdão a divindade correta, o perdão chegaria.
Tal fato é repetido no N.T quando Paulo vai a Atenas e
encontra um altar a um Deus desconhecido, a razão é a mesma, mediante uma praga
que os assolara neste tempo, esgotadas as alternativas, eles erguem um altar a
este “Deus desconhecido”.
Os marinheiros tentam esgotar as alternativas.
Enquanto clamavam, eles tomam a terceira atitude, que é
descarregar o barco.
1º - As tempestades tendem a mostra que há
coisas no nosso barco que não são tão essenciais assim.
Tendo percebido que a tempestade se agravava e clamar não
estava resolvendo, os marinheiros optam por aliviar o peso do barco, jogando
coisas fora.
De certa forma, sempre consideramos tudo que temos
essencial, mas as tempestades revelam que as coisas não são tão preciosas
quanto pensamos.
Muitas dessas coisas são secundárias e triviais, mas só nos
damos conta quando somos obrigados a manter apenas aquilo que é essencial.
A tempestade mostra que há pesos desnecessários na vida e
que somos muitas vezes compelidos a nos livrar deles a fim de que o barco da
nossa vida não afunde de vez.
Talvez sejam lugares, amizades, posses, empregos, coisas
que consideramos extremamente essenciais, não são tanto assim quando o que está
diante de nós é uma questão de vida ou morte.
2º - Às vezes jogamos fora o essencial para
resolver as tempestades, mas a causa continua ali.
Quando não identificamos a causa da tempestade, jogamos
fora o que não é essencial, mas devemos cuidar para que jogando fora o trivial,
não joguemos também o que é importante de verdade.
As vezes até que a causa da tempestade seja descoberta,
descartamos muitas coisas e dentre elas coisas que são essenciais e não
deveriam ser jogadas de lado, mas a desorientação da tempestade faz isso
conosco.
A causa da tempestade era Jonas, mas até que se descubra, devemos
ter cautela para que não descartemos o essencial, preservando a verdadeira
causa de todo o mal.
Neste sentido cabe destacar que esta tempestade tem uma
única razão: A desobediência de Jonas.
Nem toda tempestade é causada por desobediência, mas
algumas são, tendo identificado que há uma razão para esta tempestade, devemos
chegar a raiz do problema.
3º - Às vezes Deus usa os ímpios para nos
corrigir.
“O
capitão do navio se aproximou de Jonas e lhe disse: — O que está acontecendo
com você? Agarrado no sono? Levante-se, invoque o seu deus! Talvez assim esse
deus se lembre de nós, para que não pereçamos. Jonas 1:6”
A grande ironia é o marinheiro dizer a um profeta que ele
precisa orar.
As nossas fugas não tiram de nós nossa identidade, de modo
que ainda que em fuga, alguém chega e diz: Você deveria orar, se esta é sua fé.
Muitas vezes tentamos militar com nossas forças e até
pessoas que não professam a mesma fé, respeitam e ainda nos lembram de quem
somos.
As vezes nos acostumamos demais com o sagrado, sendo que o
mundo tem um considerável respeito por aquilo que banalizamos.
Coisas como oração, profecias, palavras declaradas de Deus.
É triste o fato de Jonas ser corrigido por um ímpio.
Você já passou por isso?
Há duas ironias neste texto:
·
Um ímpio manda um crente orar
·
O ímpio manda Jonas se levantar (um lembrete de
sua vocação).
O ímpio tem uma expectativa acerca do crente, essa
expectativa é baseada em pressupostos que se entendem por se professar a
Cristo.
Sempre tive consideráveis resistências com ímpios que
cobravam moralidades de nós, crentes. Soava de certa forma hipócrita, aquele
que não ama, cobrando amor do povo de Deus, aquele que nada faz, cobrando que o
crente faça.
Mas de certa forma, Jesus deu essa prerrogativa ao mundo, eles
reconheceriam que somos discípulos por conta do amor – João 13.35
Quando o ímpio é um juiz que cobra do povo de Deus o amor,
deveríamos refletir se não estamos caindo em uma considerável negação prática.
Quando Jonas lida com o problema, ele foge de Deus, foge da
sua consciência e dorme, agora o ímpio diz a Jonas o que ele deveria fazer.
4º - Acostumamo-nos demais com o sagrado e isso
causa espanto no mundo:
Exemplo – Granito e conflitos pessoais.
·
Que tens, dorminhoco? Jonas 1:6
O marinheiro está impressionado com a leviandade com a qual
Jonas lida com uma tempestade, não é questão de fé, é de quem se acostumou com
o sagrado ao ponto de não mais temer.
Para ele é impossível que alguém durma no meio de uma
tempestade como essa.
O lançamento de sortes
“E diziam cada um ao seu companheiro: Vinde, e lancemos
sortes, para que saibamos por que causa nos sobreveio este mal. E lançaram
sortes, e a sorte caiu sobre Jonas.
Jonas 1:7”
O procedimento de lançar sortes, segundo Douglas Stuart se dava
do seguinte modo:
Eram jogados dois dados com lados brancos e pretos, se
caíssem duas vezes no branco a resposta era sim, se caíssem as duas pedras no
preto a resposta era não, se as cores fossem alternadas deveriam jogar
novamente.
Ao lançarem desta forma, eles vão eliminando as
possibilidades até que as pedras ficam brancas para Jonas e eles identificam a
real causa de todo aquele mal.
5º Algumas perguntas deveriam ser feitas antes
de colocarmos as pessoas nos nossos barcos:
“Então lhe disseram: Declara-nos tu agora, por causa de
quem nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? Donde vens? Qual é a tua
terra? E de que povo és tu?
Jonas 1:8”
Grandes prejuízos seriam evitados se fizéssemos as
perguntas certas, na hora certa.
Somos muito apressados para colocar em nossa vida as
pessoas, não me refiro a conhecer, mas a colocar junto no barco, a compartilhar
viagem, compartilhar a mesa, amizade, segredos, sendo que perguntas muito
significativas deveriam ser feitas antes de se conhecer alguém.
Boas perguntas feitas na hora certa são oportunidades para
nos livrar de grandes problemas na vida.
Há situações que arrastamos, procedimentos doloridos,
decepções das mais terríveis por falta de fazer as perguntas certas, de se
procurar conhecer, antes de conceder certos espaços.
Um exemplo bíblico:
Contudo,
quando os habitantes de Gibeom souberam o que Josué tinha feito com Jericó e
Ai,
recorreram
a um ardil. Enviaram uma delegação, com jumentos carregados de sacos gastos e
vasilhas de couro velhas, rachadas e remendadas.
Os homens
calçavam sandálias gastas e remendadas e vestiam roupas velhas. Todos os pães
do suprimento deles estavam secos e esmigalhados.
Foram a
Josué, ao acampamento de Gilgal, e disseram a ele e aos homens de Israel:
"Viemos de uma terra distante. Queremos que façam um acordo conosco".
Os
israelitas disseram aos heveus: "Talvez vocês vivam perto de nós. Como
poderemos fazer um acordo com vocês? "
"Somos
seus servos", disseram a Josué. Josué, porém, perguntou: "Quem são
vocês? De onde vocês vêm? "
Ele
responderam: "Seus servos vieram de uma terra muito distante por causa da
fama do Senhor, do seu Deus. Pois ouvimos falar dele, de tudo o que fez no
Egito,
e de tudo o
que fez aos dois reis dos amorreus a leste do Jordão: Seom, rei de Hesbom, e
Ogue, rei de Basã, que reinava em Asterote.
E os nossos
líderes e todos os habitantes de nossa terra nos disseram: ‘Juntem provisões
para a viagem, vão encontrar-se com eles e digam-lhes: Somos seus servos, façam
um acordo conosco’.
Este nosso
pão estava quente quando o embrulhamos em casa no dia em que saímos de viagem
para cá. Mas vejam como agora está seco e esmigalhado.
Estas
vasilhas de couro que enchemos de vinho eram novas, mas agora estão rachadas. E
as nossas roupas e sandálias estão gastas por causa da longa viagem".
Os
israelitas examinaram as provisões dos heveus, mas não consultaram o Senhor.
Então Josué
fez um acordo de paz com eles, garantindo poupar-lhes a vida, e os líderes da
comunidade o ratificaram com juramento.
Três dias
depois de fazerem o acordo com os gibeonitas, os israelitas souberam que eram
vizinhos e que viviam perto deles.
Josué 9:3-16
Não se pergunta: De onde vens, que ocupação é a tua? De que
povo?
Quando o barco já está afundando, essas perguntas deveriam
ser feitas antes para evitar tempestades.
6º - O problema de Jonas nunca foi de fé, o
problema de Jonas eram suas questões pessoais com Nínive.
“E ele lhes
disse: Eu sou hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra
seca. Jonas 1:9
Ele não tinha problemas com dizer o que era
mandado por Deus, seu problema é com o “onde quer que me mandares irei”.
7º - Jonas está disposto a se sacrificar em
nome de desconhecidos, seu problema era exclusivamente Nínive:
“Então estes homens se enche-ram de grande temor, e
disseram-lhe: Por que fizeste tu isto? Pois sabiam os homens que fugia da
presença do Senhor, porque ele lho tinha declarado.
E
disseram-lhe: Que te faremos nós, para que o mar se nos acalme? Porque o mar ia
se tornando cada vez mais tempestuoso.
E ele lhes
disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se vos aquietará; porque eu sei
que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade.
Entretanto,
os homens remavam, para fazer voltar o navio à terra, mas não podiam, porquanto
o mar se ia embravecendo cada vez mais contra eles.
Jonas 1:10-13”
Jonas não tinha problemas em pregar, declarar quem é e até
morrer pelos seus, o problema de Jonas era o outro, era o diferente, era que
Deus não estava limitado ao seu lugar, aos seus jeitos apenas.
8º As vezes temos a capacidade de despertar nos
outros o que não se desenvolveu ainda
“Então clamaram ao Senhor, e disseram: Ah, Senhor! Nós te rogamos, que
não pereçamos por causa da alma deste homem, e que não ponhas sobre nós o
sangue inocente; porque tu, Senhor, fizeste como te aprouve. Jonas 1:14”
9º - Jonas foi um missionário, apesar de si
mesmo.
“Temeram, pois, estes homens ao Senhor com
grande temor; e ofereceram sacrifício ao Senhor, e fizeram votos.Jonas 1:16”
Sermão 4 - A oração de Jonas – Reaprendendo a
orar
“Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e
esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe.
Lá de
dentro do peixe, Jonas orou ao Senhor, ao seu Deus.
Ele disse:
"Em meu desespero clamei ao Senhor, e ele me respondeu. Do ventre da morte
gritei por socorro, e ouviste o meu clamor.
Jogaste-me
nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam turbilhão ao meu
redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim.
Eu disse:
Fui expulso da tua presença; contudo, olharei de novo para o teu santo templo.
As águas
agitadas me envolveram, o abismo me cercou, as algas marinhas se enrolaram em
minha cabeça.
Afundei até
os fundamentos dos montes; à terra cujas trancas estavam me aprisionando para
sempre. Mas tu trouxeste a minha vida de volta da cova, ó Senhor meu Deus!
"Quando
a minha vida já se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor, e a minha oração subiu
a ti, ao teu santo templo.
"Aqueles
que acreditam em ídolos inúteis desprezam a misericórdia.
Mas eu, com
um cântico de gratidão, oferecerei sacrifício a ti. O que eu prometi cumprirei
totalmente. A salvação vem do Senhor".
E o Senhor
deu ordens ao peixe, e ele vomitou Jonas em terra firme.
Jonas 1.17 - 2:1-10”
Introdução
Talvez o auge da história de Jonas seja o momento em que
ele é lançado ao mar.
O que aconteceria ao homem Jonas? Tendo desobedecido ao
Senhor e sendo lançado ao mar, este seria seu fim?
Jonas talvez por falta de coragem, pede aos homens que o
lancem na água, para que evite relutar permanecendo no barco.
Sendo lançado sob intensa tempestade, seria impossível
sobreviver, Jonas nas águas estava afundando de forma intensa e irreversível,
sua interpretação é de que Deus o estava punindo e este seria o seu fim.
Jonas tem duas orações, uma é feita enquanto afunda, a
outra é por gratidão de dentro do ventre do peixe.
Os momentos na água
Quanto mais fundo uma pessoa mergulha ou é arrastada para o
fundo do mar, maior é o risco de vida, pois, há muita pressão sobre o corpo,
devido aos níveis de nitrogênio que aumentam, ainda que Jonas conseguisse
voltar à tona, devido a tempestade ele pode ter afundado muito e voltar à tona
de uma vez se constituía um risco extremo para ele. Uma embolia poderia levá-lo
a morte instantaneamente.
·
Se Jonas voltasse de uma só vez, correria sério
risco de romper partes importantes do sistema respiratório.
·
Ou ainda poderia se afogar dada a instabilidade
que todo aquele contexto lhe causaria.
Jonas está em vias de se afogar definitivamente, é então
que Deus providencia para Jonas um escape que é o grande peixe.
A questão do grande peixe já foi discutida antes, há
algumas possibilidades para esse acontecimento:
1º - Um monstro marinho
2º - Cachalote
3º - Tubarão Baleia
Seja qual for a alternativa, em todas elas houve uma
intervenção miraculosa, pois, ainda que o peixe não o tragasse de imediato, o
seu ácido gástrico o tragaria.
Logo houve intervenções divinas tanto no que diz respeito a
providenciar o peixe no momento certo, como também no que diz respeito a não
permitir que o ácido matasse o profeta no interior do peixe.
De forma miraculosa, ele fica no lugar certo, é
preservado dos refluxos e conduzido para o local onde Deus deseja que ele
esteja.
A vida de oração de Jonas
1º - Jonas só orou no momento de maior
desespero
Até aqui Jonas não tinha orado, nas vezes que o texto
apresenta a oração, elas vêm dos marinheiros, mas não de Jonas.
Jonas está a todo custo evitando retornar à oração, não se sabe a estatura de
sua vida de oração antes disso se tornar uma questão de vida ou morte para ele.
De certa forma é uma tendência nossa, quando
sabemos que estamos errados evitar o diálogo com a pessoa, ou mesmo ver aquele
que está sendo diretamente afetado por nossa imprudência, com Deus agimos assim
também. De forma que um dos primeiros sinais de declínio espiritual é evitar o
diálogo com Deus.
Os marinheiros oram, Jonas dorme, os marinheiros fazem
preces, Jonas se esquiva, ele que deveria ser a autoridade do barco é aquele
que a todo custo evita orar.
Com frequência tomamos a oração como o recurso final, é só
após seu afogamento que Jonas passa a falar com Deus:
“Em meu desespero clamei ao Senhor - Jonas 2:2"
A maioria de nós só ora quando precisa, só ora quando esse
se torna o último recurso.
Não se ora porque é uma rotina, se ora porque uma
necessidade nos leva a isso.
Esse nível de relação superficial que faz
promessas a Deus, que lembra-se de Deus no pior momento, é o nível mais comum e
corriqueiro possível.
Jonas está se afogando, Jonas está à beira da morte, é
neste momento que ele lembra do Senhor.
Nós deveríamos considerar o exemplo de Jonas e entender que
são inúmeras as vezes que lidamos com a nossa vida de oração do mesmo modo que
Jonas.
As vezes sem notar, nós norteamos o nosso
relacionamento com Deus na necessidade e não na comunhão.
Comunhão não era algo tão intenso em Jonas como em outros
profetas, as vezes que Deus fala com Jonas são muito diretas e objetivas.
Jonas não opta por ter um relacionamento fundamentado na
comunhão, tal qual Moisés teve, ou outros profetas, a ordem de relacionamento
de Jonas é de quem não considera Deus um amigo, mas sim um ajudador em última
instância.
Jonas evidencia um pensamento que muitas vezes dizemos:
“Não nos resta fazer mais nada, agora é só
orar”.
Este pensamento tão difundido entre nós é muitas vezes a
evidência de algumas deficiências em nossa vida de oração.
·
Tentamos fazer de tudo para resolver as coisas
do nosso jeito, sem orar.
·
Antes de orar tentamos todas as coisas
possíveis.
·
Só se pensa em Deus neste contexto quando isso
se torna a última alternativa.
·
Ao pensar assim, orar é quase entregar os
pontos.
Dizemos: “Agora só nos resta orar” com um ar de lamento e
derrota, o que revela muito sobre como pensamos este assunto.
Deveríamos reconsiderar e perguntar: O que me leva a orar?
Uma reflexão sincera neste sentido mostrará que o que
norteia nossa vida de oração é a necessidade e não o relacionamento.
2º - Deus é diferente de nós – Deus atende
orações de necessidade
O livro de Jonas tem Deus como personagem principal, ele
age em tudo, desde o chamado de Jonas até todas as circunstâncias até aqui.
Naturalmente um relacionamento em que é a necessidade quem
norteia seria desagradável, mas Deus não é como nós, a sua misericórdia é tão
grande, que em outras ocasiões como essa Deus atendeu as orações:
·
Quando Sansão está diante dos filisteus ele ora
“Então Sansão clamou ao SENHOR, e disse:
Senhor DEUS, peço-te que te lembres de mim, e fortalece-me agora só esta vez, ó
Deus, para que de uma vez me vingue dos filisteus, pelos meus dois olhos. Juízes 16:28”
·
Ezequias em desespero orou ao Senhor:
“E disse: Ah! Senhor, peço-te,
lembra-te agora, de que andei diante de ti em verdade, e com coração perfeito,
e fiz o que era reto aos teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo. Isaías 38:3”
·
Pedro, afogando disse “Salva-me”
“Senhor, salva-me!
Neste sentido, Deus não está preso aos nossos conceitos
sobre ele para que ele escolha atender uma oração.
É algo inquietante para nós, ter relacionamento com alguém
que se norteia apenas na necessidade, mas Deus de certa forma passa por cima
destes nossos conceitos.
Deus não precisa que tenhamos um grau de amizade para
atender alguém, Deus primeiramente é soberano, ele atende a quem quer atender,
mas não só isso, ele é misericordioso, ele não pensa como nós.
Expressando este pensamento C.S Lewis fala da humildade
divina:
“Chamo a isto de humildade divina porque é
deprimente procurar Deus quando o navio está afundando debaixo de nós;
deprimente achegar-nos a Ele como um último recurso, oferecer nossa pessoa
quando não vale mais a pena guardá-la. Se Deus fosse orgulhoso Ele jamais nos
aceitaria nesses ter- mos, mas Ele não é orgulhoso, Ele se abaixa para
conquistar, Ele nos aceita embora tenhamos mostrado que preferimos tudo o mais
a Ele, e nos achegamos porque agora não há "nada melhor" que possamos
ter. A mesma humildade é manifestada através de todos os apelos divinos aos
nossos temores, o que perturba alguns leitores das Escrituras. É bem pouco
simpático para Deus que O escolhamos como uma alternativa para o inferno: mas
até mesmo isto ele aceita.” – C.S. Lewis (O problema do sofrimento).
Jonas deixa isso muito claro a partir do momento que
apresenta sua oração:
·
Do ventre da morte ele pede socorro (Última
instância).
(Cuidado
com o senso de dignidade na oração, ele pode nos impedir de fazer orações).
Quando dizemos que não se deve
procurar Deus na hora do desespero ou como última instância, este incômodo é
muito mais nosso do que dele.
De certa forma ao falarmos que
Deus não ouvirá quem está por tempos longe dele, nos coloca em uma posição
superior, sendo que há uma razão única para Deus atender os clamores: Sua
graça.
Nas profundezas do oceano me lançaste, e
afundei até o coração do mar. As águas me envolveram; fui encoberto por tuas
tempestuosas ondas.
Então eu disse: ‘Tu me expulsaste de tua
presença e, no entanto, olharei de novo para teu santo templo’.
"Afundei debaixo das ondas, e as águas se
fecharam sobre mim; algas marinhas se enrolaram em minha cabeça.
Afundei até os alicerces dos montes; fiquei
preso na terra, cujas portas se fecharam para sempre. Mas tu, ó Senhor , meu
Deus, me resgataste da morte!
Quando minha vida se esvaía, me lembrei do
Senhor
Jonas 2:3-7
3º - Deus providencia meios de falarmos com ele
Jonas não falou de outro jeito com Deus, aparentemente há
um rápido clamor feito enquanto afogava e agora um clamor mais intenso e uma
ação de graças quando está no ventre do peixe.
As vezes Deus providencia meios para lembrarmos dele.
Os grandes peixes não são instrumentos de juízo divino, mas
meios que ele usa para nos chamar para mais perto.
Deus usa circunstâncias diversas para preparar encontros
conosco e ocasiões para nos levar de volta a oração e ao caminho necessário.
(Exemplo – Mãe).
Deus cria situações que nos voltam a ele, essas situações
são muitas vezes parecidas com juízos divinos, mas são as cordas do amor de
Deus nos puxando para perto dele.
Elias não mais ouvia a voz, Deus usou outros elementos:
“E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te
neste monte perante o Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande
e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do Senhor; porém
o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor
não estava no terremoto;
E depois do
terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo
uma voz mansa e delicada.
1 Reis 19:11,12”
·
Balaão da mesma maneira.
·
Jonas agora da mesma maneira, de uma forma ou
de outra, Deus fala.
4º Não existe um lugar para a oração, qualquer
lugar pode se tornar, sob qualquer circunstância.
O lugar mais inadequado possível para orar seria o ventre
de um peixe, mas este lugar se constituiu o lugar de retorno para Jonas, o
lugar do recomeço.
Jesus frequentemente ia aos montes para orar, talvez esse
hábito é que deu origem ainda hoje as subidas aos montes.
Não é sempre que teremos um monte, ainda mais em zona
urbana quando moramos, mas precisamos criar o nosso próprio monte:
“J. R. Thomson afirma que todo lugar é
apropriado para a oração. Desde uma igreja com belos vitrais até uma caverna
escura ou o fundo do mar. Devemos orar em todo lugar, nas ruas agitadas, nos
mercados lotados, nas cortes, nas universidades, nas indústrias, no campo de
batalha. Jonas orou no ventre de um grande peixe. Não importa onde estamos, mas
a quem oramos.”
Em qualquer lugar, em qualquer momento, você pode clamar.
Jonas
estava no lugar mais difícil para qualquer pessoa encontra-lo, no fundo do mar,
após uma tempestade, no fundo do ventre de um peixe.
Mas não há lugar tão profundo que os olhos de Deus não
encontrem:
“Para onde me irei do teu espírito, ou
para onde fugirei da tua face?
Se subir ao
céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás
também.
Se tomar as
asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,
Até ali a
tua mão me guiará e a tua destra me susterá.
Se disser:
Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim. - Salmos 139:7-11”
“Quando minha vida se esvaía, me lembrei do Senhor , e minha
oração subiu a ti em teu santo templo.
Jonas 2:7”
5º - A oração nos conduz, mesmo quando pensamos
estar parados:
Jonas está do lado de dentro do peixe, mas do lado de fora
Deus está o levando para o lugar certo.
Há coisas que ocorrem enquanto oramos, as quais não nos
damos conta.
·
Orar me faz economizar tempo.
·
Orar é esperar em Deus e esperar em Deus é
caminhar.
·
Orar me livra de gastar forças
·
Orar me leva aonde eu não chegaria de outro jeito.
6º - A oração muda concepções minhas sobre Deus
e sobre a vida:
“Os que adoram falsos deuses dão as costas
para as misericórdias de Deus. Jonas 2:8”
De quem eram os ídolos? De Nívive ou de Jonas?
Neste texto creio que Jonas está tratando da própria
idolatria com o nacionalismo.
A oração tem uma capacidade de me fazer conhecer a Deus,
não mais fundamentado no meu conceito limitado dele.
As imagens que criamos de Deus são ídolos, o Deus que
moldamos ao nosso gosto não é o verdadeiro.
“Devemos decidir se é o Deus verdadeiro, ou a
imagem que criamos dele que adoramos”
Jonas lidou com honestidade a respeito dos ídolos do seu
coração, tendo percebido que ele próprio tornara-se um idólatra, ele chega a
conclusão que apenas ao Senhor pertence a salvação.
A salvação não é a posse de nenhuma denominação, de nenhuma
pessoa, a salvação pertence apenas ao Senhor.
7º - Os tempos no ventre do peixe nos preparam
para o que está do lado de fora.
Jonas está do lado de dentro do peixe agradecendo, não há
pedidos sendo feitos, não há grandes coisas sendo operadas aparentemente.
Mas há inúmeros benefícios para quem ora, podemos não
perceber, mas neste tempo estamos reconsiderando coisas, recebendo percepções
novas, coragem, resoluções.
É quando ora que Jonas tem uma nova resolução:
“Eu, porém, oferecerei sacrifícios a ti
com cânticos de gratidão e cumprirei todos os meus votos, pois somente do
Senhor vem o livramento".
Jonas 2:9”
Devemos levar a sério as percepções e resoluções que Deus
nos dá enquanto oramos, tomando o cuidado de não confundir com meras emoções e
promessas feitas da boca para fora.
A oração me dá força para suportar coisas que
eu evito.
O voto profético constitui 2 elementos fundantes:
1º O que me mandardes dizer: Falarei!
2º Onde me enviardes: Irei!
Jonas não tinha problema com o primeiro, mas com o segundo,
quando ele ora, ele aceita encarar ambos.
A oração tem essa capacidade de nos preparar.
Jonas foi chamado para pregar sobre a graça do
lado de fora, mas não tinha compreendido a graça do lado de dentro.
8º - Jesus – Maior que Jonas
·
Ambos estavam no barco
·
Ambos ameaçados por uma tempestade
·
As tempestades são muito parecidas
·
Os dois dormiam
·
Os dois foram acordados por pessoas que diziam
que iam morrer ali
·
Nos dois a tempestade foi acalmada por Deus
·
Os dois públicos se espantam com a bonança
·
Os dois ficam três dias no ventre da morte –
Jonas três noites
Há apenas uma diferença, Jonas se lançou
para fugir do compromisso. Jonas foi jogado ao mar por indiferença.
Mas Jesus se lançou não num mar literal,
mas no mar de nossos pecados. De forma voluntária.
Ele foi quem disse: Aqui está quem é maior
que Jonas – Mt 12.41
·
Ele é maior que Jonas porque deixou seu lugar
de conforto e foi voluntário.
·
Ele é maior que Jonas porque acalmou a
tempestade dos nossos pecados.
·
Ele é maior que Jonas porque se importa
·
Ele é maior que Jonas porque morreu
literalmente e voltou ressurreto.
A pergunta dos discípulos era: Não se te dá que pereçamos?
Marcos 4.38
Jesus mostrou que se importava, ele acalmou a tempestade para que não mais
temamos.
Jesus de fato foi o verdadeiro Jonas.
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